segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Cartão de Visitas Não é Tudo









Por Jorge Fernandes Isah [1]

É interessante como o discurso liberal não passa de retórica, onde todas as grandes virtudes servem apenas como “passaporte” para o pecado e "livre-acesso" à libertinagem, e, em última instância, o descrédito da palavra de Deus como infalível, inerrante e inspiradamente divina [na verdade, é o motivo principal]. Não passando de uma estratégia real para se dar vazão à carne, para acomodá-lo a uma distância segura o [in] suficiente para não ver o Deus bíblico e Seus mandamentos, sem que haja a chance da [in] consciência acusá-lo; ainda que não seja possível em nenhum momento estar fora do alcance da mão e da justiça divinas.

O objetivo é desqualificá-la como a palavra fidedigna e revelação especial de Deus, a única capaz de levar o homem a conhecê-lO e a Sua vontade e, da mesma forma, o único canal possível de levar o homem ao conhecimento próprio, da criação, e de tudo o mais no universo que está diretamente relacionado ao Criador. O intento é o de transtornar e converter a verdade e, em seu lugar, instalar o falso deus criado pela mente caída do homem, como uma reprodução e projeção de si mesmo erguida no altar da idolatria e da blasfêmia; onde se quer ser comparado a Ele quando se é apenas uma tola, miserável e insignificante criatura, pois "todas as nações são como nada perante ele; ele as considera menor do que nada e como coisa vã" [Is 40.17].  

Mesmo assim, diante da completa impossibilidade de haver algo semelhante ou comparável a Deus, há os que se consideram "divinos", ao tentarem diminuí-lO até o patamar mais baixo que o ceticismo possa levá-los. Entre outros, são os liberais declarados, aqueles que não se escondem e estão dispostos a revelar toda a sua incredulidade, travestida de racionalismo puro, empirismo autorrefutável e axiomas certamente improváveis e ilógicos, a levarem a efeito esse trabalho. Sabemos quem eles são, onde estão, e o que planejam detidamente realizar em prol de suas convicções insanas e espúrias, e, quem os seguem, sabe muito bem porque está a segui-los; não há enganados e distraídos, há apenas tolos, cegos e soberbos sectários.[2] 

Portanto, a preocupação se volta para os liberais que se têm travestido de ortodoxos e se infiltrado sorrateiramente nas igrejas, congressos, seminários, editoras, sites e blogs aparentando piedade, quando o propósito é somente um: traiçoeira e subliminarmente, em doses homeopáticas, aplicarem nos incautos o vírus da descrença, o ódio a Cristo, a “desglória” a Deus e o desamor ao próximo. Os efeitos não são percebidos até que se tenha erigido um trono onde o homem  seja "deus", e todas as respostas partam dele para ele mesmo, à margem da razão baseada nas Escrituras, e a devastação se instala de tal forma que não sobra nenhuma ovelha para contar história. Acaba por ser muito tarde para qualquer tentativa de restauração, porque as consciências foram dominadas pelo ego intransigente e doentio do novo "deus".

Tudo começa ao serem recebidos de braços abertos, e reconhecidos pelos ortodoxos como irmãos de fé, talvez um pouquinho diferentes apenas [afinal não é preciso concordar em tudo], e com isso estão a ganhar publicidade, notoriedade e respeitabilidade como cristãos acima de qualquer suspeita, alcançando posições de destaque entre os crentes distraídos, que se encarregam de servi-los, afastando os "intolerantes" e seus alertas provocativos e dissensores das decisões, quando não os expulsando sumariamente, seja pela calúnia e difamação, seja pela rejeição pura e simples.Qualquer tentativa de se observar a Palavra, apontando sabiamente as consequências e os danos advindos da não-biblicidade, será imediatamente rechaçada. 

É assim que agem, não querem ouvir, mas apenas seguir o apelo de seus corações corrompidos; e acabam por se tornar em presas fáceis às artimanhas perpetradas pelos falsos mestres, acabam por se desestabilizar, corromperem-se pelas idéias humanistas e antibíblicas, e enrodilhados no estratagema mais dissimulado e sordidamente possível a que o liberal se propõe: fazer-se no que não é para disseminar aquilo que é entre os que não são mas querem ser.

Estão aí, espalhados por todos os cantos, como lobos em peles de cordeiros, como joio a tentar sufocar o trigo; fingindo-se de filhos de Deus quando são bastardos gerados por satanás. 

Como Paulo divinamente inspirado proferiu: "Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estão contaminados. Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda a boa obra" [Tt 1.15-16]. O conhecimento de Deus fora das Escrituras é impossível, por isso os liberais ao dizer conhecê-lO através dos métodos extra-bíblicos negam-nO, exatamente por não produzirem frutos para a Sua glória, mas apenas colhem para si a corrupção da carne [Gl 6.8].

Infelizmente, quando muitos se assustarem, terão abandonado a sã doutrina e enveredado pelo caminho do engano, da mentira, da impostura, da corrupção, seguindo os adoradores do próprio ventre; os quais, "com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples", levando escândalos à santa doutrina [Rm 16.17-18]. Esta tem sido a nova "cara-de-pau" do mal, uma repaginação ainda mais ardilosa, ainda mais maquiavélica de seduzir e dissuadir os incautos, atingindo mesmo crentes devotados e sinceros [o inferno  está cheio desse tipo de gente: religiosos e a-religiosos inconversos]. O que resultará no endurecimento do coração, e um caminho sem volta à verdade [entendo que mesmo os réprobos podem se beneficiar da verdade, tendo uma vida calma, ainda que nunca sejam regenerados pelo Espírito].

Por isso a Igreja tem a obrigação de estar atenta, e de não se enganar com a aparência, nem julgar em suas bases, mas como Cristo disse, julgar "segundo a reta justiça” [Jo 7.24]; para dispor-se a revelar a face diabólica dos filhos do diabo e rejeitar qualquer forma de união com as trevas, seja colaborando, omitindo ou ignorando; "porque tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te" [2Tm 3.5]. 

Reportando-me ao texto escrito pelo amigo e pastor, Marco Antônio Ferreira, ao aludir a Lutero “que conclamava o povo cristão a se submeter somente à autoridade das Escrituras” [3], este tem de ser o norteador e objetivo primordial da igreja, como aquela encarregada por Cristo de realizar a Sua obra neste mundo. E assim ninguém poderá dizer que errou ou “desviou-se” sem saber, pois desprezar a Palavra significa rejeitar o próprio Deus, e daí, para ser dominado pelas trevas, é apenas questão de tempo para se estar completamente cativo, não a Cristo, mas ao reino do mal.

Então, o que esperar além da cegueira absoluta?... da perdição total?

Lembre-se: o cartão de visitas não é tudo.

Notas: [1] Tive grande ajuda do irmão e amigo Edson Camargo, do Profeta Urbano, na formatação deste texto. 
[2] Transcrevo o comentário do Edson Camargo: "A questão é que há cada vez menos liberais declarados. O ambiente geral de ignorância bíblica e de falta de discernimento os motiva a posarem de ortodoxos, e tem funcionado. Veja quantos blogs de gente ortodoxa dando links para blogs e sites liberais... Veja quantos liberais com colunas nas tais 'revistas evangélicas'... Mas muito disso aí é pensado e planejado. Seja por comunistas, por globalistas, ou por satanistas mesmo. Quando não é tudo isso ao mesmo tempo". 
[3] O texto completo do pr. Marcos A. Ferreira intitulado "Lutero e a Bula de Excomunhão" pode ser lido integralmente AQUI

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Resultado do Último "Sorteio de Livros" e Nova Promoção




















 Por Jorge Fernandes Isah


Resultado do Último Sorteio:

Os ganhadores da promoção "Sorteio de Livros" organizada pelo site Internautas Cristãos, pelo blog Kálamos e Voltemos ao Evangelho, foram:

1) Kit 1 - Fé com Razão e Apologética no Diálogo - Danilo Neves de Oliveira - Goiânia/GO;

2) Kit 2 - Cosmovisão Cristã e Clamor de Um Desviado - Márcio Krenkel - Balneário Camburiú/SC;

3) Kit 3 - Maravilhosa Graça na Vida de William Wilberforce - Robson Inácio da Silva

Aos contemplados, parabéns e boa leitura!


   Nova Promoção:

As inscrições já iniciaram, e vão até o dia 14 de Janeiro de 2010. Serão sorteados 5 kits, ou seja, 5 ganhadores, assim mais pessoas tem chances de ganhar. Veja os livros que serão sorteados:


Para maiores informações, clique na caixa no topo ou em "Sorteio de Livros Participe", vá à página de sorteios e faça a sua inscrição.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A Incoerência do Livre-Arbítrio







 Por Jorge Fernandes Isah
 
Primeiro, antes de iniciar as considerações, é necessário definir alguns termos:

a) Livre-arbítrio - crença de que a vontade humana tem um poder inerente de escolha com a mesma facilidade entre alternativas. Ou seja, o poder de escolha contrária ou a liberdade da indiferença. A vontade é livre de qualquer causação necessária.

b) Autonomia - qualidade da vontade ou do intelecto que o capacita a funcionar a favor ou contra qualquer curso particular de ação, por meio disso exibindo uma capacidade inata.

Definições postas, vamos ater-nos aos pontos chaves que levam à incoerência do livre-arbítrio [1]:

A idéia do livre-arbítrio é de que dele depende a responsabilidade humana. Porém, quando se questiona a origem dessa responsabilidade, tem-se como argumento que ela procede do livre-arbítrio. Está formado o argumento circular vicioso.

Para o arminiano, Deus não atropela o livre-arbítrio, logo a vontade humana não tem causação externa. Desta forma, estão asseguradas a integridade e a responsabilidade do homem. Porém, se isso não é tolice, é presunção, porque Deus sempre fará toda a Sua vontade, e nada nem ninguém pode-lhe frustrar a vontade [Is 46.10]; ao passo que o homem é sempre escravo, seja do pecado, seja da justiça [Rm 6.17-18].

A vontade se automove em resposta ao que a mente conhece, e pode causar tanto a ação em resposta às influências como resisti-las. O que me leva à pergunta: se o conhecimento intelectual [aqui incluidas a moral e a ética] será o ponto de partida, o príncipio avaliativo da vontade, como a vontade será livre? Esse conhecimento sempre virá de uma fonte externa e provavelmente virá como um argumento verdadeiro ou falacioso. Se o conhecimento for corrompido, manipulado ou integral, quais são as bases para que ele seja correto? Será possível eu ter esse conhecimento inato do que é certo e errado sem qualquer influência externa? E a vontade não poderá ser "induzida" pelo conhecimento adulterado? Ainda que esse conhecimento seja bíblico, no sentido das informações corretas, o intelecto pode não processá-las legitimamente, e induzir a vontade a uma escolha errada.

Para que o homem pudesse escolher "neutramente", seria necessário que não tivesse nenhum conhecimento, que sua mente fosse vazia, um ponto morto, mas aí entra a questão: como a vontade poderia se decidir sem nenhuma base? Na sorte, deixada a cargo do acaso, seria a opção. Visto a liberdade espontânea do livre-arbítrio somente nos remeter ao acaso. Mas, e como seríamos responsáveis, já que não exercemos nenhuma influência causal na decisão?

Portanto a teoria do livre-arbítrio destrói a responsabilidade em vez de apoiá-la. Como posso ser responsabilizado por ações surgidas de um livre-arbítrio que, pelo fato de ele ser livre, não está também sob o meu controle? [nem sob o controle divino também, ao ver do arminiano].

Se um argumento pode levar a vontade a se decidir, onde está a neutralidade moral? O argumento causou a escolha. A própria Bíblia deveria ser desconsiderada pelo "livrearbitrista", visto ser ela a fonte da Lei Moral, a qual estabelece o significado de bem e mal, e levá-nos a compreensão do que é a santidade e o pecado. Ela nos influenciará decididamente na escolha entre o que é santo e o que é pecaminoso. Logo, onde está a neutralidade? E ficam perguntas: Deus é neutro? As Escrituras são neutras? O mundo é neutro? Em qual aspecto da vida, seja eterna ou temporal, se percebe neutralidade moral? Ou se está sob a influência do bem, ou sob a influência do mal. Não existe nada que seja moralmente neutro, que pratique atos neutros [sem efeito algum]. Portanto é ilógico dizer que a vontade humana seja neutra, visto sê-la influenciada por Deus ou satanás. Senão, porque Davi, Isaías e Paulo diriam que todos pecaram [todos!] e destituídos estão da glória de Deus? [Sl 14.2-3; Is 59.2-11; Rm 3.23, 5.12]. Se todos pecaram, somos todos pecadores, a nossa vontade está corrompida, deteriorada, sob a influência do pecado e sem a menor possibilidade de ser neutra, e poder escolher o bem. Para que o arminiano não concorde com isso, ele terá de rejeitar a Bíblia como a palavra inspirada de Deus.

A questão não é se podemos escolher, mas como e de que forma escolhemos. E se somos pecadores, a nossa escolha será sempre na direção do pecado,"porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" [Rm 8.7]. Desta forma, a Bíblia afirma que o homem natural é um pecador, o qual é desprovido da capacidade de obedecer a Deus, tornando-o moralmente responsável, tenha ou não capacidade moral. O homem será sempre condenável diante de Deus se não obedecê-lO, ou seja, a desobediência aos princípios morais estabelecidos pelo Criador é que o tornam responsável por seus delitos. A responsabilidade moral não está baseada na capacidade moral [que o homem natural não possui] ou no livre-arbítrio [que nenhuma criatura possui], mas na autoridade e soberania de Deus que determinou a não-obediência aos Seus mandamentos como a causa pela qual o homem será condenado e tornado indesculpável.

Por isso, pode-se afirmar seguramente que o livre-arbítrio é indefensável, ilógico e não-factível. A vontade humana é livre em qual sentido? Por exemplo, um hindu que nasceu no hinduísmo e cuja família se submete ao regime de castas, e crê na divindade de um inseto, qual seria a sua capacidade natural de não escolher adorar ao inseto? Para que isso acontecesse, ele teria de ser confrontado pela verdade, e reconhecer que tanto o sistema de castas como a adoração ao inseto é uma tolice, uma mentira que o quer manter escravizado na ignorância de Deus.

Se ele não for confrotado pela verdade [e a verdade é externa], ele jamais se livrará da mentira. Por que a mentira é o que ele tem por verdade, transmitida por sua família e clã [externamente] e o influenciará a sempre pensar nos seus pressupostos como verdadeiros, quando o que tem são falsas premissas a induzi-lo ao engano.

Onde está a neutralidade para que ele possa escolher livremente? Se o livre-arbítrio é o movimento da mente em certa direção, a neutralidade poderia levá-lo a essa direção? Ou as influências externas à mente, as quais está sujeito, determinarão a sua decisão? Então, está claro que esse movimento da mente não é livre, e de que ninguém toma decisões livres, mas todas elas estão sujeitas à influência, a fatores causais.

Muitos arminianos têm certeza de que possuem o livre-arbítrio, apenas porque presumiram tê-lo; e garantem que não sofrem nenhuma espécie de influência em suas decisões "livres". Porém, fica a pergunta: quem tem a certeza de que não está sujeito, ainda que minimamente, a influências que afetariam a sua vontade? Por exemplo, estar sob o efeito de medicamentos, bactérias e vírus, ou sob a ação de partículas subatômicas ou  cósmicas. Ou seja, para que essa neutralidade fosse "livre" teria que, no mínimo, ser onisciente e conhecer exautivamente tudo afim de se ter certeza de não haver alguma causa a operar sobre a vontade humana; muito antes de ser confrontado pela cosmovisão cristã. Como nenhum ser humano é onisciente e apenas Deus o é, o livre-arbítrio não pode levar jamais o homem a uma escolha neutra, sem influências ou antecedentes, sem que se detenha qualquer pressuposição.

Para que a escolha fosse neutra, era preciso que não houvesse o sentido de bem ou mal [a Lei Moral]. O hindu, sobre a influência do hinduísmo, entenderá o mal como o bem, e o bem como o mal, "fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!" [Is 5.20]. Por si só ele jamais poderá compreender e entender [interiormente] o significado verdadeiro e real do que é bem e mal a fim de escolher entre um e outro.

O livre-arbítrio em si mesmo não detém nem o bem nem o mal, como algo neutro manteria o indivíduo numa posição de não-escolha, de não-vontade, onde ele permaneceria num ponto vago, numa posição sem solução, incapaz de se definir, porque nada lhe é indentificado; e assim, se está nesse ponto morto, como será levado a agir? Em que bases? Se é neutra, não é causada, logo, qualquer semelhança com o acaso não é mera coincidência. E se a mente é levada a agir pelo acaso, como poderá ser responsabilizada?

A afirmação, "se nós não temos o livre-arbítrio, não podemos ser responsáveis pelas nossas ações", é verdadeira? Em qual sentido? Quem a provou como verdade? E uma pergunta muito mais explícita ainda: à luz das Escrituras, qual a relação entre responsabilidade e liberdade? Onde elas aparecem, e onde estão especificadas a sua conexão?

São perguntas que o arminiano não se dispõe a responder. Para ele, basta estabelecer o axioma, e pronto. Provar, para quê?

Por essas e outras, o livre-arbítrio é incoerente, e incapaz de levar o homem a lugar algum. Como teoria autonomista não encontra respaldo bíblico, sustentando-se apenas e tão somente pelo seu apelo humanista, ou seja, antibiblicamente; porque nada mais é do que o desejo de se ter um poder para decidir independentemente, chegando à blasfêmia de se cogitar mesmo uma autonomia de Deus. O que não passa de uma estúpida pretensão ou delírio diabólico, cujo único objetivo é tornar o homem num "deus" independente e livre de Deus. O que felizmente é impossível.

Nota: [1] Boa parte destas conclusões se devem ao livro "A Soberania Banida" de R. K. McGregor Wright, publicado pela Cultura Cristã; e diversos livros e textos de Vincent Cheung publicados pela Editora Monergismo.

[2] Leia os meus comentários ao livro em O Que Estou Lendo... Ou Li 
 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Notícias Ruins se Tiram das Manchetes








Por Jorge Fernandes Isah


"Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei" [Isaías 55.11].

Deparei-me com este versículo ao final de um texto que defendia a perspectiva de um mundo melhor no futuro, um mundo sempre a prosperar até o dia em que todos ou quase todos se converteriam a Cristo, no dizer de um teólogo. Como a referência é escatológica, e o meu objetivo não é estabelecer uma refutação à  proposta de doutrina do fim dos tempos  (até porque não estou habilitado a isso), mas, exclusivamente, tentar corrigir o caráter “parcial” da dedução do articulista, esclareço que o profeta não o declarou com o objetivo de indicar apenas os benefícios da palavra ao homem. Ao utilizá-lo neste sentido, o teólogo equivocou-se, ou, no mínimo, foi otimista em sua conclusão, pois o verso não alude aos resultados de uma conversão em massa, de uma resposta sempre positiva do homem em relação à palavra.

Vamos andar mais um pouco.

Muitos utilizam-no como prova da eficácia da anunciação do Evangelho, no sentido de que, quanto mais for proclamado, mais pessoas se converterão, mais benefícios serão agregados à vida do homem. Para eles há uma progressão aritmética, uma relação proporcional que indicará a capacidade de se produzir resultados numéricos de salvos, e de bênçãos aos salvos, à medida que a palavra for proclamada. Como uma fórmula mágica, basta aplicá-la para que os seus efeitos proveitosos sejam alcançados pelos homens.

Veja bem, não duvido das conseqüências práticas da pregação do Evangelho, o qual é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” [Rm 1.16], pois, como “invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas” [Rm 10.14-15]

Portanto esta é a única forma do homem ser salvo e conhecer a Deus. Não há outro método estabelecido. Nem mesmo a música como muitos apregoam (a menos que seja com extensos trechos bíblicos, como os Salmos, p. ex.). Nem mesmo o teatro, como outros querem (a menos que seja com extensos trechos bíblicos, talvez, um monólogo). Nem o cinema (a menos que seja mais auditivo do que visual). Nem mesmo um discurso (a menos que seja impregnado por extensas citações bíblicas). Quanto à dança e outras manifestações artísticas, nem é preciso falar da completa ineficâcia como meio de evangelismo [1]. O poder de Deus está na palavra, e ela é o único meio de se proclamar a verdade. Porém, a pregação nem sempre trará frutos de obediência e reconciliação com Deus. O que vale dizer que nem todos aqueles que ouvirem o Evangelho se arrependerão, serão regenerados e salvos pelo poder de Deus, porque o Senhor “cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure” [Jo 12.40]

Ora, não é assim que o profeta Isaías declarou? “Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor?” [Is 53.1]

O fato é que Isaías 55.11 está a falar muito mais do que a maioria quer ouvir. Ele está a nos dizer que a palavra de Deus jamais, nunca, voltará vazia. Mas em que sentido? Apenas no sentido positivo? Referindo-se à salvação dos incrédulos, ou aos benefícios de santificação, convencimento, instrução e ensino dos mandamentos e da vontade de Deus? Não. Há os efeitos negativos da palavra (em relação ao destino final do homem), a qual também será proclamada para tornar inescusável o réprobo, para condená-lo em sua rebeldia, para julgá-lo por suas transgressões. 

O erro está em se ver apenas um lado da moeda, e recusar-se a virá-la e vislumbrar a outra face. Essa é mais uma influência do humanismo que distorce e compromete o entendimento pleno do texto bíblico, deixando a mensagem capenga, fragmentada, em que um dos significados é tornado superior, ao ponto em que o outro não pode ser visto ou simplesmente é ignorado. Da mesma forma, a interpretação equivocada resultará no entendimento limitado de Deus e Sua obra, no desmerecimento, ainda que inconsciente, da Sua vontade e propósito. 

Não reconhecer o caráter condenatório da palavra é fazer “vistas-grossas” à obra perfeita, acabada, irretocável de Deus, por negligência, ignorância ou malversação da Escritura. Em muitos casos, pode ser sinal de incredulidade também. Por isso Cristo alertou-nos, incisiva e claramente, para o distintivo absoluto da palavra: “Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia” [Jo 12.48].


O mesmo equívoco é encontrado em João 3.16. Tem-se a falsa idéia de que Cristo morreu por todos os homens indistintamente, e que depende exclusivamente desse homem aceitá-lO ou não como Salvador. É um arroubo de pretensão. Como se Deus estivesse preso à vontade de Suas criaturas. Mas quase ninguém se apercebe de que, dois versículos abaixo, está escrito: "Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus". O verbo crê e o substantivo condenado ligam-se diretamente no verso. Implicando que a condenação daquele que não crê não está no futuro, mas aconteceu no passado. O advérbio revela que a condenação ocorreu de antemão, previamente, não é algo que ainda ocorrerá, nem algo que o ímpio poderá reverter, mas algo inevitável, que foi preparado antecipadamente. O objetivo deste texto não é discutir a eleição, mas afirmar a dupla mensagem do Evangelho, o qual é suficiente para salvar, e igualmente suficiente para condenar.

É verdade que a palavra sem fé não produzirá obediência, regeneração e salvação, antes confirmará a reprovação daquele que jamais será vivificado pelo Espírito Santo. É o que se pode perceber no dizer de Paulo: “Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram” [Hb 4.2] [2]. De forma que a palavra da verdade produz frutos para a salvação, por Jesus Cristo nosso Senhor, no qual fomos selados pelo Espírito Santo da promessa [Ef 1.13]. Assim, seja para a vida, seja para a morte, a palavra do Senhor jamais voltará vazia.

Há ainda os que vão mais além, e dizem que o versículo refere-se à necessidade de se agarrar à palavra, algo mais ou menos parecido ao termo neopentecostal “tomar posse”, e, assim, ela produzirá, em nossas vidas, uma profusão de bens materiais nunca imaginados, e não voltará vazia mesmo, pois encherá os bolsos, bolsas, sacolas, cofres e os recipientes necessários para satisfazer a sanha carnal, na obscenidade dos deleites pecaminosos de seus proponentes.


Bem, quanto a essa (im)possibilidade, recuso-me a comentá-la, tendo-se em vista o seu nítido caráter corrompido, sua antibiblicidade e lógica maligna. Não passa de mais uma artimanha, um subterfúgio para satisfazer a ganância e a vaidade de quem assim pensa. Por isso é fácil concluir que essa não é a palavra divina, nem nunca foi, mas apenas o maldito vocábulo humano que levará o homem à destruição.
 

Nota: [1] Isto não quer dizer que a música, a literatura, a pintura, a escultura e outras expressões artísticas, não sejam meios de louvor, adoração a Deus, e a proclamação das verdades bíblicas. Elas são. E cumprem o propósito eterno de Deus de ser glorificado por elas. Contudo, não creio que sejam meios pelos quais o Senhor quis se revelar e à Sua obra. Para isso, homens inspirados pelo Espírito Santo escreveram 66 livros santos, que compõem a Bíblia Sagrada, a infalível, inerrante e divina palavra de Deus.
[2] A despeito dos argumentos dos estudiosos e da maioria das mentes cristãs, resisto bravamente ceder à idéia do anonimato de Hebreus. Como estou convencido de que a sua autoria seja paulina, e na minha Bíblia ACF consta que Paulo é o seu remetente, até que me provem o contrário, continuarei a indicá-lo como o autor.