sábado, 31 de janeiro de 2009

CATENA















Por Jorge Fernandes

Construir notas sinfônicas... no silêncio,
Pintar a vida à óleo... na tragédia,
Erigir torres ao céu... nas profundezas,
Tocar as nuvens... no calabouço,
Esculpir a realidade... no delírio,
Eternizar a história num flash, na escuridão dos fatos,
Imortalizar a morte, trazer à vida os defuntos,
Fazer das letras sonhos, contar os grãos de areia na ampulheta,
Traçar retas que se encontram, e linhas que se fundem.
O homem... pela arte.

Desenhar plantas nas paredes,
Colar estrelas e luas no teto,
Tatuar a pele, tingir cabelos,
Mudar as formas do corpo,
Injetar anfetaminas na mente,
Plantar a melhor planta,
Colher o melhor fruto,
Criar o sapato ideal para pés tortos,
Levar à perfeição o existente,
Quando a perfeição caiu no Éden.
E o homem morreu... por um desejo.

A bomba que destrói,
O remédio que não cura,
O desprezo que não envergonha,
O cuidado que se despreza,
A mão que molesta,
O porrete que se estende,
A mordida que dilacera,
A frieza que acomete.
É o homem morto... no desejo.

Desejo de ser deus,
De alcançar as alturas,
De voar com as aves,
Cantar com os pássaros,
Nadar contra a correnteza,
Sem esperar a morte nas cabeceiras.
O homem sem lugar... no desejo.

A angústia cria,
A dor cria,
A falta cria,
O medo cria,
A mentira cria,
E o mal se refestela... no homem morto,
No desejo do cadáver que não pode querer, nem criar.

Porque onde Deus não está, não há substituto,
Nem como substituí-lO.
O vazio não se preenche, a despeito do esforço.
Resta apenas o vácuo,
E o homem insurge-se a nada, preso à própria rebeldia.

sábado, 24 de janeiro de 2009

CARTA A UM PASTOR ABERTO AO TEÍSMO RELACIONAL














Por Jorge Fernandes

Sinceramente, não gosto da sua "teologia relacional", pois não há traços bíblicos nela mas essencialmente humanísticos, travestidos de cristianismo simplesmente pelo (pouco) hábito de citar Cristo, diferentemente da forma que cita, em profusão, os filósofos existencialistas e teólogos modernosos adeptos do marxismo/teologia da libertação (e Deus nem mesmo chega a ser uma inferência, visto que a sua base doutrinária é antropocêntrica). A sua arrogância e desprezo para com as outras "teologias", em especial à ortodoxia (e o tom pejorativo e muitas vezes jocoso com que as repele; o mesmo tom pelo qual se julga perseguido), mostra o quão distante está do amor de Cristo que diz buscar. Não há como ser igual a Cristo, excluíndo-O; não há como segui-lO sem negar a si mesmo e tomar a sua cruz; nem pregar o Seu Evangelho sem crer que é a infalível palavra de Deus.
Creio que o grande erro dos cristãos liberais (?), dos modernos e pós-modernos evangelicalismos é o desprezo pelas coisas de Deus, o desprezo pela Sua Palavra, é não aceitar a Sua imutabilidade, e crer que Ele se parece conosco, ou podemos ser como Ele. A menos que nos despojemos da nossa natureza (inclusive intelectual: "Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?" - 1Co 1.18-20), e oremos pedindo-lhE que o caráter do Seu Filho seja forjado em nós, do contrário, não estaremos de forma alguma servindo-O como é o Seu desejo. Biblicamente, é possivel Cristo viver em mim sem que a minha natureza morra? (2Co 5.17; Gl.2:20). Não. Para que Cristo viva é preciso eu estar sepultado, e então, seja ressuscitado e tornado participante da vida eterna pelo Filho de Deus.
Entristece-me ver em que estágio um pastor se encontra e pode encontrar-se, como lobo cruel a não poupar o rebanho (Atos 20.29 - e são muitos os que estão doentes, infectados pelo vírus diabólico da negação da Palavra de Deus). Não intento desmerecê-lo mas alertá-lo no amor do Senhor (sei que pareço pretensioso; mas é no amor de Jesus Cristo que lhe escrevo, ainda que não creia, ainda que não o aceite); suas aflições, inquirições e dúvidas apenas subsistem no homem natural, não em Deus ou na Sua Palavra, a qual é a ÚNICA VERDADE, bastando que se creia ("o que não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece" - Rm 9.16). O seu agir está muito próximo de uma zombaria, desrespeito e irreverência para com Ele. Se olhasse mais para o Senhor e menos para si mesmo, creio que a grande maioria (desculpe a redundância) dos seus problemas e dilemas estariam resolvidos. Quando o homem quer se fazer diferente ao buscar os "louros" para si, achando que pode tirar de Deus a glória que lhE pertence, tece uma teia na qual a presa é o próprio homem. Quando não O aceitamos como Ele é, revelado nas Escrituras, e conjecturamos sobre Sua vontade, caráter e pessoa humanisticamente, usando critérios extrabíblicos (muitas vezes blasfemos, céticos e místicos), erramos duplamente: ao não reconhecê-lO através da Sua revelação (especialmente em Cristo e Sua obra salvadora e redentora), e ao não considerá-lO o Criador soberano, reto, santo e justo que é, e que desta forma revelou-Se nas Escrituras. Então vive-se nessa roda, um círculo maligno que o levará à perdição, a criar um deus factual, tangível... um molde de gesso, capaz de se quebrar à simples pressão dos dedos.
Orei muitas vezes por você, pedindo a Deus que lhe revelasse a Sua santa vontade, que os seus olhos fossem abertos para a Verdade; contudo, cada vez mais o vejo obstinado em salvaguardar os seus interesses (ainda que mascarados, pretensamente solidários, éticos, morais e justos; mas que levam ao engano, à crença em um deus fora da Escritura, um deus revelado pela nossa natureza débil, inconstante, pecadora e maléfica), e a expô-los de forma virulenta, ainda que com disfarces líricos e poéticos; uma estampa aparentemente bonita para algo efêmero, mas ainda assim, extremamente nocivo, perigosamente letal. Pense no que diz Paulo em Romanos 1:24-25: "Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém!".
A quem sirvo? Ao Criador Eterno e Senhor da história? Ou à criatura (ao forjar um deus à imagem e semelhança do homem caído)?
Que Deus tenha misericórdia de você, e leve-o ao arrependimento.
Originalmente publicado em http://apologhetica.blogspot.com/2008/08/carta-um-pastor-aberto-ao-tesmo.html
Texto original minimanente alterado.

sábado, 17 de janeiro de 2009

MENTIRAS ABSOLUTAS









Por Jorge Fernandes

Não desenvolverei uma exposição sobre liberalismo x fundamentalismo. Há artigos e livros que praticamente esgotam a questão, e indicarei as seguintes fontes:
1) Cristianismo e Liberalismo, J. Gresham Machen; cujos comentários estão em
http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/11/cristianismo-e-liberalismo.html
2) Com Vergonha do Evangelho, John MacArthur Jr; cujos comentários estão em
http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/08/com-vergonha-do-evangelho.html
3) A Guerra Pela Verdade, John MacArthur Jr.; cujos comentários estão em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/09/guerra-pela-verdade.html
4) Os Fundamentos – R. A. Torrey (editor); cujo comentário está em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/02/os-fundamentos.html
5) Áudios do Pr. Augustus Nicodemus, disponíveis no site Monergismo em
http://www.monergismo.com/textos/sermoes_audio/augustus_sermao_origem_fundamentalismo_liberalismo.htm http://www.monergismo.com/textos/sermoes_audio/augustus_sermao_avaliacao_fundamentalismo.htm
Dito isto, quero ater-me a uma questão similar às duas vertentes, ainda que distintas na forma, porém não na essência.
O liberalismo prima pela descrença no Deus bíblico e na revelação divina das Escrituras (a descrença pode ser em maior ou menor grau, mas sempre será descrença), não encarando-os de forma literal, mas compreendendo-os à luz (ou trevas) da cultura, dos costumes e do pensamento humano.
Para o liberal, a Bíblia não é a verdade absoluta nem para a atualidade nem para os povos à época em que foi escrita; devendo ser estudada dentro do contexto cultural daquele período histórico, a fim de que a sua mensagem seja adequada e válida. Desta forma, temos de adaptá-la aos nossos dias, ao contexto atual, para que tenha relevância na modernidade.
Para o liberal, afirmações sobre Deus e o homem reveladas nas Escrituras somente serão entendidas como verdades se suscetíveis ao crivo racional, aprovadas pela experiência e comprovadas pelo empirismo.
A finalidade é alcançar a descrença total no Deus bíblico, e na revelação bíblica. Os milagres, o nascimento virginal de Cristo, a Queda e o pecado da humanidade em Adão, a expiação vicária do Senhor Jesus, a Sua ressurreição, a condenação eterna e o inferno, tomam nova forma se expostos pela mente liberal, o que se pode chamar de "mentiras absolutas". Por conseguinte, se a revelação de Deus não é a verdade absoluta, o próprio Deus também não o é. E o que se vê é um cristianismo amorfo e adulterado, criado à imagem e semelhança da mente pecaminosa do homem.
Enfim, o ponto central é: combater a idéia do pecado, e de que o homem não tem de afastar-se dele. Assim, o liberal poderá conviver tranquilamente com suas transgressões sem culpa, sem arrependimento, sem a idéia da condenação, porque o Deus justo, reto e santo não se enquadra no protótipo do deus liberal. Tudo muito bem aprovado e comprovado pelas ciências humanistas, pela alma corrompida do homem rebelde.
Então, no “cristianismo liberal” (sic) não há a autoridade de Deus nem das Escrituras, mas do homem; um produto típico da mente em seu estado natural de deterioração.
Por outro lado, o fundamentalismo assume várias formas, algumas nem tão fundamentalistas, outras extremamente legalistas, onde há uma corrupção e descrença iguais às do liberal. Explico: tanto no liberalismo como no fundamentalismo legalista o importante é o homem, não Deus. Ou seja, qualquer coisa pode ser chamada de cristianismo, mesmo que Cristo não seja a sua autoridade, e não haja pontos inegociáveis, a não ser a salvação do homem pelo próprio homem, e o caráter condescendente e indulgente em seus desvios.
O fundamentalismo clássico ergueu-se sobre cinco princípios bíblicos, em oposição ao ceticismo liberal:
1 - Inerrância das Escrituras: inspiração verbal-plenária da Escritura;
2 - Nascimento Virginal de Cristo: Jesus foi gerado pelo Espírito Santo; 3 - Expiação Vicária de Cristo: Cristo morreu pelos [em lugar de os] pecadores; 4 - Ressurreição Corpórea e Segunda Vinda de Cristo: Cristo está vivo e voltará; 5 - Historicidade dos Milagres: todos os milagres relatados na Bíblia são efetivamente fatos históricos.
O cristão bíblico é e sempre será um fundamentalista clássico ou histórico, ainda que não assuma o termo, dado à sua conotação pejorativa “plantada” pelos liberais, o qual muitos querem evitar.
Porém, há um tipo de fundamentalismo que prima pelo legalismo ou farisaísmo. Podem ser chamados de xiitas, radicais, ultra ou supra fundamentais. Eles não se misturam, no sentido de aversão a qualquer cristão que não se enquadre aos seus padrões religiosos. Note-se que não estou a falar dos padrões bíblicos, mas dos padrões religiosos que eles defendem. Esse tipo de fundamentalismo é uma perversão do cristianismo tal qual o liberalismo. Eles se consideram a “nata” dos cristãos, os verdadeiros e únicos cristãos e, portanto, são os “comissionados” por Deus para o patrulhamento teológico. Algo como os auditores ou fiscais encarregados de expurgar e banir qualquer irmão ou igreja que não se adequa às suas diretrizes (com exceção das mortes, se parecem muito com os inquisidores romanistas). Acabam por investir-se como promotores e juízes, absolvendo ou condenando ao céu e ao inferno segundo a sua conveniência doutrinária. É um postulado com o qual Deus não nos revestiu, mas que teimam em assumir.
Então, dirigem sua artilharia contra quem discordar de apenas um dos seus dogmas; e a salvação já não depende da graça de Deus nem do sacrifício expiatório de Cristo, mas do seguir suas regras, parâmetros ou norma reguladora, ou seja, o farisaísmo.
Os liberais contemporizam os pecados alheios a fim de se verem absolvidos em seus próprios pecados. Os fundamentalistas radicais esquecem-se dos seus pecados, e de que foram pagos por Cristo na cruz do Calvário (caso sejam eleitos), e ficam, hipocritamente, à espreita do pecado alheio. Abandonam a si mesmos em prol de uma sentença nula; e esquecem-se de que, cada um de nós está nas mãos do Senhor supremo de todo o universo, e de que o pecado do homicídio é tanto pecado como a mentira, a soberba ou a farsa.
Se um assassino como Stalin, Hitler ou Fidel fosse regenerado e restaurado pelo sangue do Senhor Jesus Cristo, ainda que carregando a culpa por milhões de mortes, estaria salvo e viveria por toda a eternidade diante do trono de Deus.
Em contrapartida, se um ermitão ou monge que não praticou nenhum ato amoral ou pecaminoso contra o seu próximo morrer rejeitando a Cristo, estará irremediavelmente condenado ao fogo do inferno. Portanto, não nos cabe julgar os homens quanto à salvação ou perdição, visto que esse julgamento cabe única e exclusivamente a Deus, o eterno e supremo Juiz (o contrário é fazer-se de Deus, e pretender tirar-lhE a glória que somente a Ele pertence).
Cabe-nos tão somente julgar os atos e atitudes humanas, se elas estão em conformidade com a Palavra de Deus ou não, nada mais do que isso, para não incorrermos em pecado.
Tanto os liberais como os fundamentalistas radicais partem da mesma premissa: a negação de Deus; e acabam por ser filhos do mesmo pai: o diabo. Seus esforços são humanos, são seus próprios salvadores, e brincam de deus, cada um a seu modo.
Infelizmente, se não forem ovelhas do Bom Pastor, será o mesmo que brincar com fogo, e se queimarão... literalmente.

sábado, 10 de janeiro de 2009

LIBERALISMO CRISTÃO?!!!











Por Jorge Fernandes

Duas reflexões sobre o liberalismo "cristão":

1) O liberalismo, em maior ou menor grau, é sempre um movimento que visa "reescrever" a fé cristã, desacreditando-a, substituindo os seus fundamentos pelo racionalismo, pela ciência, pelo ceticismo.
O pontapé inicial começa com a negação da inspiração divina, da infalibilidade e inerrância das Escrituras Sagradas, com o único objetivo de demolir a fé cristã.
Iniciado com o iluminismo e o racionalismo, cresceu com a alta crítica, amadurecendo (ou seria apodrecendo?) com a segmentação pós-modernista, do evangelho social, do humanismo, da teologia relacional, negra, da mulher, e outros conceitos que estão contaminando igrejas e denominações, os quais, invariavelmente, desprezam a Bíblia e todos os pressupostos cristãos, como a soberania de Deus, a divindade de Cristo, Seu sacrifício substitutivo e expiatório, a doutrina do pecado original, da natureza corrompida do homem, da Trindade... e não poderia ser diferente, pois o que fazem é recriar uma espécie de "monstrengo" teológico, o anti-evangelho de Cristo.
O "cristão liberal" não conseguia (e consegue) crer em nada além do que os seus olhos vêem. O seu estado é sempre uma flutuação entre a descrença sutil e a descrença radical (mas sempre descrença); ele não é um crente (e somente o será pela graça do Senhor), pois busca Deus dentro de si mesmo e no mundo natural (imanência), sem jamais encontrá-lO; ou com nenhuma expectativa de vir a encontrá-lO; ou atingirá o ápice do ceticismo: a negação completa de Deus.
Assim, o liberal não reconhece a autoridade divina, portanto, não se sujeitando a ela, e se submetendo à sua própria autoridade através do empirismo e da ciência natural.
Tudo isso tem um só objetivo: rejeitar a Lei Moral, e entregar o homem à sua própria dissolução e pecaminosidade.

2) Os teólogos liberais fazem um exercício, no mínimo, intricado: discutem cristianismo não com base nas Escrituras, mas mantendo-se em meio a vários pontos de vista (muitos conflitantes, outros irrelevantes). É como o cego em meio ao tiroteio. Provavelmente uma bala o acertará sem que ele saiba de onde veio.
O que se vê é um discurso distendido de qualquer envolvimento com a revelação divina; é como o paciente acometido de AVC e que percebe o seu lado esquerdo paralisado, esquecido, sem que responda ao estímulo mental. Assim é a mente de um liberal, ele crê estar ligado às Escrituras mas, no fundo, o único estímulo que recebe e com o qual interage é consigo mesmo, jamais com Deus.
Entre divagações, delírios e loucura, num intelectualismo estéril e letal, afasta-se mais e mais de Cristo e do Seu Evangelho.
Para o liberal a fé é um mero detalhe, talvez, por isso, ele seja mortalmente cético, e queira o tempo todo reinterpretar o Evangelho nas ondas confusas e caóticas da incerteza, da incredulidade, do falso cristianismo.

Extraído dos comentários ao livro “Teologia Contemporânea”, disponível em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/10/teologia-contempornea.html

domingo, 4 de janeiro de 2009

NEM UM NEM OUTRO... É POSSÍVEL?













Jorge Fernandes

Há um grupo de teólogos e discípulos que se diz nem arminiano nem calvinista, e se considera fora do escopo de qualquer dessas linhas teológicas. Levando-se em conta que, ou se glorifica a Deus crendo na Sua plena e total soberania (o que não pode ser uma soberania compartilhada), ou no homem e sua suposta liberdade, mesmo que seja de forma parcial; não há outra definição: ou se é calvinista ou arminiano, não existe outra classificação, apenas variações do mesmo princípio, ou como popularmente se diz, variações do mesmo tema.
O “novo” teólogo sequer estudou minimante os dois sistemas, e diz discordar mais pelo que não leu do que pelo efetivamente leu a respeito. Ainda assim, está convicto de não pertencer nem a um nem a outro grupo. Mas qual a base para afirmação tão inconsistente? A incoerência é uma delas. A soberba, outra. A vaidade exclusivista complementa o quadro, aliada à fraude. Porque assumir-se arminiano ou calvinista apenas o tornará mais um entre tantos, ao passo que afastar-se de ambos o colocará em uma posição aparentemente destacada, pelo menos aos olhos dos incautos e ignorantes. Alardear os erros alheios é mais fácil de se encobrir os próprios erros, e essa é a cortina de retalhos que utilizam para dissimular o próprio dolo.
O calvinismo está calcado em 5 pontos1:
1) Total Depravação;
2) Eleição Incondicional;
3) Expiação Limitada;
4) Graça Irresistível;
5) Perseverança dos Santos.
Se há discordância em apenas um dos pontos não se é calvinista, é-se arminiano (acho que foi McGregor Wright em seu “A Soberania Banida”2 que disse: o calvinista de 04 pontos é um arminiano inconsistente).
O que pode acontecer é do “arminiano inconsistente” não assumir a pecha de arminiano. Agindo assim, ele não abdicará do seu “exclusivismo”, e poderá atirar pedras no telhado alheio, tanto de um como do outro, sem se ver comprometido. Estará livre para criticar a tudo e todos sem qualquer base bíblica, coerente e lógica, pois seus fundamentos são exclusivamente pecaminosos (interesses a serviço do pecado).
É cômodo jogar com as pessoas, com as idéias, e manter-se distante num estado de expectação acintosa, tal qual o pirotécnico ateia faísca à lona e vê o "circo pegar fogo". Como se fosse um deus, colocar-se acima do bem e do mal, impondo regras e normas que ele mesmo recusa, enquanto observa seus subalternos debaterem-se esterilmente.
A principal forma de se conseguir isso é acusar de erro, indistintamente, toda e qualquer pessoa ou grupo que não pactue 100% com seus ideais (os quais nem ele mesmo sabe quais são, e por definição, o que há é apenas a rejeição aos conceitos alheios), e rechaçá-los totalmente. A obediência cega é o seu alicerce (ainda que fincada na areia), depois a edifica com paus, palha e feno, os quais são: forjar fatos, distorcer conceitos, subverter a verdade. Cabe-nos a defesa da fé, e refutar qualquer posição arrogantemente tola e descabida; e distinguir os fundamentos bíblicos dos espiritual e humanamente falhos.
Uma coisa é ser ignorante, desconhecer a doutrina cristã, outra é a desonestidade em que alguns se colocam como sábios mas são loucos, enredados pelo próprio desejo de serem admirados e venerados pelos homens por suas posições e atitudes pretensamente livres de qualquer influência (por si só, uma máxima arminiana). Eles enganam e iludem para manterem-se intocados, e suas idéias rotas e desvairadas permanecerem de pé, mesmo que não passem de um cadáver preso à parede por longos rebites.
Ao desprezar todos os sistemas, crêem descobrir a “roda”, quando o que fazem é repetir o erro de muitos teólogos que viveram séculos antes dele. Mas o pior é manter presos à ignorância uma legião de “súditos” devotados e cegos. Por isso, não querem se aprofundar na questão, nem entendê-la, basta deixar tudo do jeito que está, porque assim é mais fácil controlar e manter domesticado o rebanho de ovelhas perdidas.
Então, não nos iludamos com a pretensa sabedoria desses homens, pois eles são obscuros e querem manter nas trevas o maior número possível de pessoas. Para elas, infelizmente, manter-se-ão cativas mesmo na morte... eterna.
1- Para maior explicação dos pontos, ler texto em http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/joao_calvino_5pontos_silverio.htm
2- O comentário ao livro A Soberania Banida pode ser lido em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/05/soberania-banida.html
3- O fato de considerar o arminianismo heresia não implica na perdição de todos. Creio que há arminianos sinceros, mas errados doutrinariamente. Até porque a salvação é inteiramente de Deus, e Ele escolhe quem será salvo ou não.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

FATAL











Por Jorge Fernandes

Gravemente pecou;
Chorou as lágrimas solitárias na noite inimiga,
A festa era porta fechada onde habitava a aflição,
E os suspiros desolados do errante repousavam nos caminhos tortuosos e devastados,
Onde o socorro não alcança, onde o fim não é lembrado.
As mãos folheavam o álbum, os retratos de tempos antigos,
O papel exaurido e as cores desbotadas pareciam zombar da ruína em que se tornou.
Gravemente pecou;
O pão, a nudez, o ouro no pescoço, a beldade, eram o troco da alma declinada,
Os ossos esmagados, a carne enfermada não podia mais comprar,
Nem mesmo adubar a grama, nem afastar a cerca ao redor.
A armadilha presa aos pés, avalanche sobre a cabeça,
Velhos mortos desatavam águas dos olhos, jovens convocavam a derrota na última batalha,
Vestir-se de trapos enquanto as luzes expiravam sorrateiras,
E a treva revolvia as entranhas como o fogo consome a lenha úmida.
Gravemente pecou;
A semente rejeitou a terra,
Mães arrastaram filhos pelas ruas,
A boca cuspiu fora os dentes,
No assobio, cabeças meneadas chocaram-se com muros,
E não se podia escapar da última palavra: a loucura não sara.
Multiplicou-se a ira de Deus,
Deu solenes gritos ao ver o lugar destruir-se,
Gemeu diante do esforço vão de quebrar os grilhões,
Devorou o dia pensando na noite, entrou por onde jamais sairia,
Guiou-se como alvo às flechas, fez um prato fundo de areia e lodo,
Escondeu os ouvidos da sinfonia como se esmigalhasse o único troféu.
Gravemente pecou;
A vida pulverizada como metal limado,
Esperar razão quando sobrevêm amarguras,
Põe a língua no pó, persiga as nuvens no céu,
Não se deixe fugir da morte, e ponha-a a salvo depressa,
Pois o castigo espreita, prestes a abater a caça implacavelmente.
Polir o lixo, a culpa não pode ser aplacada com uma desculpa.
Gravemente pecou;
Desviou-se, fugiu, andou lentamente erradio, perseguiu ciladas,
A pele presa aos ossos como cão vadio, sem dono,
Foi-lhe posto o último fôlego, o negrume a vaguear como cego tocando o vazio,
Debaixo da sombra viu covas enfileiradas, nunca mais se morará ali,
Serviu-se o alimento, e água suficiente para acabar com a sede,
Porém, contaminado pelos seus pecados, cumpridos os seus dias,
Consumiu-se no fim como a descobrir uma recompensa... que não chegou.
Gravemente pecou.