Jorge Fernandes Isah
Interessante que Paulo especifica este dom logo após o dom de profecia, por que? Haverá alguma ligação entre eles? Bem, nada na Escritura é encontrado por acaso, ou sem um propósito objetivo. Mas, primeiro, definamos o significado de discernir que, segundo o dicionário Priberan, quer dizer: 1. Distinguir. 2.Estabelecer conveniente diferença (entre coisas ou pessoas). 3.Discriminar. 4.Conhecer. 5.Julgar. 6.Apreciar. 7.Medir. 8.Avaliar bem. Em todas elas, o pensamento comum é de emitir um julgamento, uma avaliação. Portanto, discernir os espíritos é julgar se determinada doutrina ou ensinamento provém realmente de Deus ou não. Se atentarmos para o significado de profecia, definido pelo apóstolo, como o dom de falar aos homens para edificação, exortação e consolação [1 Co 14.3], terem a necessidade de alguém discernir se aquele ensinamento ou doutrina provém de Deus ou não. Se é útil para a igreja ou se tem o objetivo de torná-la inútil. É de fundamental importância saber que muito do que tem sido proclamado e defendido nas igrejas atualmente tem-na tornado inútil na guerra contra as hostes diabólicas, exatamente por aqueles que as negam, e, negando-as, negam a eficácia da própria igreja, a qual Cristo disse que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela [Mt 16.18].
Por isso, naquela época em que a revelação ainda não estava
completa, havia a urgência de homens, escolhidos por Deus, serem os
juízes na igreja, aqueles que identificariam se a profecia proclamada
era de origem divina ou não. E, então, fica evidente o porquê Paulo
relacionou o dom de discernimento logo após o de profecia, ao meu ver.
Já que estão intrinsecamente relacionados, de forma que, sem o segundo
torna-se impossível saber a validade do primeiro, naquele tempo em que o
cânon ainda não estava concluído. É o que ele diz, um pouco mais à
frente, em sua carta: "E falem dois ou três profetas, e os outros
julguem" [1Co 14.29]. Os outros referem-se a todos os membros da igreja,
mas especificamente àqueles que tinham o dom de discernir, e que
confirmaram se aquela mensagem de ensino ou consolo provinha
verdadeiramente de Deus. Mostrando, mais uma vez, que, mesmo na igreja,
se levantaram falsos profetas e espíritos enganadores com o objetivo de
confundir e dispersar o rebanho do Senhor At 20:29-31].
Mas, e hoje? Há necessidade deste dom? Penso que não. Temos a doutrina firmada e estabelecida na igreja, de maneira que é ela que discerne o falso do verdadeiro ensinamento, se o que foi dito está em acordo com a palavra de Deus ou não, se o objetivo é a glória de Deus ou satisfazer a vontade do destruidor. A Bíblia é a regra de fé e, como tal, tem a autoridade investida pelo próprio Deus como a sua palavra fiel para elucidar e distinguir e julgar tudo o que acontece na igreja. E esse é o papel que cabe a todos os crentes, de serem capazes de discernir o que está em conformidade com a revelação especial, a Bíblia Sagrada, firmando-se na palavra e evitando-se o engano.
Mas, e hoje? Há necessidade deste dom? Penso que não. Temos a doutrina firmada e estabelecida na igreja, de maneira que é ela que discerne o falso do verdadeiro ensinamento, se o que foi dito está em acordo com a palavra de Deus ou não, se o objetivo é a glória de Deus ou satisfazer a vontade do destruidor. A Bíblia é a regra de fé e, como tal, tem a autoridade investida pelo próprio Deus como a sua palavra fiel para elucidar e distinguir e julgar tudo o que acontece na igreja. E esse é o papel que cabe a todos os crentes, de serem capazes de discernir o que está em conformidade com a revelação especial, a Bíblia Sagrada, firmando-se na palavra e evitando-se o engano.
Hoje,
parece que o dom de discernir está mais ligado ao fato de se saber o
nome, identidade e as características de demônios [e o falar com
demônios é algo despropositado e sem sentido, pois nem Cristo e os
apóstolos se preocuparam com isso, mas em livrar o endemoniado da
dominação maligna] do que a preocupação em se saber se o corpo de
doutrinas e ensinamentos está em concordância com a Bíblia. De certa
forma, ele vem mais para confundir e distrair, tirando o foco da verdade
e desviando para a mentira. Assim como muitos buscam
satisfazer seus desejos de entretenimento, mesmo que sejam assustando-se
vendo um filme de terror, ou dando vazão ao lado ignóbil ao assistir
exibições onde os valores morais e nobres são desprezados [que podem
ser resumidos na aversão à santidade cristã], outros se expõem à loucura
do "teatro de exibir demônios", em que algumas igrejas andam se
especializando: no atrativo da fé sem fé e sem propósito.
Há um exemplo marcante na Bíblia de como tratar essas
manifestações, e é o que aconteceu no trecho citado na última aula em
Atos 16, verso 16 em diante. Paulo e Silas estavam em Trôade, e
saiu-lhes ao encontro "uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a
qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores" [v. 16]. Alguns
pensam que essa jovem tinha apenas "distúrbios" psíquicos, que a faziam
acreditar no seu poder sobrenatural. Em outras palavras, querem
garantir que não havia nenhuma possessão ou influência maligna, mas
apenas uma doença física, que a fazia proferir doidices. Mas temos que,
para dar lucro aos seus senhores, era necessário, em algum momento, que
ela acertasse algumas das suas adivinhações. Senão, que credibilidade
ela teria para continuar suas previsões e gerar renda para seus
senhores? Logo, a hipótese de disfunção mental não procede, pois a
Escritura não deixa dúvidas quanto ao que fazia aquela jovem prever o
futuro.
Por dias, ela os seguiu, dizendo: "Este homens, que nos anunciam o
caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo" [v.17]. Em princípio,
não havia nada de errado no que ela falava. Ela não dizia nenhuma
mentira, nem os caluniava, nem os acusava de falsidade, injustiça ou
engano; pelo contrário, afirmava a verdade de que eram servos de Deus, e
que anunciavam a salvação. Fato semelhante aconteceu com o Senhor Jesus
diante de um espírito imundo que dominava um homem enquanto ele
ensinava na sinagoga em Cafarnaum, que disse-lhe:"Ah! que temos contigo,
Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus"
[Mc 1.24]. Cristo, então, ordenou que se calasse e expulsou o espírito
do homem. Uma outra vez, um gardareno que era dominado por uma legião de
demônios,clamou: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?
Conjuro-te por Deus que não me atormentes" [Mc 5.7]. Em ambos os casos,
parece que os espíritos imundos tentavam dissuadir o Senhor a não
expulsá-los, deixando-os em "paz" em seu trabalho de tormento das vidas
humanas. Ao afirmarem uma verdade, esperavam que Cristo se condoesse
deles, e permitisse que continuassem a assolar as vidas que controlavam.
No caso dos apóstolos é interessante notar que eles permitiram que a jovem os seguissem por muitos dias, o que nos deixa encucados. Paulo poderia, simplesmente, tê-la afastado desde o primeiro momento, ao invés de deixá-la segui-los. Qual seria o seu intento? O momento exato de libertá-la? De testemunhar o poder de Deus? Ou, simplesmente, ele queria que, no tempo exato, todos soubessem que eles não tinham parte com ela, e de que mesmo dizendo a verdade, a sua motivação não era verdadeira pois provinha do inimigo. Certamente, como nos casos em que os espíritos testificaram a filiação divina de Cristo, o espírito adivinhador queria uma "trégua" ou "a paz" com os apóstolos, de maneira que continuasse a sua dominação na vida da serva. Não sabemos ao certo o porquê de Paulo e Silas permitiram que elas os seguissem, mas o fato é que, no decorrer dos dias, Paulo ficou perturbado. A ideia é de que o seu espírito mudou, saindo da serenidade para a agitação. E tão logo isso aconteceu, ele voltou-se para a jovem e disse ao o espírito: "Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. e na mesma hora saiu" [v. 18]. Temos aqui a certeza de que Paulo não estava falando apenas com uma mulher que tinha um distúrbio mental, mas expulsa a um demônio. Não há meio termo ou alegorias na passagem, mas uma ação direta. E o apóstolo não gastou tempo conversando com o espírito, ridicularizando-o ou exibindo-o como um troféu. Fez o que tinha de fazer, objetivamente, para o bem da jovem, e para o bem do evangelho, confirmando a autoridade pela qual foi investido por Deus como mensageiro das boas-novas. Mesmo que a jovem estivesse proclamando uma verdade, o espírito que nela habitava tencionava obter frutos para o seu senhor, mas Paulo teve o discernimento exato de que aquilo não podia continuar, e de que toda aquela encenação demoníaca deveria acabar, como acabou.
Porque de nada serviria à igreja e ao
ministério apostólico ter parte nas manifestações do diabo e seus anjos,
a não ser revelar que o fim deles será também o fim daqueles que os
ouvem e seguem.
Notas: 1 - Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
2- Baixe os áudios das aulas em Aula 83 - Dons X.MP3
em Aula 84 - Dons XI.MP3
e em Aula 85 - dons xii.mp3
em Aula 84 - Dons XI.MP3
e em Aula 85 - dons xii.mp3