Os olhos decaídos
Não viam os passos em titubeio,
Nem o asfalto lacerado como pano velho,
Não ouviam o solado raspar-lhe os farelos,
Nem sentia o piso duro deformá-los;
A lágrima descuidada regou o solo,
Fez-lhe subir a poeira,
Enquanto o Sol rubro tingia o cinza-azulado do céu,
Não lhe senti o cheiro,
Nem pude tocá-lo,
Quase corri pelo gramado seco,
Entre as fístulas do passeio.
Olhei para todos eles,
E vi o quão longínquo estava,
Mesmo ali,
Não havia como alcançá-los,
Nem o choro,
Nem o grito,
Nem a dor,
Nem o silêncio,
Nem as vistas arqueadas,
Nem o aperto de mão ou o abraço desengonçado,
Nada.
As promessas esvaíram-se efêmeras,
E mesmo o vôo dos pardais,
O cair de folhas das palmeiras,
Intransigiam o momento.
Vi-me ao vê-los,
Parentes, amigos, colegas, ignotos,
Cravados na presunção,
De que para conhecê-Lo,
Posso ser o que quiser,
Aproximar-me de qualquer jeito,
E fazê-lo a mim mesmo,
Imperfeito,
Complacente,
Dissoluto.
No fim, tudo dará certo,
Ele me perdoará por tentar,
Por não conseguir, ainda que creia tê-lo,
Pela fé que não ultrapassa um ideal,
E desfaz-se na ardente aspiração extinta.
Ele pode se alegrar comigo,
Ele pode rir-se de mim,
Consentir em meus pecados,
Fazer a cara de bom velhinho,
Um noel irreal,
Que troca cartas por bolas de plástico,
Ele pode até se parecer comigo,
Mas esse não é Ele;
Apenas outra corrupção da mente caída,
Como tantas em que me agarro,
Uma corda imaginária,
Que me precipita.
A aflição me toma,
Um a um lançar-se no abismo,
A geena a sugá-los como redemoinho de chamas,
Até que o Altíssimo o estanque.
Ele é quem me eleva,
Iça-me do precipício eterno,
Não há como enganá-Lo,
Nem adorá-Lo,
Se vejo-me no espelho inteiro,
Desfigurado,
Se Cristo não se formar,
Os dentes rangerão no fogo inextinguível...
Ver-me através do Filho,
Purificado,
Convertido à Sua imagem,
É a salvação:
De mim,
Do inimigo,
Do desprezo,
Do pecado;
Próximo Dele,
Achego-me a todos,
E o Seu amor preenche as lacunas,
A perfurar.
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