Por Jorge Fernandes
Como disse anteriormente, Jesus retornou a Betânia seis dias antes da páscoa, encontrando-se com Lázaro, Marta e Maria, os quais juntamente com o Senhor e Seus discípulos participaram de uma ceia (v.1-2).
Maria tomou um arrátel de ungüento de nardo puro, caríssimo, “ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento” (v.3). Há uma discussão se Maria era uma prostituta, e mesmo se seria Maria Madalena, conforme parece indicar Lucas 7.37-38 (Creio que as duas passagens são diferentes, e não se referem à mesma pessoa). Não vou entrar no mérito da questão, até porque não é isso o que de mais importante nos é revelado (na verdade, é irrelevante). O fato é que tanto Maria como os outros convivas eram pecadores, independente se seus pecados eram públicos ou secretos. Para Deus não há acepção de pessoas (Rm 2.11), no sentido de que todos somos pecadores e, portanto, não merecemos privilégio especial, “porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados” (Rm 2.12).
Porém, “para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” (Rm 9.23), sobre uns Ele derramou a Sua graça salvando-os, porque “isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Rm 9.16); e sobre outros, reservou-lhes a Sua ira; “e que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição”? (Rm 9.22).
Em meio à assistência Maria se humilhou diante do Senhor, exaltando-O, e atraindo sobre si a injusta indignação dos convidados, os quais consideravam desperdício aquela atitude de lavar os pés de Jesus com perfume (Mc 14.4), que leva-nos a traçar um paralelo com a cena em que o Mestre lava os pés dos Seus discípulos (Jo 13.12). Ali, Ele se humilha diante deles, mas mais do que isso, Ele honra-os ao dar-lhes o exemplo “para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15). Ou não é uma honra seguir os passos do Senhor?
O Seu objetivo é mostrar-nos que o cristianismo não é uma competição nem um campeonato dos melhores, pelo contrário, todos somos miseráveis pecadores, escória, e se há algo de bom em nós, é obra exclusiva de Deus que a operou. Somos todos membros do mesmo corpo, e de que nenhum membro é maior do que o outro. Paulo faz uma analogia fantástica da Igreja com o corpo, e em certo ponto, diz: “Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis... E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários; e os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra” (1Co 12.18; 22-23). Não é o que nos revela o ato de Cristo? Se como Deus e Senhor, “vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (Jo 13.14), “para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros” (1Co 12.25).
As duas cenas dos pés lavados parecem díspares, apesar de terem semelhanças. Porém, em ambas há um só objetivo: a glória de Cristo! Maria ao lavar os pés do Senhor, adora-O, revelando-nos a Sua divindade, e o lugar de honra que lhE é merecido. Quando Jesus lava os pés dos discípulos, em humildade, mostra-nos o perfeito grau de obediência que tem para com o Pai, e de como veio para servi-lO, cumprindo-se assim os eternos decretos de Deus. Portanto, não há incompatibilidade de propósitos, antes eles se complementam, manifestando a natureza santa de Cristo; o qual sendo Deus “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2.7-8).
Então, eis que surge a oposição na forma de Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, que disse: “Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?” (v.5). O apóstolo João encarrega-se de explicar o motivo de sua atitude: “Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” (v.6).
Como já vimos, não foi apenas Judas que se indignou, mas alguns outros também (Mc 14.4). Judas tinha os seus motivos escusos e torpes, e os outros? O que os motivava?... A completa ignorância acerca de Deus; pois não tinham a menor idéia do que Maria fazia, de como aquela atitude era o agradecimento, reconhecimento, louvor e glorificação do Senhor. Eles estavam tão presos aos seus interesses, à sua humanidade caída, que não podiam ver um milímetro além dos olhos; suas almas estavam acorrentadas e cegadas ao pecado, restava-lhes apenas a indignação, por não ser-lhes possível ver além do valor pecuniário do perfume. É o homem em sua essência, pequeno, miserável, diante da grandiosidade de Deus. Porém Maria o soube; e Jesus garantiu que o seu ato fosse documentado e passado às sucessivas gerações como testemunho de uma boa obra, do seu amor: “onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua” (Mt 26.13).
Por outro lado, evidencia-se a hipocrisia dos indignados, os quais esperavam fazer o bem com algo que não lhes pertencia e não lhes custara nada. Em seu estúpido juízo, esperavam a aquiescência do Mestre, mas o que ouviram foi a Sua reprovação, uma ducha de água fria: “Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes” (v. 7-8)*. Provavelmente, a compaixão deles para com os miseráveis resumia-se em frases de efeito e no imediatismo farisaico de acusar o próximo, senão, porque Jesus diria: “podeis fazer-lhes bem (aos pobres), quando quiserdes” (Mc 14.7)?
Judas, após ouvir a repreensão de Cristo, “foi ter com os principais dos sacerdotes para lho entregar” (Mc 14.10); “e eles lhe pesaram trinta moedas de prata” (Mt 26.15). Essa era a vontade do ladrão, roubar o que não lhe pertencia, mas nesse caso, nem ele nem ninguém poderia tomar a vida do Senhor.
Ao saber onde Cristo estava, muitos judeus foram até Ele, e também para ver a Lázaro, “porque muitos dos judeus, por causa dele, iam e criam em Jesus” (v.11), por isso, os líderes religiosos “tomaram deliberação para matar também a Lázaro” (v.10).
O contraste entre a gratidão e amor de Maria com a pusilanimidade e ódio de Judas é notório no relato de João e nos evangelhos sinóticos; mas tudo meticulosamente planejado por Deus, tanto o bem como o mal, para que Cristo, quando for levantado da terra, atraia todos a Si (Jo 12.32)... e seja glorificado.
*Maria ao chorar aos pés do Senhor e perfumá-los, antecipa, de certa forma, o sacrifício e a morte de Cristo na cruz.
Maria tomou um arrátel de ungüento de nardo puro, caríssimo, “ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento” (v.3). Há uma discussão se Maria era uma prostituta, e mesmo se seria Maria Madalena, conforme parece indicar Lucas 7.37-38 (Creio que as duas passagens são diferentes, e não se referem à mesma pessoa). Não vou entrar no mérito da questão, até porque não é isso o que de mais importante nos é revelado (na verdade, é irrelevante). O fato é que tanto Maria como os outros convivas eram pecadores, independente se seus pecados eram públicos ou secretos. Para Deus não há acepção de pessoas (Rm 2.11), no sentido de que todos somos pecadores e, portanto, não merecemos privilégio especial, “porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados” (Rm 2.12).
Porém, “para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” (Rm 9.23), sobre uns Ele derramou a Sua graça salvando-os, porque “isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Rm 9.16); e sobre outros, reservou-lhes a Sua ira; “e que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição”? (Rm 9.22).
Em meio à assistência Maria se humilhou diante do Senhor, exaltando-O, e atraindo sobre si a injusta indignação dos convidados, os quais consideravam desperdício aquela atitude de lavar os pés de Jesus com perfume (Mc 14.4), que leva-nos a traçar um paralelo com a cena em que o Mestre lava os pés dos Seus discípulos (Jo 13.12). Ali, Ele se humilha diante deles, mas mais do que isso, Ele honra-os ao dar-lhes o exemplo “para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15). Ou não é uma honra seguir os passos do Senhor?
O Seu objetivo é mostrar-nos que o cristianismo não é uma competição nem um campeonato dos melhores, pelo contrário, todos somos miseráveis pecadores, escória, e se há algo de bom em nós, é obra exclusiva de Deus que a operou. Somos todos membros do mesmo corpo, e de que nenhum membro é maior do que o outro. Paulo faz uma analogia fantástica da Igreja com o corpo, e em certo ponto, diz: “Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis... E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários; e os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra” (1Co 12.18; 22-23). Não é o que nos revela o ato de Cristo? Se como Deus e Senhor, “vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (Jo 13.14), “para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros” (1Co 12.25).
As duas cenas dos pés lavados parecem díspares, apesar de terem semelhanças. Porém, em ambas há um só objetivo: a glória de Cristo! Maria ao lavar os pés do Senhor, adora-O, revelando-nos a Sua divindade, e o lugar de honra que lhE é merecido. Quando Jesus lava os pés dos discípulos, em humildade, mostra-nos o perfeito grau de obediência que tem para com o Pai, e de como veio para servi-lO, cumprindo-se assim os eternos decretos de Deus. Portanto, não há incompatibilidade de propósitos, antes eles se complementam, manifestando a natureza santa de Cristo; o qual sendo Deus “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2.7-8).
Então, eis que surge a oposição na forma de Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, que disse: “Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?” (v.5). O apóstolo João encarrega-se de explicar o motivo de sua atitude: “Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” (v.6).
Como já vimos, não foi apenas Judas que se indignou, mas alguns outros também (Mc 14.4). Judas tinha os seus motivos escusos e torpes, e os outros? O que os motivava?... A completa ignorância acerca de Deus; pois não tinham a menor idéia do que Maria fazia, de como aquela atitude era o agradecimento, reconhecimento, louvor e glorificação do Senhor. Eles estavam tão presos aos seus interesses, à sua humanidade caída, que não podiam ver um milímetro além dos olhos; suas almas estavam acorrentadas e cegadas ao pecado, restava-lhes apenas a indignação, por não ser-lhes possível ver além do valor pecuniário do perfume. É o homem em sua essência, pequeno, miserável, diante da grandiosidade de Deus. Porém Maria o soube; e Jesus garantiu que o seu ato fosse documentado e passado às sucessivas gerações como testemunho de uma boa obra, do seu amor: “onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua” (Mt 26.13).
Por outro lado, evidencia-se a hipocrisia dos indignados, os quais esperavam fazer o bem com algo que não lhes pertencia e não lhes custara nada. Em seu estúpido juízo, esperavam a aquiescência do Mestre, mas o que ouviram foi a Sua reprovação, uma ducha de água fria: “Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes” (v. 7-8)*. Provavelmente, a compaixão deles para com os miseráveis resumia-se em frases de efeito e no imediatismo farisaico de acusar o próximo, senão, porque Jesus diria: “podeis fazer-lhes bem (aos pobres), quando quiserdes” (Mc 14.7)?
Judas, após ouvir a repreensão de Cristo, “foi ter com os principais dos sacerdotes para lho entregar” (Mc 14.10); “e eles lhe pesaram trinta moedas de prata” (Mt 26.15). Essa era a vontade do ladrão, roubar o que não lhe pertencia, mas nesse caso, nem ele nem ninguém poderia tomar a vida do Senhor.
Ao saber onde Cristo estava, muitos judeus foram até Ele, e também para ver a Lázaro, “porque muitos dos judeus, por causa dele, iam e criam em Jesus” (v.11), por isso, os líderes religiosos “tomaram deliberação para matar também a Lázaro” (v.10).
O contraste entre a gratidão e amor de Maria com a pusilanimidade e ódio de Judas é notório no relato de João e nos evangelhos sinóticos; mas tudo meticulosamente planejado por Deus, tanto o bem como o mal, para que Cristo, quando for levantado da terra, atraia todos a Si (Jo 12.32)... e seja glorificado.
*Maria ao chorar aos pés do Senhor e perfumá-los, antecipa, de certa forma, o sacrifício e a morte de Cristo na cruz.
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