segunda-feira, 25 de agosto de 2008

RÓTULO









Por Jorge Fernandes

O rótulo é algo inevitável para o homem que precisa se identificar e identificar aos outros, sendo muito mais uma definição estética que moral. E entre os evangélicos há tantos dísticos que ficamos perdidos; muitos deles apenas estéticos, e alguns nem tão morais. Por exemplo, a questão da salvação é algo moralmente distorcida em nossos dias. Prega-se que o homem pode "aceitar" a Cristo, e o mesmo que O aceitou pode"rejeita"-lO, como se fosse o escolher brócolis no almoço e filé no jantar. Não se pode tratar Deus como um tubérculo ou leguminosa acomodados no freezer, o qual retira-se e coloca-se quando e onde quiser. Jesus disse: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” [Jo 15.16].

A causa de muitas profissões de fé falsas é a idéia errada de que posso aceitar e depois rejeitar a Cristo, e mais à frente aceita-lO novamente, e caso não queira mais, desprezá-lO quantas vezes quiser até que venha a “recebe”-lO, se houver tempo. Não é algo definitivo, nem mesmo é uma hipótese de definição, é efêmero e vacilante, podendo suceder-se por inúmeras vezes. Esse tipo de salvação é moralmente bíblico? Ele pertence à categoria do nascer de novo ao qual o Senhor Jesus afirmou ser necessário para se ver o reino de Deus? [Jo 3.3].

Ao depender de mim, da minha vontade e, especialmente, dos "métodos" para se"convencer" alguém de que uma vida com Cristo é o melhor, a minha salvação seria moral? Como pode um homem caído, separado de Deus em seus pecados ser moralmente apto para se reconciliar com o Senhor santo e justo? “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” [1Co 2.14].

Ao aceitá-lO, sou o agente moral, e, portanto, habilitado a estabelecer a comunhão com o Todo-Poderoso, o qual é passivo, dependente da minha vontade? E ao aceitá-lO e rejeitá-lO diversas vezes sou moral ou amoral? Responda-me: é realmente melhor ser um cristão? Já imaginou os sacrifícios, os obstáculos, as renúncias que temos de fazer num mundo que odeia a Deus e que apela tão baixamente para o que de pior existe em nós? Se é tão bom ser crente, porque não o fomos antes? Porque somente agora e não um ano atrás? O que mudou em minhas convicções e natureza que me motivaram a aceitar Cristo e servi-lO? Porque “decidi-me” pelo Deus bíblico, ao invés de permanecer com o deus genérico, popularizado, mistificado e comercializado por tantas religiões e sistemas filosóficos?

O Deus bíblico, verdadeiro e único não pode ser passivo. Ele não fica de braços cruzados esperando as coisas acontecerem, alheias à Sua vontade, sem intervir direta e propositadamente, visto ser o Agente, o Autor de toda a criação, Aquele que atua na história, que determina todos os atos no universo [Ex 33.19; Is 14.24;27; Rm 9.15], os quais foram estabelecidos soberanamente antes da fundação do mundo. Portanto, o Deus bíblico não pode ser rejeitado impunemente. Não pode ser desprezado sem que aquele que o desprezou sofra as conseqüências do seu ato. O Deus bíblico não reconhece o homem como seu filho se ele permanecer "amoldado" à sua natureza pecaminosa. Para isso, é necessário que o nosso ser seja transformado, que esse homem renasça em Cristo, e pela ação do Espírito Santo, o caráter do Senhor seja implantado, pouco a pouco. Assim, regenerados, somos então capacitados a reconciliar-nos com Deus, ou a “aceitá-lO”; não sendo mais passivos no pecado, mas ativos em santidade. Sem isso, somos criaturas rebeldes, incomunicáveis com o Altíssimo, destinados à Sua ira, a perecer eternamente, sem jamais ser filhos e templo do Espírito Santo. Então, não é uma questão de escolha, mas de QUEM escolhe, e Deus escolhe, “Para que nenhuma carne se glorie perante ele” [1Co 1.29].

Se sou eleito de Deus, Ele jamais permitirá que eu me perca novamente, que eu volte ao reino de trevas, ao mundo caído de Satanás. Esta é a Sua promessa aos Seus escolhidos, porque “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”, disse Jesus [Jo 6.37].

O arminianismo, e o seu pai, o pelagianismo, são a razão do vai-e-vem sem fim nas cadeiras das igrejas, onde os crentes de hoje serão incrédulos amanhã, podendo novamente ser crentes, e por fim, apostatarem tempos depois; visto que a salvação é como uma partida de pingue-pongue; e não consigo imaginar-me disputando um jogo em pé de igualdade com o Todo-Poderoso, Criador, Salvador e Senhor, e ainda por cima, derrotá-lO. A salvação passa a ser uma pilhéria, e o Senhor motivo de escárnio, tais as possibilidades de variações quanto ao estado de salvo e perdido, quanto a uma insegurança que denota a fragilidade de um deus criado na mente corrupta e insana do homem... que nada tem a ver com o Deus Tri-uno, poderoso e Senhor de todo o universo.

É possível que esse homem que crê deter o poder de "eleger" a Deus tenha a certeza da salvação? Visto que não há nada que a assegure, apenas e tão somente a vontade do próprio homem? O qual é fraco, volúvel, obstinado em sua pecaminosidade, bastando apenas o mudar para se perder outra vez? Ele pode afirmar-se salvo, se ele mesmo não o sabe nem tem certeza se o será?

O homem deu um tiro no pé! Ao supor-se detentor de um poder que não possui. É ilusório, terrível, maligno. Pois nos dá uma sensação de liberdade irreal, impossível de nos levar a decidir por Deus, na medida em que ela é incapaz e inadequada de nos levar a escolhê-lO; pois o livre-arbítrio pressupõe o homem tanto bom como mau, contrapondo-se ao ensinamento bíblico, o qual assevera ser o homem essencialmente mau; “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” [Rm 3.23]; “não há justo, nem um sequer” [Mq 7.2; Rm 3.10]; e “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” [Jr 13.23]... Logo, o homem encontra-se completamente incapacitado de vencer o seu pecado.

A presunção é de que, se fazemos coisas boas e ruins, escolhas boas e ruins, elas indicam que sou capaz de eleger a Deus (pois rejeita-lO já o faço naturalmente, de manhã à noite); e de que esta escolha é não influenciada por alguma força, seja ela exterior ou interior; de que é isenta de causalidade, neutra, o que é utópico, pois somos sempre tomados por algum poder... a liberdade morreu no Éden com Adão e Eva, e estaremos sob o domínio de satanás até que o poder máximo do Senhor restaure-nos, e a liberdade seja finalmente ressuscitada.

Ainda que não possamos "ganhar" ninguém para Cristo, pois esse papel cabe ao Espírito Santo, o qual dá o convencimento ao homem do pecado, da necessidade de arrependimento, e a compreensão da obra salvadora do Filho de Deus, não podemos nos escusar de levar o Evangelho aos perdidos [Mt 28.19-20]. É uma ordem expressa do Senhor, não sendo condicional, mas imperativa. Como instrumentos, Deus nos usará para alcançá-los, não nos cabendo questionar os Seus sábios métodos, mas certificar-nos de obedecê-lO prontamente.

E, para que não reste dúvidas quanto à minha posição, creio na doutrina da Eleição do homem por Deus, e de que Deus escolhe quem salvará; é uma obra completa d’Ele, na qual somos como barro nas mãos do oleiro [Rm 9.21], em vista de sermos incapazes de “escolher” salvar-nos; pois jamais o homem escolheria a salvação se Deus não o movesse a ela... É uma discussão que se arrasta há séculos, mas a Bíblia é clara quanto ao assunto: a eleição é de Deus, e não do homem! Como acertadamente disse o profeta: “Do Senhor vem a salvação” [Jn 2.9], pois a glória é somente e completamente d’Ele...

Ah... ia me esquecendo... quanto ao rótulo, podem chamar-me calvinista.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

PECADO











Por Jorge Fernandes

O pecado arromba a porta,
Empurra-me ao abismo,
À sua beira, sinto que não preciso cair,
Mas as trevas profundas,
E no prazer ignominioso,
Lanço-me à desolação;
Sei que sofrerei,
Sei-me odioso,
Não devia permiti-lo,
Desprezo ao meu Senhor,
Ao alertar-me, dá-me não escolher o mal,
Fico a ruminar a idéia,
E como num cabo-de-guerra,
Vejo-me a puxar e tracionado,
Atraído pelo desvio,
Ainda embatendo-me,
Já derrotado.

Ao seduzir a ofensa,
Persuade-me a falsa promessa,
Domina-me,
E a convicção de cair vítima do erro,
Faz-me tenaz em obtê-lo.
Não é mais uma luta...
A dúvida cedeu ao vigor abjeto,
Hesitação virou crença,
Quando, é a questão,
Se agora ou em qual momento,
Detalhe sórdido a prolongar a queda.

Demônios riem-se,
Esfregam as mãos,
É só o tempo,
De apertar-me o laço,
Para que o folguedo comece
No inferno.

O delírio num flash,
Tenho as mãos sujas,
Os pés olhos e um coração podre,
Lodaçal a impregnar a pele,
Pragas erguem ninhos nos cabelos.

Quero chorar,
Rasgar-me num grito,
A madrugada a esconder-me,
Qual meliante furtivo,
Socar-me à parede,
E ver que nada disso mitiga a dor,
Ou faz renascer a alma morta.

Careço de perdão,
Eu mesmo não o faria,
Então de joelhos,
Curvo-me envergonhado,
Triste,
Pela tentação a rondar solerte;
Então clamo,
Orando ao meu Senhor,
Que se compadeça,
Apiede-se de mim,
Livre-me da culpa,
Que carrego como constipação.

E somente Ele,
O Rei da graça,
Ouve-me...
As dívidas liquidadas,
Pois o resgate,
Ele pagou
Na cruz.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

ZUMBIS INTELECTUAIS











Por Jorge Fernandes

Em poucos anos de conversão, tenho ouvido muitos crentes dizerem-se avessos à teologia. O argumento mais usual, distorcido e surreal é afirmar que a “letra mata e o espírito vivifica” [2Co 3.6], abrindo espaço para todo o tipo de sandice dita espiritual que abunda nas igrejas [Paulo alude claramente à impossibilidade de salvação pela lei, pela letra, a qual é capaz de trazer apenas a condenação ao homem, visto que a lei não salva, mas revela-nos o nosso pecado e nos dá a condenação. Somente a obra consumada de Cristo pode livrar-nos do inferno. Portanto, o versículo não é uma proibição para se estudar as Escrituras].

O pouco convívio com a Bíblia, a falta de senso crítico, e o estímulo que muitos líderes imprimem à experiência pessoal, a qual ganhou uma relevância ímpar em nossos dias, acentuada pela ignorância teológica dos seus defensores, levam os crentes, de uma forma geral, a negligenciar o zelo que os irmãos de Beréia tinham [At 17.11], e a uma espécie de torpor espiritual que os faz aceitar de bom grado tudo o que lhes é proposto sem examinar as Escrituras, conduzindo à morte da razão. No pouco ou nenhum conhecimento da Palavra eles são abatidos pelas armas que satanás lhes dá, as quais julgam provir do Senhor mas nem remotamente percebem que ao puxar o gatilho tornam-se alvos de si mesmos.

O conhecimento de Deus passou a ser subjetivo e cada um pode tê-lo a seu modo, facilitado pela completa alienação doutrinária; amoldando-o a qualquer recipiente blasfemo, herético e diabólico.

Parece-me que os crentes estão meio que perdidos; são tantos os ataques do inimigo [e o seu desejo é a destruição da igreja, visto que o Senhor Jesus morreu por ela], são tantas as suas artimanhas, que os crentes não têm idéia do que seja uma vida cristã [a base que se tem dado aos crentes é muito frágil, e “ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11). Não se prega a Bíblia expositivamente (2Ti 4.2-3); é psicologismo pra cá, humanismo pra lá, e individualismo por todos os lados; não se estimula os crentes a ler teologia, a ler livros que os levem à santidade, a aprofundar-se nas doutrinas; e muito porcamente dizem que as Escrituras são a única regra de fé. Mas como isso é possível sem conhecê-la, sem entendê-la?].

Parte disso é culpa dos acadêmicos [muitos deles inconvertidos e educados em seminários e faculdades nitidamente opositores do Evangelho], que tratam o estudo da Bíblia com mais frieza do que um legista disseca um cadáver; é como um labirinto onde se tem a certeza de que jamais se sairá dali; visto que o homem cada vez mais está preocupado com a sua glória pessoal, “porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21); “e, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm” (Rm 1.28); pois, “o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co 4.4).

Então, prefiro autores que conciliam doutrina com doxologia, ao estilo de Lloyd-Jones, John Owen, Charles Spurgeon, Jonathan Edwards, Arthur Pink, John Piper, John McArthur... Guardadas as devidas proporções, eles tentam repetir o que Paulo fazia divinamente inspirado: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas Cristo Jesus, o Senhor” (2Co 4.5); “para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Ti 3.17). Enquanto isso, os Warrens, Malafaias, Cavalcantis, Mclarens, Hinns e Yansens da vida ganham cada vez mais espaço nas livrarias, nas estantes, e em mentes loucas, porque o que eles fazem é meio que anestesiar a consciência, um inibidor que impede as pessoas de pensarem como crentes, os quais devem ter a mente de Cristo [1Co 2.16], transformados pelo Evangelho; e não mantidos em coma pelo humanismo/secularismo/místico com que são tratados, tornando-as em zumbis intelectuais, em natimortos espirituais. Na vaidade das suas mentes, “entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração... se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda a impureza” [Ef 4.18-19].

Só há um antídoto: a leitura diária, devocional e reverente da Palavra em espírito de oração; porque “toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça” [2Ti 3.16], e a “tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre" [Sl 119.160]; sabendo que os pensamentos de Deus são mais altos do que os nossos, e os Seus caminhos são mais altos do que os nossos [Is 55.9]; “porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas, glória, pois, a ele eternamente. Amém” [Rm 11.34-36].

Então, não nos furtemos a “conhecer os mistérios do reino de Deus”, o qual nos é dado pela revelação das Sagradas Escrituras, mas aos outros é dado “por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam” (Lc 8.10).

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

EM SEUS PASSOS









Por Jorge Fernandes

Se há um Evangelho verdadeiro sendo pregado, esse é o que leva à perseguição, à prisão, à morte, ao desprezo [2Tm 3.12]. Não era assim com o Senhor? E com os apóstolos? E na igreja primitiva? O mundo não quer saber da Verdade, ao contrário, ele quer eliminá-la, destruí-la. E a culpa é nossa, ao nos esquivarmos de realizar a missão delegada por Jesus, preocupados apenas e tão somente com o nosso “umbigo”. Até quando?
Venho pensando muito nisso ultimamente. E tenho orado para que Deus não permita que nos tornemos em “crentes secretos”, que pouco ou nada da nossa vida revele a quem servimos. Podemos ir à falência? Ser expulso da escola? Perder o emprego? Abandonados pela família? Desprezados pelos vizinhos? Ir à prisão? Como Cristo disse: “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á” [Mt 10.38-39].
Falta vergar-nos diante de Deus. Quantas vezes fingimo-nos de surdos ao Espírito Santo? E deixamos a condição de discípulos? De assumir o lugar na igreja, em casa, no trabalho? Sendo omissos, quando Deus quer que ajamos ao invés de nos confortar com a nossa eleição?... Sei que é difícil... Passo boa parte do dia me questionando se estou mesmo servindo a Deus ou se estou apenas brincando de cristianismo. Aflige-me ver o quanto estou preocupado com as coisas do mundo, com a minha própria vida, e quase nada com o Reino de Deus. Mas oro ao Senhor para que Ele me transforme, me capacite, me dirija no cumprimento da Sua santa vontade; e a testemunhar verdadeiramente o Seu amor, graça e misericórdia para com esse mundo perdido [mesmo sabendo que nem TODOS são o alvo do Evangelho].
É uma encruzilhada, e o caminho a seguir não é florido, nem asfaltado, nem tem barracas distribuindo água de coco grátis; mas o Senhor nos fará ultrapassá-lo, e conheceremos o Seu amor, e quem nos ver ali saberá que O amamos, por isso O servimos. Como Paulo afirmou: “O viver é Cristo, e o morrer ganho” [Fp 1.21].
Reli recentemente a passagem em Lucas 5:1-8, em que o Senhor mandou que Pedro e os pescadores lançassem suas redes no mar quando o fizeram a noite toda e nada pescaram. Após voltarem do local, onde Cristo os ordenou ir, com as redes lotadas de peixes, lemos: "E vendo isto Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador". Não pude deixar de chorar, porque percebi que Pedro, um simplório, um iletrado, compreendeu e entendeu o que talvez levemos a vida inteira e ainda assim não compreendamos: o quanto Deus é santo [e somente Ele é santo], o quanto somos miseráveis pecadores, e o quanto devemos nos humilhar diante d’Ele. Ali Pedro se rendeu à santidade de Jesus, submisso adorando-O, porque entendera, naquele momento, que havia um abismo separando-o de Deus; e de que sem Ele, Pedro não seria absolutamente nada além de um reles pecador.
Fico pensando que muitos de nós, ainda que salvos, seremos envergonhados diante da santidade e glória de Deus. Não falo da nossa pequenez diante da grandiosidade do Senhor, mas daquilo que poderíamos fazer, o qual Deus nos capacitou a fazer e não fazemos em rebeldia.
Fico a imaginar que a salvação é algo sublime, que só podia vir do Senhor, mas mais fantástico do que a salvação é o próprio Deus. E não honrá-lO é triste; ao se abrir mão das coisas santas e desprezar as coisas simples que não realizamos por puro descaso.
Se ao invés do cuidado excessivo conosco lembrarmos do essencial, pregar a Cristo crucificado [1Co 2.2], o qual, ainda que fosse Filho, aprendeu a obediência, e veio a ser a causa da salvação a todos que lhe obedecem [Hb 5.8-9]; o disfarce cairia, e o Senhor seria revelado em nós pelo Espírito Santo, e ainda que em meio às tribulações e lutas, participaríamos da Sua glória, pois somos chamados a seguir os passos de Cristo, e a jamais cair.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

RENASCERE












Por Jorge Fernandes

Estive sozinho e abandonado,
Vivendo em conflitos,
Lágrimas corriam secas dos olhos
Dia após dia sem enxugá-las.
Havia um grito sem êxito,
O fôlego que se havia extinto,
As forças a se esvair,
E correr, apenas um exercício à força.
Dias tão escuros como a noite,
Noites, a aflição de lugares sombrios;
O corpo sonâmbulo,
E a mente a disputar uma última batalha,
Quase sem fim.
O inimigo alentado,
Eu, fustigado,
O desespero: a porta onde se entra e não sai,
A debater-me,
Como o naufrago em águas bravias;
Acorrentado às tentações,
A julgar tangível a liberdade
Que não alcanço,
E a ninguém posso tomar.
O fio último a escorrer pelo ralo...
Há anos tomado pela ilusão,
De que sentara no trono,
Quando na sarjeta só há plebeus.

A fúria dá lugar à paz,
O desânimo, esvaece,
A aflição não perscruta rijamente,
A tristeza não subsiste à graça,
E mesmo nos intervalos,
Sou impedido de cair.
Porque a luz veio-me ao encontro,
A dar o que jamais tive;
Na verdade fui acolhido,
E o Senhor livrou-me do caos.

Resgatou-me,
E a eternidade se fez hoje.