sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O HOMEM É UM FANTOCHE?








Por Jorge Fernandes

Não, o homem não é um fantoche de Deus, mas se fosse, não haveria problema algum; de certa forma até seria preferível, pois assim a certeza de agradá-lO estaria assegurada em 100%. Igualmente, não há capacidade no homem de escolher entre o bem e o mal sem que Deus o regenere, transformando a sua natureza caída, e “assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.7). Como está escrito em Ezequiel 36.26: “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne”; portanto, se Deus não transformar o coração de pedra em carne, ele continuará e sempre será um coração impossível de reconhecer que o bem é tudo o que procede de Deus. O homem é pecador porque quer, a sua natureza assim o quer, e será santo somente se Deus quiser. Sem o novo-nascimento, sem a transformação que somente Ele opera no ímpio, nada de salvação nem santidade; permanece-se morto em delitos e pecados.
A eleição e predestinação é a realidade da escolha de Deus e não a realidade do homem, pois esse homem, realmente, escolherá sempre pecar. O problema é que, visto alguns serem aparentemente boas pessoas (não furtam, mentem, difamam, falam palavrões, se prostituem... ajudam ao próximo, fazem caridades, como os espíritas e filantropos), isso nos leva a crer que foram capazes de escolher o bem. Porém, qualquer coisa que não seja para a glória de Deus é pecado, mesmo as aparentes boas ações (já que provêm unicamente do esforço próprio, com o objetivo de se alcançar uma vantagem pessoal, um prêmio), mas quando fizer algo, não faça “para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão” (Mt 6.5).
Engana-se quem acha que eles escolheram ser bons. Essa bondade foi controlada e decretada eternamente pelo Senhor, e assim o homem permanece indesculpável diante dEle, impossibilitado de reivindicar qualquer mérito por algo que Deus produziu e forjou nele. Por isso, Cristo diz àqueles que não o confessam como Salvador: “se não crerdes que EU SOU, morrereis em vossos pecados” (Jo 8.24)... mesmo não fazendo o mal, mesmo fazendo o bem. O pecado é algo muito diferente de atitudes boas e más. O pecado afronta a Deus, é rebeldia, inimizade para com Ele, é não admiti-lO como Senhor; e não será a doação de alimentos, atravessar velhinhas na rua, ou adotar uma criança abandonada que o aproximará. O erro está em não professar como verdadeira a obra expiatória de Cristo, o Seu sacrifício na cruz do Calvário para a remissão dos pecados; sem Jesus, nada feito! Ser bom (o que não implica em santidade; e todo aquele que se aproxima do Todo-Poderoso tem de ser santo), envolver-se em causas humanitárias, ou ser um religioso praticante, não é o passaporte para a vida eterna. É necessário muito mais do que isso...
Primeiro, ser um eleito de Deus, porque não é o homem quem escolhe, mas Ele. Segundo, Deus operará no homem, pelo poder do Espírito Santo, o novo-nascimento, e o converterá infalivelmente, tornando-o nova criatura em Cristo, o qual será Senhor e Salvador, por Sua obra completamente consumada na cruz. Isso é graça, algo imerecido, mas recebido porque Deus quis dá-la, e torná-lo filho adotivo, co-herdeiro de Cristo. Isso é misericórdia, pois, apesar de merecer a condenação no Inferno, poupou e absolveu-o do castigo eterno. Terceiro, com a mente de Jesus, é-se atraído a Ele, à Sua oferta de sacrifício, ao Seu perdão, ao arrepender-se dos pecados, a lamentar a vida dissoluta e bárbara em que esteve, a entristecer-se por have-lO desprezado.
Portanto, com a mente corrompida, com a velha natureza, não é possível sujeitar-se ao senhorio de Cristo. Somente quem tem o novo-nascimento é capaz de tê-lO como Senhor, porque é impossível ao homem resistir às maravilhas de Deus, tanto a Sua graça, misericórdia, autoridade, poder e amor. É como o caso do filho cativo por seqüestradores, e que vê o pai entrar pela porta de repente, correndo para os seus braços a fim de libertá-lo. Será que o filho o rejeitará? (o exemplo é tosco, e está muito aquém do que Cristo faz). Então, fique tranqüilo, não somos títeres mas filhos escolhidos por Deus a participar da Sua eterna glória; porém, se você não confessou Jesus Cristo como Salvador da sua vida, comece a arrancar os cabelos, porque é impossível ao homem “ir” a Deus sem que Ele opere o desejo, a restauração, e um coração segundo o coração do Seu Filho Amado.
Apesar de que seria melhor tanto para você como eu sermos fantoches, não foi assim que Deus quis; e quem pode questionar os preceitos e decisões do Senhor? Como disse: “agindo eu, quem o impedirá?” (Is 43.13). Cabe-nos obedecê-lO e proclamar o Evangelho da Graça. É dever, mesmo sabendo que a maioria permanecerá cauterizada, condenada, “pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece... Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (Rm 9.16;18).
Deus é soberano em tudo, seja na salvação ou no homem. E isso é imutável, como o próprio Deus.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

COMENTÁRIO A JOÃO 12.1-11










Por Jorge Fernandes

Como disse anteriormente, Jesus retornou a Betânia seis dias antes da páscoa, encontrando-se com Lázaro, Marta e Maria, os quais juntamente com o Senhor e Seus discípulos participaram de uma ceia (v.1-2).
Maria tomou um arrátel de ungüento de nardo puro, caríssimo, “ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento” (v.3). Há uma discussão se Maria era uma prostituta, e mesmo se seria Maria Madalena, conforme parece indicar Lucas 7.37-38 (Creio que as duas passagens são diferentes, e não se referem à mesma pessoa). Não vou entrar no mérito da questão, até porque não é isso o que de mais importante nos é revelado (na verdade, é irrelevante). O fato é que tanto Maria como os outros convivas eram pecadores, independente se seus pecados eram públicos ou secretos. Para Deus não há acepção de pessoas (Rm 2.11), no sentido de que todos somos pecadores e, portanto, não merecemos privilégio especial, “porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados” (Rm 2.12).
Porém, “para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” (Rm 9.23), sobre uns Ele derramou a Sua graça salvando-os, porque “isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Rm 9.16); e sobre outros, reservou-lhes a Sua ira; “e que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição”? (Rm 9.22).
Em meio à assistência Maria se humilhou diante do Senhor, exaltando-O, e atraindo sobre si a injusta indignação dos convidados, os quais consideravam desperdício aquela atitude de lavar os pés de Jesus com perfume (Mc 14.4), que leva-nos a traçar um paralelo com a cena em que o Mestre lava os pés dos Seus discípulos (Jo 13.12). Ali, Ele se humilha diante deles, mas mais do que isso, Ele honra-os ao dar-lhes o exemplo “para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15). Ou não é uma honra seguir os passos do Senhor?
O Seu objetivo é mostrar-nos que o cristianismo não é uma competição nem um campeonato dos melhores, pelo contrário, todos somos miseráveis pecadores, escória, e se há algo de bom em nós, é obra exclusiva de Deus que a operou. Somos todos membros do mesmo corpo, e de que nenhum membro é maior do que o outro. Paulo faz uma analogia fantástica da Igreja com o corpo, e em certo ponto, diz: “Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis... E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários; e os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra” (1Co 12.18; 22-23). Não é o que nos revela o ato de Cristo? Se como Deus e Senhor, “vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (Jo 13.14), “para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros” (1Co 12.25).
As duas cenas dos pés lavados parecem díspares, apesar de terem semelhanças. Porém, em ambas há um só objetivo: a glória de Cristo! Maria ao lavar os pés do Senhor, adora-O, revelando-nos a Sua divindade, e o lugar de honra que lhE é merecido. Quando Jesus lava os pés dos discípulos, em humildade, mostra-nos o perfeito grau de obediência que tem para com o Pai, e de como veio para servi-lO, cumprindo-se assim os eternos decretos de Deus. Portanto, não há incompatibilidade de propósitos, antes eles se complementam, manifestando a natureza santa de Cristo; o qual sendo Deus “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2.7-8).
Então, eis que surge a oposição na forma de Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, que disse: “Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?” (v.5). O apóstolo João encarrega-se de explicar o motivo de sua atitude: “Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” (v.6).
Como já vimos, não foi apenas Judas que se indignou, mas alguns outros também (Mc 14.4). Judas tinha os seus motivos escusos e torpes, e os outros? O que os motivava?... A completa ignorância acerca de Deus; pois não tinham a menor idéia do que Maria fazia, de como aquela atitude era o agradecimento, reconhecimento, louvor e glorificação do Senhor. Eles estavam tão presos aos seus interesses, à sua humanidade caída, que não podiam ver um milímetro além dos olhos; suas almas estavam acorrentadas e cegadas ao pecado, restava-lhes apenas a indignação, por não ser-lhes possível ver além do valor pecuniário do perfume. É o homem em sua essência, pequeno, miserável, diante da grandiosidade de Deus. Porém Maria o soube; e Jesus garantiu que o seu ato fosse documentado e passado às sucessivas gerações como testemunho de uma boa obra, do seu amor: “onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua” (Mt 26.13).
Por outro lado, evidencia-se a hipocrisia dos indignados, os quais esperavam fazer o bem com algo que não lhes pertencia e não lhes custara nada. Em seu estúpido juízo, esperavam a aquiescência do Mestre, mas o que ouviram foi a Sua reprovação, uma ducha de água fria: “Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes” (v. 7-8)*. Provavelmente, a compaixão deles para com os miseráveis resumia-se em frases de efeito e no imediatismo farisaico de acusar o próximo, senão, porque Jesus diria: “podeis fazer-lhes bem (aos pobres), quando quiserdes” (Mc 14.7)?
Judas, após ouvir a repreensão de Cristo, foi ter com os principais dos sacerdotes para lho entregar” (Mc 14.10); “e eles lhe pesaram trinta moedas de prata” (Mt 26.15). Essa era a vontade do ladrão, roubar o que não lhe pertencia, mas nesse caso, nem ele nem ninguém poderia tomar a vida do Senhor.
Ao saber onde Cristo estava, muitos judeus foram até Ele, e também para ver a Lázaro, “porque muitos dos judeus, por causa dele, iam e criam em Jesus” (v.11), por isso, os líderes religiosos “tomaram deliberação para matar também a Lázaro” (v.10).
O contraste entre a gratidão e amor de Maria com a pusilanimidade e ódio de Judas é notório no relato de João e nos evangelhos sinóticos; mas tudo meticulosamente planejado por Deus, tanto o bem como o mal, para que Cristo, quando for levantado da terra, atraia todos a Si (Jo 12.32)... e seja glorificado.
*Maria ao chorar aos pés do Senhor e perfumá-los, antecipa, de certa forma, o sacrifício e a morte de Cristo na cruz.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

COMENTÁRIO A JOÃO 11.47-57










Por Jorge Fernandes

Após ressuscitar a Lázaro (11.43), converter muitos a Si (11.45) e de, novamente, ser alvo da intriga dos judeus (11.46), Jesus não aparece no conjunto final do capítulo 11. Ouve-se falar dEle, e sabemos que está retirado no deserto junto com os Seus discípulos, na cidade de Efraim (v.54), distante 20 km de Jerusalém; enquanto os fariseus e os sacerdotes maquinavam contra a Sua vida. Mas Ele retornará a Betânia, visto que seis dias antes da páscoa encontrou-se com Lázaro, Marta e Maria numa ceia (12.1-2), e os judeus aguardavam a páscoa para prendê-lO em Jerusalém.
O que salta-nos aos olhos é a campanha perpetrada pelos sacerdotes e fariseus, movida a inveja e ódio, em resposta às obras divinas que o Senhor operou. Pois esses sinais testificavam que Jesus era o Messias, o Filho de Deus, do qual os profetas falaram.
Aliás, Cristo denunciava como obras das trevas toda a estrutura religiosa, tradicional e humana do judaísmo, atacando diretamente a hipocrisia dos escribas e fariseus (Mt 23.13.39), ao ponto de considerá-los “serpentes, raças de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mt 23.33). O Senhor pronuncia vários “Ais”, indicando os motivos pelos quais os líderes judeus seriam julgados. Para piorar ainda mais a situação deles, peremptoriamente, Jesus afirmou que alguns gentios seriam os que, no juízo, condená-los-iam pelos seus testemunhos: os ninivitas, “porque se arrependeram com a pregação de Jonas” (Mt 12.41), e a rainha do sul, “porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é maior do que Salomão (Mt 12.42).
Mateus 12.45 culmina com uma sentença terrível para os judeus, os quais são comparados com uma casa que, desocupada, varrida e adornada, recebe o espírito imundo e outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que o primeiro. Assim acontecerá também a esta geração má”. Note-se que esta profecia refere-se à morte de Cristo na cruz do Calvário, a qual é obra máxima da maldade humana, tanto nossa como dos judeus, mas para a sua infelicidade, foram eles que a consumaram, matando o Santo e o Justo (At 3.14-15); e assim, esse ato se tornou pior do que os anteriores.
Os sacerdotes e fariseus formaram o conselho de que não há como deter Jesus, porque Ele faz muitos sinais, “se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação” (v. 47-48). É evidente a preocupação dos líderes judeus com as suas posições e a possibilidade de perdê-las caso os romanos considerassem Jesus um revolucionário. Ainda que sob o jugo de Roma, eles não tencionavam privar-se do pouco que ainda lhes restava: uma nação escravizada, esfacelada, miserável mas orgulhosa, e que de certa forma pertencia-lhes, ao menos naquilo que os romanos concediam dar-lhes. Por isso Jesus tinha de morrer pois, além de tudo, Ele apontava para a corrupção deles: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando” (Mt 23.13).
Caifás argumentou que “convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação” (v.50). Inconscientemente, o sumo sacerdote profetizou que Cristo “devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” (v.51-52). Como o apóstolo João explicitou, o Senhor não morreu por todos, e aqui a nação representa o povo de Deus, tanto judeus como gentios, mas somente aqueles que são membros do corpo de Cristo (a Igreja, o Israel de Deus), pois reunirá os que andavam dispersos. Portanto a morte de Cristo não foi de caráter universal, no sentido de que todos poderiam apropriar-se dela e serem salvos. Ele morreu pelos Seus eleitos espalhados pela terra em todas as épocas, dos quais afirmou: “rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.9), e “ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (Jo 6.44).
Pedro escrevendo à Igreja de Cristo: “vós sois geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Um pouco antes diz: “Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido... E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (1Pe 2.6;8). Note que a palavra “eleita” no v. 6, relaciona-se com a palavra “destinados” no v. 8, indicando que a “geração eleita, o sacerdócio real, a nacão santa, o povo adquirido” (adquirido tem o significado de comprado pelo sangue de Cristo) foi escolhido por Deus, assim como aqueles que tropeçam na pedra principal “também foram destinados” (aqui no sentido de reservados, designados). Tanto eleitos quanto destinados contém a idéia de determinação antecipada, ou seja, Deus determinou os eleitos, os que seriam o Seu povo adquirido, como determinou os condenados, aqueles que foram destinados ao tropeço, à desobediência.
Da mesma forma, a morte de Cristo na cruz não foi algo acidental, mas igualmente determinado na eternidade, meticulosamente planejado, segundo o perfeito decreto de Deus. Por isso, desde aquele dia, a sentença de morte de Jesus foi promulgada (v.53). E correu entre os judeus a ordem para que, “se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o prenderem” (v. 57), já que todos esperavam que Cristo subisse da região de Efraim para Jerusalém, antes da páscoa, para celebrar os rituais de purificação (v.54-55). Não havia melhor oportunidade de prendê-lo, o que de fato aconteceu pela aleivosia diabólica de Judas Iscariotes; porém, não porque o Senhor estivesse indefeso, pois como disse: “pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26.53); mas porque assim Cristo o quis: “dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” (Jo 10.17-18).
Na Sua morte, morremos com ele; e na Sua ressurreição, “segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança” (1Pe 1.3):
A vida eterna.

Leia o comentário a João 11.17-46 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-joo-1117-46.html e João 11.1-16 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-de-joo-111-16.html

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

TRAGÉDIA E GRAÇA















Por Jorge Fernandes

A tragédia das chuvas em Santa Catarina deixa-nos perplexos por vários motivos:
1) A morte de centenas de pessoas, e o sofrimento de outras milhares;
2) O prejuízo material, onde famílias perderam tudo o quanto amealharam durante a vida;
3) O caos urbano;
4) A inoperância, negligência e omissão dos governos municipal, estadual e federal;
5) A natureza maligna do homem.
Catástrofes sempre nos deixam atônitos diante do poder destruidor da natureza, da nossa fragilidade, da realidade da morte, e da transitoriedade da vida. Porém, ater-me-ei ao ponto 5): a natureza maligna do homem.
A dor, a angústia, as perdas de vidas e bens materiais são a causa ou a conseqüência da explícita impiedade do homem?
Situemo-nos primeiro: as imagens que nos chegam são de ruas alagadas, casas desabando, desabrigados amontoados em ginásios e clubes, água por todos os lados, barrancos desmoronando, pontes caídas, casas ilhadas, pessoas e animais mortos. A natureza, como objeto da criação de Deus, geme com dores de parto até agora (Rm 8.22), nas palavras divinamente inspiradas de Paulo; “porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.20-21).
O mundo criado por Deus era bom e perfeito (Gn 1.31), até que o pecado do homem adentrou-o, corrompendo-o, trazendo o caos à existência. A desordem que o pecado gerou pode ser vivenciada dia após dia nos quatro cantos do globo: inundações, furações, maremotos, avalanches, secas, nevascas, terremotos... Todos esses fenômenos têm um culpado: o pecado de Adão e Eva no Éden, o qual é o nosso próprio pecado.
Porém, as cenas de saques a lojas e supermercados deixam ainda mais evidente o mal que habita no homem. Santa Catarina repetiu Nova Orleans em 2005, quando da passagem do furacão Katrina: o homem, para a sua infelicidade, vem-se superando no mal.
Recentemente, aqui em Minas, um caminhão transportando gêneros alimentícios acidentou-se. Enquanto dois ou três preocupavam-se em socorrer o motorista e ajudante feridos, uma horda encarregava-se de saquear o veículo, e, em questão de minutos, toda a mercadoria foi furtada (o mal age rapidamente, em fração de segundos, e suas conseqüências perduram por toda a vida). Em Nova Orleans, enquanto milhares sofriam as conseqüências devastadoras do Katrina, parte da população saqueava casas e apartamentos, e os poucos proprietários que se atreveram a defendê-las foram executados.
Há justificativa para tanta crueldade na tragédia? Ou utilizam-na como pretexto para dar vazão à imoralidade?
Eternamente Deus contempla a humanidade: “E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Gn 6.5). Por mais que se queira “dourá-lo”, o homem é mau, e nem é preciso desculpa para extravasar-se na dissolução, na injustiça. O homem tem-se especializado no cinismo, na cara-de-pau e frieza moral; “porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos... Estando cheios de toda a iniqüidade, fornicação, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem” (Rm 1.21-22; 29-32). Aqui o mal é tanto daquele que pratica quanto do que consente na prática, ou seja, a omissão, a indiferença, o descaso, o fazer “vistas grossas” ao pecado é tornar-se cúmplice dele. A sociedade jamais entenderá isso, e caminha na direção da conivência em nome da “paz social”, onde cada um faz o que quer sem dar satisfação a ninguém, tudo em nome do prazer carnal e de uma aparente civilidade, as quais, cedo ou tarde, levá-los-á à destruição.
Tiago estabeleceu a seqüência do mal:
1) O homem é atraído e enganado pela própria concupiscência (1.14) – O desejo ardente de praticar o mal, de satisfazer os prazeres carnais (releia a lista de Rm 1.29.31);
2) Concebida a concupiscência, dá a luz ao pecado (1.15) – O desejo se realiza em transgressão, em desobediência a Deus, pois “não há temor de Deus perante os seus olhos” (Sl 36.1).
3) O pecado consumado gera a morte (1.15) – “Porque o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23) – E essa morte é muito mais do que a agressão à vítima, porque no Éden o Senhor disse a Adão: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17); e ela é a separação de Deus; àquele que infringe e subleva a Sua Lei se reserva eternamente o castigo à escuridão das trevas (2Pe 2.17).
Portanto, nem a fome, nem o desemprego, nem enchentes, nem seca, nem a loucura, nem doença, ou qualquer motivo aparente, pode levar o homem a justificar o mal praticado; “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gl 6.7-8).
Ao pecador resta-lhe:
1) Reconhecer-se pecador e o seu pecado, e que, por si só jamais deixará essa condição: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias... Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51.1;3)
2) Como Davi, confessar os pecados a Deus: “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista” (Sl 51.4);
3) Crer em Jesus Cristo pois, “todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10.11); o qual morreu na cruz para vencer o pecado, e ressuscitou, vencendo a morte, os dois inimigos do homem;
4) Arrepender-se “para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At 3.19).
5) Gozar a eterna segurança da salvação na plenitude de Deus, o qual jamais permitirá que aqueles chamados à comunhão da Sua glória se percam e pereçam (Jo 10.28).
Ainda que você não seja um saqueador; mesmo que seja um benfeitor, um filantropo, nenhuma das suas boas ações, por si só, são meritórias para a salvação, e reconciliação com Deus; a qual não vem “pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador” (Tt 3.5-6).
O homem natural e carnal é derrotado; em seu lugar, surge o homem espiritual à imagem e semelhança de nosso Senhor, porque “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5.20); e Deus rompeu o liame da tragédia; e agora conhecemos que estamos firmes na liberdade com que nos libertou (Gl 5.1).

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

EPÍLOGO














Por Jorge Fernandes

O suor a instilar pelo corpo, a última água a jorrar da fonte seca;
Em breve, haverá apenas a terra árida,
E o sopro do vento gelado a corroer o ânimo combalido em que me arrasta.

Os olhos que me vêem são os mesmos com que vejo,
As peles exalam o cheiro que me pertence,
Os suspiros, o ar derradeiro a inflar os pulmões,
Nem o zunido a ecoar tem o sentido das palavras.

Cabelos brancos a esvoaçar, folhas estorricadas a farfalhar,
Rugas crispadas, fendas no rochedo,
Não há mal que perdure,
Enquanto houver a esperança de que o bem surja e nos alcance.

Ainda a correria desenfreada,
O tempo a escoar, a barragem quebrada,
Num alívio que se esvai,
Há agonia, a carne lavrada,
Nenhum grão a semear.

Ao querer rejeitá-la,
Fui derrotado pelo laço, o nó paralisante,
Faz o sangue jazer inerte em meio às artérias obstruídas,
Cômodo... partilhar o colapso dos sentidos,
O redemoinho em que o delírio forja a imagem de que não sou
Sequer fui, pode ser que seja...

No fundo, enquanto estraçalhado,
Não sinto a dor que me perpassa,
Nem o pavor a consumir,
Há somente o hálito morno a expulsar-me de mim,
Como um exército em retirada,
Sem ter aonde abrigar-se.

Quisera poder chorar,
Rasgar a carne com as unhas,
Cuspir no rosto, amaldiçoar o dia em que nasci,
É tudo o que poderia fazer,
Apesar de nada disso remediar o pecado, e absolver.

Sou um condenado à morte infinita,
A eterna agonia de jamais vê-lO,
E após a iminente sentença, a culpa confirmada,
Quis instar-lhE o perdão, era tarde... impossível...
Os grãos debulhados jamais retornam ao sabugo.

Não havia como resgatar-me.
Em toga, agora era Juiz.