segunda-feira, 27 de julho de 2009

AUTONOMIA DO HOMEM: REJEIÇÃO AO EVANGELHO

















Por Jorge Fernandes

Vejo pessoas saindo da igreja, trocando-as como se mudam peças de roupas. Vejo pessoas difamando outras pessoas quando, há pouco tempo, eram elogiadas. Vejo pastores cairem da semideidade (na visão de muitas ovelhas) para a completa demoniedade (na visão das mesmas ovelhas). Vejo amizades ruirem. Comunhão desfeita. Mas afinal, por que abandonar uma igreja local por outra?
Primeiro, quero dizer que nem todo o que se diz crente tem compromisso com o Corpo de Cristo. A igreja é instituição do próprio Senhor, não é algo meramente humano, ainda que seja composta por homens. Foi por ela que Cristo morreu na cruz do Calvário, resgatando-a "com seu próprio sangue" (At 20.28, Ef 5.25, 1Pe 1.18-19). Deve-se ater que a cabeça é Cristo (Ef 1.22), o Filho de Deus (Mt 14.33, Mc 1.1, Jo 3.18), a 2a. Pessoa da Trindade Santa (Jo 1.1-4, 1Jo 5.7) , "sendo ele próprio o salvador do corpo" (Ef 5.23). Portanto, desprezar a igreja é fazer o Senhor indigno.
Segundo, quais motivos podem conduzir o crente a abandonar uma igreja? Poderia citar vários que têm levado irmãos a afastarem-se do Corpo, mas não é esse o meu objetivo. De qualquer forma, indicarei dois casos (poderia ser apenas um, dada a sua correlatividade), os quais parecem mais rotineiros:
1- Pregação: muitos irmãos se sentem incomodados quando são alvos da pregação. Quando digo alvos, não quero dizer que o pastor, deliberadamente, prega especificamente para um ou mais irmãos (existem os que assim agem). Se é-se filho de Deus, então, o filho é o alvo da correção do Pai, o qual usará seus ministros para exortar, repreender, disciplinar, como está escrito: "o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho" (Hb 12.6). A pregação é o instrumento divino para que o pecador seja confrontado pela santidade de Deus e, assim, abandone o espírito de iniquidade. Porém, o que acontece na maioria dos casos? O crente arrepende-se? Desvia-se do mal? Infelizmente, muitos estão inchados pelo orgulho e vaidade, e o que ocorre é que, ao invés de se ouvir a voz de Deus, o crente irá, se não tirar satisfação com o pastor, simplesmente, abandonar a igreja em favor de outra menos "legalista" (cuja palavra tem adquirido significados que podem abranger uma gama espetacular de sentidos, quase sempre, improcedentes).
2- Disciplina: Diretamente ligada ao item 1, as igrejas que aplicam a disciplina bíblica são também alvos dos vários sentidos contradizentes da palavra "legalismo". Novamente, ao invés do crente entender que o objetivo da disciplina é, primeiramente, o arrependimento do pecador e sua reconciliação com Deus (Mt 18.15-17), ele vê a igreja como um organismo tirânico, despótico, destituído de amor fraternal. Mas é exatamente o contrário. A igreja, por amor a Deus e ao membro, tem o dever e a autoridade divinas para corrigi-lo. Porém, o disciplinado vê, unicamente, o seu orgulho ferido, e insuflado pela vaidade, tem "cauterizada a sua própria consciência" (1Tm 4.2). Contudo, "se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos" (Hb 12.7-8).
Interessante como Paulo co-relaciona os que cometem heresia/pecado com os que defendem a fé: "Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio. E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós" (1Co 11.18-19). Deus não escolheu plantar na igreja apenas o trigo, há também o jóio; não somente as ovelhas, mas também os bodes; para que, através dos bodes e do jóio fique manifesto quem é trigo e ovelha. Ora, se não há os defensores da verdade, se não há vozes que se levantem contra a injustiça, todos são mentirosos e injustos; se não são, mas apenas consentem com os que são, e conhecendo o juízo de Deus, igualmente são dignos de morte (1Rm 1.32).
Quanto ao incrédulo na disciplina bíblica, como autoridade investida por Deus para o arrependimento e o retorno à verdade, basta consultar os seguintes textos, dentre muitos, além dos já indicados: 1Co 5.4-5, 13; 2Ts 3.6, 14; Tt 3.10.

AUTONOMIA: CADA UM POR SI
Estes dois exemplos refletem claramente a quantas anda a vida cristã. O secularismo injetou o veneno da autonomia humana na igreja, e o que se vê, são cristãos completamente livres de qualquer autoridade, insubordinados, fazendo o que lhes dá na telha, donos do próprio nariz. Essa é, por acaso, uma atitude cristã? Ou não passa de uma simples impostura mundana aplicada à uma pretensa vida cristã? Paulo diz: "Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus" (1Co 6.10). O apóstolo diz, inconfundível, que o nosso corpo não mais nos pertence, do qual não somos donos (na verdade, nunca fomos, pois, antes, éramos servos do pecado [Jo 8.34]), logo, somos servos, escravos, d´Aquele que pagou alto preço por nossas almas. Aos que se julgam independentes, saibam que não existe independência, ou o homem é escravo de Deus, ou é escravo do diabo. Não há meio-termo, não se pode estar de um lado e do outro ao mesmo tempo, nem servir a dois senhores, "porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro"(Lc 16.13).
Qualquer atitude que não seja para a glória de Deus, que vise exclusivamente manter-nos no estado de autopiedade, autobajulação, autovitimação... um estado que nos coloque no centro de nossas decisões à margem da revelação escriturística, não passará de pecado, desobediência, e reflexo da inconversão ou da imaturidade espiritual. Naquele caso, é necessário Deus resgatá-lo das trevas, dar-lhe o novo-nascimento, justificá-lo. Nesse, o crente ainda é um menino, independente de quantos anos esteja convertido, criado com leite, não com carne, "porque ainda sois carnais" (1Co 3.3), e não se pode falar com eles como se fala a espirituais, "mas como a carnais, como a meninos em Cristo" (1Co 3.1).
A doutrina da igreja nunca se perdeu em meio aos delírios filosóficos invidualistas, onde, cada um por si determina como deve ser a administração da sua vida. Pelo contrário, Deus estabeleceu a igreja como o local onde os santos se reunem para, conjuntamente, louvar, reverenciar e bendizer ao Senhor; para, conjuntamente, edificarem a igreja através dos dons que Deus pôs a cada um dos membros (1Co 12.28; 14.12); "para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível" (Ef 5.7); para, amando uns aos outros, o amor de Deus ser revelado em nós (1Jo 4.7); para que cada membro sujeite-se à cabeça, Cristo. Sendo assim, não devemos pensar de nós mesmos além do que convém; "antes pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um" (Rm 12.3), sendo diariamente renovados pela "boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2); ou seja, a minha vontade será verdadeira quando ela estiver resignada e em conformidade com a vontade divina. O autônomo estará sempre contrário, em rejeição à vontade de Deus; na condição de incrédulo, a sua vida refletirá as características do homem natural, sem Deus, inconverso. Nele, não há o abandono da verdade, mas o desconhecimento da verdade, típico de quem está envolto em trevas, preso à vontade de satanás, carente da graça e libertação divinas. Esse homem finge-se crente, quando, na verdade, é descrente.

QUANDO SAIR DA IGREJA
Então, chega-se à pergunta inevitável: quando e por quê sair da igreja?
Primeiro, vimos que a maioria dos crentes que se afastam da igreja local o fazem por abandonar os princípios bíblicos em favor do pecado do orgulho e da vaidade. Porém, será que todos os casos enquadram-se nesse perfil? Não. Muitos saem da igreja porque mudaram de lugar (bairro, cidade ou país), o que é correto, nenhum crente deve ficar sem congregar, sem unir-se a outros santos. Contudo, outros apegam-se a fundamentos não-cristãos, antibíblicos e eivados:
1-Motivados pela supertição de que se pode conseguir uma "bênção" em tal igreja ou pelas mãos de tal pastor, fica-se a pular de galho em galho, sem qualquer sinal de pertencer ao Corpo, egoisticamente buscando somente "o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus" (Fp 2.21) .
2-Porque certa igreja é mais acolhedora, tem atividades sociais intensas, o louvor é mais "quente", está na moda, ou ela dá ao frequentador um "status" maior do que a pequena igreja do bairro.
3-Porque, simplesmente, poderão continuar vivendo a vida que sempre viveram, no pecado e afastados de Deus.
Especialmente nesses casos, tratamos com incrédulos, não com crentes. Mas, e estes? Quando sair? "Retirai-vos, retirai-vos, saí daí, não toqueis coisa imunda; saí do meio dela, purificai-vos" (Is. 52.11). A ordem do Senhor é imperativa: sair do meio dela! Paulo reverbera essa ordem: "Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor" (2Co 6.17). Há o mandato, mas quando ele se dá? Quando a doutrina da igreja não está fundamentada no Evangelho de Cristo. Quando a mentira contaminou a pregação. Quando a santidade deu lugar à impostura humana. Quando Deus é substituído pelos ídolos humanos. Quando se prega algo que, mesmo parecendo com o cristianismo, afronta a Cristo e Sua mensagem. Quando subterfúgios e artimanhas são iscas para pescar os néscios, e mantê-los à margem da verdade, imersos na ignorância, como cegos conduzidos por cegos em direção à cova (Mt 15.14). Em resumo: quando Deus e Sua palavra são desprezados, e o homem está subordinado à própria mente caída e pecaminosa, o que sobra é um arremedo de cristianismo, no qual não há salvação, tropeçando "ao meio-dia como nas trevas, e nos lugares escuros como mortos" (Is 59.10).
Divergências doutrinárias e de opiniões (desde que a base do Evangelho: a divindade de Cristo, Sua expiação e ressurreição, não sejam rejeitados) não são suficientes para o crente sair da igreja. É preciso algo realmente forte: aquela igreja não ser mais uma igreja, mas um local destruído pelo pecado, a ante-sala do inferno, gerenciada pelo diabo e seus demônios. Onde a Bíblia é relegada, não há igreja. Onde Cristo é ignorado, não há igreja. Onde Deus é diminuido, não há igreja. Onde a própria igreja não se vê como tal, é possível haver igreja? Onde o homem é alçado ao trono, como aquele pelo qual Deus deve se adaptar, ali não há igreja. Não no sentido bíblico, não como um projeto divino, nem a reunião dos santos. Saí pois do meio deles, porque Deus não os tem por filhos e filhas, nem é-lhes Pai.

CONCLUSÃO
Há de se entender que a mais pura igreja não está isenta de erros, pois, como disse, ela é formada por homens imperfeitos e falhos, e nem todos são ovelhas do Bom Pastor. Então, não pode ser um problema insignificante, nem a discordância em pontos menores, ou a vontade carnal e infundada, que moverá o crente para outro lugar. É-se necessário orar; considerar atentamente a Escritura; buscar o conselho de cristãos maduros, homens tementes, humildes e reverentes a Deus, para não haver imprudência, precipitação e prejuízo para o corpo local.
Faz-se necessário também o alerta quanto aos erros, primeiro, à liderança da igreja, depois aos demais irmãos. A omissão jamais deve ser uma característica cristã. Deve-se fazer o possível (sempre em estado de oração) para que a igreja volte ao caminho do Evangelho, sujeitando-se a Cristo.
A saída não pode ser uma simples opção, mas algo inevitável. Não deve ser sorrateira, como se fosse uma fuga, mas motivada consistentemente. E a igreja deve saber detalhadamente quais são as causas da saída do membro.
Da mesma forma, ao se escolher outra igreja, tem-se o dever de explicar os reais motivos da transferência; e cada igreja cuide para não dar guarita, abrigo, a "lobos cruéis" que visam dissipar o rebanho, não o poupando (At 20.29). Cada igreja é responsável por si, e se há o amor de Cristo em seu meio, ela honra-lO-á, zelando pelo Seu corpo.*
Sejamos todos sujeitos uns aos outros, revestindo-nos de humildade, "porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes" (1Pe 5.5).

* 1- Há de censurar-se o descuido e o pouco caso com que muitas igrejas recebem membros de outras igrejas, sem ao menos questionar o motivo da transferência, sem buscar informações sobre a vida do novo membro junto ao antigo corpo local. E, essa atitude é puro desleixo, desamor para com Cristo e a Igreja. Invariavelmente, ou quase, porque há exceções, ao acolher-se um estranho, está-se a acobertar rebeldes autônomos, dissidentes. Seria o mesmo que, guardadas as devidas proporções, dar asilo político a terroristas assumidamente censuráveis. Por isso, muitas igrejas trazem para a comunhão pessoas não-convertidas, impostores, espiões do maligno, dispostos a servi-lo diligentemente; por pura falta de vigilância. Como soa o alerta do Senhor: "Vigiai e orai, porque não sabeis quando chegará o tempo". (Mc 13.33).
2- Não tenho pretensão de ser exaustivo quanto ao tema, pois nem todos os casos enquadrar-se-ão aqui, apenas abordei alguns pontos que considero fundamentais à questão.


domingo, 19 de julho de 2009

"MOVIMENTO: JESUS AMA A TODOS!" É CRISTÃO?
















Por Jorge Fernandes

Li na internet que há um novo movimento na praça. Na verdade, esse movimento é uma repaginação de vários outros existentes no decorrer da história cristã. Ele se chama "Movimento: Jesus ama a todos!", cujo texto integral da proposta é o seguinte:

“O verdadeiro sentido de João 3:16: Porque Deus amou os homossexuais, os heterossexuais, os estrupadores, as prostitutas, os políticos, os pegadores, as patricinhas, os ladrões, os assassinos, os "normais", toda a humanidade, de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para todo o que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna." Vamos dar fim ao preconceito! E amar como Jesus amou!”.
Notas: 1) a palavra estuprador foi grafada erradamente pelo autor da cartilha. 2) Filho, referindo-se a Jesus Cristo, jamais pode ser escrito em minúsculas. Será que isso não revela o descaso para com Deus, e a divinização do homem?

Primeiro, vamos definir a palavra preconceito, segundo o dicionário Priberan:
Preconceito - Ideia, conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério. Estado de abusão, de cegueira moral. Superstição.
Segundo, qual a relação que há entre o preconceito e o amor de Deus?
Terceiro, o amor de Deus é irrestrito, ou seja, Deus ama realmente a todos os homens? Se ama, porque muitos estarão destinados ao fogo do inferno? Pode Deus amar alguém e ainda assim lançar a Sua ira sobre ele? (1Co 6.9).
Quarto, o fato do autor da cartilha especificar alguns tipos de pecados e excluir outros, não revela um padrão preconceituoso quanto aos demais pecados? Ou não seria uma tentativa de colocar quem pratica os pecados citados como eventuais vítimas, ao contrário dos demais pecadores?
Quinto, a deturpação interpretativa de que Deus amou os homossexuais, os heterossexuais, os estupradores, etc, não está fora do contexto do verso de João 3.16? Não é o caso específico de acréscimo ao texto bíblico, de vício e mau emprego da palavra de Deus a fim de distorcê-la e andar segundo os homens?
Vejamos o texto original:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Onde lemos que Deus amou os pervertidos e pecadores? A inferência do autor não é despropositada diante da Escritura? E isso não poderia ser uma espécie de preconceito para com ela? Ao invés disso, o verso diz:
1) Deus amou o mundo.
2) Deu o seu Filho unigênito ao mundo.
3) Para que todo o que crer no seu Filho não pereça.
4) Para que todo o que crer no seu Filho tenha a vida eterna.
Aqui, a expressão amou o mundo está diretamente ligada com todo o que nele crê (em Cristo). Portanto, definindo o contexto de mundo no verso, ele se refere ao mundo dos que crêem, não ao mundo geral ao qual pertencem todos os homens, excluindo-se, portanto, aqueles que não crêem, os quais, ao invés do amor de Deus, estão sob a Sua ira. Isso é importante porque fica parecendo que Deus ama o pecador. Mas como Ele pode odiar o pecado e amar aquele que comete o pecado? (Cl 3.5-6). A resposta é: somente se esse pecador, no tempo, na história, for santificado na eternidade. Vou explicar. Deus nos elegeu sempre em Cristo, antes da fundação do mundo, para que fossemos santos e irrepreensíveis; “e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1.5). O que isso quer dizer? Que somos pecadores, e vivemos na carne, numa luta constante na qual Cristo venceu a guerra por nós. Porém, antes do nosso nascimento, muito antes do mundo existir, Deus já nos havia destinado à salvação e santificação por Cristo, ou seja, para Ele já somos santos, sempre fomos santos, lavados no sangue do seu Filho Amado (Rm 8.29). Para Deus já somos como Cristo, ainda que na história isso esteja acontecendo, e para muitos, ainda irá acontecer. Por isso, o verso de João 3.16 não se refere ao mundo genericamente, mas ao mundo dos santos. Reprisando: Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. É evidente, e límpido como água, a sua mensagem. João não fala de todos os pecadores, nem mesmo fala de um pecador, mas fala daqueles que são salvos eternamente por Deus, os alvos da Sua infinita graça e misericórdia, assim como Paulo diz: “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós” (Rm 5.8, 8.32). Ao escrever à igreja de Roma, é incontestável que o apóstolo se refere exclusivamente aos santos (não confundir santos com crente nominal), pois o termo nós é uma comparação explícita aos destinatários da carta: “os amados de Deus, chamados santos” (Rm 1.7).
É claro que, no tempo, fomos inimigos de Deus antes da conversão. É claro que, no tempo, somos pecadores, antes e depois da conversão. É claro que, no tempo, éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. É claro que, no tempo, éramos desobedientes e rebeldes a Deus, andando segundo o curso deste mundo. É claro que, no tempo, estávamos mortos em nossas ofensas; mas é fantástico que, no tempo, fomos vivificados juntamente com Cristo (Ef 2.5), o que vale dizer que, antes, muito antes do nosso nascimento, já estávamos vivos quando da morte e ressurreição do Senhor.
A salvação é definitiva, já aconteceu, mesmo para aqueles que, momentaneamente, ainda rejeitam e se opõem a Cristo. Contudo, Deus quis que a reconciliação do homem se desse neste mundo, durante a pouco ou muita vida que cada um de nós tem recebido, para que ficasse revelada ao mundo a Sua graça para com os eleitos (os vasos de misericórdia, segundo Paulo), bem como a Sua ira para com os reprovados (os vasos da ira, segundo Paulo*).
Quando vi a foto de um “arco-íris” em que um tipo “andrógino” (na verdade, um homem pervertido por trejeitos femininos), e o texto do manifesto logo abaixo, percebi que, antes do autor combater o preconceito da igreja, deveria anular o preconceito que tem com a Escritura, reverenciando-a como a palavra de Deus (2Tm 3.16); deveria abrir mão do estereótipo libertino e não fazer coro com o mundo, o qual odeia e se opõe a Deus e a igreja.
Ao ver a imagem e ler o texto, evidenciou-se o “conceito formado e sem fundamento sério” dos proponentes de tal movimento. Evidenciou-se a sua “cegueira moral” e, ao defendê-la, blasfemam o nome de Cristo. Em tudo estão enganados, pois buscam algo que não existe, enquanto vivem exatamente aquilo que desejam combater. Como Jesus diz: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (Jo 14.23). E ainda: “Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não entra em vós" (Jo 8.37). Uma paráfrase a Hebreus 11.6, e que é uma verdade bíblica, seria: sem obediência é impossível agradar a Deus. A santidade é um dom de Deus, mas fruto da obediência que Ele fez nascer em nós. E se ser cristão é ser semelhante a Cristo (2Co 3.18), como posso sê-lo sem obedecer a Deus? (Ap 22.14-15). Apenas com o amor carnal por todos os homens e seus pecados, sendo que Deus abomina tanto um como o outro? E, qual a possibilidade de se amar verdadeiramente o próximo sem amar a Deus? Ou esse amor seria tão corrompido que vemos o próximo caminhar resolutamente ao inferno e não importamos?
A Palavra não é preconceituosa, nem os Seus mandamentos são, pois sem a santificação, ninguém verá a Deus (Hb 12.14). Ou podemos dizer que Paulo escrevia e pregava sem fundamento? “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus” (1Co 9-10). A Bíblia não diz exatamente o contrário do que o manifesto “Jesus ama a todos” promete? O qual chega a ser uma zombaria para com Deus? (Pv 14.9).
Porém, para os santos, a promessa é gloriosa: “mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11). O qual também ressuscitou o Senhor, e nos ressuscitará pelo Seu poder (1Co 6.14). Portanto, Deus amou o mundo, mas somente o mundo dos que crêem em seu Filho Amado. Pregar o Evangelho conforme nos foi entregue por Cristo e os apóstolos não é ser preconceituoso. O preconceito baseia-se em algo infundado, em uma crendice ou supertição e, para o crente, a palavra de Deus é o único fundamento, o seu alicerce. Segui-la, obedecê-la e proclamá-la é demonstrar o verdadeiro amor, não o falso amor que contemporiza os pecados e os pecadores em seu escopo de manterem-se rebeldes ao Criador. No fundo, preconceituosos são os que apelam ao amor de Cristo quando esse amor e Cristo não são baseados na Escritura, mas tão somente uma perversão gerada em suas mentes corrompidas.
No fim, o que importa são os que crêem.
Os que não crêem já estão condenados (Jo 3.18), ainda que se digam cristãos.
* O texto de Paulo é: "E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou? (Rm 9.22-23).

domingo, 12 de julho de 2009

EVANGELHO: SALVAÇÃO OU CONDENAÇÃO?



















Por Jorge Fernandes



Em recente conversa com o irmão Natan de Oliveira, a qual originou o estudo escatológico que presentemente ele faz em seu blog, deparei-me com os seguintes versículos:

“Por causa da esperança que vos está reservada nos céus, da qual já antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, que já chegou a vós, como também está em todo o mundo; e já vai frutificando, como também entre vós, desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade” (Col 1.5-6). Veio-me a seguinte questão: Quando Paulo diz mundo está se referindo a todo o Mundo?

Sabemos que a palavra mundo tem vários significados na Bíblia. Mas especialmente esse não se parece enquadrar em nenhum deles. Vamos analisar o que nos revelam os versos:

1) A esperança está reservada aos santos;

2) Os santos ouviram a palavra de esperança pela pregação do Evangelho;

3) Que tanto a palavra de verdade como de esperança chegou aos santos de Colossos;

4) Ela também chegou a todo o mundo;

5) Ela vai dando frutos de conversão e santificação, para a glória de Deus.

Se não interpreto equivocadamente, esses são os princípios contidos nos dois versículos aos quais o apóstolo nos leva a contemplar. Porém, quero me deter no item 4: a palavra da verdade, na qual repousa a esperança dos santos, “como também está em todo o mundo”. Analisemos algumas hipóteses para o contexto da expressão mundo:

1) Refere-se a todo o planeta;

2) Refere-se ao mundo conhecido da época;

3) É uma expressão superlativa para designar todos os que ouviram o Evangelho, não necessariamente todos os habitantes do planeta ou da parte conhecida do planeta;

4) Significa tão somente os eleitos, o Corpo de Cristo.

Vamos a outro versículo que auxiliará a argumentação:

“Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro” (Col 1.23).

O que lhe parece quando o apóstolo fala em “toda criatura que há debaixo do céu”?

1) São todas as criaturas que habitam o planeta;

2) São todas as criaturas que habitam o mundo conhecido da época;

3) É uma expressão superlativa para designar todos os que ouviram o Evangelho, não necessariamente todos os habitantes do planeta ou da parte conhecida do planeta;

4) Significa tão somente os eleitos, o Corpo de Cristo.

Atente-se que Paulo escreveu aos colossenses, mas será que o seu objetivo era o de atingir toda a cidade de Colossos ou apenas a Igreja em Colossos? É claro que a carta é dirigida à Igreja e não à cidade, “aos santos e irmãos fiéis em Cristo”(v.2) e não a todos os habitantes. Colossos era uma cidade em declínio à época em que Paulo escreveu essa carta, a qual é um dos quatro escritos que compõem as Epístolas da Prisão. Paulo provavelmente não visitou a cidade nem evangelizou-a diretamente, mas provavelmente alguns dos seus colaboradores participaram na edificação do corpo local, e por isso ele se sentia responsável pessoalmente por ela.

Então, sabendo que Paulo não escreveu para todos os colossenses, mas para os santos em Colossos, não seria correto interpretar que a palavra mundo nos versículos citados não se refere ao mundo todo, a todos os habitantes do planeta, e nem mesmo a todos os habitantes da parte conhecida do planeta?

A próxima opção é a de que o apóstolo se refere apenas aos que ouviram o Evangelho onde ele foi pregado. Não é todo o mundo, nem mesmo o mundo conhecido, mas algumas partes desse mundo conhecido. Ainda assim, não seriam todas as pessoas que habitavam nessas partes, mas apenas as que ouviram o Evangelho. Parece mais plausível e exeqüível. Mas a questão aqui não é do que pode ser executado ou não, do que é eficaz ou não, até porque nada é impossível para Deus (Mt 19.26), mas daquilo que Paulo diz verdadeiramente. E o certo é que, nem todos os que ouviram a pregação converteram-se. Logo, Paulo não pode estar falando dos que apenas ouviram o Evangelho, porque entre eles houve os que mantiveram seus corações impenitentes.

A última opção é de que Paulo ao citar o termo mundo, falou exclusivamente dos santos, da Igreja do Senhor, aqueles que ouviram a pregação da verdade e da esperança, foram regenerados, e tornaram-se membros do Corpo de Cristo, “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). Deus destinou os eleitos a ouvirem a palavra, a terem fé, de que todos seriam salvos, e de que todos fariam parte da Igreja, a qual é o mundo dos vivos, dos salvos em Cristo, e por Cristo. Resumindo: aqueles que Deus, em sua soberania e graça, decretou infalivelmente a salvação por Seu Filho Jesus Cristo, estes ouviram a pregação do Evangelho, foram convertidos e tornados santos.

O termo frutificando no v. 6 relaciona-se com mundo, e o apóstolo o compara com os santos de Colossos. A indicação é de que os eleitos do mundo produziam frutos pela graça de Deus: da fé em Cristo, e do amor para com todos os santos (v.4). Não há porque usar-se o termo frutificando em relação aos incrédulos, mas aqui ele claramente refere-se aos santos de Colossos e aos que frutificam como os santos de Colossos, “desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade”.

Ora, aqueles destinados à incredulidade jamais provarão da graça de Deus, no sentido de salvação e santificação, muito menos da verdade. É o que Paulo faz questão de confirmar ao citar novamente o termo: “Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus” (v.10). Quem pode estar incluído neste contexto a não ser os crentes, aqueles regenerados por Cristo? Portanto, toda a relação faz-se entre o Evangelho, a pregação apostólica, a conversão e santidade, e o mundo como o mundo dos santos; ao qual fomos transportados por Deus, tirados da potestade das trevas para o reino do Filho do seu amor, “em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (v. 13-15). Neste contexto, não há lugar para incrédulos nem condenados, somente os salvos por Cristo.

No v. 23, Paulo coloca o Evangelho pregado a toda criatura debaixo do céu, do qual ele foi feito ministro “segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus; o mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos” (v. 25-26). Novamente, encontramos uma inter-relação entre as palavras toda criatura e santos. O que nos leva a crer que Paulo utilizou-se dos termos mundo e toda criatura não para afirmar que o Evangelho foi pregado a todos que existiam à época, mas para designar que Deus, em sua santa e perfeita sabedoria, tinha destinado a pregação do Evangelho para salvar a todos os eleitos, e de uma forma sobrenatural, eles todos estavam ao alcance dos discípulos e apóstolos de Cristo, quanto ao ouvir a palavra a fim de serem regenerados.

Da mesma forma, no v. 28, Paulo anuncia, admoesta e ensina a todo o homem em toda a sabedoria, “para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo”. Todo o homem aqui significa todas as pessoas existentes? Se assim for, Paulo está a pregar o universalismo, a doutrina de que ninguém será condenado, e de Deus salvará a todos. Mas sabemos que a Bíblia não afirma nem confirma esta heresia, pelo contrário, rejeita-a de capa a capa. Então, o apóstolo somente pode estar a falar, novamente, de todos os eleitos, daqueles que foram destinados à salvação. O que nos leva a outra pergunta:

Qual o propósito do Evangelho? Salvar os escolhidos ou condenar os réprobos?

A Bíblia diz que os réprobos já estão condenados (Jo 3.18). A pregação da palavra apenas agrava ainda mais a situação deles. Como está escrito: “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado” (Tt 3.10-11). Portanto, a pregação do Evangelho é para que o escolhido tenha confirmada, no tempo, a sua eleição eterna; para que o santo tenha confirmada, no tempo, a sua santidade; para que o salvo tenha confirmada, no tempo, a sua salvação; para que o filho tenha confirmada, no tempo, a sua filiação a Deus, por Cristo nosso Senhor.

Paulo não falava genericamente, como um tolo, mas sabiamente, inspirado pelo Espírito Santo. Logo, ele se refere apenas aos santos, à Igreja, ainda que alguns teimem em acreditar que o Evangelho é para todo o mundo, para todos os homens, e todas as criaturas debaixo do céu*.

*Com isso não quero dizer que o Evangelho não deva ser proclamado a todas as pessoas, em todos os cantos do planeta. Não é isto. Porém, ele surtirá efeito e trará frutos apenas nos corações aos quais Deus escolheu regenerar. Aos demais, a palavra surtirá o seu efeito também, não voltando vazia, mas condenando, segundo o que apraz a Deus (Is 55.11).



sábado, 4 de julho de 2009

NASCER OU MORRER





























Por Jorge Fernandes



Há um trecho que sempre me chamou a atenção na pregação de João o Batista, quando as multidões vinham ouvi-lo as margens do Jordão, desde Jerusalém e toda a Judéia, para serem batizados (Mt 3.5-6). Em dado momento, ele avista os fariseus e saduceus, e profere: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.7-8). É uma exortação que serve para qualquer um de nós, judeus ou não; é uma pregação dura, mas que também serve a qualquer pecador, revelando-lhe a necessidade de apartar-se do mal e fazer o bem (Sl 37.27). Contudo, em vista de quem a advertência foi dirigida, revelava a intenção dos corações e de seus verdadeiros intentos: “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mt 3.9). Puxa, esse foi um direto, um verdadeiro “knockdown” que colocaria o tolo mais persistente a beijar a lona. Porque João lançou por terra qualquer expectativa dos fariseus e saduceus de serem herdeiros étnicos do céu. E mais do que isso, implicava em duas outras coisas:

  1. Nem todos são filhos de Deus. Nenhuma filiação religiosa ou étnica pode garantir a filiação divina. Como Paulo disse: “Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm 2.28-29).
  2. Deus pode fazer o que quiser segundo a Sua vontade, sem precisar do consentimento humano, até mesmo tornar pedras em filhos de Abraão se assim desejasse. Pois, se não fosse pelo Seu poder transformador, quem creria? E quem se converteria?

O que isso quer dizer? Que esses judeus não consideravam a hipótese de arrependimento, em suas mentes corrompidas tinham a certeza de garantia do reino de Deus pela raça. Como mentes irregeneradas, perverteram a aliança e as promessas de Deus, ao seu bel prazer, assim como a lei. João o Batista mostra-lhes a necessidade de regeneração, do novo nascimento, a fim de se tornarem em verdadeiros filhos de Deus. Como o Senhor disse a Nicodemus: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3.3;6-7). Ao que Paulo ecoou o ensino de Cristo: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.7-8).

Da mesma forma que os judeus acreditavam que o povo de Israel não precisava de um novo nascimento, percebe-se, hoje em dia, o mesmo sentimento errôneo de que através de dogmas e filosofias humanas (não se esqueça de que tanto o farisaísmo como o sadoquismo eram filosofias dentro do judaísmo), cristãos se consideram inseridos no reino de Deus, não pelo sacrifício de Cristo na cruz, mas pela tradição de que são herdeiros pelo nascimento, pelos rituais ou pela proteção eclesiástica. Pensemos sinceramente, qual a garantia a Bíblia dá de que, nascendo em um lar cristão, cumprindo os sacramentos cristãos, ou estando em uma igreja, a salvação está assegurada?

Em outra passagem, Cristo confrontou os judeus a conhecerem a verdade, pois a verdade os libertaria (Jo 8.32). Porém, eles se revoltaram contra o Senhor, em suas obscuridades espirituais criam que o fato de serem descendência de Abraão era a garantia de liberdade. Respondeu-lhes Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8.34). Eles insistiram: "Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, farieis as obras de Abraão... Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou... Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai" (Jo 8.39;42;44).

Cristo mostrou-lhes como estavam enganados, e viviam uma crença completamente oposta àquilo que Deus havia estabelecido para os seus servos. Ali, Ele deixou claro que a genealogia, a etnia e, porque não, a fé equivocada, em nada assegurava-lhes a salvação. Os judeus invocavam uma justificação por obras, através de si mesmos, dos antepassados, da condição transmitida pela carne. Ao passo que Cristo revelou-lhes a completa loucura de suas mentes, as quais eram incapazes de compreendê-lO: "Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra... porque vos digo a verdade, não me credes" (Jo 8.43;45).

À mente natural, inconversa, não resta mais nada a não ser a morte. Não há vida, nem salvação. Para se ver o reino de Deus é necessário nascer do Espírito: "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1.12-13). Por que, então, alguns ainda negam o novo nascimento? Como se a salvação pudesse ser transmitida de pai para filho, através dos sacramentos, ou pela linhagem de um povo?

Os judeus acreditavam que apenas os estrangeiros e os que pertenciam a outras religiões careciam da conversão. Sairiam de onde estavam (a cultura, etnia ou crença) e seriam transplantados ao judaísmo. Da mesma forma, muitos hoje acreditam que a troca de endereços ou a permanência neles (saindo de uma igreja ou ficando) garantir-lhes-á a segurança do céu. Sem regeneração? Impossível! Nem se adequando ao formalismo religioso, ao cumprir certos rudimentos ritualísticos; mesmo tendo-se convicção intelectual, uma aceitação pela perspectiva meramente religiosa. Porque a vivificação é obra exclusiva do Senhor, a demonstração do Seu poder em resgatar o pecador da morte e da condenação: Porque Deus, "estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Ef 2.5-6). Esse é o poder que transforma o pecador em santo, o condenado em salvo, a criatura das trevas em filho de Deus; o qual opera independente da vontade humana, do homem querê-lo ou não, de buscá-lo ou não, pois essa prerrogativa é divina, algo que somente o Criador pode realizar, pois "a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção" (1Co 15.50).

É preciso nascer de novo, ou morre-se para sempre.