Por Jorge Fernandes Isah
Sobre a revelação natural, aquilo que se pode conhecer de Deus através da criação, é interessante que, passado algum tempo [um tempo significativamente pequeno, ao menos aparente], o homem que convivia com Deus no Éden abandonou o conhecimento direto com Deus para se "aventurar" na idolatria. Adão e Eva foram os primeiros idólatras entre as criaturas, se não contarmos satanás e os anjos caídos. Aqueles momentos em que conversavam diretamente com Deus, recebiam dEle o sustento material, em que foram designados para reinar sobre as demais criaturas, e, em especial, viram a demonstração da Sua misericórdia e poder, tudo isso, e muito mais que lhes era agraciado exclusivamente pela bondade divina, não foi suficiente para evitar que caíssem, dando ouvidos à serpente.
Fico a perguntar: Como foi possível? Estando ali, diante de Deus, no relacionamento pessoal e direto com o Criador, ainda assim, sem conhecerem o mal, sem saber o que era pecado, sem a liberdade de escolher o mal [até porque não poderiam escolher o que lhes era desconhecido], revelaram-se rebeldes, e desprezaram a ordem direta do Todo-Poderoso [até então, a única] para darem ouvidos à mentira de uma serpente. E, ao fazê-lo, claramente ignoraram e repudiaram todo o relacionamento íntimo que tinham com Deus em favor de uma suposta igualdade, de se tornarem como Ele.
A questão ali não foi de escolha, pura e simplesmente, pois como haveria uma reles serpente de se contrapor e impor no coração do casal, numa questão de minutos, a corrupção e rebeldia a Deus? [ainda que a serpente fosse a mais bela das criaturas, não passaria de uma criatura diante do Criador]. Teríamos de entender que Deus não criou um ser perfeito, mas um homem estúpido a ponto de avaliar e escolher insanamente a mentira em detrimento da verdade. Então, não nos seria difícil reconhecer em Adão e Eva a burrice típida da natureza humana, levando-os às escolhas inapropriadas.
Em todos os aspectos, Adão e Eva me parecem não ter o conhecimento de Deus, ainda que tivessem um relacionamento, ou um conhecimento parcial dEle. É mais ou menos o que se deu com Lúcifer. Ele tinha um relacionamento, não o conhecimento que somente pode ser dado pelo próprio Deus a quem quiser dar. O mesmo se deu com Judas Iscariotes. Por horas, meses e anos, teve um relacionamento direto com o Senhor, foi-lhe discípulo, mas de nada serviu-lhe esse relacionamento. Por que? Porque Judas não foi regenerado, nem teve a revelação especial de Deus, ao contrário, foi escolhido para manter-se morto em sua velha natureza. É preciso muito mais do que o simples relacionamento com Deus. Muito mais do que o conhecimento da Sua existência, pois até mesmo os demônios creem, e estremecem [Tg 2.19].
Trocando em miúdos: Lúcifer e os anjos maus, Adão e Eva, eu e você, somos pecadores miseráveis, e impossíveis de ter o conhecimento de Deus seja por qual método for, seja por qual esforço for, seja por qualquer ação ou decisão que tomemos. Apenas o próprio Deus pode se revelar, e o fará exclusivamente a quem quiser. As impressões de Deus existem como sensações inexatas, muito distante do Absoluto, e a prova está nas várias religiões que tentam inutilmente conhecê-lo a partir de suas próprias corrupções. O que se tem são tentativas frustradas na ilusão de se obter êxito. Por mais que o homem natural queira buscar a Deus [hipoteticamente, visto o homem não querê-lo, ainda que sinta a necessidade de tê-lo], o que deseja encontrar é qualquer coisa chamada "deus", não o Deus único, vivo e bíblico.
Trocando em miúdos: Lúcifer e os anjos maus, Adão e Eva, eu e você, somos pecadores miseráveis, e impossíveis de ter o conhecimento de Deus seja por qual método for, seja por qual esforço for, seja por qualquer ação ou decisão que tomemos. Apenas o próprio Deus pode se revelar, e o fará exclusivamente a quem quiser. As impressões de Deus existem como sensações inexatas, muito distante do Absoluto, e a prova está nas várias religiões que tentam inutilmente conhecê-lo a partir de suas próprias corrupções. O que se tem são tentativas frustradas na ilusão de se obter êxito. Por mais que o homem natural queira buscar a Deus [hipoteticamente, visto o homem não querê-lo, ainda que sinta a necessidade de tê-lo], o que deseja encontrar é qualquer coisa chamada "deus", não o Deus único, vivo e bíblico.
Em linhas gerais, o Éden não foi suficiente para que eles pudessem conhecer a Deus, o que somente através da regeneração, do novo-nascimento, é possível; levando-me a concluir que tanto Adão como Eva não cairam apenas [assim como satanás e os seus], mas não eram transformados pelo Espírito, e os seus corações de pedra não haviam sido transformados em corações de carne.
Não é interessante que a Bíblia nos revela que tanto Lúcifer como Adão eram obras-primas da criação? Por que então o relacionamento íntimo e direto com Deus os levou à rebeldia? Como disse anteriormente, eles tinham um relacionamento com Deus, não o conhecimento especial de Deus, possível apenas aos regenerados e aos nascidos-de-novo, aos transformados pelo Seu poder [mesmo os réprobos e o diabo têm um relacionamento com Deus: eles odeiam e desprezam-no, o que é uma forma de relacionamento].
Alguém pode dizer: como pode chegar a esta conclusão se Deus criou Adão e Eva perfeitos?
Ao que digo: perfeitos em relação a quê? Às outras criaturas? Ou a Deus? Seriam as criaturas perfeitas? Se eram, porque se rebelaram e caíram [a primeira queda foi de Lucifer, depois, Adão]?
A Bíblia diz que Deus considerou a criação do homem e tudo quanto tinha feito muito bom [Gn 1.31], porque tudo o que Deus faz é bom; mas não vemos nenhuma afirmação de que eram perfeitos. O fato de Adão ser a imagem de Deus ["imago dei"], assim como também somos, não quer dizer que ele fosse perfeito como Deus, assim como também não somos. Certamente eram perfeitos em relação a toda a criação, como "top" da criação. Dizer que pelo pecado essa perfeição decaiu nos leva ao seguinte questionamento: Adão caiu por causa do pecado ou pecou porque caiu? Ao comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, ele já estava em rebeldia, já havia pecado em seu coração, pois o ato primeiramente acontece no coração, interiormente, para depois ser consumado [Tg 1.15]: "Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias" [Mt 15.19].
Veja bem, é impossível que Adão pudesse escolher o mal sem conhecê-lo, mesmo que o diabo tenha-o influenciado e seduzido. Tinha de haver uma disposição no coração para o mal; tinha de haver a semente da corrupção para que o adubo maligno pudesse germiná-la. E isso me leva a crer que o casal do Éden, ao comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, apenas deflagrou o que já continha no íntimo: o pecado latente. Não parece esta a mesma opinião de Paulo? "Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu" [1Co 15.45-47]. Ele não vê Adão como um homem espiritual, mas natural, e o texto não diz que ele o foi apenas após a queda; porque não temos dois Adãos vivendo no primeiro Adão, um santo e perfeito que, caído, se tornou pecador e miseravelmente imperfeito. Ele tinha de, mesmo antes, já ser imperfeito, não-santo, não-regenerado; ainda que a maior de todas as criaturas, mas sem a imagem celestial, somente possível através de Cristo. Novamente, Paulo: "Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial... Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo" [1Co 15.48-49, 57].
No frigir dos ovos, Adão não tinha o conhecimento necessário de Deus, nem de si mesmo, apenas possível pela ação do próprio Deus; ele era uma criatura, não um filho; e a prova está no fato de comer o que lhe era proibido. Adão tinha um relacionamento, uma ligação com Deus que não o impediu de pecar; insuficiente, mesmo em um nível direto, para levar a conhecê-lo. Para isso, seria imprescindível reconhecer em Deus a Sua soberania, santidade, perfeição, e senhorio; reconhecer em si mesmo a imperfeição, a falibilidade, a corrupção, e a urgência de se sujeitar a Ele.
Neste aspecto, sem a queda, o homem jamais teria o entendimento adequado e verdadeiro do Deus santo e do homem transgressor. Sem a queda, seríamos criaturas "fora da realidade", vivendo em um mundo de esquizofrênia e ilusão quanto ao que somos e ao que o Senhor é. Por isso, ela foi inevitável, tinha de acontecer; sem a qual jamais os eleitos seriam cheios do amor divino, e Deus não poderia se manifestar plenamente ao Seu povo. O que nos remete à perfeição divina, à perfeição do decreto eterno, e tudo o que nele está determinado, inclusive o mal, o pecado e a queda.
Sem a revelação divina, a revelação especial [a Escritura inspirada, autoritativa, inerrante e infalível], não existe o conhecimento dEle; e todas as respostas serão tão-somente um esforço de se obtê-las no próprio homem, quando estão unicamente em Deus; restringindo-os, dando-os, a quem quer, segundo a Sua vontade; não sendo realizáveis pelo homem, incapaz de gerá-las por si e em si mesmo.
Neste aspecto, sem a queda, o homem jamais teria o entendimento adequado e verdadeiro do Deus santo e do homem transgressor. Sem a queda, seríamos criaturas "fora da realidade", vivendo em um mundo de esquizofrênia e ilusão quanto ao que somos e ao que o Senhor é. Por isso, ela foi inevitável, tinha de acontecer; sem a qual jamais os eleitos seriam cheios do amor divino, e Deus não poderia se manifestar plenamente ao Seu povo. O que nos remete à perfeição divina, à perfeição do decreto eterno, e tudo o que nele está determinado, inclusive o mal, o pecado e a queda.
Sem a revelação divina, a revelação especial [a Escritura inspirada, autoritativa, inerrante e infalível], não existe o conhecimento dEle; e todas as respostas serão tão-somente um esforço de se obtê-las no próprio homem, quando estão unicamente em Deus; restringindo-os, dando-os, a quem quer, segundo a Sua vontade; não sendo realizáveis pelo homem, incapaz de gerá-las por si e em si mesmo.
A afirmação de que a revelação geral é suficiente para que o homem compreenda Deus, a criação, e a si, é errônea, pois o "homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" [1Co 2.14]. O que se tem é uma percepção da Sua existência e poder, contudo, impossível de levar à verdade [ainda que se apreenda uma ínfima parte dela, não se tem o todo; e sem o todo, a verdade é incompreensível]; antes, fomenta inúmeros enganos, na repetição tosca do mesmo erro: a fé no humano, como o sofisma devastador, altamente destrutível, apropriando-o ainda mais da condenação iminente, ao afirmar a possibilidade do homem ter comunhão com Deus por meios próprios, visto a loucura de Deus ser mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus ser mais forte do que os homens [1Co 1.25]. E isso também foi inerente ao Éden, evidente não somente na queda, mas antes dela. Senão, como cairia Adão?
Apenas a revelação especial, as sagradas e santas Escrituras, a partir do novo homem, da nova natureza dada por Deus, resultará na transformação e regeneração da mente humana, tornando-a cativa a Cristo; ao ponto de, no glorioso dia do Senhor, estar completamente imune ao pecado e o mal, para que o eleito seja apresentado perfeito em Jesus Cristo [Cl 1.28].
Apenas a revelação especial, as sagradas e santas Escrituras, a partir do novo homem, da nova natureza dada por Deus, resultará na transformação e regeneração da mente humana, tornando-a cativa a Cristo; ao ponto de, no glorioso dia do Senhor, estar completamente imune ao pecado e o mal, para que o eleito seja apresentado perfeito em Jesus Cristo [Cl 1.28].
A revelação natural torna o homem inescusável [Rm 1.20], ou seja, condenável e condenado; jamais capaz de levá-lo à salvação. Porque apenas por Cristo, a revelação única e final de Deus, o homem pode alcançar o conhecimento pleno e verdadeiro dEle. Este poder vem do alto, não do homem. E está acessível aos eleitos, àqueles a quem Deus quis se revelar, pois o espírito do homem sabe as coisas do homem, que nele está.
"Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus" [1Co 2.11], e os que receberam o Espírito que provém de Deus, para que pudessem conhecer o que lhes é dado gratuitamente por Ele [1Co 2.12].
Nota: Este artigo é a ampliação do meu comentário no blog do Roberto Vargas Jr, ao texto "O Revelado"; o qual recomendo a leitura.
"Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus" [1Co 2.11], e os que receberam o Espírito que provém de Deus, para que pudessem conhecer o que lhes é dado gratuitamente por Ele [1Co 2.12].
Nota: Este artigo é a ampliação do meu comentário no blog do Roberto Vargas Jr, ao texto "O Revelado"; o qual recomendo a leitura.