quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

COMENTÁRIO A JOÃO 11.47-57










Por Jorge Fernandes

Após ressuscitar a Lázaro (11.43), converter muitos a Si (11.45) e de, novamente, ser alvo da intriga dos judeus (11.46), Jesus não aparece no conjunto final do capítulo 11. Ouve-se falar dEle, e sabemos que está retirado no deserto junto com os Seus discípulos, na cidade de Efraim (v.54), distante 20 km de Jerusalém; enquanto os fariseus e os sacerdotes maquinavam contra a Sua vida. Mas Ele retornará a Betânia, visto que seis dias antes da páscoa encontrou-se com Lázaro, Marta e Maria numa ceia (12.1-2), e os judeus aguardavam a páscoa para prendê-lO em Jerusalém.
O que salta-nos aos olhos é a campanha perpetrada pelos sacerdotes e fariseus, movida a inveja e ódio, em resposta às obras divinas que o Senhor operou. Pois esses sinais testificavam que Jesus era o Messias, o Filho de Deus, do qual os profetas falaram.
Aliás, Cristo denunciava como obras das trevas toda a estrutura religiosa, tradicional e humana do judaísmo, atacando diretamente a hipocrisia dos escribas e fariseus (Mt 23.13.39), ao ponto de considerá-los “serpentes, raças de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mt 23.33). O Senhor pronuncia vários “Ais”, indicando os motivos pelos quais os líderes judeus seriam julgados. Para piorar ainda mais a situação deles, peremptoriamente, Jesus afirmou que alguns gentios seriam os que, no juízo, condená-los-iam pelos seus testemunhos: os ninivitas, “porque se arrependeram com a pregação de Jonas” (Mt 12.41), e a rainha do sul, “porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é maior do que Salomão (Mt 12.42).
Mateus 12.45 culmina com uma sentença terrível para os judeus, os quais são comparados com uma casa que, desocupada, varrida e adornada, recebe o espírito imundo e outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que o primeiro. Assim acontecerá também a esta geração má”. Note-se que esta profecia refere-se à morte de Cristo na cruz do Calvário, a qual é obra máxima da maldade humana, tanto nossa como dos judeus, mas para a sua infelicidade, foram eles que a consumaram, matando o Santo e o Justo (At 3.14-15); e assim, esse ato se tornou pior do que os anteriores.
Os sacerdotes e fariseus formaram o conselho de que não há como deter Jesus, porque Ele faz muitos sinais, “se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação” (v. 47-48). É evidente a preocupação dos líderes judeus com as suas posições e a possibilidade de perdê-las caso os romanos considerassem Jesus um revolucionário. Ainda que sob o jugo de Roma, eles não tencionavam privar-se do pouco que ainda lhes restava: uma nação escravizada, esfacelada, miserável mas orgulhosa, e que de certa forma pertencia-lhes, ao menos naquilo que os romanos concediam dar-lhes. Por isso Jesus tinha de morrer pois, além de tudo, Ele apontava para a corrupção deles: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando” (Mt 23.13).
Caifás argumentou que “convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação” (v.50). Inconscientemente, o sumo sacerdote profetizou que Cristo “devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” (v.51-52). Como o apóstolo João explicitou, o Senhor não morreu por todos, e aqui a nação representa o povo de Deus, tanto judeus como gentios, mas somente aqueles que são membros do corpo de Cristo (a Igreja, o Israel de Deus), pois reunirá os que andavam dispersos. Portanto a morte de Cristo não foi de caráter universal, no sentido de que todos poderiam apropriar-se dela e serem salvos. Ele morreu pelos Seus eleitos espalhados pela terra em todas as épocas, dos quais afirmou: “rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.9), e “ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (Jo 6.44).
Pedro escrevendo à Igreja de Cristo: “vós sois geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Um pouco antes diz: “Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido... E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (1Pe 2.6;8). Note que a palavra “eleita” no v. 6, relaciona-se com a palavra “destinados” no v. 8, indicando que a “geração eleita, o sacerdócio real, a nacão santa, o povo adquirido” (adquirido tem o significado de comprado pelo sangue de Cristo) foi escolhido por Deus, assim como aqueles que tropeçam na pedra principal “também foram destinados” (aqui no sentido de reservados, designados). Tanto eleitos quanto destinados contém a idéia de determinação antecipada, ou seja, Deus determinou os eleitos, os que seriam o Seu povo adquirido, como determinou os condenados, aqueles que foram destinados ao tropeço, à desobediência.
Da mesma forma, a morte de Cristo na cruz não foi algo acidental, mas igualmente determinado na eternidade, meticulosamente planejado, segundo o perfeito decreto de Deus. Por isso, desde aquele dia, a sentença de morte de Jesus foi promulgada (v.53). E correu entre os judeus a ordem para que, “se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o prenderem” (v. 57), já que todos esperavam que Cristo subisse da região de Efraim para Jerusalém, antes da páscoa, para celebrar os rituais de purificação (v.54-55). Não havia melhor oportunidade de prendê-lo, o que de fato aconteceu pela aleivosia diabólica de Judas Iscariotes; porém, não porque o Senhor estivesse indefeso, pois como disse: “pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26.53); mas porque assim Cristo o quis: “dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” (Jo 10.17-18).
Na Sua morte, morremos com ele; e na Sua ressurreição, “segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança” (1Pe 1.3):
A vida eterna.

Leia o comentário a João 11.17-46 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-joo-1117-46.html e João 11.1-16 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-de-joo-111-16.html

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