quinta-feira, 30 de outubro de 2008

AMOR














Por Jorge Fernandes

Não é o nome apagado na agenda,
Nem a vela a consumir-se no funeral,
Ou água a esvair-se da pipa fendida;
É muito mais do que cair do cavalo,
Que manter os pés secos na enxurrada,
Cozinhar o galo em banho-maria,
Sonhar tênue em meio à emboscada.

É como erguer uma parede,
Estender a mão ao amigo,
Chorar a dor de quem perdeu,
Andar sem esforço no atoleiro.

Pode durar uma hora ou dias;
Pode arrastar-nos pela vida,
Pode perpassar indelével com o tempo,
Pode ser a carga a nos encurvar.

Cura
Mitiga,
Suporta
Fia.

Conhece,
E faz-se conhecer.

Tem coração,
Tem vida,
É verdadeiro,
É Único.

Seu Nome acima de todos:
Cristo.

Não há outro,
Diante do qual o amor se curve.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

APOLOGÉTICA COM FILOSOFIA?












Por Jorge Fernandes

Usarei o comentário que escrevi sobre o livro “Pode o Homem Viver Sem Deus?”, para prosseguir no entendimento do que considero, verdadeiramente, ser apologética.
“Ravi Zacharias é um dos maiores apologetas da atualidade. Por todo o mundo, ele ministra palestras e debates defendendo a existência de Deus, e da necessidade da aplicação dos princípios cristãos na sociedade.
Neste livro, em sua primeira parte, ele faz uma defesa da idéia de Deus a partir de analogias morais e filosóficas. Há de se reconhecer o seu esforço, seu vasto conhecimento, seus pressupostos filosóficos (a maioria baseada em Aristóteles), e a defesa apaixonada de Deus. Apesar de haver alguns "buracos", no conjunto ele é convincente, porém, nem tanto eficiente. Pode parecer que estou contra Zacharias, o que não é verdade. Mas a questão é que não creio em apologética sem Cristo e Seu Evangelho. Ideais filosóficos e estéticos são bons para se promover debates, para páginas e páginas de discussão acadêmica, para inflar e esvaziar egos, mas nunca conversões. Alguns me dirão que Paulo demonstrava grande conhecimento dos filósofos gregos, e usava-os em suas pregações. Concordo, parcialmente.
Certamente, o apóstolo dos gentios, como um homem extremamente culto, um erudito em sua época, conhecia profundamente os filósofos gregos, bem como os judeus e outros tantos grupos filosóficos. Porém, não vejo Paulo usando "sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã" (1Co 1.17), pelo contrário, como ele mesmo disse, a única coisa que lhe interessava era pregar a Cristo, e este crucificado, visto que Ele era escândalo para os judeus e loucura para os gregos (1Co 1.23).
O fato de Paulo conhecer filosofia e citá-la parcamente (e ainda assim, de forma indireta) não nos dá o direito de substituir a pregação do Evangelho por ciências humanistas, amoldando e acondicionando a Palavra a conceitos e teses humanas. Isso é pecado, esvazia a mensagem de Cristo, tornando-a refém da nossa mente caída, e é ineficiente diante dos homens e seus pecados.
Paulo, como Pedro, João, Tiago e todos os apóstolos eram apologetas. Mas o eram com a mente de Cristo, e não com suas mentes imperfeitas; evangelizavam pela pregação da Palavra, pois, se não há pregação, como crerão aqueles que não crêem? (Rm 10.14-15).
Por isso, quase desisti de continuar a ler a primeira parte de "Pode o Homem viver sem Deus?". Por mais convincente que Ravi fosse em sua argumentação, não via muitas possibilidades de que alguém pudesse crer diante da sua exposição. Pelo fato de não ser o Evangelho, seus pressupostos filosóficos eram passíveis de refutação. E ao revelar a verdade como um conceito filosófico, tornava-a contra-argumentável.
Contudo, na segunda parte do livro, o autor da "nome" à Verdade: Jesus Cristo, o Deus Filho! E começa a expor a Verdade através do Evangelho. Então, fica evidente e patente a solidez de suas argumentações, e como se torna impossível contradizê-las (apesar do quê, para os escandalizados e loucos com a cruz, somente há oposição na loucura e soberba do homem caído, abandonado por Deus).Resta-me agora continuar a lê-lo, esperando que não mude de foco, pois, somente através da ação do Espírito Santo pela Palavra, ateus e todos os tipos de incrédulos se curvarão diante de Cristo, reconhecendo-O como Deus, Senhor e Salvador de suas almas”.

sábado, 18 de outubro de 2008

FISIOLOGIA DO MAL - O SEQUESTRO DO ABC -











Por Jorge Fernandes

Não é habitual que eu faça comentários do cotidiano, contudo, diante de outra prova da capacidade do homem de suplantar a si mesmo em crueldade (“Não há um justo, nem um sequer... Não há quem faça o bem, não há nem um só... Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos” [Rm 3.10-18]), pergunto: onde estavam os pais da Eloá quando ela iniciou o namoro, aos 12 anos, com um rapaz de 19? Onde está a família, a autoridade paterna, o dever e obrigação que têm de cuidar, proteger e educar seus filhos? Os pais, ao concederem aos filhos a permissão para o namoro numa tenra idade, ainda como crianças, não estão negligenciando-os? Não estão jogando-os as feras? Não seria o mesmo que apartar-se dos filhos? E uma forma de rejeição? De transferência de responsabilidade? Ao entregar a filha ao namorado-criminoso, maior de idade, não estavam também outorgando-lhe a “tutela” da filha? Declarando-o tacitamente responsável pela sua educação? Não estaria ele exercendo o direito do pátrio poder ou poder familiar em lugar dos genitores?... Meu Deus, que mundo!... Onde, cada vez mais, as pessoas tornam-se omissas, rejeitam seus deveres, temerosas em assumir posições que, num ambiente pós-moderno, leva todo tipo de idiotice, devaneio e capricho a sério, como normal, e mesmo, factível.
Não seria por isso que o criminoso-namorado sentiu-se no direito de dispor ao cárcere sua ex? E de julgar-se no direito de dispor-lhe a vida? E de zombar de todos? Dele mesmo, da ex-namorada, e da sociedade? Não estaria ele, como tantos outros, brincando de deus, ao negar os princípios cristãos? Não estamos sendo permissivos em demasia com todos os loucos que subvertem a moral e a ordem? Que desprezam o próximo? Que se rebelam contra Deus? Quem será a próxima vítima? Onde ocorrerá o próximo crime?... Ouvi um psicólogo dizer que o namorado-criminoso deveria ser tratado com amor, por estar em “descompasso emocional”, uma espécie de “pane” mental, ou algo parecido. E a menina (ela tem apenas 15 anos), que se encontra entre a vida e a morte, e somente por um milagre de Deus sobreviverá, poderá ter o “prazer” de manifestar o mesmo desequilíbrio assassino e bárbaro que o ex? Será que ela e a amiga, únicas vítimas de fato, não foram desamparadas pela família e pela sociedade? Será que ao permitir que o crápula tivesse o livre acesso a uma criança, não nos torna culpados? Ao não proteger nossos filhos indefesos dos ataques sistemáticos das forças do mal, travestidos de prazer, diversão, modernidade e aceitação de todo pecado, não os entregamos à sanha destruidora do mal? Restando-nos apenas debruçar desconsolados sobre os seus caixões?
A mídia, como um vampiro, bebeu até a última gota de sangue; e débil, certa Sônia entrevistou, em rede nacional, o bandido-ex-namorado, e em meio à sua fala mansa, cordial, afável, louca e irresponsável, colheu alguns pontos a mais de audiência, e muitos reais a mais em merchandising. Provavelmente, estimulou outros a cogitar a hipótese de ganhar alguns minutos de fama, ainda que com a destruição da vida alheia. Ética? Abutres vivem de cadáveres... Impotente, o Estado viu esvair entre os dedos mais uma oportunidade de nos defender; em outra tentativa malograda, ficou patente a sua inépcia.
Depois, restarão algumas lágrimas, e esquecer... Até que, no derradeiro dia, quando formos o alvo do pecado e da depravação dos criminosos, adulados e bajulados pelos ideólogos da esquerda, os fisiólogos de plantão, ninguém chorará por nós... Será tarde demais... E, talvez, o padrão irracional, imoral e repugnante moldado pela sociedade será a inscrição em nossas lápides.

O QUE É APOLOGÉTICA?











Por Jorge Fernandes

“Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3.15)

Apologética é a defesa sistematizada e racional da fé cristã. As cartas paulinas e as cartas universais são exemplos de apologética. Ali, os apóstolos e discípulos do Senhor Jesus Cristo defendem o Evangelho contra os ataques insistentes e insidiosos dos judaizantes e dos gnósticos. Aqueles pregavam a salvação pelo cumprimento da Lei, estes, creditavam a salvação pelo conhecimento, ainda que esse conhecimento fosse fruto de distorções da verdade. Assim, eles desqualificavam a mensagem do Evangelho: a salvação exclusivamente pela graça de Deus. Ambos eram deformações dos princípios pregados por Cristo e os apóstolos; e, tanto os judaizantes como os gnósticos, infiltraram-se sorrateiramente na Igreja, eram aceitos como crentes, mas estavam a serviço do seu deus, Satanás, e pregavam heresias com o único intuito de destruir o povo de Deus.
Foi percebendo essa ameaça que Paulo alertou os bispos de Éfeso: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; e que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. Portanto, vigiai...” (At 20.28.31).
Orientado pelo Espírito Santo, Paulo percebeu que muitos pregariam outro evangelho, e chamou a esses de malditos, traidores da fé: “Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gl 1.9).
Portanto, desde os primórdios da Igreja, os ataques malignos vêm sucedendo-se, com variações da mesma fórmula: rejeitar e negar a autoridade de Cristo como o Cabeça da Igreja; rejeitar e negar a autoridade das Escrituras Sagradas; rejeitar e negar a autoridade da Igreja; rejeitar e negar a Verdade; rejeitar e negar Deus.
Sutil e sorrateiramente, manipulando a palavra e torcendo o significado das Escrituras, esgueiram-se pelas fileiras de cadeiras das congregações, destilando o seu veneno e ódio a tudo o que diz respeito a Cristo, e à fé uma vez dada aos santos (Jd 3). O objetivo desses lobos em pele de cordeiros é o de “imitar” o trabalho do Espírito Santo, parecendo sinceros, inofensivos e utilizando-se de uma linguagem que soa espiritual (muitos citam as Escrituras com habilidade), e, através dos seus ideais “quase cristãos”, almejam remover os fundamentos da fé, demolir os alicerces da Verdade; e as conseqüências disso são o instaurar-se a confusão, a descrença, o nominalismo e o engano. Ao utilizar-se da astúcia, a heresia "contamina" as pessoas na igreja, pouco a pouco, tornando-a popular, exatamente por ser "quase a verdade", e se amolda perfidamente à natureza corrompida e pecaminosa do homem, o qual é incapaz de vê-la, e mesmo os que a vêm, por sua perspicácia, acabam por considerá-la inofensiva ou uma "verdade recriada". A capacidade que a heresia tem de reformular-se e aproximar-se da verdade, fazem as diferenças parecerem insignificantes, e as justificativas as tornam ainda mais diabólicos.
Hoje, o que se vê, não é propriamente a defesa da fé (tenho para comigo que a verdade não precisa de defensores, ela por si só defende-se a si mesma, porém, deve ser proclamada, e jamais escondida a "sete chaves", como um tesouro secreto), mas a defesa de conceitos e dogmas apóstatas, ou seja, a renúncia, o abandono do Evangelho de Cristo em favor das deturpações doutrinárias, de algo aparentemente cristão, mas que, diante da lente da revelação divina, as Sagradas Escrituras, denunciam o que realmente são: a falsificação da verdade. E, quando se abandona a objetividade da Palavra e o viver santo, para viver a subjetividade do coração e uma vida dissoluta, essa falsa liberdade os manterá presos, escravos de seus desejos.
Ao desprezar a Verdade, a qual é Jesus Cristo (Jo 14.6), o homem, norteado pelo humanismo, acomoda-se no redil das incertezas, no pecado, tornando-se conivente e participante do mal (Rm 1.32). Somente Cristo pode libertá-lo através do Evangelho, pois, sem Ele tudo é permitido, mas nada possível... Sem Ele, a condenação é a mais pura verdade.
Então, a Igreja não pode permanecer passiva diante do ataque inimigo, porque, após negligenciar a defesa da fé por anos, o passo seguinte é repudiar esse dever. E isso vem acontecendo em muitas denominações, na chamada igreja emergente (um segmento ultraliberal onde impera a filosofia pós-moderna), a qual afirma não haver verdade nem absoluto, e onde tudo é relativo, tornando-se agradável ao mundo (a própria afirmação é, por si só, um contra-senso, visto que, será capaz aos adeptos da i.e. crerem, conscientemente, em mentiras ou na não-verdade?). E dessa forma, em sua incredulidade, tentam fazer de Deus um fantoche, ou, como Nietzsche pretendeu, declarar a morte de Deus.
Na apologética residem o repelir as agressões aos princípios bíblicos, pois, o perigo é que, num ambiente onde eles encontram-se corrompidos e demolidos, não sobrará muito mais o que destruir.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

ABORTO & ELEIÇÃO












Por Jorge Fernandes

Deus nos fala de muitas formas; e nesta semana, Ele reforçou em meu coração dois conceitos bíblicos. Um sobre a nossa natureza, e outro sobre a Sua divina e perfeita natureza. Lendo o livro "E Agora, Como Viveremos", dos apologetas Charles Colson & Nancy Pearsey (CPAD), deparei-me com a narrativa de um obstetra americano, o Dr. Bernard Nathanson, o qual durante as décadas de 1960 e 1970, supervisionou mais de 60.000 abortos na clínica CRASH em NY (um nome, no mínimo, sugestivo para o local onde Nathason praticou assassinatos, inclusive, dois dos seus próprios filhos). Para ele, os fetos eram seres impessoais, dependentes completamente da vontade de suas "mamães", as quais detinham o"direito" de eliminá-los ou não. Assim, juntamente com grupos feministas e pró-abortos, fomentou a aprovação de leis que permitissem o extermínio em massa de bebês nos EUA.

Em 1973, tornou-se chefe da unidade de perinatologia do St. Luke's Hospital Center, passando a cuidar das mães e dos bebês (embora continuasse a praticar abortos). Sua função era monitorar os fetos eletronicamente, e tratar dos recém-nascidos doentes.

A ultrasonografia, lançada recentemente, era o que de mais moderno havia para se acompanhar o desenvolvimento do feto; e ele assistiu às imagens, pela primeira vez, juntamente com um grupo de residentes reunidos ao redor de uma paciente grávida. Durante o exame, ele percebeu que a sua mente abandonou o termo feto em favor do termo bebê. Tudo o que aprendera na faculdade de medicina fundiu-se às imagens na tela, e impactou a consciência de Nathanson, convencendo-o de que a vida humana existia no ventre desde o começo da gravidez (depois de apenas doze semanas, nenhum novo desenvolvimento anatômico ocorre no bebê; ele simplesmente fica maior e mais capaz de sustentar a vida fora do útero).

Em 1979, finalmente, decidiu não realizar mais abortos, qualquer que fosse a justificativa (ele ainda acreditava que o aborto, em casos especiais, era legítimo). Publicou livros, documentários, e realizou palestras contra o aborto, tornando-se um defensor da vida, o que lhe valeu a inimizade e o desprezo dos seus mais diletos aliados no passado.

Em 1989, após procurar alívio para sua alma em quase tudo: casas maravilhosas, carros da moda, esposas que exibia como se fossem troféus, adegas de vinho, cavalos, livros de auto-ajuda, terapia, drogas e misticismo, ele se converteu a Jesus Cristo [O Dr. Nathanson escreveu: "Eu estava morando com a suserania dos demônios do pecado, obviamente dedicando-me a tudo que estivesse vinculado ao aparente carnaval sem fim dos prazeres, a festa que nunca termina (como os demônios fazem acreditar)"].

Ao ler o seu testemunho, veio-me à mente Efésios 2:1: "E (Deus) vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados"; e, novamente, percebi o quão miseráveis e malditos somos, incapazes de nos achegar a Deus, e colaborar com a nossa salvação. Um pecador como Nathanson, como eu, como você, está morto em seus pecados, MORTO! Paulo diz em Efésios 2.3: "Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também"; harmonizando-se com as palavras de Cristo: "Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados" (Jo 8.24). A única recompensa que fazemos jus é ao INFERNO, à punição de sermos condenados eternamente ao lago de fogo.

Mas aprouve a Deus, pela Sua graça, amor e misericórdia, nos resgatar das garras do maligno, e nos transportar para o Seu Reino de glória. Ele diz: "Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro" (Is 43.25); e ainda: "Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Mt 26.28); enquanto Paulo conclui: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8-9).

Portanto, a cada dia, devemos nos convencer da nossa condição amoral, pecadora e dissoluta diante do Deus Santo; e reconhecer que, ainda assim, Ele nos derrama a Sua graça, perdoando-nos, redimindo-nos, limpando-nos, regenerando-nos, tenha eu matado milhares de bebês indefesos ou não, pois, todos carecemos da salvação que somente há em Cristo Jesus nosso Senhor: "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã" (Is 1.18).

Que a salvação dada pelo Senhor Jesus Cristo, a qual não temos mérito algum, o faça exultar, glorificando a Deus por tê-lo elegido antes da fundação do mundo (Ef. 1.4), assim como fez ao Dr. Nathanson.

Somente Ele é capaz de transformar um assassino em santo, pois, "isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece" (Rm 9.16).

Texto escrito em 05/01/2008, publicado no extinto periódico "O Enviado".

sábado, 4 de outubro de 2008

A MORTE DA MORTE








Por Jorge Fernandes


Como adepto do existencialismo, vivi três meses de completa rejeição à idéia de Deus. Lá pelos meus dezenove anos, após “desviar-me” da igreja batista à qual era membro desde os dezesseis, vi-me seduzido pelo mundo, pela liberdade do mundo (livre para a devassidão), pela imoralidade, e o prazer carnal que ela trazia. A idéia de Deus que eu ouvira nas pregações, leituras bíblicas, e do testemunho de crentes fiéis não podia conviver com o meu novo estilo de vida, portanto, a primeira coisa a fazer era “matar” Deus, para não ter a consciência afligida, nem ninguém a cobrá-la.
E o que no princípio tornou-se uma festança, esbaldando-me em cada esquina, leviana e dissolutamente, foi dando lugar à dor, ao vazio e a desesperança. A mente, ao insurgir-se contra Deus, somente é capaz de ferir-se... desiludida, confusa, colide-se com o natural, e não é capaz de encontrar alívio em mais nada, apenas na própria dor. A mente flagela-se, dilacera-se, esmaga-se, não se aceita; incapaz de curvar-se, engendra saltos ainda mais profundos, e o que lhe resta é a própria autodestruição. O suicídio torna-se o alívio derradeiro: a suprema escolha ilógica do indivíduo, porque viver é por demais desalentador, é um esforço sobre-humano.
Como não há verdade objetiva nem absoluta, o existencialista sofre, angustia-se, revolve-se na existência frouxa da paixão, que, maquinalmente, o mergulha no poço da incerteza, ou na fuga à nulidade, à completa ignorância de si mesmo, do seu semelhante e do mundo.
Via-me como os personagens dos desenhos Looney Tunes que, invariavelmente, precipitavam-se no abismo ao serem perseguidos ou ao perseguirem alguém. Sequer percebiam o chão fugir-lhes sob os pés, e quando davam por si, estavam em queda-livre, de encontro à realidade, dura como o chão era para o Coiote, e quebravam a cara. A perseguição do Coiote ao ingênuo mas rápido Bip-Bip era irreal. Porém, o existencialismo despreza os outros, ridicularizá-os, ri-se deles enquanto chora convulsivamente diante do espelho... sem esperança... é patético.
Mesmo envolto em trevas, não me foi possível suportar o ateísmo [também os demônios crêem que há um só Deus, e estremecem (Tg 2.19)]. Porém, eu não queria abrir mão da imoralidade, da pretensa liberdade que me levava, única e exclusivamente, ao pecado, e a sugestionar e induzir outros incautos ao pecado [alguns nem tão incautos... outros, apenas a esperar um empurrãozinho]. Então, adeqüei-me ao deísmo, a idéia de que Deus não estava nem aí para a sua criação; como afirmei tolamente inúmeras vezes: “Deus fica no céu, e eu aqui! Ele não me incomoda, eu não mexo com Ele!”. Era o cúmulo da arrogância, da blasfêmia, da rebeldia contra Deus. Era a minha natureza caída opondo-se desavergonhadamente a Ele... Menos de um ano após a minha saída da igreja, eu acreditava em um deus impessoal, não cria no diabo, nem no inferno, e sentia-me confortado em saber que, no fim das contas, esse deus salvaria a todos, não condenaria ninguém, e que haveria um paraíso, mesmo eu sendo o que era, fazendo o que fazia. Mas esse aparente conforto não trouxe paz, porque a verdadeira paz, a paz interior, somente Cristo é capaz de propiciá-la [Jo 14.27]. Pelo contrário, quanto mais eu tentava fugir da idéia da morte, mais era atacado por ela, e as noites só eram possíveis após doses cavalares de álcool. De certa forma, mantinha-me anestesiado à noite, e anestesiava-me durante o dia, na espera da tarde chegar, e poder enfim embriagar-me novamente.
O que ficou claro nesses vinte anos, é que a aparente trégua entre mim e Deus não me trouxe tranqüilidade. Ao manter a distância, afastando-me mais e mais d’Ele, sobreveio-me uma dor crônica, infligindo-me tormentos, abrindo feridas que não foram curadas, mesmo com todos os paliativos filosóficos, estéticos e sentimentais administrados. Coube-me buscá-los, aplicá-los, desfrutar de momentâneo alento, e rejeitá-los por sua ineficiência... são quando as frustrações tornam o viver um flagelo, algo insuportável. O tempo passa, os métodos também, e ao olhar-se para si mesmo, vê-se apenas o fracasso. Então, a morte que fustigava, revela-se como a amiga mais próxima, aquela que nos revelará exatamente o que somos, da maneira mais temível, dura e impiedosa: “és pó e em pó te tornarás” [Gn 3.19]. Segue-se a loucura as vezes, a apatia as vezes, a irresponsabilidade, ou a negação outras vezes... como se possível fosse abandonar a vida, apagá-la completamente, como se jamais tivesse existido.
Então, quando tudo parecia perdido, Deus, do qual mantínhamos uma grande distância, encurta-a, aproximando-nos d’Ele. Não há como explicar... Imediatamente, somos içados do fundo do abismo. Instantaneamente, toda a treva se faz luz; toda tormenta se torna em bonança; toda aflição se torna em alegria... uma alegria inconcebível e surpreendente, tão magnífica que nos lança ao chão, e de joelhos, choramos o arrependimento pela rebeldia, pela afronta à santidade de Deus, clamando pelo Seu perdão. Cristo, o justo que morreu pelos injustos, para levar-nos a Deus [1Pe 3.18], é a fonte de toda essa transformação. Num átimo, sabemos o que somos; sabemos quem é Deus, e o que Ele começa a promover em nós pelo poder regenerador do Espírito Santo: antes mortos, agora vivos! Antes, andando segundo o curso deste mundo, em ofensas e pecados, éramos filhos da desobediência [Ef 2.2]; agora, pela misericórdia de Deus, pelo Seu muito amor com que nos amou, deu-nos vida em Cristo nosso Senhor [Ef 2.4-5]. Antes, fazendo a vontade da carne, na imoralidade (porque todo ato que não glorifica a Deus é pecado), éramos filhos da ira; agora, ao recebermos a Cristo, crendo no Seu santo nome, pelo Seu poder, somos feitos filhos de Deus, “os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” [Jo 1.12-13]. É indizível... e resta-nos somente quedar admirados, e render-nos gratos diante da intervenção pródiga que nos libertou dos laços da morte, fruto da graça e misericórdia do nosso Senhor, pois éramos arredios e andávamos dispersos, e Cristo nos reuniu em um só corpo, como filhos de Deus [Jo 11.52].
Então, a nossa mente rebelde, que em toda altivez se levantava contra o conhecimento de Deus, pelo Seu poder, foi levada cativa à obediência de Cristo [2Co 10.5], o qual levou cativo o cativeiro, para que Deus habitasse entre nós [Sl 68.18]. Porque somos novas criaturas, “as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” [2Co 5.17]... Sonho? Delírio?... Não! Mas fé! Não uma fé humana, claudicante, flutuante, como “nuvens levadas pela força do vento, para os quais a escuridão das trevas eternamente se reserva” [2Pe 2.17]. Não. É uma fé viva, sobrenatural, que provém de Deus, sendo Sua doação a nós [Ef 2.8]; pois, “a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo. Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” [1Tm 1.14-45].
A morte já não exerce mais o seu domínio, pois passamos da morte para vida, pela vida que Cristo nos deu na Sua morte.