Por Jorge Fernandes Isah
Para quem esperava uma revelação bombástica na parte final do estudo sobre Cristo e a sexualidade, será uma decepção. Mas antes de entrar propriamente neste assunto, gostaria de relembrar o que já foi escrito:
2) Disse também que qualquer aceitação ou defesa de práticas antibíblicas, inclusive sexuais, é idolatria; portanto, pecado. E o pecado nada mais é do que o desejo íntimo de se rebelar contra a Lei de Deus; é a sublevação da criatura contra o Criador, onde aquela quer tomar o lugar deste por usurpação, crendo em uma suposta autonomia que o "livre" de DeuS.
As correntes teológicas liberais [modernas e pós-modernas] não reconhecem Cristo como Deus. Tentam deformar a sua imagem fazendo-no um simples guru, mestre ou profeta. Quando se lê os liberais têm-se a nítida ideia de que, a despeito da linguagem empolada [quero dizer, confusa e ininteligível, a maioria das vezes] e aparentando piedade, o objetivo de todo o discurso cristológico é diminuir Cristo, de forma que ele não seja nada além de um homem iluminado. Cristo para eles é um espectro, quase uma ilusão. E, se ele era apenas um homem iluminado, por que não agiria como qualquer outro homem? Por que não se entregaria aos desejos como nós? E prescindiria do ato sexual? Bastaria mostrar-lhes a Bíblia e revelar o quanto ela fala do Senhor Jesus, afirmando em sua extensão a divindade, a humanidade sem pecados, e a Pessoa única de Cristo. Mas, reside exatamente na Escritura o problema dos liberais. Ou melhor, o ceticismo deles em relação ao Redentor.
A questão é que, para se chegar a esse ponto, de incredulidade quase absoluta, primeiro tem-se de desqualificar o Evangelho. O que faz com que o ataque primeiro dos liberais seja claramente voltado para a desmitificação da Palavra; uma busca obstinada em humanizar e desdivinizar o Cânon, tornando-o em um livro moral como qualquer outro, de qualquer religião. Cristo é equiparado nesse quesito a Confúcio, Buda, Maomé e outros "profetas" menos votados.
O fato é que os liberais se acham muito espertos e originais em suas loucas pretensões, mas há mais ou menos dois mil anos isso vem sendo intentado pelas forças do mal, por homens muito mais capacitados do que eles. Com isso, não estou dizendo que a capacidade intelectual daqueles os tornam melhores, mas a alusão de como o pensamento humano pode-se deteriorar e se tornar em uma réplica mal acabada de um destroço. O que é ruim, essencialmente, não pode se tornar melhor, antes aprimora-se em estragar-se em progressão. Se o homem não nascer de novo, não for regenerado, tornando-se em nova criatura, a sua ruína é certa, e irá sempre de mal a pior.
Para um grupo de gnósticos, se Cristo veio em carne, não pode ser Deus, visto a carne ser má. Por não terem a fé que vem do alto, era-lhes impossível conceber que Deus, mesmo encarnando-se, não poderia ser afetado pelo mal; não poderia ter nada acrescentado à sua natureza; não poderia descer do seu estado santo e perfeito para assumir um estado corrompido e imperfeito. Ao formularem esse conceito, demonstraram claramente não ter a mente de Cristo, perfeita, a lhes revelar a verdade. Por isso diziam que Cristo era uma imagem, de que não tinha um corpo, mas parecia ter um corpo. Cristo para eles nada mais era que um ilusionista, um dissimulador primoroso, mas ainda assim um enganador. Por isso o apóstolo nos diz: "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade" [Jo 1.14]. E, ainda: "Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus" [1Jo 4.2]. Cristo fez-se carne, chorou, emocionou-se, teve fome e sede, padeceu, e, "como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado" [Hb 4.15].Outro grupo de gnósticos empreendeu a tentativa de retirar a divindade de Cristo, tornando-o em um homem comum, porém iluminado por Deus. É o que se convencionou chamar de a busca pelo Jesus histórico. Para esses, ele veio cumprir uma missão, mas não tinha nada de especial em si mesmo. Pois comia, bebia, se emocionava, chorava, e até morreu. A ressurreição, para eles, era outra história, uma lenda como tantas outras criadas pelo imaginação do homem. Assim como a obra de remissão e expiação que Cristo veio realizar por amor do seu povo não passava de invenção dos autores da Bíblia. Logo, já que não passava de um simples homem, nada mais natural do que ele se entregar aos prazeres da carne, e até mesmo ter uma amante furtiva [como livros e filmes insinuam e tentam provar a partir de narrativas gnósticas. Interessante que o relato bíblico não tem, para eles, o mesmo valor histórico que os apócrifos].
Continua na próxima semana...Como atacar a natureza humana do Senhor Jesus faria poucos estragos, e as evidências históricas apontavam para a sua existência, não somente pelos testemunhos bíblicos mas também por muitos relatos extra-bíblicos da sua época, aprouve aos liberais atacar a divindade do Senhor, tirando dele qualquer aspecto sobrenatural. Mas, como disse, isso não foi exclusividade dos teólogos liberais do sec. XVIII e XIX, nem dos atuais, mas por séculos e séculos tentou-se criar uma história factível de um Cristo tão humano e sujeito a todas as fraquezas humanas quanto impossível reconhecê-lo Deus.Este preâmbulo teve como objetivo mostrar algumas coisas:1) A incompreensão da Pessoa de Cristo por parte daqueles que se dizem dele mas não são, pois não o conhecem: "Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as e elas me seguem" [Jo 10.26-27].2) Quando se abandona a Escritura, e navega-se por águas turbulentas, o homem, seja erudito ou não, precisa desconstruir a verdade, ao ponto de criar uma rede de mentiras em que a verdade seja enterrada em uma cova profunda. Mas, onde há a verdade, nenhuma mentira se constrói; e os esforços de erguê-la é o mesmo de se querer levantar uma parede em meio a um terremoto de 9.0 na escala Richter.3) Quando se quer um Cristo apenas divino, ou apenas carnal, não estamos falando do Cristo biblico, e as bases para essas afirmações terão de ser a conjectura e a improbabilidade, pois o Senhor é revelado apenas na Bíblia. Qualquer outra fonte pode indicar a sua existência, mas jamais como ele é. Em outras palavras, o homem pode ter a convicção do personagem histórico que o Senhor Jesus foi, mas não será capaz de conhecê-lo, nem o seu ministério, se não lhe for revelado pelo Espírito Santo[1].4) Por causa da carne, o sexo era visto como mau. Muitas deturpações originaram-se através da corrupção do seu sentido inicial, estabelecido por Deus: a prostituição, o incesto, o homossexualismo, a zoofilia, e tantos outros pecados que nada têm a ver com o princípio bíblico do sexo.O que nos levará à pergunta inevitável: Por que Cristo não se casou?Muitos afirmam que, caso Cristo tivesse se casado [e praticado atos sexuais], não seria Deus, nem seria o Cristo, Senhor e Salvador. Mas, pergunto, qual a base bíblica para tal afirmação? Ela simplesmente inexiste. Não há na Escritura nada que pudesse afirmá-la. Como já vimos, o sexo, dentro do padrão bíblico, é santo. Se Cristo tivesse se casado, praticado atos sexuais, tido filhos, constituído família, em nada a sua divindade e obra estaria comprometida. Cristo não comeu? Cristo não bebeu? Dormiu? Chorou? Afligiu-se? Por que o sexo seria o componente que afetaria a sua divindade? Não afetaria. E sua humanidade perfeita e santa? Também não seria afetada. Logo, não foi por isso que Cristo não se casou. Então, foi por quê?
Nota: [1] Leia o texto "Revelação: O Deus Irredutível - Parte 1"
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