segunda-feira, 24 de março de 2008

SENHOR OU ESCRAVO?













Por Jorge Fernandes



O homem não é senhor, nem jamais o será. O homem não é senhor sequer de si mesmo, e jamais o será. O homem só pode ser servo, e isso ele é, e sempre será. Resta saber a quem ele servirá, se a Deus, ou ao Diabo e o pecado.
Se alguém se propuser a dizer que controla a própria vida, bem... ele não é humano, mas o próprio deus. Ele deve fazer parte de algum clã divino que o “possibilita” a gerir a própria existência. Haverá um de nós que pode afirmar tal coisa?
Comecemos pelo nascimento... Alguém escolheu onde nascer? De quais pais nascer? O país, cidade e hospital? Alguém escolheu o próprio nome, sexo, o tipo sanguíneo, a cor dos olhos ou da pele? Qual seria a sua professora no maternal, ou se teria habilidade suficiente para ser um craque em squash? Alguém pode decidir, minimamente, sem ser influenciado pelos amigos, pelo sistema, pela mídia, pela moral? Até mesmo o imoral parte da pressuposição da moral para a sua imoralidade, ainda que não a compreenda, e se rebele contra ela.
É possível comprar-se um creme dental sem que aja qualquer influência em nossa decisão? Seja ela econômica, estética, odontológica? Ou mesmo que pudesse ser aleatória, o que não é (talvez pela proximidade do tubo; ou por estar na prateleira de baixo ao meu alcance; ou porque o repositor esqueceu-se e deixou apenas uma marca em estoque... Visto que a minha altura, a da prateleira, e a incompetência do estoquista não são casuais mas causais), ainda assim haveria uma motivação, uma influência para se colocar o creme dental no carrinho de compras, seja qual for. Pois a própria decisão de comprar o dentifrício já é desencadeada por alguma persuasão, por forças que sequer conhecemos ou entendemos.
Se levarmos esse exemplo para todas as decisões na vida, veremos que elas jamais deixam de sofrer uma influência externa, que se acomoda internamente, formando o que se chama de vontade, escolha, desejo; que, contudo, não é livre e independente.
É fácil perceber o desgoverno de nós em nós mesmos, e que muitos fatores levam-nos à optar pelo azul ao invés do vermelho, a ser advogado ao invés de lenhador, a ouvir Bach e não o MC bolinha. Temos, assim, debilitada a noção de liberdade que julgamos ter, e da qual não queremos abrir mão, ainda que ela seja intangível e se afaste cada vez mais de nós na medida em que a entendemos. E pode nos fazer servos de um ou de outro senhor, mas jamais nos fará senhores, nem das situações, nem das escolhas, nem de nossas vidas.
Basta olhar o nosso guarda-roupas ou a nossa discoteca para percebermos o quanto a nossa "vontade" é servil, subjugada, escravizada. Não há autonomia, e crer nela é o mesmo que dar um placebo a um tetraplégico, e esperar encontrá-lo no próximo domingo pulando na arquibancada do Mineirão. O homem vive de sonhos, e o maior sonho é fazer-se dono de si mesmo e da sua vontade. O que nos faz voltar à pergunta inicial: de quem sou servo? Visto que não há como ser senhor, pelo menos devo saber a quem me submeto.
Jesus Cristo, em Mt 6.24, diz: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom" (uma entre tantas divindades criada pelo homem). E questionado pelos fariseus, afirmou: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo 8.44); e ainda: aquele que me ama, fará a minha vontade. Portanto, a Bíblia confirma que temos um senhorio. Se de Cristo, a viver eternamente no Seu reino de glória; sem Cristo, a morrer eternamente para Deus, e para sempre ser castigado e lançado no inferno, onde o fogo não se extingue jamais.
Muitos dirão que Deus não existe. Apenas e tão somente o “poderoso” acaso; o qual aleatoriamente escolhe a morte para uns, a vida para outros, a miséria para um terceiro e a opulência para um quarto. O destino tornou-se o "deus" de milhares de homens durante a história da humanidade, e ele exerce uma força dominadora tão grande nas pessoas, que elas o ergueram ao pedestal de onisciência e soberania, como se nele houvesse inteligência, juízo, sabedoria, ou na pior das hipóteses, um poder caótico, desordenado; mas, ainda assim, capaz o suficiente para estabelecer diretrizes à vida.
Portanto, os ateus não podem esquivar-se a refletir: “somos peões nas mãos de um enxadrista, mesmo que ele não conheça e entenda o ‘jogo’”. O que os faz servos do seu deus, mesmo que seja um deus estúpido, estouvado e inconsequente, que bata a cabeça em paredes, volte e bata novamente, ignorando o que seja parede e o que seja cabeça.
A Bíblia afirma que Satanás é o pai da mentira, que ele veio para roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Ele gosta de confundir, de fazer as pessoas parecerem originais em sua soberba e vaidade. No fundo, como um rebelde ensandecido, pai do caos, e um mentor diligente, ele explora esse sentimento arraigado no homem caído, visando convencê-lo da inexistência de Deus e dele próprio, pois ao negar-se, ele nega o pecado, a queda e o Altíssimo. É uma tática surrada, de um velhaco, mas que surte efeito em mentes arrogantes e incautas, em corações endurecidos.
Elas buscam independência e autonomia utópicas, levando-as a abominarem toda e qualquer referência ao único e verdadeiro Senhor (O Deus bíblico), a fim de viverem uma pseudoliberdade, de deter uma pretensa autoridade, insana, vã; tornando-os em insurgentes, aptos a viverem absolutamente na dissolução e pecaminosidade, em nome de um aparente prazer e superioridade.
Mas você, prontamente, gritará uma outra opção: “EU SIRVO A MIM MESMO! NÃO QUERO SABER DE DEUS! SOU DONO DO MEU NARIZ, E FAÇO O QUE QUERO, QUANDO QUERO!”. Pergunto-lhe: como fazê-lo se não é senhor? E se a sua vontade está presa, sujeita ao pecado? No máximo, o que fizer será sob ordens, no domínio do seu superior, sob o comando e a serviço de outrem. Jesus diz: "em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8.34).
Não há meio termo, não há como conciliar e condescender. Rejeitar a Cristo e ao Evangelho é desprezar a Deus, é permanecer morto espiritualmente, e escravo da vontade do outro "senhor", o qual tem os dias contados, e um lugar de tormento reservado para ele e suas legiões de demônios.
A liberdade encontra-se exclusivamente em Jesus Cristo, o único capaz de quebrar os grilhões que nos mantêm aprisionados; pois Ele, em seu muito amor com que ama os seus servos, nos transporta do reino de dor, aflição, mentira e conceitos farsescos, para o reino de amor, verdade, paz e plenitude da Sua glória.
Como Paulo afirma (quando do retorno glorioso do Filho de Deus, como Rei dos reis, e Juiz do universo): “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai"(Flp 2.10-11).
Então, naquele dia, os homens que negaram a Deus e se mantiveram em insubordinação, Satanás e os anjos caídos (que na sua loucura pretenderam ser iguais ao Altíssimo), e aquele que crê, seja lá em que deus for, terá de se curvar, de quebrar a sua cerviz, porque estará diante do Senhor eterno e supremo; e a Sua glória o constrangerá de tal forma, que somente haverá lamento e choro por causa de toda a insanidade e tolice do homem.
Ao afastar-se definitiva e eternamente de Deus, e vislumbrar a Sua glória das densas trevas (se possível for), trará apenas a desolação e a lembrança de uma vida inútil na terra... e a constatação de uma vivência aterrorizante, flageladora... por toda a eternidade.
E onde estará o seu senhor? Aquele que o levou a se confrontar com a justiça de Deus, induziu-o ao erro de se considerar inocente, quando, ao praticar o crime de desprezar o Todo-Poderoso tornou-se condenado?... Estará ao seu lado, em indescritível tormento...
Concluo com a descrição libertadora de George Matherson:
“Faz-me um cativo Senhor e livre então serei;
Obriga-me à entregar a espada e serei um conquistador;
Nos alarmes da vida me afundo. Quando estou só;
Aprisiona-me em teus braços; e forte minha mão será”
Que Jesus Cristo, o Deus misericordioso e gracioso, sujeite-o ao Seu senhorio, para o seu próprio e eterno bem.

domingo, 9 de março de 2008

RENOVO













Por Jorge Fernandes


I

A folia em noite de sábado,
Bulha disforme no ônibus,
Risos destoantes,
Como lamúrias espasmódicas;
Mulheres à beira de um ataque de nervos,
Homens de saias cobiçando outros homens,
Ainda que pareça galhofa,
Eles nas calçadas zombam-nas através das janelas de vidro,
O impudor,
Disparado como uma chuva de balas,
Exibe-se no malévolo mal do fim-de-semana,
Um dia depois, volta-se ao ostracismo.
Ruas abarrotadas,
Carros desgovernados,
Bêbados e drogados pelo chão,
É uma guerra,
Onde as vidas subjugam-se na dor,
Desistiram da esperança,
Confiantes em suas premissas,
Não vêem o vácuo debaixo dos pés,
Em queda livre, arrazoam pretextos,
Como se pássaros, voassem.
O alarido a perpassar,
Nada intermitente,
Como água a descer da cachoeira,
As luzes piscam,
Pneus fremem,
O caos acomoda-se, inflama-se,
E o vento não dissipa o fedor.


II

Cinco anos atrás,
Eram meus quinze minutos no coletivo,
Quase ouvia a minha própria voz,
Quase via meus próprios gestos,
O som como o chio do porco abatido,
Igual náufrago na procela,
O hífen de muitos gritos,
Antes de soçobrar.
Fui pior que eles,
No egoísmo a alardear-se,
Ascendi muitos degraus no estupor,
Era o rato a acrisolar o monturo,
Como um regato de dejetos,
A desaguar na sentina.


III

Quis orar por eles... Não consegui.
Quis que Deus os perdoasse... Mas se fosse por mim...
Quis que se calassem... Voltassem escondidos pra casa,
E as ruas livres,
Como numa madrugada fria e chuvosa.
O enlevo de outros gritos,
Retorna-me ao tempo,
E não foi difícil ver que entre eles e eu havia a única diferença.
Se fui perdoado,
Ainda que monstruoso,
Se redimido,
Ainda que imerecido,
Se santificado,
Ainda que o inferno fosse o destino,
Se amado,
Quando o ódio era-me escudo e lança,
Se feito filho,
Quando o matei,
Nascido sem choro,
Só sobrou-me arrepender,
Por não os tê-lo abraçado,
Beijado-lhes a face,
E dito: sou como vocês!
Mas somente pelo sangue derramado no Calvário
Fui feito novo,
Criatura em ser,
Firme na Rocha inabalável,
Erguido pelo santo amor do Filho de Deus,
Que me elegeu por toda a eternidade,
Na Sua graça perfeita,
E absoluta misericórdia;
Por Ele, unicamente Ele,
Sou renovo.

terça-feira, 4 de março de 2008

REBELIÃO

(Definição: Ato de se rebelar; revolta; sublevação; desobediência; transgressão de uma ordem)







Por Jorge Fernandes

A rebelião implica na revolta contra uma autoridade, na quebra da ordem, na ilegalidade; sendo, portanto, um crime e passível de punição. Esta é a condição do homem natural: insurgente contra Deus, “não o glorificou como Deus, nem lhe deu graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21); encontra-se em teimosa e contumaz desobediência, em delito, e sobre ele a ira de Deus se manifesta (Rm 1.18).
O pecado é o crime contra a autoridade de Deus; é a prova de que somos rebeldes, e de que, por ele, seremos julgados e condenados. Muitos não acreditam na existência do pecado. Muitos se escondem na premissa de que o homem é imperfeito, e, portanto, sujeito ao erro, e de que não há quem não o cometa; sendo assim, temos de aceitar a nossa natureza como ela é, pois não há nada a se fazer, e refutam a idéia do pecado (1Jo 1.8). Muitos, para a sua própria perdição, se deleitam e se comprazem no mal que praticam, dizendo-se sábios, tornam-se loucos (Rm 1.22).
O pecado, transigido, foi aceito como algo inevitável, como parte da natureza humana contra o qual, antes de se combater, podemos usufruir, ainda que infame, ainda que “inatural”, ainda que inflame e incite a toda a sorte de sentimentos perversos. O homem, em nome de uma pretensa liberalidade, tornou-se impotente escravo de suas paixões e delitos (Jo 8.34), dominado, subjugado por um sofrimento infinito que se perpetuará numa tragédia por toda a eternidade. “Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo” (2Pe 2.19).
A despeito de todos os avanços da ciência, o homem morre e está morto. Apenas o Senhor pode trazê-lo à vida. Quando Adão transgrediu a ordem de Deus de não comer do fruto da árvore do bem e do mal, o pecado entrou na humanidade, e, por conseguinte, a morte (Gn 2.17; Rm 5.12). Depois, o que se viu foi a rápida degradação, a ponto de Caim, deliberadamente, matar a seu irmão Abel (Gn. 4.8). Antes, Caim foi alertado pelo Senhor: “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar” (Gn 4.7). Mas a inclinação inevitável para o mal e a desobediência (decaído em sua miséria), levou-o ao assassínio e as lamentáveis conseqüências do pecado.
Hoje, como no passado, a maldade tem-se tornado a marca característica da humanidade. Não há o temor a Deus, e nem sabedoria (Sl 111.10)... “O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama” (2Pe 2.22). Assim encontra-se o homem, refestelando-se na dissolução, entregue às cadeias da escuridão, ficando reservado para o juízo, para ser castigado (2Pe 2.4;9).
Sem a convicção do pecado, o homem está morto em seus delitos; como o condenado à morte, seus crimes levá-lo-ão ao fim. E o fim é perecer eternamente. Diferente do condenado à morte, se ele confessar a sua culpa, se arrepender, será salvo.
Por isso, Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, morreu na cruz: para salvar os pecadores arrependidos. Não há outro jeito, nem forma ou maneira. Apenas o sacrifício que o Senhor fez na cruz do Calvário é capaz de livrá-lo da imputação dos seus crimes. “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo; o qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.13-14).
Pedro, falando sobre Jesus em Atos 4.11-12, disse: “Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.
Esta é a verdade: a rebelião é uma afronta a Deus, é trata-lO com desprezo, em transgressão; e assim, estamos afastados, mortos para Ele; sepultados em iniqüidades, não temos vida, e a barreira que o nosso pecado erigi, separa-nos de Deus.
Como natimortos, em Cristo somos ressuscitados, e Ele é o único capaz de derrubar o obstáculo que nos separa de Deus, e de nos reconciliar com Ele, perdoando as nossas ofensas. Apenas o Senhor, e tão somente o Senhor Jesus, pode restaurar a nossa relação com o Altíssimo, absolvendo-nos dos crimes pelos quais o justo Juiz nos sentenciaria e proclamaria: CULPADO! (Sl 7.11; 2Ti 4.8). Ele mesmo cumprindo na cruz do Calvário a pena que nos foi fixada, pelo seu imenso amor substituiu-nos, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus, quando seria-nos impossível realizá-lo (1Pe 3.18).
Confessar os pecados e a rebeldia diante de Deus, e receber o inevitável e maravilhoso perdão de Cristo, dar-nos-á vida em abundância; encher-nos-á de alegria o coração, auferindo-nos o gozo eterno.
Ou Cristo, ou a ruína. Ou Cristo, ou a vida ceifada. Ou o amor e a salvação de Cristo, ou a Sua ira e juízo. Pois ao rebelde, o indulto apenas é-lhe concedido por Jesus, que o converte em servo resignado, o qual passa a obter a graça do seu Senhor. Recebemos o Espírito que provém de Deus, abandonando o espírito do mundo (1Co 2.12); e a paz e a ordem que nos é dada, gratuitamente, tomam o lugar da rebelião e do caos, e nos faz navegar por águas tranqüilas ao invés de nos arrastar pelas sarjetas terrenas.