sábado, 23 de abril de 2011

Cristo: a negação do pecado

















Por Jorge Fernandes Isah

Retornarei a um tema do qual me afastei por algum tempo, que causou alguma polêmica por aqui e exortações públicas de alguns irmãos para que eu voltasse à verdade. As postagens as quais me refiro são, entre outras:
A questão é que no conjunto do meu pensamento, sempre afirmei ser Cristo 100% Deus e 100% homem, em acordo com o que a Bíblia define claramente e que a ortodoxia ou a tradição da Igreja confirmou por séculos. Não tenho dúvida alguma de que a doutrina da divindade e humanidade de Cristo é bíblica e verdadeira. Portanto, não há o que se discutir quanto ao fato de que eu, eventualmente, esteja comprometendo esse princípio bíblico basilar da fé cristã, pois não estou, visto crer plenamente nele. 
A Escritura está recheada de referências tanto à humanidade como à divindade de Cristo, de tal forma que não há como não reconhecê-la, a menos que se seja  movido pelo sentimento de querer destruir a verdade e corromper a revelação especial de Deus para os homens. Apenas mentes acostumadas à mentira e formadas nela podem conceber que o Senhor não seja homem e Deus ao mesmo tempo, de que ele não possua as duas naturezas. Não entrarei nos pormenores de como se deu a união hipostática do Senhor[1], visto não ser esse o objetivo deste texto. Se Deus quiser, no futuro, poderei abordar o tema. 
Nos artigos citados, a questão que aventei e que gerou algum mal-estar foi o fato de fazer duas declarações e distinções não tanto ortodoxas [2]:
1) De que a natureza humana do Senhor Jesus era eterna [a essência; a mesma que nos foi dada por Deus e nos tornou à sua imagem e semelhança];
2) De que ele era diferente do homem, ou seja, não completamente igual ao homem por não possuir o pecado nem a possibilidade de pecar.
Em relação ao ponto 1, talvez eu faça uma nova abordagem mais à frente; talvez, não sei. Focarei agora o ponto 2, a nítida distinção que há entre Cristo e nós por causa do pecado que ele não tem e nós temos. Como sempre, farei a pergunta inicial: Não seria o pecado um diferencial fundamental a nos distinguir de Cristo?
Primeiro, a definição de pecado, o qual "é tudo o que é contrário ao caráter de Deus. Como a glória de Deus é a revelação do seu caráter, o pecado é uma insuficiência do homem em relação à glória ou ao caráter de Deus (Rm 3.23)" [3].
Considero uma ótima definição pois ela estabelece que o pecado é algo completamente exterior a Deus, e cuja natureza não se opõe meramente a ele, mas anula-o completamente. O pecado poderia ser entendido como uma reação radical à Deus, à santidade, autoridade, essência e natureza, bondade e perfeição, justiça e graça, numa tentativa pífia de tomar o seu lugar, substituindo-o por elementos antagônicos, díspares e viciados, como se a falsificação pudesse, em algum momento, revestir-se da autenticidade do Autor Supremo; onde a imitação assumisse o caráter próprio do original. Pois, onde há ordem, é impossível a desordem. Onde há o bem, é impossível o mal. Onde há santidade, não há pecado. Onde há justiça, não há injustiça. Onde há vida, não há morte. Na origem, não existe incerteza. Na unidade, não há dispersão. No eterno, não há efêmero. Por isso o pecado é a resistência ou a obstinação do homem em reconhecer a glória do Altíssimo. 
É possível que alguém avente a hipótese de eu estar me entregando ao dualismo, o que não é o caso. A Bíblia afirma que todas as coisas foram criadas por Deus, estabelecidas eternamente em seu Decreto, de tal forma que nada, absolutamente nada, surgiu à sua revelia; pois toda a criação, seja espiritual ou material, veio a existir do nada; não havia substância pré-existente a qual Deus utilizou para formar o universo. O que vale dizer que tanto o mal como o pecado não são autocriados ou originários de outra "força", mas vieram à existência pela vontade decretiva de Deus. Portanto, tudo, em seus mínimos e irrelevantes detalhes, está sujeito ao Criador, sem que pudesse existir alheio à sua deliberação; e aqui, como já disse, inclui-se o pecado, o mal, a Queda, etc.
Mas o que isso tem a ver com Cristo?
Tudo! 
Visto ser Deus, e por ele todas as coisas virem a ser, pois se assim não fosse não se realizariam; e por todas elas serem sustentadas pelo poder da sua palavra; reconhecemos o seu poder, autoridade e perfeição. Mais especificamente, o fato é que por suas naturezas e atributos perfeitos, Cristo jamais pecou. Mesmo em sua humanidade, ele não poderia pecar. O pecado é-lhe algo completamente exterior e estranho, assim como é para Deus, de tal forma que, em Cristo, o pecado não teria qualquer oportunidade de se manifestar, como não teve nem terá. Por isso é-me inconcebível a idéia da "possibilidade de Cristo pecar", como uma blasfêmia, uma afronta à sua santidade e perfeição. A humanidade de Cristo não é perfeita porque ele não pecou, mas ele não pecou porque ela é perfeita. Há uma diferença brutal nisso. A mera possibilidade de Cristo vir a pecar, ainda que como hipótese remota, afetaria a sua perfeição. Se não cogitamos o mesmo de Deus, porque o cogitaríamos para Cristo, sendo ele Deus? Ou seria Cristo duas pessoas em uma? Ou a combinação das duas naturezas gerando uma terceira? E assim teríamos uma personalidade esquizofrênica e conflituosa? A disputar, na confusão, um sentido incompreensível e não declarado na Escritura? Se na sua humanidade fosse possível, metafisicamente falando, o pecado, isso afetaria a sua perfeição e divinidade, pois ainda que as suas naturezas não se comuniquem, elas fazem parte da mesma pessoa, o Verbo. Não há dualidade em Cristo, mas unidade. Não é possível a imperfeição no perfeito. Nem o transitório no perpétuo. A singularidade de Cristo está em sua divindade-humanidade, mas também no fato de sua humanidade ser exclusiva. Nem mesmo o Adão pré-queda era como Cristo, visto ter pecado, e não ter podido não pecar [4].
Sabemos que o pecado traz consigo uma série de anomalias, e seus efeitos noéticos tornam o homem em inimigo de Deus; de maneira que ele sempre se oporá ao Criador, rebelando-se em sua pretensa autonomia, rejeitando-o, e agradando-se de não obedecer à sua vontade. O homem, se Cristo não o resgatar, estará irremediavelmente perdido, condenado. Este é o maior e definitivo dano provocado pelo pecado: a eterna separação de Deus. Seria a obra completa de sua realização: a morte eterna. Então, como é possível imaginar que Cristo poderia se enquadrar nessa condição, ainda que como uma probabilidade impossível? O próprio decreto eterno estabeleceu que Cristo encarnaria, assumiria a forma humana, e não pecaria. E ele é inexorável; não se movendo em sua irredutibilidade. Porém, a perfeição e santidade do Redentor vai muito além do decreto eterno, pois são atributos da sua natureza, mesmo em relação à sua natureza humana, que não estava sujeita à influência ou coerção do pecado. 
Isso, por si só, já seria argumento suficiente para distinguir Cristo dos demais homens. Mas ao se dizer que a natureza de Cristo não é idêntica à do restante da humanidade, toma-se uma proporção desproporcional, ao ponto de se concluir que assim a sua obra expiatória não seria possível. Mas onde mesmo a Bíblia afirma que Cristo é idêntico, em todos os detalhes, ao homem? Esta não seria uma acertiva na qual se está mais preocupado em preservar a nossa condição de semelhantes a ele do que em reverenciá-lo por sua obra consumada? Ou mesmo revelar a sua singularidade na normalidade do homem? Ou sua pessoalidade na nossa incapacidade pessoal de ser como ele é? E poder glorificá-lo naquilo em que ele é, mesmo diferente de nós? 
Veja bem, não nego ou relativizo nenhum ponto da ortodoxia cristã, mas acho um exagero e mesmo um despropósito, afirmar que Cristo é 'ipsis litteris" como nós, à parte de sua divindade. Com isso, não estou questionando a sua humanidade, nem que seja homem, mas questiono o fato de como nós, seres imperfeitos, iníquos, rebeldes e inconstantes em nossa irregularidade poderíamos ser comparados a ele, perfeito, santo, obediente, um com o Pai em sua absoluta unidade. Cristo é "sui generis", único, peculiar, fora do comum em sua Pessoa, ainda que tenha a mesma humanidade que nós... à exceção da disposição adâmica ao pecado. 
Contudo, o pecado não é um mero detalhe... Assim como a disposição ao pecado também não é. E se todos, sem exceção, temos essa disposição, ao ponto em que o pecado se tornou inevitável em nossas vidas, Cristo não a tem, por isso, não pecou. A sua natureza humana, ainda que semelhante à nossa, é impecável. E isso faz uma enorme, grandiosa diferença, tanto nele, como na boa obra operada em nós, e que nos levará, infalivelmente a não mais pecar, pois, naquele glorioso dia, seremos feitura sua, de tal forma que em nós a sua glória imaculada consumar-se-á, e adquiriremos, por sua graça, a  sua perfeição que anulará o pecado, tornando-o extinto e ineficaz em sua inocuidade. 
E essa é a mais viva esperança que o cristão pode desejar, quando, face a face com o Senhor e Salvador, seremos finalmente como ele é. E teremos enfim a sua natureza humana, em todos os seus detalhes, capacitando-nos à santidade e à impossibilidade de ceder ao pecado. Quando toda a obra planejada e posta em execução por Deus no tempo, na história, se consumará definitivamente. E somente ali os eleitos reconhecerão que nunca foram como ele, mas agora, eternamente, serão! Pois Cristo é a negação do pecado!

Notas: [1] União Hipostática: é a união das duas naturezas, divina e humana, em uma Pessoa; o que faz de Cristo uma Pessoa Teoantrópica, ou seja, ele é ao mesmo tempo Deus e homem. 
[2] O fato da minha declaração não ser considerada "ortodoxa" não a inviabiliza como biblica. Muito da ortodoxia, e tem-se de definir o que seja ortodoxia primeiramente, é discutida inclusive por ortodoxos. E o que vale, necessariamente, é o princípio estabelecido na Escritura, mesmo que ele não seja considerado ortodoxo. Especificamente no meu caso, eu nego a heterodoxia do que disse, e afirmo que os meus postulados são bíblicos. 
[3] Dicionário Bíblico Wycliffe - pg. 1.485 - Editora CPAD.
[4] Sobre não concordar com a posição de Agostinho quanto à idéia de que o Adão pré-queda poderia "não pecar e pecar", ler o meu texto: "Todos esses anos... e nunca fica fácil"

sábado, 16 de abril de 2011

Livro do Mês: A Soberania Banida


A RUÍNA DO LIVRE-ARBÍTRIO
                                Escrito e narrado por Jorge Fernandes Isah*

Fiz uma primeira leitura do livro em 2008, quando já era calvinista... bem, um calvinista ainda inconsistente, mas posso garantir que a partir das refutações de Wright ao arminianismo, paganismo e ao humanismo, não ficaram dúvidas, nem pedra sobre pedra. Então, vi-me seduzido a novamente ler o livro. Não sem antes fazer a pergunta: "Por que reler 'A Soberania Banida'?"... Não foi difícil relacionar alguns motivos:

1- Grandes livros devem ser lidos e relidos.
2- A Soberania Banida é um grande livro, cujo tema é pouco divulgado e cujo material é escasso em português [Há de se ressaltar o esforço da Editora Monergismo em publicar obras sobre o assunto, em especial, as de Gordon Clark e Vincent Cheung].
3- Quando da primeira leitura, ainda caminhava meio que titubeante pelo Calvinismo, pois até pouco tempo antes era um amyraldiano sem saber, crendo ser calvinista. Então, provavelmente, muito do que li ficou perdido ou sequer foi visto por meus olhos limitados quanto à doutrina da graça.
4- Queria, e quero, avaliar o pensamento do Wright com o de Clark e Cheung, e ver até que ponto eles são semelhantes ou conflitantes.
5- A oportunidade de detalhar melhor aqui no blog o livro, o que não pude fazer na primeira leitura [o livro estava fora de catálogo, e peguei-o emprestado; fiz uma leitura rápida, para não "prender" muito o exemplar em minhas mãos]. 
6- Acho que este título merece ser mais conhecido e divulgado, e oro para que Deus me capacite a analisá-lo em alguns dos seus detalhes, sem tirar o desejo de quem porventura queira lê-lo. Ou seja, não ser explícito por demais e acabar por revelar mais da leitura do que deveria.

Entrando propriamente no cerne do livro, ele combate a falsa idéia de que o homem tem alguma influência em sua salvação, de tal forma que ela se tornaria uma obra humanamente meritória. E sua relevância está exatamente em não deixar que o homem, em momento algum, pense que isso possa ser possível; usurpando de Deus a honra, glória e louvor por toda a obra de salvação, desde quando a decretou na eternidade até a sua realização e consumação no tempo. Wright ressalta a impossibilidade de haver cooperação entre Deus e o homem, de maneira que somente um ou outro são os autores da salvação... Como o homem não pode salvar a si mesmo, e acredito que nem queira fazê-lo, a conclusão é de que todo o planejamento, execução e resultado pode ser creditado exclusivamente a Deus.

Em relação ao arminianismo, há de se dizer que, além de sua posição nitidamente antibíblica, ele foi uma espécie de irmão "univitelino" tanto do Iluminismo como do Racionalismo, gerando dessa depravação doutrinária/ideológica o liberalismo cristão e um sem número de apostasias e heresias; os seus filhos bastardos, a partir da formação do que se pode chamar a "tríade do Mal". Historicamente nenhum movimento esteve ligado a tantas distorções e corrupções do Evangelho quanto o arminianismo, e o que se pode perceber é sua influência autônoma em todas as formas de degeneração do Cristianismo bíblico criadas pelo homem natural. Entre várias  delas podemos citar como descendência direta o Universalismo, o Unitarismo [ao pender vergonhosamente para o Arianismo], o Reavivalismo de Finney e seu abominável evangelismo de resultados, pragmático, sentimentalóide, e avesso à doutrina e a razão. Muitas seitas têm em comum com o arminianismo o mesmo princípio: a suposta liberdade e poder da criatura de frustrar os desígnios do Criador.

Wright demole, ponto a ponto, os argumentos arminianos, os quais são provados inconsistentes e falsos, cujos princípios servem apenas à vontade autônoma do homem [o desejo em tê-la independente de Deus], capaz de se sobrepor e se impor até mesmo sobre a vontade divina. Para eles, é possível Deus ser Todo-Poderoso, soberano, controlar todas as coisas e, ainda assim, o homem ser livre e capacitado a ter em suas mãos as decisões de maneira totalmente livre, podendo até mesmo aprisionar "Deus" em suas vontades, anulando-o, como se o placebo pudesse, em sua inatividade e ineficácia, controlar, determinar e administrar a cura em sua neutralidade indeterminada.

Nesse quadro, onde fica a graça salvadora de Deus? Se é pela graça que somos salvos, seria possível ela estar sujeita ao livre-arbítrio humano? E como esse suposto livre-arbítrio se relacionaria com a natureza pecaminosa e a Queda? Estaria ele dissociado delas? Ao ver do arminiano, isso é possível, porém, ilógico e insustentável, especialmente quando a Bíblia nos revela que todos estamos debaixo do pecado, não promovemos o bem mas o mal, e não queremos nada com Deus, não ao ponto de nos arrepender da nossa iniquidade e sujeitar-nos ao senhorio de Cristo espontaneamente. Na verdade, o homem natural quer um Deus submisso e sujeito, uma espécie de “deus da lâmpada”, um gênio das mil e uma noites sempre disposto a realizar os desejos das suas criaturas,  numa obediência lacaíca, carnal e tola.

O fato é que, se Deus não operar em nós a regeneração, o novo-nascimento, chamando-nos eficazmente a reconhecer a obra de Cristo como suficiente e única para a salvação e justificação do ímpio, nada feito! Permaneceremos mortos em nossos pecados e iniquidades, distantes de Deus, longe da sua graça, sem a menor vontade de arredar um centímetro em direção ao seu trono de glória; refestelando-nos no pecado como porcos na lama.

Em quase todos os aspectos, o pensamento de Wright está em acordo com o de Clark e um pouco menos com o de Cheung, [provavelmente por McGregor e Gordon serem presbiterianos ao contrário de Vincent; e aí reside a necessidade daqueles subscreverem a C.F.W. enquanto este não] o que o torna em calvinista no sentido pleno da palavra, pois não se encontram presentes no livro as comumentes expressões antinomia, paradoxo ou mistério, para explicar algum princípio bíblico que não se queira reconhecer baseado na Escritura, a fim de não causar "mal-estar" entre leitores e ouvintes mais suscetíveis à verdade. Normalmente paradoxo ou mistério é utilizado para respaldar algum conceito humanista e enfraquecer ou desqualificar um princípio bíblico, a não ser no caso especifício da "graça comum", a qual o autor parece dar algum crédito, assim como a maioria dos calvinistas, mesmo que não se encontrem evidências para ela, ao contrário, a razão indica a sua inexistência como princípio revelado por Deus. Porém, reconheço que Wright não detalha o que venha a ser "graça comum", revelando, talvez, a sua irrelevância doutrinária.

O livro é um excelente tratado sobre a "soberania divina x livre-arbítrio" [quem considera possível uma união de forças entre elas está completamente enganado, pois são conceitos antagônicos e rivais], e os argumentos e princípios bíblicos são reveladores de que Deus é 100% soberano e o homem não é livre para fazer escolhas autônomas à parte do Criador, como se houvesse chance desse homem ser, de alguma forma, livre de Deus. Nada no universo é livre de Deus; portanto, o homem é livre apenas para pecar conforme a sua natureza iníqua.

Um capítulo deveras interessante é o que Wright destina a análise dos supostos "versículos arminianos" na Bíblia. Escolhendo aqueles usados pelos autonomistas para defenderem suas posições [a partir da descontextualização], o autor, partindo-se do pressuposto de que não há contradição na Bíblia, e de que é impossível se afirmar um sistema e o outro ao mesmo tempo, ou propor uma simbiose entre eles [o que chamou de "calminianismo"], assegurou que o versículo em si pode não ensinar qualquer doutrina distintivamente calvinista, mas o ponto a ser estabelecido é que os arminianos não têm qualquer base para citá-los em seu favor.

Desta forma, provado que os supostos "versículos arminianos" não ensinam o arminianismo, livres de preconceito, poderiam explorar a possibilidade de realmente haver versículos na Bíblia que tornam inevitável o conceito calvinista da salvação.

Os versículos são agrupados tematicamente da seguinte forma:
1) Sobre o livre-arbítrio;
2) O termo vontade;
3) Escolhas humanas;
4) Ordens;
5) Convites;
6) A utilização do termo "livre-arbítrio" em algumas versões da Bíblia;
7) E, mais detidamente, nos únicos dois versículos "obviamente arminianos", ironicamente assim chamados por Wright, demonstram não haver nada de arminianismo neles.

Há a indicação do livro de John Owen "The Death of Death in the Death of Christ", publicado pela Banner of Truth, e disponível no Brasil resumidamente com o título "Por Quem Cristo Morreu?", publicado pela Editora PES.

Qualquer arminiano que ler esse capítulo em especial [desde que não se endureça a ponto de não ver a verdade, apegando-se tolamente à mentira], se certificará da fraqueza e verá desmoronar a sua interpretação quanto ao "arminianismo bíblico". Ele até poderá não aceitar a doutrina calvinista da salvação, mas não haverá como continuar proclamando a teoria antibíblica do arminianismo e o seu mote principal: o livre-arbítrio.

O autor aborda ainda a questão do determismo bíblico, da responsabilidade x liberdade, e do suposto dilema "Deus e o mal", prato-cheio para humanistas ignorantes e cristãos igualmente mal-informados.

Ao final do último capítulo, Wright esboça 5 razões para não se aderir à teoria do livre-arbítrio a partir das 5 máximas dos próprios "livre-arbitriristas".

Creio que, por isso, muitos decidem fugir de livros tão reveladores como "A Soberania Banida", contando-se com exposições frágeis, conflituosas, incoerentes e irracionais de autores não comprometidos com a verdade ou que apenas se enganam, iludidos pela mentira.

* A narração do texto somente é possível de se ouvir no Kálamos original
Notas: 1- Ao final de cada capítulo há uma lista de leitura adicional; infelizmente, em sua esmagadora maioria, não disponível em português.
2- "A Soberania Banida", escrito por R. K. McGregor Wright, e publicado pela Editora Cultura Cristã
3- Todos os meus comentários ao livro podem ser lidos AQUI
4- Na seção "Textos Selecionados", em "Cristologia & Soberania de Deus" e "Apologética & Outros", pode-se encontrar vários artigos em que abordo as questões da impossibilidade do "livre-arbítrio" e também sobre "responsabilidade x liberdade".
5- Avaliação do livro: [*****] Excelente!
INSCREVA-SE E PARTICIPE! 

sábado, 9 de abril de 2011

Cristo e a sexualidade - Parte 2

    Encontrando a razão

     Por Jorge Fernandes Isah

Se a visão secular do sexo está corrompida e tornou-se em mais uma forma de idolatria e rejeição a Deus, o que a Bíblia nos diz sobre o assunto?

Primeiro, que o sexo sempre esteve no plano de Deus, como parte do seu decreto eterno. Portanto, ele é santo, como já disse. De outra forma, Deus não criaria homem e mulher, macho e fêmea, não os dotaria física e afetivamente das características que permitiriam o envolvimento conjugal. Ele quis unir duas partes boas, mas que não funcionariam completa e perfeitamente se permanecessem separadas. Em nossa imperfeição [mesmo no Éden pré-Queda] o homem e a mulher seriam perfeitos na unidade. Ainda hoje isso é possível, desde que as partes sejam ligadas pelo Senhor das suas vidas: Cristo.

Segundo, porque é a forma mais íntima de relacionamento entre o homem e a mulher [conhecer várias mulheres, do ponto de vista sexual, equivale a não  conhecer nenhuma. Portanto, essa forma de se relacionar é oposta à criada por Deus; é uma aberração, uma violação da santidade e pureza do homem e da mulher, que corrompem seus corpos dispondo-os dissolutamente a serviço do pecado].

O sexo não é um fim em si mesmo. Quando é pensado dessa forma não passará de um ídolo, e os ídolos pouco se importam conosco, pois querem-se satisfeitos primeiramente. E, em sua sanha doentia, ele se apropria de tudo o que é antinatural: bestialidade, masoquismo, pederastia, violência, etc, a fim de ser adorado. Quando se abandona o seu objetivo primaz, ele não mais é do que a falsificação, a forma degenerada daquilo que Deus estabeleceu como santo.

Terceiro, ao criar homem e mulher, e formar um casal, Deus nos ensinou o sentido de unidade, de se ser um só corpo, assim como ele é conosco por intermédio de Cristo.

Quarto, o sexo é uma das formas do homem e da mulher, conjuntamente, atingirem o prazer solidário, companheiro, afetivo. Como uma entrega de si para o outro (a), recebendo dele (a) para si, também.

Quinto, é uma das maneiras de se aplicar o que o Senhor Jesus disse: amar ao próximo como a si mesmo [Mc 12.33], a partir da decisão de assumir que "a mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher" [1Co 7.4]. É o caráter de subserviência conjugal que reflete, ainda que minimamente, a sujeição completa de todo o nosso ser a Deus. Por isso o homem resiste tanto a observar os princípios divinos quanto ao casamento. O que levou o Senhor a responder, quando interrogado pelos fariseus, a respeito do fato de Moisés autorizar o divórcio:"Moisés, por causa da dureza dos vossos corações vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas no princípio não foi assim" [Mt 19.8]. Levando-me a deduzir que tanto a promiscuidade ou o "sexo-livre" quanto o divórcio são atitudes de rebeldia contra Deus.

O sexo pode ser, portanto, bênção para o casal, como pode ser maldição. Se realizado dentro dos princípios ordenadores da fé, primeiro por amor a Deus e, segundo, por amor ao próximo [e quem pode ser mais próximo do que o conjuge?], será bendito.

Talvez seja necessária a definição do que seja amor, visto se alegar que há várias formas de amor, mas a Bíblia reconhece apenas uma via em que as várias formas de amor transitam, e nada melhor do que voltarmos a atenção para 1Co 13. Não transcreverei todo o capítulo, creio desnecessário, pois o sabemos de cor e salteado. Ater-me-ei ao verso 7, quando Paulo diz que o amor "Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta".

O amor descrito pelo apóstolo é o amor-testemunho. Não somente o amor a compartilhar, participativo, sensível, consolador, fraterno... É claro que ele tem estes e outros elementos, mas também é o amor pelo qual os outros verão e reconhecerão que somos filhos de Deus. Foi o que o Senhor disse: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós... Nisto todos conhcerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" [Jo 13.34-35].

Reportando a este exemplo, o sexo, assim como o casamento, realizado fora dos padrões morais e espirituais estabelecidos por Deus somente revelará o quanto estamos distantes dele; revelará o desejo pela autonomia e insubmissão; e de que parecemos ao mundo como nada mais do que o mundo mesmo se parece e é. O amor é o dístico pelo qual seremos reconhecidos que estamos em Cristo e ele em nós. Quando o homem se preocupa unicamente com o seu prazer e a sua satisfação, alheia à vontade divina, ele nem mesmo ama a si mesmo, iludido que está por um amor incapaz de resistir à ofensa [ainda que seja a ofensa a si mesmo através do próprio corpo]; incapaz de crer que o plano de Deus é perfeito, exequível, e não deve ser desprezado em favor da ofensa irresistível; incapaz de esperar nas promessas que Deus nos deu de que todas as nossas necessidades serão supridas; portanto, não se deve inquietar [e a inquietação levará ao sexo fugaz e desordenado]; e incapaz de suportar as exigências do espírito, antes se entregando as facilidades da carne.

O amor que se opõe ao que Paulo descreve nada mais é do que outra falsidade humana, outra forma de se buscar a autonomia, e iludir-se com a ideia de se ser livre de Deus.

Quando cristãos rejeitam o que lhes é exigido por Deus, está mostrando ao mundo que também o rejeitou. A mensagem é de que nem mesmo nós o amamos, e se não o amamos, por que exigir dos que não o seguem o amor?

Mais do que o prazer e a alegria da comunhão, a troca de emoções, e o se fazer um, o casal torna-se testemunha daquilo que Deus tem feito, de como tem agido no meio deles, até mesmo, o que ele é. E se o individualismo, o egoísmo, a vaidade tomam o seu lugar, o testemunho será a falsidade daquilo que supomos Deus representar para ser a verdade daquilo que representamos para nós mesmos. Ou seja, Deus se tornaria irrelevante, e a relevância estaria em nós. E o testemunho seria de nós mesmos, não de Deus; porque não se suporta, não se crê, não se espera, nem se sofre, já que o amor falhou como verdade, alegrando-se na injustiça, buscando os seus próprios interesses. Mas isto não nos é dito, pelo contrário, "o amor nunca falha" [v.8], porque ele se agrada da verdade.
  
De tal forma que o casamento e o sexo [e o sexo somente é possível, biblicamente, na legitimidade nupcial] sejam administrados para a glória de Deus, assim como tudo o mais.

Infelizmente temos sido intolerantes com o Evangelho e tolerantes por demais com os nossos anseios e perversões. Os comportamentos antibíblicos são admitidos em nome do falso amor, que não corrige, exorta ou disciplina, mas avaliza práticas antinaturais e que afrontam a Deus. Nisso fica visível que não amamos ninguém; ao desobedecer os princípios traçados pelo Criador na Escritura, os quais deveríamos zelar, defender e subscrever; e por buscarmos uma paz impossível com o próximo e conosco mesmo, em que a nossa consciência estará em guerra contra a verdade. A soma disso tudo será o desamor, como a expressão máxima da aquiescência ao pecado.

Quando cristãos vêem o sexo, em suas múltiplas formas, como o objetivo final de seus corpos, esqueceram-se a muito do que é glorificar a Deus, e os seus testemunhos apenas validarão a si próprios na falsidade e hipocrisia.

As conseqüências serão o nome de Cristo blasfemado pelos ímpios e a alegação de que o Cristianismo é igualmente falso, assim como os falsos-testemunhos. Claro que pelo falso-testemunho de falsos-cristãos não podemos ser julgados, até porque o mundo não nos julgará nem o pode julgar, mas essas atitudes somente colaboram para impedir a autenticação do Evangelho entre aqueles que contemplam a inconsistência, incoerência e antagonismo entre o que dizem e praticam os que alegam servir a Cristo, e não o servem.

O amor que lhes sai da boca é tão impuro quanto o que praticam; invalidando com os seus atos o que dizem; ao ponto do Senhor afirmar, certa vez: Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendoEste povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” [Mt 15.7-9].

Não há outro meio. Se desprezamos os mandamentos de Deus, não o amamos, pois não os temos nem os guardamos [Jo 14.21]. Se induzimos outros a se manterem igualmente desobedientes quanto aos mandamentos do Senhor, não há amor por eles. Se nós mesmos infringimos a Lei do Senhor, também não nos amamos, mas devotamos o amor a outro: o pecado. Qualquer tentativa de se justificar a rebeldia, práticas e comportamentos antibíblicos usando o amor como alegação é mentira. O mesmo serve para o sexo. Se a razão não for bíblica será como um caminhão carregado descendo sem freios a ladeira íngrime... O final, ainda que com elementos diferentes, todos sabemos como será.

INSCREVA-SE E PARTICIPE!

domingo, 3 de abril de 2011

Cristo e a sexualidade - Parte 1


A busca pelo mais-que-imperfeito










Por Jorge Fernandes Isah 

       Estive conversando com um irmão sobre vários assuntos e num determinado ponto, lá pela metade do bate-papo, ele me perguntou: Como você acha que seria a sexualidade de Cristo?... E me deu a sua opinião... Mas antes de entrar propriamente no assunto, farei alguns esclarecimentos:

1)      Sei que estarei a mexer em vespeiro, e muitos irmãos considerarão esta reflexão algo despropositada, sensacionalista, e que em nada edificará o Corpo. Dirão que os meus objetivos são a autopromoção, o exibicionismo e a carnalidade. Pois bem, quero ressaltar que ao ser surpreendido pela questão, muitos também podem sê-lo, e acredito que mais grave que a ignorância é a omissão e o querer se manter ignorante.
2)      Não abordei este tema sem antes orar, e buscar o entendimento  pela Escritura e jamais alheio a ela. Não quero inventar a roda, nem procurar chifres em cabeça de cavalo. Tratarei a questão com reverência e temor, sabendo que posso ser mal-interpretado, mas também posso auxiliar irmãos que por ventura estejam buscando uma resposta. 
3)      Verdadeiramente, falar da sexualidade de Cristo é um tabu, e penso que não deveria ser. Nem todos pensam, se interessam ou discutem a questão, mas creio que isso não deve ser o padrão cristão, de haver perguntas “imperguntáveis”. Desde que o debate seja realizado sem escanercimento nem leviandade, até mesmo a “sexualidade” de Cristo pode ser discutida.
4)      Este texto é uma resposta, não é uma tese, um ensaio ou tem qualquer outra pretensão que não seja direcionar o assunto sobre o ponto de vista escriturístico; revelando o que me foi revelado pela Bíblia. Nunca li qualquer livro sobre o assunto, nem mesmo nunca me interessei por ele, e toda a minha reflexão se baseou na pergunta daquele irmão, como formulada ao alto. Este texto será dividido em três partes, provavelmente; não distintas ou isoladas, mas ainda que focando pontos diversos dentro do tema, eles estarão interrelacionados. 
5)      Cristo é 100% Deus e 100% homem. Ainda assim, não o considero “ipsis literis” igual ao homem, visto não lhe ser possível pecar. A Bíblia afirma que Cristo jamais pecou; que ele foi o único homem sem pecado, e, por isso, ele é puro, santo, perfeito e imaculado. Cheguei a analisar esta questão no texto intitulado, “O pecado que Cristo não levou”. À época, e ainda hoje, muitos irmãos teceram críticas à minha posição, dizendo que ela alterava ou invalidava de alguma forma a expiação eficaz do Senhor, por eu sugerir que ele não tivesse a mesma humanidade que nós, em todos os seus múltiplos detalhes. Alguns alegaram que a minha ignorância antropológica levara-me ao erro. Outros, de me opor à ortodoxia cristã. Para mim, o simples fato de Cristo não poder pecar [e sequer cogito a hipótese do pecado ser algo possível na impossibilidade dele pecar] o torna diferente de nós, não em sua natureza humana, mas em sua pessoalidade, na sua natural indisposição e absoluto impedimento de pecar [sua natureza humana supostamente “poderia” pecar, mas como ela está sujeita à Pessoa do Verbo, e a Pessoa é quem determina a vontade, mesmo a humana, é fato que Cristo jamais pecaria].
  
      Feitos os esclarecimentos iniciais, prosseguirei com o que se pode chamar de introdução.
       Deus criou o homem e a mulher, “desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea” [Mc 10.6]. Assim, ele os criou com o propósito de se unirem, tornando-se uma só carne [Mc 10.7-8]; pois considerou bom que o homem não estivesse só, mas tivesse uma ajudadora idônea [Gn 2.18]. De certa forma, de uma só carne, Adão, Deus fez também Eva, para que se unissem novamente em uma só carne, não sendo mais duas. O sexo entre as criaturas sempre esteve na mente de Deus, pois ele criou homem e mulher dotados fisicamente de aparelhos reprodutores funcionais e completos, estando habilitados a cumprir a ordem de frutificar, multiplicar e encher a terra [Gn 1.28].
       O fato do sexo ser algo puro e santo, dentro dos limites estabelecidos por Deus [na união do homem e da mulher, no casamento, uma única vez, pois o que Deus ajuntou não o separe o homem (Mt 19.6)], está no fato do casal primevo estar nu e não se envergonhar da sua nudez [Gn 2.25]. Mas isso foi antes da Queda; e, após o pecado, tanto Adão como Eva sentiram-se vexados por sua nudez, revelando a mudança em seus corações, e uma disposição para a corrupção, para o adultério, para a lascívia, para a imoralidade, a perversão e a depravação; levando-os a refugiarem-se entre as árvores do jardim, crendo possível esconder-se de Deus [Gn 3.8].
       O sexo, novamente afirmo, dentro do padrão moral e santo de Deus não tem em si mesmo nenhum mal, o problema é a forma como o homem o vê, a partir da cobiça e do desejo de buscar e querer o que não lhe pertence ou o que não lhe é dado pertencer. 
       Tudo isso passa pelo crivo da Lei de Deus que estabeleceu os princípios norteadores em todos os aspectos da vida, sejam espirituais, físicos ou materiais. A Bíblia nos dá a resposta para todos os dilemas e situações, de tal forma que é o manual de conduta do homem. Ou deveria ser. Quando ele caiu no Éden, caiu juntamente consigo o padrão moral, de tal forma que dali em diante a impiedade chegaria ao ponto em que o homem perderia completamente o discernimento entre o que lhe convém e o que não lhe convém fazer, entre o santo e o profano, entre o moral e o imoral, de maneira que ele acabaria sempre optando pela escolha natural, a inclinação da carne: o pecado. Assim toda a sua natureza se viu corrompida; e o passo seguinte foi apresentar os seus membros por instrumentos de iniquidade.
        Já na primeira geração pós-Éden, Caim invejou, cobiçou, matou e mentiu. Depois, o texto sagrado relata uma sucessão de eventos em que os corpos serviram à imundície e à maldade para a maldade [Rm 6.19]. E o sexo tomou suas formas mais doentias, se transformando em um deus durante os séculos, ao qual os homens se mantiveram aprisionados, feitos escravos, alimentando-o e sendo alimentados por ele, como um tumor maligno alimenta-se do corpo debilitado até destruí-lo. 
      O que muitos não reconhecem é que o padrão humano para quase tudo será sempre aviltante e degradável. A principal característica humana é a de corromper tudo o que toca; como o Rei Mídas transformava em ouro o que tocava, ao ponto de quase enlouquecer e morrer, pois uma simples fatia de pão ou um copo de água se transformavam em ouro, impossível de ser ingerido. Ele percebeu que o seu desejo desenfreado, a ambição material, significaria a sua destruição. Essa história mitológica é uma alegoria à ganância que, como um ídolo, pode decretar a morte física e espiritual; assim como temos o "dom" de estragar o que tocamos, exatamente por causa do pecado. Alguns dirão que é exagero, que minha afirmativa está mais para o maniqueísmo do século III. Na verdade, a Bíblia diz que todos os homens pecaram e destituídos estão da glória de Deus. Não há quem faça o bem, não há nem um só. Não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há temor de Deus diante de seus olhos [Rm 3.23, 10-18]. Porém o Senhor nos deixou o padrão correto de como fazer as coisas, inclusive, o sexo. 
       Durante séculos, acreditou-se em dois extremos: de um lado os gnósticos que viam o corpo como um vaso imundo para o espírito. De tal forma que o espírito somente estaria liberto, definitivamente, com a morte do corpo. O ascetismo e o celibato eram as melhores formas de se garantir alguma pureza, ainda que parcial. Em linhas gerais, o desejo sexual deveria ser sublimado ou abolido para que a luz derrotasse as trevas. Do outro lado, havia a depravação total; onde tudo era permitido, desde as bizarrices ou excentricidades até as aberrações mais perversas e degradantes. Para esse grupo, nada era pecado, nem proibido, ao ponto em que luz e trevas se misturavam sem que uma pudesse sobreviver sem a outra. Como antíteses de uma mesma tese.
      Se de um lado havia uma tentativa de se "parecer" com Deus, ao menos de se aproximar de sua santidade; do outro lado, havia o desejo de se afastar completamente dele, uma forma, ainda que não intencional, de não se parecer com Deus ou o que ele representasse. A questão é que, no primeiro caso, buscava-se alcançá-lo pelo esforço humano, pelo conhecimento, pela busca da pureza, alheia aos ensinos bíblicos, ainda que pudessem crer serem neles firmados. Ainda que toda a "pureza" se baseasse em uma disciplina alimentar rígida e na abstinência sexual, não procedia de Deus, mas era outra invenção humana, um placebo que não resultaria em nenhum efeito positivo, pelo contrário, manteria o homem ainda mais distante de Deus. Entendo como sendo uma forma que encontraram para se  diferenciarem dos pagãos, dados às orgias e bacanais, por isso a necessidade de rejeitarem o sexo como algo sujo e destituído de qualquer valor que pudesse aproximar o homem de Deus. 
       As duas formas continuam a existir ainda hoje com novos rótulos, e em múltiplas versões, ainda mais radicalmente estapafúrdias. O que já era ruim, piorou ainda mais. Não vou entrar em seus detalhes, a esmiuçá-los e apontando-lhes as fragilidades, mas o certo é que erram exatamente por não reconhecer o propósito eterno que Deus sempre teve para o sexo. Se temos de glorificar a Deus em tudo, seja no comer, no beber, ou fazendo qualquer outra coisa [1Co 10.31] também devemos fazê-lo no sexo.
        O problema reside na questão: a nossa sexualidade glorifica a Deus? Ou estamos buscando uma autonomia, em nós mesmos, pela liberdade de pecar? E, por fim, sermos definitivamente presos pelo pecado?
      O fato é que o sexo foi alçado a um grau de importância tão grande, tornando-se em superlativo, que muitos ergueram um altar para adorá-lo; de forma que ao invés do sexo ser normatizado e adequado ao padrão divino pelo qual o comportamento humano na sociedade seria disciplinado, passou a ser o formador do padrão pelo qual o homem viverá socialmente, no subterrâneo da imoralidade. Ao ponto em que tudo é válido, menos restringi-lo. Em outras palavras, seria uma proposta avessa ao ascetismo gnóstico, quase a gritar em nossos ouvidos: o homem não tem alma, logo, não há Deus! Então, comamos e bebamos, pois amanhã morreremos [1Co 15.32]. O sexo tornou-se um meio pelo qual o homem tenta se livrar de Deus.
      Mas como sabemos, isso é impossível; ninguém está livre de Deus, mesmo aquele que não o reconhece; mesmo o que o nega.
     Concluíndo: o sexo, fora dos princípios bíblicos e dos padrões estabelecidos pelo Criador, nada mais é do que a busca pelo mais-que-imperfeito.
INSCREVA-SE E PARTICIPE!