terça-feira, 28 de junho de 2011

Bate-Papo com Esli Soares: o direito de pecar e a secularização da igreja













Por Jorge Fernandes Isah

Novamente, postarei outro bate-papo por aqui. Desta vez, a "vítima" foi o Rev. Esli Soares, do blog "A cruz on-line!", com quem tenho sempre boas e edificantes conversas, a despeito de, ultimamente, estarmos ambos com falta de tempo, o que tem reduzido esse privilégio.
Nossa conversa se deu rapidamente, e muito do que foi conversado pode parecer "solto", precisando de mais explicações, as quais estamos dispostos a dar. Mas as conversas informais são assim mesmo, vamos falando e mudando de assunto sem muita cerimônia.
Como considerei os vários pontos do bate-papo importantes, decidi publicá-lo, não sem antes pedir autorização ao meu interlocutor, que gentilmente cedeu-me todos os direitos de publicação, inclusive o eventual lucro financeiro que advenha dela [rsrs].
Agradeço ao Esli, primeiramente, pelo papo, e pela gentileza em permitir a reprodução da nossa conversa.
Então, sem mais delongas, vamos ao que interessa! 


BATE-PAPO COM ESLI SOARES

Esli: Oi!
Eu: Dom Esli, tudo bem?
Esli: Graças a Deus! Ainda mais com a suspensão do kit gay.
Eu: É... mas vamos aguardar os próximos capítulos...
Esli: Sim,  claro! Tenho noção de que foi só uma suspensão, mas é o caso de agradecer ainda assim. Parece até que vivemos numa democracia...
Eu: É... O motivo é que não foi muito legal... Por causa do caso Palocci... Foi uma troca com o PT; uma barganha nada moral e ética.
Esli: Sim. Mas devemos fazer bons amigos das riquezas de origem iníquas... hehehhe.
Eu: Sei lá... Estava lendo 1Co 10, e Paulo diz que não se pode comer na mesa do Senhor e na mesa de Satanás. Então... Foi uma medida certa por um lado, e errada por outro. Mas ao menos os meninos não serão expostos a tanta imoralidade em tão tenra idade, ainda mais do que já são bombardeados pelas mídias.
Esli: Veja, devemos ir com calma, pois vivemos num tempo de grande tribulação. Estamos na antesala do trono de satanás.
Eu: Mais do que os apóstolos? Duvido!
Esli: Sem a menor dúvida! Eles tinham apenas a perseguição das espadas. Nós temos a espiritual. O inferno do tempo deles era mais imaturo, mais ingênuo, não sabiam o que estavam enfrentando... A luz dos apóstolos era firme e direta.
Eu: Não vejo dessa forma. Paulo sempre disse que a nossa luta não era contra a carne, mas contra as potestades, e ele entendia muito bem do que estava falando, muito mais do que nós entendemos.
Esli: Mas, lembre-se de que tudo isso era profético também. Enfim, cada tempo enfrenta a sua luta, e comparar não é lá muito sábio. Fiz isso para mostrar que temos de procurar as respostas na Bíblia, mas temos de ler bem mais do que na simplicidade do texto. É preciso conhecer a história, a geografia, a política, e a filosofia por traz de cada trecho; e desenterrar 2000 anos de tradições para, então, de posse da Verdade, termos a relevância que será natural.
Eu: Creio que o texto bíblico é mais simples do que isso... Senão apenas os acadêmicos a entenderiam.
Esli: Jorge, o texto nunca é simples. Ele nem pode ser simples, porque fala das grandezas de Deus.
Eu: Eu não disse que é; disse que não é tão complexo como você aponta, é mais simples do que isso...
Esli: Mas ele é eficiente, e na medida de que quem dele se aproxima, e o faz com devoção e humildade e zelo, encontrará as respostas. Não é preciso muita coisa, somente fé; e a verdadeira fé o fará buscar todos os recursos disponíveis.
Eu: Sabe, quando a gente “inflaciona” o texto bíblico com ciências humanas é que ele fica complicado, na verdade, ininteligível... É o mesmo que alguém querer caminhar sem dar um passo... não tem jeito.
Esli: Isso é verdade; mas lembre-se de que Deus escolheu nos falar assim, digo, especificamente para nós, que somos os filhos do tempo "Sola Scripturae”; não podemos desprezar tudo o q Deus nos deu... hummm... Acho que está na hora de começar a publicar textos sobre a Bíblia...
Eu: Sim. Claro. Eu mesmo gosto bastante de filosofia, mas evito misturar os conceitos filosóficos ao texto bíblico, na verdade, o texto bíblico me ajuda a entender filosofia.
Esli: Correto. Entendo você, mas o texto bíblico é filosófico.
Eu: Por isso fica mais fácil entender filosofia. E acho que assim contamino o mínimo possível a Escritura... [penso ser impossível não contaminá-la com nossos pressupostos].
Esli: Sim. Por isso devemos lutar para desenvolver uma cosmovisão redimida.
Eu: É verdade... Sim, mas como você vê a questão secular? De defender princípios seculares que não são bíblicos? O crente pode, ao mesmo tempo, defender o princípio bíblico na igreja e defender princípios seculares no mundo que se contrapõem à Bíblia? Isso seria uma cosmovisão redimida ou contemporizada?
Esli: Não, não pode haver mistura...
Eu: Mas, como você vê o crente, por exemplo, que considera o furto pecado, mas defende o direito do homem furtar? Vale para a prostituição, a mentira, a fraude, e tudo o mais que seja pecado. Pode um crente, em sã consciência, defender o direito ao pecado? Quem peca tem direito de pecar? Ou ele está cometendo uma exceção?... Uma distorção?... Uma rebelião à ordem natural?
Esli: Com muita tristeza eu li sobre tudo isso nessas últimas semanas...
Eu: Não quero nem entrar na questão de quem escreveu. Estou falando da ideia, do princípio. Provavelmente não é dele, deve ter lido isso em sites estrangeiros, liberais... Mas o que você pensa a respeito?
Esli: Sim, é provável... Veja, eu ainda continuo afirmando a verdade da Bíblia, e a falsidade do homem.
Eu: Sei. Mas eu queria algo mais prático. Por exemplo, eu sou juiz, e há uma lei que permite o aborto. Como cristão, sou contra o aborto, mas como representante da lei devo aprovar o aborto que aquela mulher quer cometer; o que valerá mais? A minha condição de cristão ou juiz? Se eu autorizar o aborto, não estarei negando os princípios cristãos? A Bíblia? E Cristo?
Esli: Sim,  estará! Como cristão você estará disposto a perder o cargo de juiz, e Deus o honrará nisso.
Eu: É assim que eu penso, também.
Esli: Mas se você tiver modos de evitar tomar essa decisão ou subterfúgios para não ter de desobedecer a lei humana, deve usá-los.
Eu: Não entendi. Como assim, não desobedecer as leis humanas? Se elas ferem o Evangelho, e se voltam contra ele, devo desobedecê-las.
Esli: Sim, a desobediência civil é moralmente correta. O que digo é que existem subterfúgios, por exemplo, não aceitar o cargo que trata dessas questões. Se declarar incapaz de julgar o caso, ou usar de ferramentas para resolver a questão a favor da lei de Deus. Sabe, precisamos usar a tesoura e não só a pedra.
Eu: É, mas há casos em que isso será difícil, quando não, impossível, então, creio que renunciar ao cargo é o dever do crente; se essa for a situação.
Esli: Não antes de tomar a decisão correta... hehehe... Impedir o aborto, e deixar que o inimigo se levante; isso é, não saia da posição, afinal a nossa luta não é contra a carne e nem o sangue.
Eu: Ah, sim! Resistir até o fim. Como está em Hebreus: não resististe até o sangue.
Esli: Isso! Olha, Deus usa até um ímpio para nos proteger.
Eu: É verdade. Mas não consigo entender como um cristão pode defender o direito do homem pecar. Isso está me incomodando... E me parece algo muito perigoso. Pois podemos ter atitudes cristãos e atitudes anticristãs que originalmente se conflitam com a consciência tranqüila de que estamos fazendo o certo mesmo agindo erradamente. É aí que entra a ética cristã, mas parece que muitos estão mais interessados em resguardar os seus próprios interesses do que em preservar a moral e a ética estabelecidas por Deus.
Esli: É um erro horroroso, e está apoiado em uma falácia gigantesca!
Eu: Até pensei em escrever algo sobre isso, mas achei que tenho coisas mais importantes para escrever... E, sinceramente, não quero polemizar. Mas alguém disse no Facebook que os gays devem ter os seus direitos assegurados, inclusive o de pecar, baseado em Rm 1, deixá-los à própria sorte e iniqüidade... Agora, me diga, esse é o outro lado, o lado extremo da questão, mas é justo que nós, cristãos, deixemos os outros pecarem, e até estimulemo-os ao pecado,  para a própria destruição deles? Enquanto se minimiza a questão, esse irmão [que é pastor nos EUA] defendeu que devemos deixar os ímpios pecarem, sofrerem na carne por seus desejos ilícitos... E veio com a desculpa de que se dois gays moram juntos, vivem juntos, etc, eles devem ter o mesmo direito de um casal, pois se alguém morrer ou ficar impossibilitado de administrar seus bens, o outro o fará por ele, em seu nome... Mas já há leis que dizem, por exemplo, que se eu quiser fazer uma procuração para alguém administrar os meus bens, caso eu me torne incapacitado ou morra... Não é preciso ser gay e estar "casado" para se ter esse direito. Qualquer um pode fazer em vida... Por que eles não fazem? Mas aí entra outra questão, a da imitação do natural, querendo que algo antinatural seja natural, seja visto naturalmente pela sociedade, ao desejarem se equiparar a um casal. Não é questão legal, é a rebelião contra a vontade de Deus, contra o natural, contra tudo que grita diante dos olhos deles que o estilo de suas vidas é antinatural...
Esli: Sim; só lembrando que aqui a pessoa em vida não pode legislar sobre os seus bens depois da morte.
Eu: Há testamento, para isso.
Esli: No mínimo 50% deve seguir as leis de sucessão. Testamento é coisa de americano, aqui não rola desse jeito.
Eu: Mas muitos gays não têm herdeiros, logo, podem destinar seus bens para quem quiser. Nem pais ou irmãos poderão ingerir em suas decisões em vida.  O problema é não se fazer um testamento e o suposto beneficiário quiser reivindicar a herança depois da morte do parceiro.
Esli: É. Concordo.
Eu: Mas falo é de lá mesmo, dos EUA, pois esse pastor mora lá.
Esli: Outra questão é que ninguém tem direito de pecar. Existe a possibilidade de perdão, mas direito de pecar não existe. Como o Estado é laico, ele apenas deve legislar para que a liberdade de cada um não interfira na do outro. Em se tratando dos gays, ele deve aplicar a lei com rigor a favor ou contra eles, sem considerá-los mais ou menos privilegiados que os demais mortais... Não criar leis especiais.
Eu: Outro problema é: Qual o critério para se saber a qual pecado o homem tem direito? Qual pecado deve-se defender e qual não se deve defender? E por qual critério?
Esli: Cria exeções... Nenhum pecado é legítimo para o homem; nenhum homem tem direito ao pecado.
Eu: Por que um gay pode e um pedófilo, não?
Esli: Por uma questão simples...
Eu: Ou um mentiroso, ou um ladrão?
Esli: Os gays têm liberdade, e se sua liberdade não interferir na vida de ninguém eles podem fazer o que quiserem, afinal o Estado é laico. O pedófilo, o mentiroso, ou o ladrão, sempre cometem um crime contra alguém e, por isso, e somente por isso, devem ser punidos pelo Estado.
Eu: Mas laicidade não é isenção nem neutralidade... O sexo está nas ruas, nos outdoors, e é algo que deveria ser privativo, ser mantido entre 4 paredes... Falo isso tanto para “héteros” como para “homos”; mas se defendo a postura homossexual de esfregar o pecado deles na minha cara, por que uma prostituta não pode? Por que um pedófilo não pode? Por que um ladrão não pode? Essa é a questão. Quando defendo o direito ao pecado, defendo o direito de qual pecado? Se de um, de todos, visto todos serem pecados diante de Deus? Logo, terei de reconhecer os outros, se reconheço apenas um deles. E isso não cabe ao cristão. Usar a justificativa de que existe o pecado para defendê-lo. A questão é que se os cristãos não defendem a moral e a relativizam, o que podemos esperar do mundo?
Esli: Sim, mas não mistura as coisas. Volto a dizer que o homossexualismo é errado moralmente, em se tratando o que a Bíblia diz, porém, nas relações particulares o Estado admite sua incapacidade de julgá-los sob o aspecto moral; então, não podemos misturar as coisas.
Eu: Não estou misturando as coisas. Veja bem, a questão é: um crente, mesmo vivendo num Estado secular ou laico, como queira [ainda que não exista Estado laico, o que existe é Estado anticristão ou antireligioso], deve defender o direito ao pecado? E quais os critérios para tal defesa? Até quando eu posso vestir-me de laicista para defender um princípio antibíblico? É essa a questão.
Esli: Não deve. Não deve nem mencionar tal idéia.
Eu: Ou seja, até que ponto um pecado pode me levar a defender outro pecado? Ou um estado de pecaminosidade pode me levar a defender o direito ao pecado? Não seria o nítido conflito entre luz e trevas, ao qual Paulo se refere em Coríntios? De que qual comunhão é possível entre o bem e o mal? Ao ponto que um cristão possa defender o direito ao mal? Mesmo que seja o mal para quem o pratica?
Esli: Está errado defender um Estado laico; está errado defender uma democracia; porém, o cristão tem de viver o hoje. Se o Estado é laico temos de saber como defender a nossa causa nessa situação. Se vivemos numa democracia temos de nos defender nos moldes possíveis dentro de um regime democrático.
Eu: Mas se os próprios cristãos defendem o direito ao pecado, e não é somente um, mas li opiniões favoráveis de vários [alguns faziam defesas apaixonadas] que esperar do Cristianismo? Nesses moldes, como cumprir o ide de ser sal e luz neste mundo caído?
Esli: É, ai é mau. Sempre tenho falado que não posso defender essa ordem natural do mundo capitalista e democrático, mas sempre me confundem, dizem que eu estou defendendo o comunismo... O Estado livre é o estado que permite e incentiva o pior pecado, o qual é  o homem se achar Deus; e em assim sendo, Deus mesmo os entregará a praticas repugnantes e torpes, em contra partida.
Eu: Os regimes de governo humanos são assim mesmo, uns piores dos que os outros. Por isso, penso que o dirigir-se pela Lei de Deus tornaria justa a sociedade; seria bom para todos, menos para os criminosos contumazes. O fato é que, no mundo atual, não há lugar para arrependimento, apenas para a ostentação degradante do pecado. E é isso que alguns de nós defendem por aí, ainda que digam que não. Mas se não estão defendendo esse direito, estão defendendo o quê? Penso que a pior torpeza não é a de quem a pratica, mas a daquele que vê o outro praticando e se cala ou bate palmas.
Esli: Quanto à aplicação da Lei de Deus, creio que isso não vai acontecer. É ai é que divergimos...
Eu: Mas posso defendê-la... O acontecer pertence ao Senhor.
Esli: Eu acho que devemos como Igreja, e não como força política. Nossa ação é na sociedade e a sociedade redimida vai pressionar o governo e esse vai fazer algumas coisas por pura pressão dos homens redimidos.
Eu: De certa maneira, foi o que aconteceu com o Kit Gay... São as regras do jogo político.
Esli: Devemos ser gratos, pois Deus nos protegerá nesses tempos de angústia.
Eu: Certamente. Mas outra questão é: se defendemos o direito ao pecado, é sinal de que não amamos o pecador. Pelo contrário, está nítido o nosso desprezo por ele.
Esli: Sim; como tenho sempre dito, se proibirem falar contra o homossexualismo, serei preso toda semana, se bem que eu raramente fale desse assunto.
Eu: Não precisa falar, mas não tem porque não falar. O fato é que, mesmo se não falar, alguém pode acusá-lo de homofóbico, de perseguidor de gays, e irá preso do mesmo jeito.
Esli: Por isso disse que serei preso toda semana. Será bom, pois os presos ouvirão o Evangelho e se converterão; sabendo que a população carcerária é cada vez maior, vamos tomar o Brasil para Cristo.
Eu: Por que a lei contempla o pecado, infelizmente! E a sociedade estimula os pecadores; estimula o conceito de pecado, para depois, quando é prejudicado por eles alegar injustiça e frouxidão do Estado. Mas se esquecem de que são os primeiros a defender a impiedade, como um salvoconduto para pecar livremente. Isso é comum entre os homens naturais, só faltava os cristãos defenderem-no também, agora, não falta mais [rsrs].
Esli: Hehehe... Sim, mas há 7.000 que não se dobraram a Baal.
Eu: Amém!... Meu irmão, terei de sair. Foi muito bom o papo!
Cristo o abençoe! 
Esli: Amém!
Nota: Indico o texto do pr. Josafá Vasconcelos, "Decisão do STF: Direito de pecar?!"

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