Por Jorge Fernandes Isah
Na seqüência 3, Cristo e a sexualidade: a mentira liberal, afirmei que não foi por causa
do sexo que Cristo não se casou. Exatamente porque o sexo, dentro do padrão
bíblico, estabelecido por Deus, é santo. As corrupções humanas à idéia original
de Deus é que tornaram o sexo em pecado, pois descumpriram os propósitos ao
qual foi estabelecido pelo Criador. Então, deixei a pergunta: Por que Cristo
não se casou? A qual, tentarei responder a seguir; após algumas considerações
ulteriores.
Ao
falar sobre casamento e divórcio, Cristo disse que o homem jamais poderia
repudiar a sua mulher, a não ser por causa de fornicação, ou seja, a mulher ter
relações sexuais ilícitas com outro homem. Não entendo que Cristo está a falar
de adultério. O adultério acontece dentro do casamento, e a Lei exigia a morte
do adúltero, não o divórcio. O divórcio, mesmo entre os judeus, era praticado
por outros motivos que não fosse o adultério. O adultério exigia a pena capital
para o infrator. Penso que Cristo não veio "suavizar" a penalidade do
adúltero, mas esclarecer que o divórcio somente era possível nos casos em que a
fornicação fosse comprovada. Os judeus divorciavam-se por qualquer motivo,
normalmente, banais. Cristo veio colocar um ponto final na banalização do
divórcio, de tal forma que, apenas a depravação antes do casamento era a
condição. Descobrindo o marido o que a esposa fizera, sem que o soubesse antes
de casar, estaria permitido o divórcio. Qualquer outro motivo alegado para o
divórcio não seria considerado, e ambos, ao se casarem novamente, cometeriam
adultério [Mt 19.4-9].
Ao
que os discípulos de Jesus disseram: "Não
convém casar" [v.10]. Ao que o Senhor respondeu: "Nem todos podem receber esta
palavra, mas só aqueles a quem foi concedido" [v.11].
Um
aparte: o fato de Jesus ter dito que somente nos casos de fornicação o homem
poderia repudiar a mulher e pedir o divórcio, não o torna a única opção. Há
ainda a opção do marido perdoar a esposa, pelo passado que ela viveu e não lhe
confiou antes do casamento. É claro que o marido terá de perdoar a esposa ainda
sobre a omissão do seu passado. Mas creio que essa é uma possibilidade mais que
real, especialmente se houver arrependimento da esposa em relação aos dois
pecados. Não seria apenas um ato "nobre" do marido, mas, sobretudo,
de amor e piedade, revelando o seu caráter cristão. É claro que isso envolverá
várias circunstâncias, inclusive de personalidade e caráter de ambos, mas deixo
registrado como uma probabilidade que eu defenderia nesse caso, como um princípio
igualmente bíblico.
Os
discípulos se assustaram com a afirmação de Jesus. Já que o homem não podia
dispor da mulher e do casamento como e quando bem quisesse, assim, era melhor
não se casar. A ideia é mais ou menos a seguinte: se não posso ter o que quero,
do jeito que quero, prefiro não ter. Eles estavam dispostos a abrir mão de um
privilégio, o casamento, por não querê-lo na forma
como instituído por Deus. E estavam dispostos à intransigência, a um
comportamento intolerante de não suportar a Lei de Deus. Acontece que a
obediência à Lei deve ser entendida como a prova do nosso amor e temor por
Deus, e a prova do nosso amor para com o próximo. A dicotomia Lei versus amor,
não existe. Ela foi criada exatamente para que o homem cultivasse a
desobediência e o desamor.
Cristo
então dá outra ducha de água fria sobre os discípulos, ao dizer que nem todos
podem suportar a condição de solteiro. Provavelmente, devem ter-lhes passado
pela cabeça: “estamos num beco-sem-saída”. Como diz o ditado popular: se
correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. Nem todos, implicaria que muitos
deles não estariam aptos a viverem solteiros sem fornicar, sem pecar. A voz de
Paulo podia ecoar em seus ouvidos [pois é a voz do próprio Deus]: "Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do
que abrasar-se" [1Co 7.9]. Em outras
palavras, ou resistiam ao pecado da fornicação e mantinham-se solteiros, ou
teriam que ser obedientes a Deus no casamento, e não divorciar. Era a
encruzilhada em que muitos deles se viram, senão, todos.
Novo aparte: O casamento somente é
possível dentro do princípio divino de unir macho e fêmea. Qualquer outra
conceituação, seja macho-macho, fêmea-fêmea, macho-fêmea-macho, macho-rodentia,
fêmea-canis lupus familiaris, etc, pode ser chamada de qualquer outra
coisa, menos casamento. O casamento pressupõe o casal, e para se ser um casal,
tem-se de ser macho e fêmea, originalmente [Mc
10.6]. "Por isso deixará o homem
a seu pai e sua mãe, e unir-se-á a sua mulher, e serão os dois uma só
carne" [Mc 10.7-8]. Formas deturpadas de casal, como dois homens
coexistindo maritalmente, em que um faz o "papel" da mulher enquanto
o outro o do homem, nada mais é do que a corrupção da criação. Operações de
mudanças de sexo também são corrupções da criação, de tal forma que não
são nada mais do que aberrações, imposturas ao padrão normativo de Deus.
Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, "por
isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia,
para desonrarem seus corpos entre si" [Rm 1.24]. Deus denomina as
formas de sexo não bíblicas [pois há apenas uma forma bíblica: entre homem e
mulher, no casamento] como imundícia, e desonra aos que assim agem. A
palavra imundícia quer dizer porcaria, sujidade, lixo. É nisso que os homens e
mulheres que praticam o sexo fora dos padrões bíblicos se tornam. Seja o sexo
heterossexual ou homossexual, apesar deste ter um percentual ainda maior de
torpeza e depravação. A fornicação heterossexual é pecado, onde se preserva o
gênero. Há uma rebelião não quanto ao que Deus criou, mas na forma como os
criou. A fornicação homossexual além de pecado contra a forma, a Lei, peca-se também
contra a criação. Portanto, o homossexual é um pecador duplamente condenável,
pois se rebela em duas frentes; ele guerreia contra Deus em duas batalhas
distintas, resistindo-lhe como Senhor e como Criador.
Voltando a Mateus, Cristo explicou aos
discípulos porque nem todos podiam ser solteiros, visto ser necessário
preencher uma das três condições seguintes:
1) Há os que são eunucos de nascença;
2) Há os que foram castrados pelos
homens, que tiveram parte ou o todo do seu órgão sexual extirpado;
3) Há os que se fizeram a si mesmos
eunucos, por causa do reino dos céus.
Ou seja, provavelmente, a maioria não
estaria capacitada a ser e permanecer solteira.
No primeiro caso, o eunuco seria alguém
em cuja natureza não haveria nenhuma disposição ao sexo, do ponto de vista
físico [uma deficiência congênita em seus órgãos genitais, ou hormonais, p. ex]
ou uma condição estabelecida por Deus, em que não houvesse nenhum desejo pelo
sexo, a fim de que ele cumprisse um determinado propósito divino. Aqui, vai um
novo aparte. Alguns cristãos pensam, erroneamente, que Cristo se referiu a
homossexuais quando disse "eunucos
de nascença"; e o detalhe é simples: os eunucos eram impossibilitados
de realizar o ato sexual. Um sinônimo para eunuco é castrado. A sua função mais
importante era como guardião das mulheres, do harém do rei. Por isso, eram
castrados, ou escolhidos aqueles que não eram funcionais, por motivos óbvios. O
homossexual, que na Bíblia é chamado muitas vezes de sodomita ou efeminado, não
tem disfunção sexual, e pratica uma sexualidade antinatural. Eunuco não é
sinônimo de homossexual, pois o homossexual, via de regra, é ativo sexualmente,
enquanto o eunuco, não. O que os homossexuais reivindicam é a posição de um
terceiro sexo, quando mesmo um retardado, diante da foto de um homem e de uma
mulher nus apontaria quem é quem. A questão é que se está levando a discussão
para o lado da subjetividade, e, com isso, tudo o que é subjetivo adquire o
caráter objetivo, ao ponto de se promulgar leis que defendem a subjetividade do
terceiro sexo. O fato é que, por mais que se queira distorcer as palavras de
Cristo, o "eunuco de nascença"
não será, jamais, um homossexual. Apenas a ignorância poderá sustentar esse
falso argumento.
Quanto aos eunucos que são castrados,
já falei deles, e não há muito mais o que se dizer.
Há, também, aqueles que se fazem eunucos,
por causa do reino dos céus. Com isso, Jesus não está a dizer que são homens
que se automutilaram fisicamente. Foi-lhes dado por Deus o privilégio de
viverem exclusivamente para o Evangelho. Eles optaram em manterem-se castos,
abstendo-se voluntariamente dos prazeres e da prática de qualquer relação
sexual, por amor ao Reino. Eles não são eunucos no corpo, mas na mente. Estes
são, verdadeiramente, os que podem receber as palavras de Cristo; e assim, como
Paulo, ficarem como ele, porque "o
solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor" [1Co
7.32].
Na fala de Paulo, em conformidade com o
que disse Cristo, nem todos podem ser solteiros porque "cada um tem de Deus o seu
próprio dom, um de uma maneira e outro de outra" [1Co 7.7], de forma
que aquele que casa tem o dom para o casamento, e o que não casa tem-no
para a solteirice. E o importante é que, esteja casado ou não, o nome de Cristo
seja glorificado, vivendo em obediência aos seus mandamentos.
E a resposta para a pergunta: Por que Cristo
não casou?
Tenho duas hipóteses; as mesmas
respostas para a sexualidade de Cristo:
1) Cristo já nasceu casto, para se
cumprir o propósito divino de se dedicar integralmente à sua obra e ministério.
2) Cristo se fez casto para cumprir a
vontade do Pai e se dedicar integralmente à sua obra e ministério.
Pode ser qualquer uma das duas a
resposta, mas tenho para mim que são ambas. Cristo nasceu para fazer a vontade
do Pai, e quis viver para realizá-la, perfeita, santa, e completamente. Para
que os eleitos pudessem ingressar no seu reino de glória, através da sua obra
consumada; o fruto do trabalho da sua alma, no qual se satisfez [Is 53.11]; abstendo-se do sexo, não porque
fosse pecado, mas para entregar-se completamente à sua divina missão.
Que Deus nos capacite, no casamento ou
não, a viver em santidade, assim como o nosso Senhor é santo; sendo
conformados, dia a dia, à sua imagem e semelhança, que nos levará a ser, pelo
poder do Espírito Santo, como ele sempre foi e é.
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