terça-feira, 29 de abril de 2008

AINDA ASSIM

Por Jorge Fernandes

Tudo me deres,
E, ainda assim, orgulho-me de tê-las aceito,
Como se possível fosse tomá-las,
E pelo vigor, o céu se tornar azul,
Ramos a brotar da terra,
Enquanto suo gotas douradas de paladino.


Tudo me dás,
Mas no intelecto descanso,
Um sono atormentado e lívido,
Onde posso todas as coisas,
E, ainda assim, vejo-me cair em trevas,
Nem ao menos tocar o fundo,
Sem saber o que me esperas.


Tudo me darás,
E, ainda assim, ponho-me em insatisfação plena,
Onde o gozo difuso,
Me possui no segundo,
Para depois arder em prurido;
Análogo ao doador,
Julgo sê-lo,
Quando na verdade, não é o meu sangue,
Mas o Dele a verter em mim.


Risos, gargalhei,
Lágrimas, chorei,
Por mim,
De mim,
Estendi minha debilidade,
Como um cueiro a agasalhar-me o corpo,
Na elevada auto-estima,
Resisti-me nu,
Ao frio a vergalhar-me a carne,
Qual caça nas garras do predador.


Ainda assim, eu não O via
Suster-me em suas mãos,
A Palavra a gerar vida,
Nutriu-me a alma,
Os olhos fitos à Luz.


Não sou mais eu,
Nem o fui,
Mesmo como tresvario,
Anseio a morte,
E nem o mais sofístico kamikaze conceberia,
Que ao invés do logro,
Surge a verdade:
Ele vive em mim.


Se deu a Seu tempo,
Eternamente.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

VELOZES...




















Por Jorge Fernandes


“Mas se alguém agir premeditadamente contra o seu próximo, matando-o à traição, tirá-lo-ás do meu altar, para que morra. O que ferir a seu pai, ou a sua mãe, certamente será morto. E quem raptar um homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será morto” Êxodo 21.14-16


No relativismo moral em que vivemos, o homem é caça, e refém da sua fraqueza e transigência. O homem ao julgar-se evoluir, apenas revela-se ainda mais débil do que já foi um dia. Estamos rodeados por governos fracos e inoperantes, famílias frágeis e desagregadas, vizinhança fugidia no individualismo medroso de sua própria omissão. O homem é um par de pernas ágeis, ainda que trôpegas, corredias ao esconderijo da covardia. E o troféu ganho pode ser a morte imediata, ou a impunidade, seguida de morte. Entre bandidos e mocinhos, ninguém se salva. Todos são culpados: os que matam, e os que se deixam morrer. Não há inocente, ainda que todos sejam vítimas. Todos são criminosos, mesmo que somente uma minoria seja condenada. A sociedade agoniza, como um doente terminal... Já se ouvem os últimos suspiros... mesmo que a esperança venha em minúsculas cápsulas de açúcar... Fatalismo? Realidade? Delírio?
Olhe ao redor. Abra os olhos, as narinas, os ouvidos. Veja. Cheire. Ouça. Ainda que Deus tenha criado um mundo maravilhoso, ordenado, funcional e aprazível, os resultados da “obra humana” encontram-se espalhados como vermes no monturo: feiúra, caos, desconforto. A Queda do homem proporcionou o colapso do mundo. O pecado foi e é o propulsor para o que vemos e não suportamos ver, para o que cheiramos e não suportamos cheirar, para o que ouvimos e não suportamos escutar, para o que não tocamos e suportamos não tocar. A humanidade decaí, minuto a minuto, morinbunda, sujeitando-se à sua inevitável impiedade.
Os jornais estampam a nossa vergonha. Publicam a nossa sordidez. Dissecam a nossa pobridão. Os corpos há muito estão despojados. A alma, cativa. Prazerosos, entregues ao algoz, pelejamos pela morte, como se viver fosse martírio.
Pais descuidados, filhos rebeldes, mestres inescrupulosos, alunos indolentes, maridos e esposas infíeis, sexo leviano, contratos inexequíveis, governos polutos... a refletir o que há de mais marcante na natureza humana: o ódio a Deus.
Não se engane. A idéia que você tem de Deus pode ser qualquer coisa, menos Ele. O que foi-lhe dito, pode trazer-lhe algum alívio, temporário e fracionado, pode trazer-lhe até mesmo uma espécie de conforto, mas ao confrontar-se com a verdade divina, descrita e pormenorizada na Bíblia, o que você sente? Desdém? Ira? Aversão? Abandona-a completamente? Ou como num self-service, colhe apenas e tão somente aquilo que não fere a sua consciência? Será possível agradá-lO sem obedecê-lO? E honrá-lO sem segui-lO? E glorificá-lO sem nos negar?
“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me” (Mt 16.24).
A maioria das pessoas, ao ler este versículo, vê-o como um alívio para os seus problemas. Já ouvi muitas interpretações, e quase todas nos dizem para levar a nossa cruz e seguir ao Senhor, do jeito e como der. Quase todos se esquecem de que, não é possível seguir ao Senhor se não “renunciar-se a sim mesmo”. Em Mc 8.34 e Lc 9.23, lemos: “negue-se a sim mesmo”. E as palavras negar ou renunciar têm o mesmo significado. Não é uma negação simbólica, alegórica, irreal. Antes, é a recusa efetiva, é negar a nossa natureza pecaminosa, caída e depravada.
Você pode perguntar: “O que isso tem a ver com a sua exposição inicial?”. Respondo: “Tudo!”. O fato do homem encontrar-se em um beco sem saída, como o cão a caçar o próprio rabo, é que não há nem nunca haverá solução para ele e a humanidade em si mesmos. Enquanto iludirmo-nos de que podemos (mesmo que seja num futuro longinquo, fictício) consertar os erros criados por nós e nossos semelhantes; enquanto nos apegarmos a idéias utópicas de que o homem é bom, e basta um esforço para encontrar essa bondade nele, e de que é capaz de dividi-la com o próximo, a sociedade e o mundo (mesmo que não saiba onde ela está, e mesmo que defina sempre o próximo como ele próprio); enquanto continuarmos olhando para nós com autoindulgência e comiseração, e nos fazermos de pobres-coitados, de injustiçados, de vítimas oprimidas pelo sistema (seja lá o que isso representa); enquanto não olharmos para nós mesmos, não com os olhos encobertos pela dissimulação, pelo engano, mas olharmos para o que Deus nos revela sobre nós, estaremos irremediavelmente perdidos, obliterados pela cegueira.
É tempo de ver. E não de camuflar. É tempo de agir. Não como um piqueteiro inconsequente atirando pedras nos “fura-greve”. Não como alguém que vê somente o erro alheio. Como alguém que tem salvoconduto para a acusação. Deixar de olhar para a própria iniquidade, faz-nos odiosos diante de Deus. E os outros homens ver-nos-ão apenas como mais um inimigo, o qual se deve destruir (a destruição não somente física, mas psicológica, emocional, financeira...).
No tempo em que o temor a Deus está perdido, onde o homem relativiza tudo, onde ele mesmo não se julga culpado por nada, onde os outros são solidários em meus crimes apenas para que os seus também sejam absolvidos, onde “as verdades” são sofismas que nos levam à perdição, o homem precisa encarar o fato do que é: o próprio mal.
Estigmatizamos o diabo, e ele tem a sua culpa. Blasfemamos contra Deus, o que é abominável. Julgamos interiormente o próximo, ainda que não o façamos exteriormente, por vergonha de nós mesmos. Somos incapazes do auto-juízo, ainda que sejamos julgados, mais cedo ou mais tarde por Deus.
“E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27).
E o amor de Cristo, que nos constrange (2Co 5.14) é o único capaz de nos afastar de nós mesmos e da nossa natureza, e do mal que habita em nós. E de nos tornar possíveis para o próximo, para o mundo, para nós. Sem Cristo, somos incapazes de amar, da mesma forma que a areia jamais amará a pedra. Ao contrário, se O conhecemos, estamos reconciliados com Deus, e seremos cheios da Sua plenitude (Ef 3.19), e a vida se abrirá para nós, e sepultaremos, definitivamente, a morte.
“Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte” (Jo 8.51).
Quanto ao homem natural, irreconciliável, rebelde, malévolo, resta-lhe a punição, a fim de se resguardar a vida, de tão alto valor, mas tão aviltada na atualidade. E que a sociedade, como remediadora (e não mediadora), corrija o mal praticado, e não seja cúmplice dos nossos crimes.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

CUMPRA-SE!












Por Jorge Fernandes

"O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida... O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra” (1Jo 1.1;3).


O apóstolo João foi testemunha ocular das maravilhas que Cristo nosso Senhor realizou aqui na Terra. E no momento de maior sofrimento do nosso Salvador, no Calvário, quando estava expiando os pecados do Seu povo, da Sua Igreja, João também estava lá. Imaginemos a dor que o discípulo amado sentiu ao ver o Seu Senhor morrer na cruz. Ao vê-lo humilhado, padecendo, o corpo marcado por açoites, por ferimentos, o sangue escorrendo através dos cravos, através dos espinhos com os quais o “coroaram”; o Seu lado vertendo água e sangue; ouvindo as blasfêmias, os insultos e o escárnio dos judeus e romanos, os quais zombavam do Mestre.
Mas esses não foram os motivos pelos quais o Senhor mais se afligiu. É claro que como homem, Jesus Cristo sofreu na carne, na pele; lançaram-lhe em rosto a abominação de toda a maldade existente na alma humana; mas, certamente, a maior angústia pela qual o nosso Senhor passou foi a de carregar os pecados de todos aqueles que seriam remidos pelo Seu sacrifício. Jesus, o Deus-Filho eterno, sem o qual nada do que foi feito se fez (Jo 1.3), o santo, puro, imaculado e justo, levou sobre si toda a nossa iniquidade, todos os nossos pecados, carregou a nossa natureza caída; e, ali no Calvário, Ele expiou-nos, reabilitou-nos pelo Seu castigo, livrando-nos da ira de Deus, e reconciliando-nos com Ele.
Provavelmente, João ainda não entendia isso. Mas ali, diante da cruz, testemunhou o sacrifício do Santo de Deus. E testemunhou o sepulcro vazio, os lençóis no chão, e o lenço enrolado num lugar à parte; e viu, e creu (Jo 20.5-8). E em outras ocasiões, João viu, tocou, foi tocado e falou com o Senhor após a Sua morte e ressurreição (Mt 28.17-18; Mc 16.14; Jo 21.7; At 1.1-9; Ap 1.17-19).
Por isso, ele nos escreve, anunciando que o seu testemunho é para a nossa comunhão com os santos e com Deus; para que o nosso gozo se cumpra (aqui, "o nosso gozo" é tanto o do apóstolo João, como o meu, o seu, como o de toda a Igreja, mas também é o de Deus).
É fantástica a forma como o Senhor cuida de nós, como Ele se preocupa com os mínimos, e muitas vezes, desapercebidos detalhes. Deus reservou para o Seu povo, para as Suas ovelhas, o gozo, o prazer de usufruirmos da comunhão consigo mesmo. Ele poderia nos reservar apenas a salvação (o que já é indescritível, visto o tamanho e a intensidade de nossos pecados e iniquidades), fazer-nos escravos e sujeitos unicamente à Sua autoridade e Senhorio. Mas Deus nos ama, e quer que tenhamos gozo, que desfrutemos Dele e de toda a Sua glória.
Em João 17.13, Jesus diz: “Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos”. Deus quer que tenhamos em nós, completamente, a Sua alegria. E o que é essa alegria? Em Atos 13.52, Lucas nos diz: “E os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo”. Paulo complementa em Rm 14.17: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”.
Vemos então, que a alegria a qual o Senhor Jesus se refere é a alegria do Espírito Santo. É Ele que nos revela a nossa iniquidade (o que nos enche de profunda tristeza - Ef 4.30; 2Co 7.10), mas Ele mesmo nos consola mostrando-nos o perdão em Cristo (1Jo 1.9); abrindo-nos os olhos para as maravilhas que Deus tem guardado para aqueles que não são negligentes, mas são imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas divinas (Hb 6.12).
Cristo, o justo, morreu por nós, os injustos, para levar-nos a Deus (1Pe 3.18); e na comunhão que temos com Ele, em obediência, é que se encontra a totalidade do nosso prazer; e é assim que deve e deveria ser.
Em Jo 15.9-11, Cristo diz: “Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo”.
O gozo ao qual o Senhor fala não é uma mera manifestação de sentimentos. Não é um fluxo momentâneo ou um estímulo fugaz, nem mesmo um arrepio ou uma sensação de súbito frescor. O gozo ao qual as Escrituras se referem é um gozo perene, longevo; em nós implantado diariamente pelo Espírito Santo, e que, muitas vezes, se manifestará nas dificuldades e reveses da vida; porque não nos gloriamos apenas na esperança da glória de Deus, mas nos gloriamos igualmente nas tribulações (Rm 5.2-5). Portanto, se o nosso gozo fosse apenas reservado aos momentos de alegria, não seria completo. É isso que o Senhor diz. Que a alegria independe do instante, podendo manifestar-se ao ganharmos um presente, como ao sermos perseguidos. Se ocorre apenas em uma das situações, o gozo está incompleto, e não provém de Deus. Devemos entender que Deus nos abençoa de múltiplas formas, tanto na alegria como na dor; e é no sofrimento que, muitas vezes, vislumbramos a face do nosso misericordioso Senhor.
A fonte para que o gozo se realize totalmente em nós é a obediência a Deus. O Senhor Jesus guardou os mandamentos do Pai e teve gozo. E o Senhor nos ordena a guardar os Seus mandamentos para que também tenhamos gozo, e que ele seja completo. O princípio é o da obediência, de não apenas ouvirmos, mas de praticarmos aquilo que o nosso Mestre supremo nos ordenou.
Guardar os Seus mandamentos é reter a Palavra da Vida, o próprio Cristo, em nós; a fim de nos mantermos Nele e Ele em nós, e permaneceremos no Seu amor. Jesus usa o exemplo da videira, onde Ele é a videira verdadeira (a única, não havendo outra; sendo as demais falsificadas), o Pai é o lavrador e nós somos os ramos. E de que o Pai é glorificado quando nós, os ramos, damos muito fruto; e assim, seremos recebidos como discípulos do Seu Amado Filho (Jo 15.1-8).
O gozo, portanto, é o sacrifício de Cristo na cruz; a alegria da salvação; é desfrutar do Seu perdão e do Seu imenso amor; é viver cheios do Espírito Santo; é obedecermos os Seus mandamentos; é glorificá-lO tanto na alegria como nas tribulações; é darmos frutos para a Sua glória, testemunhando as maravilhas que Ele fez em nós. E conforme o apóstolo João disse: isso anunciamos para que tenham, também, comunhão com os santos.
Somente assim, Cristo será gerado e permanecerá em nós, “para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós... para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja” (Jo 17.21;26); e o nosso gozo se cumpra.

sábado, 5 de abril de 2008

OVELHAS DESGARRADAS

Por Jorge Fernandes

Diante do número de irmãos que têm optado em não congregar, e que não integram uma igreja local, resolvi escrever sobre o assunto, pois o considero de extrema gravidade e danoso à vida do cristão. O intuito não é o de uma critica pura e simples mas uma exortação, mostrando que a Bíblia não abre precedentes para o crente viver sem congregação, a despeito de uma “teologia moderna” que se dissemina e procura afastar o cristão do seu compromisso com Deus e a igreja (e o aproxima cada vez mais de si mesmo e do seu individualismo).
Nem tão-pouco quero fazer-me superior ou melhor do que qualquer pessoa, visto que sou um mísero pecador, resgatado e regenerado pela graça de nosso Senhor e Salvador. Portanto, espero sinceramente que o texto sirva como ajuda e reflexão, para que os irmãos assumam os seus postos no reino do bendito Senhor Jesus, conforme o chamado que Ele fez (e faz) a cada um.

A) PRINCIPAIS ARGUMENTOS DOS “SEM IGREJA”:

a) A igreja apostatou; portanto, estou desobrigado de pertencer a ela.
b) Já que sou salvo, para quê igreja?
c) Você não conhece a minha vida, ela é difícil demais! E as circunstâncias me impedem de congregar.
d) Respeito a sua opinião, mas não vejo a igreja como imprescindível na vida do crente, afinal, os tempos são outros...

B) REFUTAÇÃO AOS ARGUMENTOS DOS “SEM IGREJA”:

(As respostas não seguem a mesma ordem das questões, e muitas vezes, se intercambiam):
1 - Começando pelo fim, pouco importa a minha opinião ou a de qualquer crente, seja quem for, se ela não estiver embasada nas Escrituras. O importante é o que Deus quer e nos manda fazer. E a Sua vontade está claramente expressa na Bíblia de tal forma que somente em desobediência nos recusamos a cumpri-la; ou por negligência, quando deixamos de buscá-la diariamente. Se não refletimos a vontade de Deus, como testemunhas da transformação que Ele operou em nós, por melhor intenção que haja, estaremos errados e fadados ao engano e tropeço. E a minha opinião será sempre irrelevante diante da vontade soberana, santa e justa do nosso bom Deus.
2 - O Senhor Jesus Cristo morreu por Sua Igreja, a qual resgatou com o seu próprio sangue, exclusivamente para livrá-la deste mundo (Atos 20.28; Ef. 5.25). Portanto, não podemos minimizar a sua importância e achar que por causa da apostasia quase absoluta entre as denominações, o Senhor “abandonou” e se esqueceu do seu povo. Cristo morreu na cruz do Calvário pela Sua igreja, que é o corpo do qual Ele é a Cabeça (Col. 1.18); para que, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo e cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, o homem perfeito, e não segundo a vaidade da nossa mente (Ef. 4.13-17).
Crente “Big Brother” que somente se interessa com o que se passa na própria “casa”, preocupado exclusivamente com seus afazeres diários, subsistência e disputas pessoais, e em ganhar o "jogo", no mínimo, está equivocado quanto ao seu chamado, se é que entende o que venha a ser o chamado de Deus. Ouçamos a sentença do Senhor em Mt 16.25: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á”.
Valorizar os problemas, eximindo-nos da nossa responsabilidade e dever, e esquivando-nos de cumprir a nossa obrigação como cristãos, é escamotear e não se comprometer com Cristo; é preocupar-se unicamente consigo mesmo em detrimento da obra de Deus e da igreja; é lançar um fardo extra nos ombros de irmãos que fazem exatamente o que eu e você desprezamos, mas não cansamos de alardear que fazemos: esses irmãos evangelizam, confortam, assistem ao próximo, e glorificam e honram ao nosso Senhor obedecendo-O (“as minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” – Jo 10.27; “E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” Lc 6.47).
Em contrapartida, “A sociedade de consumo diz: ‘Fique em casa, feche a porta, assista à televisão, tenha suas coisas e seja você mesmo do seu jeito’. Esta não é a vontade de Deus... Devemos estar em comunidade, em nossa vizinhança, na igreja, na família, em vez de viver o individualismo de nossa sociedade. Ande no Espírito. O Espírito busca reunir a igreja. Você está em sintonia com ele?... Que cada um de nós esteja comprometido com Cristo na prática, nos trabalhos de sua igreja, na perseverança para alcançar o reino de Deus, na divulgação do evangelho e na busca em servir uns aos outros em Cristo”1
3 - Deus sabe tudo; conhece cada célula do nosso corpo muito melhor do que jamais saberemos. Ele reconhece as nossas dificuldades, os nossos problemas, mas, se como disse antes, os valorizamos ou nos utilizamos deles para não fazer aquilo que Ele quer e nos ordena fazer, não agimos contrariamente ao que dizemos? Se falo que a minha vida está nas mãos de Deus, se afirmo que espero Nele, e somente Nele, mas me curvo diante das circunstâncias, elas se tornam maiores do que Deus; e não somente são obstáculo e empecilho, mas transformam-se no fio condutor que nos levará a uma vida apenas secular, guiando-nos na contramão do verdadeiro cristianismo (e a Igreja é parte dele).
Ao dizer que amo a Cristo, e Cristo me ama, e que Ele é incapaz de me sustentar e capacitar, e que sou incapaz de servi-lO, não ajo antagonicamente? Será que passaríamos por provas pelas quais Estevão, Pedro, Tiago e Paulo passaram? Ficaríamos confinados por 14 anos na prisão por recusar-nos a negar a Cristo como John Bunnyam e Richard Wurmbrand? Sacrificaríamos a vida, a família e a saúde por amor a Deus e ao próximo como o fizeram William Tyndale, John Hus, William Carey e David Brainner?
4 - Vejo muitos irmãos sofrendo, tanto na igreja como fora dela. Mas os irmãos que congregam têm o conforto da Palavra, da exortação e admoestação da pregação, a comunhão com os santos, o auxílio e consolo que Deus providenciará a cada um, pois Deus é muito formidável na assembléia dos santos, e para ser reverenciado por todos os que o cercam” (Sl 89.7).
Por sua vez, esses irmãos confortarão igualmente outros irmãos, exortando e auxiliando naquilo que Deus os capacitou como instrumentos de bênçãos na igreja (“... para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” – 2 Co 1.4). Estando eles debaixo da autoridade e proteção de Deus e da autoridade e proteção que Deus outorgou à Igreja (Mt 18.15-20), a qual é responsável pela sustentação dos santos e pela realização da obra do Senhor na terra.
O sofrimento pode até ser o mesmo, mas Deus usará de santificação e edificação no primeiro caso, enquanto os crentes em rebeldia estarão sob a disciplina e correção do Senhor. Paulo, em Hebreus 10.25, diz: "E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia".
5 - A história mostra a Igreja do Senhor, desde os tempos apostólicos, sendo perseguida. Satanás, de todas as formas, tentou frustrar os planos de Deus (e ainda hoje ele tenta), trazendo dor, tribulação, perseguição e morte à Igreja. Contudo, movidos pelo amor de Cristo, o poder do Espírito Santo e o serviço dos santos, ela cresceu, expandiu-se, refletindo a autoridade que Deus lhe investiu. Muitos sacrificaram seus bens, reputação, a família e a própria vida. Cristãos e mais cristãos foram levados para as arenas com seus familiares, e desde o filho menor ao chefe da casa, todos foram martirizados. Qual era o objetivo dos romanos? Qual o objetivo do diabo? Que adorassem a César e rejeitassem a Cristo; e assim a igreja desapareceria, e com ela o Evangelho e a salvação do homem... O que jamais ocorrerá, visto que o próprio Senhor nos diz: "edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18).
Na idade média, a igreja romana perseguiu, torturou e martirizou milhares de crentes fiéis, que não se submetiam ao seu jugo diabólico; e igualmente esses irmãos perderam tudo, e bastaria negar a sua fé, mas preferiram a morte. Como Pedro disse diante dos seus inquisidores em Atos 5.29: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (e aqui, “aos homens”, inclui-se a obediência que devotamos a nós mesmos. Pois temos o amargo gosto de satisfazer as nossas vontades julgando-as como de Deus, quando são apenas apelos carnais. Que cada um de nós ore ao Senhor, e um dia possamos dizer como Paulo em Gl 6.4: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”).
Hoje, não sofremos qualquer ameaça, pelo menos no Brasil e por enquanto. Podemos nos reunir livremente em qualquer lugar, a qualquer hora, sem sermos ameaçados por nada (talvez por isso, somos tão acomodados e inoperantes).
No mundo, especialmente o islâmico e comunista, crentes no Senhor são privados de conforto, de acesso a água, comida, escolas, hospitais, de assistência; são caçados, encarcerados, mortos; perdem os poucos bens que possuem, perdem o lar, os filhos, a esposa ou marido, perdem a própria vida, mas resistem a negar a Cristo (há material vasto e informações atuais no endereço http://www.portasabertas.org.br/ e também em http://www.vozmartir.org/ 2).
Serão eles melhores do que nós? Ou o nosso Deus menor que o deles?

C) CONCLUSÃO:
Respeito opiniões, sejam as de qualquer um. E respeito os que julgam a igreja descartável. Contudo, creio que os crentes têm e devem espelhar-se em Cristo Jesus, o qual é o nosso exemplo, e quem nos move a agir e a decidir em prol de uma vida cristã. É Ele quem opera em nós tanto o querer como o fazer, segundo a Sua vontade (Flp 2.13), mas "que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra" (1Tes 4.4); "a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd 3). Oro para que Deus nos guie no cumprimento da Sua vontade, porque é pela igreja que a multiforme sabedoria de Deus faz-se conhecida dos principados e potestades nos céus (Ef. 3.10).
E cada um dos irmãos que não congrega atualmente, ore a Deus para que Ele lhes dê uma igreja local onde possam servir, honrar e glorificar o Seu santo nome...
E que venham a amá-la como Cristo ama.

1 - Cristãos em uma Sociedade de Consumo - John Benton - Ed. Cultura Cristã - pg. 103/123

2 - O site Voz dos Martíres mudou de provedor, portanto, estará "fora do ar" temporariamente, voltando em Maio/08 à normalidade.