Por Jorge Fernandes Isah
Há o falso ensino de que tudo o que o crente pedir a Deus receberá, como um direito adquirido de se exigir tudo aquilo que considera lhe pertencer. Essa talvez seja apenas uma de muitas distorções que se tem difundido atualmente entre os cristãos. Mas a capacidade mais nefasta e maligna dessa afirmação é a de inverter a relação que o Criador tem com suas criaturas, tornando-a danosa, ímpia, imoral; porque torna o Criador em um mero serviçal, e suas criaturas em senhores mimados, cujos desejos devem ser atendidos prontamente; enquanto a Bíblia, incontestavelmente, assegura que, se estamos vivos, estamos pelas misericórdias de Deus, as quais são as causas de não sermos consumidos, “porque as suas misericórdias não têm fim” [Lm 3.22].
Um dos versículos mais usados para respaldar essa infâmia é: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á” [Mt 7.7-8].
Entre muitas formas viciosas de interpretação desses versos, pergunto: Quem é capaz de pedir corretamente? E quem é capaz de buscar?
Paulo nos diz que não há um justo sequer, ninguém que entenda e busque a Deus [Rm 3.10—12]. E Tiago diz que pedimos e não recebemos, porque pedimos mal, para gastarmos em nossos deleites [Tg 4.3]. O fato é que desconhecemos até mesmo o que rogar, visto ser necessário o Espírito Santo interceder por nós com gemidos inexprimíveis, "porque não sabemos o que havemos de pedir como convém" [Rm 8.26]. Portanto, estaria Deus concedendo aos homens, tal qual o gênio das mil e uma noites, a realização de todos os desejos para quem tiver a posse da lâmpada? Até mesmo Aladim teve de se contentar com três desejos, em algumas versões do famoso conto persa, ou três condições para os desejos, em outras versões; o que tornava os seus pedidos impossíveis de se obter. Mas no pensamento carnal dos crentes modernos não há limites para Deus realizar os deleites do homem. Ou seja, nas mentes corrompidas e perversas não há limites para satisfazer aquilo que Deus combate e abomina.
Seria esse o Seu querer? De nos servir indistintamente? Ou, como João diz, teremos nossas petições alcançadas se pedirmos segundo a Sua vontade? [1Jo 5.14-15].
Em nenhuma parte da Escritura vemos Deus agindo como o gênio da lâmpada, ou como um realizador de desejos, em prontidão para nos satisfazer. Pelo contrário, a Bíblia claramente afirma que Deus cumprirá tudo em nossa vida segundo o Seu propósito eterno, exclusivamente conforme o conselho da Sua vontade [Jó 42.2, Is 14.26-27, Ef 1.1, 2Tm 1.9]. Em outras palavras, Deus não satisfará os nossos anseios se eles não forem os Seus anseios também.
Quer dizer que Deus nos iludiu com a falsa promessa de dar aquilo que pedimos? Não! Porém, há condições. Ele atenderá aos pedidos:
1) Daqueles que são Seus filhos; aqueles que foram propiciados, tiveram seus pecados expiados e lavados no sangue de Cristo; nasceram de novo e são templos do Espírito Santo. Não há aqui nenhuma possibilidade para os réprobos, para os filhos da ira, os que servem a satanás.
2) Aos que estão no Senhor Jesus; porque “se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem” [Jo 15.6].
3) Aos que têm as palavras de Cristo em seus corações; porque sem Ele, nada se pode fazer [Jo 15.5].
O princípio é claramente definido na palavra: “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito” [Jo 15.7].
Ora, se a Bíblia é a expressão da vontade divina, e os nossos pedidos serão atendidos em tudo que quisermos se, e somente se, Suas palavras estiverem em nós, então o Senhor estará a cumprir não apenas a nossa vontade, mas, sobretudo, a Sua santa vontade. A preeminência é de Deus, não nossa. A vontade dEle é prevalecente sobre a nossa, não o contrário. A nossa vontade tem de se sujeitar, de se render à vontade de Deus, porque, ainda que seja nossa, a vontade é dEle. Ao estarmos saturados, dominados e cheios da palavra de Deus, estaremos diretamente sob o Seu controle, e as nossas emoções, intelecto e vontade estarão sob o poder do Espírito, que nos direcionará a ansiar, a querer a vontade de Deus expressa na Sua palavra.
Somente aqueles que desejam realizar a Sua vontade terão os pedidos realizados; pois Deus não fará nada daquilo que não esteja em conformidade com a Sua determinação ou ordem estabelecida antes da fundação do mundo; e, para que os nossos desejos sejam legítimos, é necessário que sejam santos, subjugados aos dois mandamentos máximos:
1) “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento” [Mc 12.30].
2) “O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” [Mt 22.39].
Resumindo: “Qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos o que é agradável à sua vista” [1Jo. 3.22]. Porque aquele que guarda a Sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; “nisto conhecemos que estamos nele” [1Jo 2.5], porque não fomos nós que o escolhemos, mas Ele a nós [Jo 15.16].
Em todo o universo estará salvaguardada apenas e tão somente a vontade de Deus. Cabe-nos render e desejá-la, no íntimo, que se realize também por nossa vontade.
22 comentários:
Prezado irmão Jorge,
com muita clareza e felicidade você expos uma das piores feridas em nosso meio. Esta ferida é filha da Teologia da Prosperidade. Nessa forma de pensar o homem é o centro e Deus é alojado no cantinho como subsídio para as aberrações. Sempre o desejo do homem foi o de dominar as divindades e isso se vê claramente nas religiões animistas onde os pagés tentam dominar as divindades para ser reconhecido como o grande de sua tribu. Na Teologia da Prosperidade o cristão se tornou em pagé e tenta domesticar a divindade. Só que nesse jogo o Senhor sempre será o Senhor de todas as coisas e é por isso que vemos a enorme frustração que se abate sobre muitos crentes. Estes ficam decepcionados com a intransigência de Deus que não abre nem nunca abrirá mão de Sua glória. Daí Paulo Romiero em seu livro Decepcionados com a Graça dizer que já cunharam um termo em sociologia chamado "Cristãos em Trânsito". Quer dizer que foram frustrados em suas relações com várias denominações neopetencostais como IURD, RENASCER, INTERNACIONAL DA GRAÇA DE DEUS e agora estão em trânsito procurando encontra um lugar onde aportar suas vidas sem serem incomodados. Geralmente vão para as megas igrejas e lá ficam se recompondo de suas frustrações, mas ao mesmo tempo, para os tais, vale o ditado popular: "Cachorro mordido por cobra tem medo de salsicha". Até se recomporem, se é que o conseguirão, são inúteis para o Reino.
Parabéns pelo artigo. Muito atual e prático.
Um abraço
Naquele que era, que é e sempre será Senhor.
Pr. Luiz Fernando,
felizmente a T.P. é tudo isso e mais um pouco. Digo felizmente, porque assim há como distinguir a Igreja verdadeira da falsa igreja. Creio que os ensinos antibíblicos existem exatamente para isso, separar o jóio do trigo.
Contudo, infelizmente, mesmo crentes regenerados são presas fáceis dos falsos ensinos e, muitas vezes, da própria negligência no estudo e na meditação das Escrituras.
Se houvesse da parte dos irmãos o cuidado e o zelo que havia com os bereanos, provavelmente apenas os infíeis se entregariam a práticas diabólicas como essas.
Mas é como Hitler disse (frase atribuída a ele): a mentira repetida várias vezes se torna verdade. No caso do Evangelho, não há espaço para mentiras, e a eternidade provará que apenas a Verdade dura para sempre.
Grande abraço ao irmão; mais uma vez, obrigado por seu comentário preciso e sempre esclarecedor.
Cristo o abençoe!
Muito bom o texto.
Inclusive tenho um amigo que abandonou o cristianismo porque o deus da lâmpada não atendeu seus pedidos. Lamentável...
Já lesse o livro "Cura Bíblica" do Vincent Cheung? Se leu, qual a tua opinião?
Abraços.
Tiago Vieira
INTERNAUTAS CRISTÃOS
Tiago,
Puxa, isso é que é ser pragmático!
O pior é que existe uma legião de pessoas acreditando que os fins justificam os meios, sem que haja nenhuma fé bíblica neles (a qual é definida pela Escritura como a esperança naquilo que não se vê), pois, o que importa são os resultados visíveis.
Deus existe para esses "crentes" enquanto satisfaz seus desejos, se não os satisfaz, ele não existe, ou deve ser desprezado.
O foco é sempre o homem como o centro, e a prova é de que, se Ele não o satifaz, deve ser abandonado, para que o homem continue no centro.
É a mais estúpida de todas as visões estúpidas que o homem carnal pode ter.
Quanto ao livro do Cheung, ainda não li. O Felipe do Monergismo me disse que ele será publicado em Dezembro. Então, estou esperando. Mas nem sei se será a minha próxima aquisição, pois estou com cerca de 15 livros para ler, alguns com mais de 500, 600 pg, e o tempo, cada vez mais curto.
Estou mesmo aguardando o livro do Bahsen e do Gordon Clark para Fevereiro/2010.
Grande abraço.
Cristo o abençoe!
Te perguntei sobre esse livro do Cheung porque, ao meu ver, é um livro polêmico. Ele defende uma espécie de pentecostalismo ou positivismo, ainda que um pouco diferente e camuflado. Tu vais achar, no mínimo, interessante.
Na tua opinião, a cura física é uma benção conquistada na cruz e garantida ao crente?
Tiago Vieira
INTERNAUTAS CRISTÃOS
Tiago,
Sei desse lado "polêmico" do Cheung, por isso perguntei ao Felipe sobre textos do assunto, e ele me falou da publicação do livro.
O Natan me enviou dois textos do Vincent sobre a questão dos dons apostólicos, e a leitura não mudou minha opinião.
Sinceramente, a Bíblia não garante nenhum tipo de cura física ao crente; na cruz, Cristo propiciou a expiação e justificação do eleito, bem como, a regeneração e reconciliação com Deus.
Não existe essa questão de vitória física, financeira, prosperidade material. O próprio Senhor nos diz que Ele não é deste mundo, e que, igualmente, não somos deste mundo também.
Contudo, isso não quer dizer que Deus não cure, não dê prosperidade financeira ao eleito. Apenas, nenhum de nós pode "exigir" ou garantir que Deus o fará como um direito adquirido. O Senhor o fará segundo o Seu propósito, segundo o conselho da Sua vontade, como disse no texto.
Devemos pedir a cura física, pessoal e de outras pessoas? Sim. Devemos exigir essa cura? Não. Se, como falei, o crente estiver tão cheio e impregnado da palavra, conhecerá a vontade de Deus, e não gastará o seu pedido com tolices e futilidades, mas pedirá em conformidade com a vontade divina.
Portanto, creio na cura física, creio em uma vida confortável, mas também creio que doenças e dificuldades financeiras são usadas por Deus para a Sua glória.
Paulo, escrevendo aos Filipenses, se não me engano, diz escrever com letras enormes, e de que os filipenses, se pudessem, tirariam os próprios olhos e lhe dariam, provavelmente para que ele enxergasse bem. Se Paulo, teve dificuldades físicas, sendo ele um homem usado por Deus para curar tantos (basta ler o livro de Atos e ver que até as suas roupas eram usadas para curar), por que não foi curado da visão?
Há a famosa passagem do espinho na carne, em que ele, por três vezes, pediu a Deus que lhe fosse retirado o espinho. Ao que Deus retrucou-o, finalmente: A minha graça te basta!
Isso é o suficiente para qualquer crente viver abundantemente: a graça divina. Nada além disso. O que vier, seja lucro ou prejuízo aos olhos humanos, é irrelevante.
Há também de se entender que por quase 20 séculos os dons espirituais estiveram "adormecidos", e não há registro histórico de haver manifestações nesse período. Somente no início do Século XX é que eles foram retomados, e os exemplos de abuso estão diante de todos nós, sem precisar citá-los.
Mas é uma questão que espero estudar mais profundamente no futuro, assim como escatologia.
Espero tê-lo respondido.
Forte abraço.
Cristo a abençoe!
Prezado irmão Jorge,
seu comentário sobre a cura é preciso. Cristo cura mesmo e o faz por sua inteira graça. Tenho orado por pessoas enfermas e tenho visto Deus operar. Tanto para históricos como para pentencostais a oração por cura é ponto comum quase inquestionável. Gostaria de destacar somente o final do seu ocmentário sobre não existir dados históricos sobre os dons. Existem sim e bem documentados. Spurgeon relata sobre as vezes que ele profetizou à sua congregação. Bastante inédito não acha Spurgeon profetizar? Se não existisse os dons não teriam nexo histórico e que caracterizaria uma heresia ou uma seita. Sempre desconfiaremos de doutrinas sem nexo histórico, aquelas que aparecem do nada. Isso é indesejável.
Um abraço
Em Cristo
Pr Luiz Fernando,
onde escrevi "dons espirituais" leia-se "dons apostólicos", pois dons espirituais Deus sempre os deu e dará aos seus filhos.
O que não reconheço (até onde li sobre o assunto, o qual já disse, não é muita coisa), são os dons apostólicos de imposição de mãos, falar em línguas, profecias (entendo as profécias, após o fechamento do Cânon, como a proclamação do Evangelho), etc, presentes na vida cristã entre o Sec.II e o século XIX.
Não sabia da profécia de C.H. Spurgeon. Interessante...
De qualquer forma, creio que Deus age na história, salvando, curando, santificando e, mesmo, glorificando o homem regenerado.
Concordo plenamente com a sua afirmação de que sem o nexo histórico (a revelação bíblica no tempo), qualquer doutrina perde o seu caráter divino, e se faz humano e demoníaco.
Outro abraço.
Não li o que os caras escreveram, mas a expressão "Cristãos em trânsito" é muito interessante.
O que Vincent escreve sobre os dons, dos poucos textos que li sobre o assunto disponíveis no site antigo do Monergismo, quando li, não discordei.
Trata-se de uma crítica ao cessacionismo.
Mas perguntando a um velho mestre ele me fez uma diferenciação entre cessacionismo teológico (que é isto que o Jorge parece aceitar) de um cessacionismo histórico.
O Vincent, eu teria que reler os textos, me parece estar fazendo uma crítica aos cessacionistas teológicos, apesar de ele não fazer esta distinção nos textos.
Eu já sou (estou) mais para cessacionista histórico, ou seja, aceito profecias, aceito imposição de mãos (sei lá o que vocês querem dizer com isto, então não posso colocar a mão sobre a cabeça de alguém quando oro por ele?) e aceito também o uso de línguas (idiomas falados por alguém que não tenha aprendido), mas reconheco que historicamente estas práticas meio que se perderam após o ano 100.
O culto pentecostal distorce totalmente tais manifestações, pois a Bíblia diz que devem ser no máximo 3, com intérprete e um de cada vez, mas igualmente proibe (a Bíblia) que se proibe o falar em línguas (então se pode falar, desde que se sigam as regras).
Sobre línguas (acho que) pode ocorrer de o cara não saber o que está falando, neste caso só recebeu a mensagem. Outro terá que interpretar ou então o cara deve fiar quieto ou falar em particular.
(Acho que ) Pode ocorrer de o cara saber exatamente o que está falando mas não conhece o idioma, sabe apenas a interpretação da mensagem específica que falou.
E o mais correto para mim, que entendo ser o caso do Apóstolo Paulo, que foi o caso de se aprender a falar um idioma sem ter estudado para tal, o cara literalmente recebe o dom e sem explicar como sabe falá-lo.
Acho que Paulo recebeu este dom e outros também, devido ao contexto histórico e da necessidade de que o Evangelho fosse pregado antes do ano 70 em todo o mundo.
Me sitem um só texto bíblico que afirme que estes dons tenham deixado de existir? "Umzinho" só.
Sobre curas e enfermidades penso como o Jorge e precisaria ler o livro do Vincent antes de julgá-lo.
Até aqui a única coisa que discordei dele foi aquele debate sobre amor e ódio.
Até mais.
Não me chamaram para o debate mas eu me meti assim mesmo.
E ignorem erros de digitação feitos por impulso ou burrice.
Natan
E só para provocar... risos... como é que vocês interpretam o versículo que diz que verdadeiramente Ele tomou sobre Si todas as nossas enfermidades...
Estou só provocando, neste assunto penso igual ao Jorge.
Lembrei de mais uma coisa que eu discordo do Vincent... risos...
Na realidade eu gosto demais do que ele escreve, assim como do Jorge, mas... não dá para ser unânime em tudo.
Mas mesmo o que eu discordo do Vincent eu fico pensando horas para achar uma solução que o contraire.
O que eu discordo é que lembrei que li, acho que na Teologia Sistemática dele, que a salvação é monergística, mas a santificação seria sinergística.... sei não...
Se até o operar do querer e do efetuar é feito em nós pelo Senhor, como que a santificação seria sinergística?
Mas ele poderia estar fazendo uma análise pela ótica do homem... mas pela ótica do homem até se poderia dezer que existem um sinergismo na salvação..... pois o homem faz uma parte.
Mas como a parte que o homem faz é resultado da ação soberana de Deus, então a meu ver tanto a salvação quanto a santificação são obras (pela ótica da soberania) de Deus exclusivamente.
Natan,
é sempre um prazer tê-lo aqui, meu amigo, seja para discordar ou não. Você é sempre chamado a debater conosco; e, assim como os demais irmãos, você é sempre bem-vindo.
Uma pergunta: qual é mesmo a diferença entre cessacionista teológico e histórico? Não parece apenas mais uma nomenclatura pomposa para o simples cessacionismo?
Como você, gosto e concordo com a maioria das coisas que o Cheung escreve, mas também não há unanimidade. Essa idéia de monergismo na salvação e sinergismo na santificação é muito estranha. Nunca ouvi nada parecido.
A sua argumentação de que essas definições possam ser do ponto de vista humano também não justificam a adoção dos termos. Eles podem causar uma confusão danada, principalmente naqueles irmãos mais fracos, o que seria uma pedra de tropeço.
Tem de se ter cuidado ao afirmar tais coisas. Especialmente quando se proclama a total soberania divina, e acabamos por colocar, ainda que um pouquinho, o mérito do homem.
Acho que vou ter de ler a T.S. do Cheung antes de qualquer coisa, para dirimir algumas dúvidas.
No mais, obrigado por sua contribuição sempre substancial.
Cristo o abençoe!
Abraços.
PS: Você esqueceu de nossa divergência escatológica; ou estava a falar do Vincent?
Sobre oração...
Como em vários ou melhor todos os assuntos, também na questão da oração não é possível um correto entendimento sem que se tenha todos os textos harmonizados entre si.
Pegar individualmente sempre vai gerar distorções.
O texto base ao qual os demais devem se harmonizar é 1 João 5.14 "E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve."
Tudo tem que passar pelo crivo do "segundo a Sua vontade".
Um exemplo de distorção...
"Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiseres, e vos será feito"
Vamos ler ao contrário...
"Se vós NÃO estiverdes em mim, e as minhas NÃO estiverem em vós, pedireis tudo o que quiseres, e NÃO vos será feito."
Perguntas:
1. Nós estamos em Cristo? Certamente que após o novo nascimento que a resposta é sim. Então a primeira parte do versículo está cumprida.
2. As palavras do Senhor estão em nós produzindo vida e comunhão com Ele? Poder-se-ia divagar aqui argumentando que não, que ela está parcialmente... mas eu entendo que sim as Palavras do Senhor estão em nós, do contrário não seria tão vibrante tais assuntos e o amor pela Palavra e sua meditação nem passaria por nossas mentes. Então o segundo critério também (a meu ver) está cumprido.
Cumpridos os critérios 1 e 2 por que então ainda nem todas as minhas petições são atendidas?
Por isto a harmonização.
Este texto sozinho não dá conta de resolver o caso.
O problema está em duas coisa a meu ver:
A - Não saber pedir;
B - Pedir diferente da vontade de Deus já decidida em tempos eternos antes da fundação do mundo.
Então o pedirdes tudo o que quiseres precisa ser harmonizado com o outro texto que diz segundo a vontade Dele.
Na verdade temos é que aprender a orar.
Diante de um Deus soberano, a maioria dos pedidos não tem o menor sentido, e pede-se menos, e oração será mais usada para adoração, entrega das necessidade, desabafo diante de Deus, e compreensão das coisas pelas quais Ele nos faz passar.
É possível pedir...? Sim, mas ao final é recomendável que se diga sempre "todavia não seja feita a minha vontade mas a Tua".
Jesus estava em Cristo (nele mesmo)? Sim
As palavras de Deus estavam Nele (mesmo)? Sim
Mas mesmo ele também não teve uma oração ouvida... Pai, se possível passa de mim este cálice.
Nas nossas orações falta o "SE".
Se Tu quiseres...
Se for da tua vontade...
etc e etc...
Risos... eu falei que concordo com você no sentido da abordagem que você fez sobre as doenças.
Na questão escatológica TEMPORARIAMENTE divergimos.
Na questão cessacionista como você coloca também divergismos.
O nosso velho mestre em comum, omito seu nome pois foi resultado de uma conversa privada disse mais ou menos assim, falo de lembrança, nas palavras dele ficou muito mais profundo:
Cessacionista Teológico
Entende que depois do fechamento do cânon, o que era "pefeito" já tinha sido revelado e portanto tais dons desapareceram (profecia, línguas, etc...). Cessou por uma questão teológica. Não seria mais necessária nenhuma revelação pois tudo o que precisávamos saber do ponto de vista revelacional, já estava escrito na Bíblia.
Cessacionista histórico
Entende que o "perfeito" está falando de Cristo no fim dos tempos. Entende também que não existem novas revelações. Mas...
... entende também que os dons (profecia, línguas, etc...) desde que sigam a regra bíblica (línguas no culto devem ser no máximo 3, um de cada vez, e com intérprete, do contrário que se cale a boca), e DESDE que não sejam revelacionais, mas sim usados para exaltação e glorificação do Reino, então teoridamente eles seriam válidos. São chamados históricos pois entendem que teriam cessado após o ano 100, uma vez que eles entendem que a maioria das manifestações pentecostais de hoje não seguem o modelo bíblico (não são idiomas, é uma repetição sem sentido cujo nome técnico me falta agora e não sei escrever certo "glosso... e alguma coisa".
Acho que o Vincent tem este posicionamento quando aceita as línguas para os dias de hoje. Acho.
E eu me identifico com ele neste aspecto.
Dizer que cessou totalmente é pouco, tem que provar biblicamente.
Se não provar, então é porque "teoricamente" ainda pode ocorrer.
Os irmãos pentecostais gostam de ler invertido um texto clássico para "tentar provar" que estamos errados e seríamos "vomitáveis".
É este, lido corretamente:
"Estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas, pegarão em sepentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão."
Lendo ao contrário, como eles gostam de fazer para acusar:
"Estes sinais NÃO seguirão aos que NÃO crerem... ou seja, não explusarão os demônios, não falarão novas línguas, não pegarão em serpentes, se beberem veneno vão morrer, e não colocarão as mãos sobre os enfermos, e se colocarem nada vai acontecer".
Eu penei para pacificar este texto na minha mente, achar uma explicação coerente. Fica para o desafio de vocês... vou deixar vocês se debaterem um pouco e depois eu dou uma dica... risos...
Mas é um forte argumento pentecostal para o qual devemos estar preparados para responder biblicamente.
Natan,
assino o seu penúltimo comentário integralmente. Mais ou menos, foi isso o que eu quis dizer no texto. Apenas considero que em Jo 15.7 é possível estarmos tão impregnados da palavra e do Espírito Santo que os nossos pedidos sejam em conformidade com o Pai.
Certamente, não seremos atendidos em todos, exatamente por, naquele pedido, abandonarmos a palavra e a vontade divina para nos entregar aos nossos prazeres (sejam aparentemente justos como o pedido de Paulo pela retirada do espinho da carne, ou por algo meramente carnal e pecaminoso, como ter uma Mercedes Benz ou um iate, por exemplo).
Quanto a divergência escatológica, ela é mesmo TEMPORÁRIA, e se não chegarmos a um acordo aqui neste mundo, certamente teremos unidade quanto a isso e tudo o mais na eternidade. Mas espero, sinceramente, que Deus nos dê sabedoria e discernimento para chegarmos ao conhecimento dessa verdade.
Abraços.
Pois bem... continuando a prosa...
A questão da línguas e dos meus irmãos pentecostais demanda alguma prudência e algum cuidade.
Você (Jorge) e o Vincent e alguns outros reformados que tenho encontrado virtualmente pelos caminhos da vida, tendem a endurecer quando exortam àqueles que vocês acham equivocados.
E esta postura é problemática.
Vou explicar citando dois casos sobre o mundo pentecostal.
Minha avó paterna desde que se converteu sempre falou em línguas pelos cotovelos.
Eu menino, achava demais, falava língua na oração do café, e nas horas mais inesperadas.
Era uma mulher de oração.
A noite, casa de madeira, nós quando a visitávamos, deitávamos e ficávamos de "camarote" ouvindo sua oração que ecoava por toda a casa, e marcante mesmo era quando ela falava em línguas e depois dizia "alelôôôôiaaa" de uma forma peculiar.
Meu tio mais novo, percebeu que entre as várias expressões que ela falava, uma frase era sempre a mesma, e ele acabou decorando...
continua...
continuação...
Isto não significa que sou pentecostal, pois sê-lo significa mais coisas tipo crer que o batismo com o Espírito Santo é o que ocorre quando o cara fala em línguas pela primeira vez. Doutrina esta que discordo.
Mas entendo que em situações excepcionais a pessoa pode falar da parte de Deus em línguas que podem soar como ladainhas repetitivas (caso da minha avó), ou como idiomas e discursos organizados foneticamente e com entendimento racional desde que alguém interprete (ou mesmo sem intérprete para casos especiais).
Não me apresso então a julgar.
E por isto me identifico com o Vincent quando ele escreve sobre este assunto.
Espero não tê-los escandalizado.
Grande abraço!
Digitei tudo num impulso, ignorem os erros de português.
continuação...
Anos depois, muitos anos depois (conto a história de cabeça então podem haver algumas imprecisões) ele viu uma moça na igreja usando a mesma expressão que ele sabia decorado de criança.
Ficou encucado... mais anos se passaram e um dia ele resolveu estudar hebraico, e lá pelas tantas achando alguma coisa familiar, em particular para a professor lhe disse que iria falar uma expressão e se fosse hebraico que ela interpretasse, se não fosse hebraico que ela não lhe perguntasse o porquê.
Falou as palavras da minha avó...
A Professora disse que era uma frase onde a pessoa estava pedindo longevidade.
Minha vó quase sempre repetia a mesma frase como se fosse uma ladainha... e meu tio então compreendeu que ela estava falando (sem entender o que falava) e repetindo sempre "Senhor, me dá longevidade, Senhor, me dá longevidade"...
Minha avó já tem mais de 96 anos... e o curioso que sua saúde é de ferro mas não é mais lúcida.
A ironia de tudo é que ela pediu anos a fio (sem saber que pedia) por longevidade, mas não pediu saúde mental e lucidez.
Seus filhos estão já doentes, dois deles operados do coração e ela segue firme e forte.
Diante de uma situação desta eu quando leio alguma coisa que critique as línguas estranhas como manifestação espiritual... eu fico calado e no meu canto com as minhas considerações.
Ou caso...
Quando menino (lá pelos 12 anos) ouvi a história de um japonês ou chinês (não lembro e não sabia diferenciar) que trabalhava com meu pai.
A conversão dele, ou pelo menos a forma como o Senhor o chamou foi singular.
Ele estava, não lembro porque num culto pentecostal de gente simplória.
E no meio do culto, tudo errado, sem intérprete sem nada, uma mulher levanta e começa a falar no seu idioma de menino e lhe conta sua vida e do porque o Senhor estava lhe chamando para fazer parte da igreja.
Ele ficou no meio das pessoas "escondido" e depois do culto foi falar com a mulher em japonês (ou chinês não sei), e então ficou pasmo...
... a mulher não só não entendeu nada do que ele falou, como o próprio português ela falava lá não muito bem.
Foi o que bastou para que este amigo do meu pai se convertesse.
O pior desta parte é que o dom se manifestou de uma forma proibida pela escritura, que diz que devem falar 3 no máximo, um de cada vez, e com intérprete. Naquele dia não houve intérprete e somente uma pessoa entendeu o que a mulher falava.
continua...
Natan,
não tenho a vivência cristã que você tem (fui convertido há cinco anos), nem vivi as experiências que você viveu, nem tenho o equilíbrio necessário para ensinar ou admoestar.
De uma forma geral, nos textos, trato todos os leitores como se fossem perdidos ou, se não tanto, errados doutrinariamente, pois os crentes verdadeiros, ou os corretos na doutrina, não se identificarão com a admoestação.
Então, o meu alvo são aqueles que estão no erro.
Também, reconheço que o meu tom de escrever reflete a minha convicção com o que escrevo, e isso acaba acentuando o estilo "duro".
Sei que exagero na dose, mas, provavelmente, ainda não tenho a maturidade suficiente (apesar da idade) para ser menos contundente, nem sei se terei.
Em relação aos seus relatos, apesar de me tocarem pessoalmente, refuto-os exatamente por esse quesito: são experiências pessoais, e que não refletem o ensino cristão; portanto, não podem se tornar doutrinas apenas por aparentarem doutrinas.
Não me leve a mal, não quero dizer com isso que sua avó ou tio não sejam cristãos, não é isso. Apenas não posso ser convencido por experiências pessoais, é preciso mais do que isso.
Como já conversamos algumas vezes, no que concordamos, é possível um eleito viver na ignorância de muitas doutrinas ou mesmo estar errado em algumas delas. É o caso do arminiano, que pode ser um eleito, mas não compreende corretamente a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana.
Da mesma forma, reputo que pessoas que têm "dons" apostólicos possam ser eleitas. O que acredito é no fato da maioria não sê-lo, e de muitos fazê-lo apenas para a satisfação dos seus deleites, e como instrumento de satanás.
Não sou o dono da verdade, mas naquilo que apreendi dela, não considero necessário, do ponto de vista bíblico, nenhuma manifestação dos dons apostólicos para os nossos dias, pois a revelação está completamente disponível aos homens: a Bíblia Sagrada.
Mas certamente não terei respostas para muitas coisas e, nem mesmo entenderei a maioria delas, por incapacidade pura.
Forte abraço.
Cristo o abençoe!
Como não o ouço há alguns dias cheguei a pensar que está chateado comigo. continuo lendo tudo o que escreve e também de outros irmãos -menso um o qual não citarei por ter tido com ele um cripocó desagradável, embora não dese-lhe mal não tenho nenhuma intenção em perder tempo com ele e nem ele comigo. Você cita muitas vezes um aforma de pensar humana como a fonte da incompreensão das coisas de Deus e está perfeitamente certo mas noto um esforço semelhante para compreendê-las. A novas polêmicas ( nem tão novas ) em torno da prosperidade, cura divina, profecia, línguas estranhas, expulsão de demônios, trindade, eleição, predestinação nunca foram tema de polêmicas no passado. A serva de Namã não teve essa dúvida e a viúva de Serápta também não acerca da prosperidade após a multiplicação de sue óleo e nem os árabes de Catar sentados em cima do Petróleo, ou os judeus com o conhecimento e o comeŕcio no mundo. Se a doença de Paulo não era para a morte talvez pudesse ser tratada pelo avanço da da ciência de fosse hoje. Calvino tomaria antibiótico e seria curado da Tuberculoso que o limitou mas não matou a sua paixão e amor pela Palavra de Deus, Paulo operaria a sua catarata ou trataria a sua conjutivite crônica ( só suposição ). Acho que somos bastante presunçosos no alto do nosso século XXI. deveríamos ser como crianças , o que foi sugerido pelo próprio Senhor Jesus. Esse esforço em compreender sempre nos atrapalha. Um médico legista faria um exame no Lázaro morto e outro no ressurreto e ainda entrevistaria a Jesus buscando mais explicações. Acho que continuamos raciocinando humanamente embora digamos que não. Uns falham humanamente em negar a Deus ( impossível ), outros falham em afirmá-lo e os seus atos ( humanamente também impossível). como todos nós concordamos o Senhor é, e pronto. Só sei que eu era cego e agora vejo disse o cego a seus inquisidores.
Agar era escrava e estrangeira e possivelmente negra ( os egípcios eram negros ) os seus descendentes como areia da praia só não são ricos todos eles por se afastarem tanto de Deus. Já os Judeus sempre se mantiveram de algum modo depositários de uma benção financeira estejam onde estejam. Você conhece algum judeu pobre de maré maré em algum lugar do mundo? Só se for novos convertidos etíopes,etc.
Um abraço.
Helvécio,
o problema tem sido a falta de tempo mesmo. A mudança do escritório de local, muito trabalho, e o cansaço têm me impedido de ficar na internet.
Além do quê, há outros compromissos como a igreja e a família.
Mas quando tiver um tempo, vou até o seu blog dar uma lida nas suas provocações (rsrs).
Forte abraço!
Cristo o abençoe!
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