Diante do número de irmãos que têm optado em não congregar, e que não integram uma igreja local, resolvi escrever sobre o assunto, pois o considero de extrema gravidade e danoso à vida do cristão. O intuito não é o de uma critica pura e simples mas uma exortação, mostrando que a Bíblia não abre precedentes para o crente viver sem congregação, a despeito de uma “teologia moderna” que se dissemina e procura afastar o cristão do seu compromisso com Deus e a igreja (e o aproxima cada vez mais de si mesmo e do seu individualismo).
Nem tão-pouco quero fazer-me superior ou melhor do que qualquer pessoa, visto que sou um mísero pecador, resgatado e regenerado pela graça de nosso Senhor e Salvador. Portanto, espero sinceramente que o texto sirva como ajuda e reflexão, para que os irmãos assumam os seus postos no reino do bendito Senhor Jesus, conforme o chamado que Ele fez (e faz) a cada um.
A) PRINCIPAIS ARGUMENTOS DOS “SEM IGREJA”:
a) A igreja apostatou; portanto, estou desobrigado de pertencer a ela.
b) Já que sou salvo, para quê igreja?
c) Você não conhece a minha vida, ela é difícil demais! E as circunstâncias me impedem de congregar.
d) Respeito a sua opinião, mas não vejo a igreja como imprescindível na vida do crente, afinal, os tempos são outros...
B) REFUTAÇÃO AOS ARGUMENTOS DOS “SEM IGREJA”:
(As respostas não seguem a mesma ordem das questões, e muitas vezes, se intercambiam):
1 - Começando pelo fim, pouco importa a minha opinião ou a de qualquer crente, seja quem for, se ela não estiver embasada nas Escrituras. O importante é o que Deus quer e nos manda fazer. E a Sua vontade está claramente expressa na Bíblia de tal forma que somente em desobediência nos recusamos a cumpri-la; ou por negligência, quando deixamos de buscá-la diariamente. Se não refletimos a vontade de Deus, como testemunhas da transformação que Ele operou em nós, por melhor intenção que haja, estaremos errados e fadados ao engano e tropeço. E a minha opinião será sempre irrelevante diante da vontade soberana, santa e justa do nosso bom Deus.
2 - O Senhor Jesus Cristo morreu por Sua Igreja, a qual resgatou com o seu próprio sangue, exclusivamente para livrá-la deste mundo (Atos 20.28; Ef. 5.25). Portanto, não podemos minimizar a sua importância e achar que por causa da apostasia quase absoluta entre as denominações, o Senhor “abandonou” e se esqueceu do seu povo. Cristo morreu na cruz do Calvário pela Sua igreja, que é o corpo do qual Ele é a Cabeça (Col. 1.18); para que, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo e cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, o homem perfeito, e não segundo a vaidade da nossa mente (Ef. 4.13-17).
Crente “Big Brother” que somente se interessa com o que se passa na própria “casa”, preocupado exclusivamente com seus afazeres diários, subsistência e disputas pessoais, e em ganhar o "jogo", no mínimo, está equivocado quanto ao seu chamado, se é que entende o que venha a ser o chamado de Deus. Ouçamos a sentença do Senhor em Mt 16.25: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á”.
Valorizar os problemas, eximindo-nos da nossa responsabilidade e dever, e esquivando-nos de cumprir a nossa obrigação como cristãos, é escamotear e não se comprometer com Cristo; é preocupar-se unicamente consigo mesmo em detrimento da obra de Deus e da igreja; é lançar um fardo extra nos ombros de irmãos que fazem exatamente o que eu e você desprezamos, mas não cansamos de alardear que fazemos: esses irmãos evangelizam, confortam, assistem ao próximo, e glorificam e honram ao nosso Senhor obedecendo-O (“as minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” – Jo 10.27; “E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” Lc 6.47).
Em contrapartida, “A sociedade de consumo diz: ‘Fique em casa, feche a porta, assista à televisão, tenha suas coisas e seja você mesmo do seu jeito’. Esta não é a vontade de Deus... Devemos estar em comunidade, em nossa vizinhança, na igreja, na família, em vez de viver o individualismo de nossa sociedade. Ande no Espírito. O Espírito busca reunir a igreja. Você está em sintonia com ele?... Que cada um de nós esteja comprometido com Cristo na prática, nos trabalhos de sua igreja, na perseverança para alcançar o reino de Deus, na divulgação do evangelho e na busca em servir uns aos outros em Cristo”1
3 - Deus sabe tudo; conhece cada célula do nosso corpo muito melhor do que jamais saberemos. Ele reconhece as nossas dificuldades, os nossos problemas, mas, se como disse antes, os valorizamos ou nos utilizamos deles para não fazer aquilo que Ele quer e nos ordena fazer, não agimos contrariamente ao que dizemos? Se falo que a minha vida está nas mãos de Deus, se afirmo que espero Nele, e somente Nele, mas me curvo diante das circunstâncias, elas se tornam maiores do que Deus; e não somente são obstáculo e empecilho, mas transformam-se no fio condutor que nos levará a uma vida apenas secular, guiando-nos na contramão do verdadeiro cristianismo (e a Igreja é parte dele).
Ao dizer que amo a Cristo, e Cristo me ama, e que Ele é incapaz de me sustentar e capacitar, e que sou incapaz de servi-lO, não ajo antagonicamente? Será que passaríamos por provas pelas quais Estevão, Pedro, Tiago e Paulo passaram? Ficaríamos confinados por 14 anos na prisão por recusar-nos a negar a Cristo como John Bunnyam e Richard Wurmbrand? Sacrificaríamos a vida, a família e a saúde por amor a Deus e ao próximo como o fizeram William Tyndale, John Hus, William Carey e David Brainner?
4 - Vejo muitos irmãos sofrendo, tanto na igreja como fora dela. Mas os irmãos que congregam têm o conforto da Palavra, da exortação e admoestação da pregação, a comunhão com os santos, o auxílio e consolo que Deus providenciará a cada um, pois “Deus é muito formidável na assembléia dos santos, e para ser reverenciado por todos os que o cercam” (Sl 89.7).
Por sua vez, esses irmãos confortarão igualmente outros irmãos, exortando e auxiliando naquilo que Deus os capacitou como instrumentos de bênçãos na igreja (“... para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” – 2 Co 1.4). Estando eles debaixo da autoridade e proteção de Deus e da autoridade e proteção que Deus outorgou à Igreja (Mt 18.15-20), a qual é responsável pela sustentação dos santos e pela realização da obra do Senhor na terra.
O sofrimento pode até ser o mesmo, mas Deus usará de santificação e edificação no primeiro caso, enquanto os crentes em rebeldia estarão sob a disciplina e correção do Senhor. Paulo, em Hebreus 10.25, diz: "E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia".
5 - A história mostra a Igreja do Senhor, desde os tempos apostólicos, sendo perseguida. Satanás, de todas as formas, tentou frustrar os planos de Deus (e ainda hoje ele tenta), trazendo dor, tribulação, perseguição e morte à Igreja. Contudo, movidos pelo amor de Cristo, o poder do Espírito Santo e o serviço dos santos, ela cresceu, expandiu-se, refletindo a autoridade que Deus lhe investiu. Muitos sacrificaram seus bens, reputação, a família e a própria vida. Cristãos e mais cristãos foram levados para as arenas com seus familiares, e desde o filho menor ao chefe da casa, todos foram martirizados. Qual era o objetivo dos romanos? Qual o objetivo do diabo? Que adorassem a César e rejeitassem a Cristo; e assim a igreja desapareceria, e com ela o Evangelho e a salvação do homem... O que jamais ocorrerá, visto que o próprio Senhor nos diz: "edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18).
Na idade média, a igreja romana perseguiu, torturou e martirizou milhares de crentes fiéis, que não se submetiam ao seu jugo diabólico; e igualmente esses irmãos perderam tudo, e bastaria negar a sua fé, mas preferiram a morte. Como Pedro disse diante dos seus inquisidores em Atos 5.29: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (e aqui, “aos homens”, inclui-se a obediência que devotamos a nós mesmos. Pois temos o amargo gosto de satisfazer as nossas vontades julgando-as como de Deus, quando são apenas apelos carnais. Que cada um de nós ore ao Senhor, e um dia possamos dizer como Paulo em Gl 6.4: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”).
Hoje, não sofremos qualquer ameaça, pelo menos no Brasil e por enquanto. Podemos nos reunir livremente em qualquer lugar, a qualquer hora, sem sermos ameaçados por nada (talvez por isso, somos tão acomodados e inoperantes).
No mundo, especialmente o islâmico e comunista, crentes no Senhor são privados de conforto, de acesso a água, comida, escolas, hospitais, de assistência; são caçados, encarcerados, mortos; perdem os poucos bens que possuem, perdem o lar, os filhos, a esposa ou marido, perdem a própria vida, mas resistem a negar a Cristo (há material vasto e informações atuais no endereço http://www.portasabertas.org.br/ e também em http://www.vozmartir.org/ 2). Serão eles melhores do que nós? Ou o nosso Deus menor que o deles?
C) CONCLUSÃO:
Respeito opiniões, sejam as de qualquer um. E respeito os que julgam a igreja descartável. Contudo, creio que os crentes têm e devem espelhar-se em Cristo Jesus, o qual é o nosso exemplo, e quem nos move a agir e a decidir em prol de uma vida cristã. É Ele quem opera em nós tanto o querer como o fazer, segundo a Sua vontade (Flp 2.13), mas "que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra" (1Tes 4.4); "a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd 3). Oro para que Deus nos guie no cumprimento da Sua vontade, porque é pela igreja que a multiforme sabedoria de Deus faz-se conhecida dos principados e potestades nos céus (Ef. 3.10).
E cada um dos irmãos que não congrega atualmente, ore a Deus para que Ele lhes dê uma igreja local onde possam servir, honrar e glorificar o Seu santo nome...
E que venham a amá-la como Cristo ama.
1 - Cristãos em uma Sociedade de Consumo - John Benton - Ed. Cultura Cristã - pg. 103/123
2 - O site Voz dos Martíres mudou de provedor, portanto, estará "fora do ar" temporariamente, voltando em Maio/08 à normalidade.