quinta-feira, 17 de abril de 2008

CUMPRA-SE!












Por Jorge Fernandes

"O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida... O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra” (1Jo 1.1;3).


O apóstolo João foi testemunha ocular das maravilhas que Cristo nosso Senhor realizou aqui na Terra. E no momento de maior sofrimento do nosso Salvador, no Calvário, quando estava expiando os pecados do Seu povo, da Sua Igreja, João também estava lá. Imaginemos a dor que o discípulo amado sentiu ao ver o Seu Senhor morrer na cruz. Ao vê-lo humilhado, padecendo, o corpo marcado por açoites, por ferimentos, o sangue escorrendo através dos cravos, através dos espinhos com os quais o “coroaram”; o Seu lado vertendo água e sangue; ouvindo as blasfêmias, os insultos e o escárnio dos judeus e romanos, os quais zombavam do Mestre.
Mas esses não foram os motivos pelos quais o Senhor mais se afligiu. É claro que como homem, Jesus Cristo sofreu na carne, na pele; lançaram-lhe em rosto a abominação de toda a maldade existente na alma humana; mas, certamente, a maior angústia pela qual o nosso Senhor passou foi a de carregar os pecados de todos aqueles que seriam remidos pelo Seu sacrifício. Jesus, o Deus-Filho eterno, sem o qual nada do que foi feito se fez (Jo 1.3), o santo, puro, imaculado e justo, levou sobre si toda a nossa iniquidade, todos os nossos pecados, carregou a nossa natureza caída; e, ali no Calvário, Ele expiou-nos, reabilitou-nos pelo Seu castigo, livrando-nos da ira de Deus, e reconciliando-nos com Ele.
Provavelmente, João ainda não entendia isso. Mas ali, diante da cruz, testemunhou o sacrifício do Santo de Deus. E testemunhou o sepulcro vazio, os lençóis no chão, e o lenço enrolado num lugar à parte; e viu, e creu (Jo 20.5-8). E em outras ocasiões, João viu, tocou, foi tocado e falou com o Senhor após a Sua morte e ressurreição (Mt 28.17-18; Mc 16.14; Jo 21.7; At 1.1-9; Ap 1.17-19).
Por isso, ele nos escreve, anunciando que o seu testemunho é para a nossa comunhão com os santos e com Deus; para que o nosso gozo se cumpra (aqui, "o nosso gozo" é tanto o do apóstolo João, como o meu, o seu, como o de toda a Igreja, mas também é o de Deus).
É fantástica a forma como o Senhor cuida de nós, como Ele se preocupa com os mínimos, e muitas vezes, desapercebidos detalhes. Deus reservou para o Seu povo, para as Suas ovelhas, o gozo, o prazer de usufruirmos da comunhão consigo mesmo. Ele poderia nos reservar apenas a salvação (o que já é indescritível, visto o tamanho e a intensidade de nossos pecados e iniquidades), fazer-nos escravos e sujeitos unicamente à Sua autoridade e Senhorio. Mas Deus nos ama, e quer que tenhamos gozo, que desfrutemos Dele e de toda a Sua glória.
Em João 17.13, Jesus diz: “Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos”. Deus quer que tenhamos em nós, completamente, a Sua alegria. E o que é essa alegria? Em Atos 13.52, Lucas nos diz: “E os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo”. Paulo complementa em Rm 14.17: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”.
Vemos então, que a alegria a qual o Senhor Jesus se refere é a alegria do Espírito Santo. É Ele que nos revela a nossa iniquidade (o que nos enche de profunda tristeza - Ef 4.30; 2Co 7.10), mas Ele mesmo nos consola mostrando-nos o perdão em Cristo (1Jo 1.9); abrindo-nos os olhos para as maravilhas que Deus tem guardado para aqueles que não são negligentes, mas são imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas divinas (Hb 6.12).
Cristo, o justo, morreu por nós, os injustos, para levar-nos a Deus (1Pe 3.18); e na comunhão que temos com Ele, em obediência, é que se encontra a totalidade do nosso prazer; e é assim que deve e deveria ser.
Em Jo 15.9-11, Cristo diz: “Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo”.
O gozo ao qual o Senhor fala não é uma mera manifestação de sentimentos. Não é um fluxo momentâneo ou um estímulo fugaz, nem mesmo um arrepio ou uma sensação de súbito frescor. O gozo ao qual as Escrituras se referem é um gozo perene, longevo; em nós implantado diariamente pelo Espírito Santo, e que, muitas vezes, se manifestará nas dificuldades e reveses da vida; porque não nos gloriamos apenas na esperança da glória de Deus, mas nos gloriamos igualmente nas tribulações (Rm 5.2-5). Portanto, se o nosso gozo fosse apenas reservado aos momentos de alegria, não seria completo. É isso que o Senhor diz. Que a alegria independe do instante, podendo manifestar-se ao ganharmos um presente, como ao sermos perseguidos. Se ocorre apenas em uma das situações, o gozo está incompleto, e não provém de Deus. Devemos entender que Deus nos abençoa de múltiplas formas, tanto na alegria como na dor; e é no sofrimento que, muitas vezes, vislumbramos a face do nosso misericordioso Senhor.
A fonte para que o gozo se realize totalmente em nós é a obediência a Deus. O Senhor Jesus guardou os mandamentos do Pai e teve gozo. E o Senhor nos ordena a guardar os Seus mandamentos para que também tenhamos gozo, e que ele seja completo. O princípio é o da obediência, de não apenas ouvirmos, mas de praticarmos aquilo que o nosso Mestre supremo nos ordenou.
Guardar os Seus mandamentos é reter a Palavra da Vida, o próprio Cristo, em nós; a fim de nos mantermos Nele e Ele em nós, e permaneceremos no Seu amor. Jesus usa o exemplo da videira, onde Ele é a videira verdadeira (a única, não havendo outra; sendo as demais falsificadas), o Pai é o lavrador e nós somos os ramos. E de que o Pai é glorificado quando nós, os ramos, damos muito fruto; e assim, seremos recebidos como discípulos do Seu Amado Filho (Jo 15.1-8).
O gozo, portanto, é o sacrifício de Cristo na cruz; a alegria da salvação; é desfrutar do Seu perdão e do Seu imenso amor; é viver cheios do Espírito Santo; é obedecermos os Seus mandamentos; é glorificá-lO tanto na alegria como nas tribulações; é darmos frutos para a Sua glória, testemunhando as maravilhas que Ele fez em nós. E conforme o apóstolo João disse: isso anunciamos para que tenham, também, comunhão com os santos.
Somente assim, Cristo será gerado e permanecerá em nós, “para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós... para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja” (Jo 17.21;26); e o nosso gozo se cumpra.

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