sábado, 31 de janeiro de 2009

CATENA















Por Jorge Fernandes

Construir notas sinfônicas... no silêncio,
Pintar a vida à óleo... na tragédia,
Erigir torres ao céu... nas profundezas,
Tocar as nuvens... no calabouço,
Esculpir a realidade... no delírio,
Eternizar a história num flash, na escuridão dos fatos,
Imortalizar a morte, trazer à vida os defuntos,
Fazer das letras sonhos, contar os grãos de areia na ampulheta,
Traçar retas que se encontram, e linhas que se fundem.
O homem... pela arte.

Desenhar plantas nas paredes,
Colar estrelas e luas no teto,
Tatuar a pele, tingir cabelos,
Mudar as formas do corpo,
Injetar anfetaminas na mente,
Plantar a melhor planta,
Colher o melhor fruto,
Criar o sapato ideal para pés tortos,
Levar à perfeição o existente,
Quando a perfeição caiu no Éden.
E o homem morreu... por um desejo.

A bomba que destrói,
O remédio que não cura,
O desprezo que não envergonha,
O cuidado que se despreza,
A mão que molesta,
O porrete que se estende,
A mordida que dilacera,
A frieza que acomete.
É o homem morto... no desejo.

Desejo de ser deus,
De alcançar as alturas,
De voar com as aves,
Cantar com os pássaros,
Nadar contra a correnteza,
Sem esperar a morte nas cabeceiras.
O homem sem lugar... no desejo.

A angústia cria,
A dor cria,
A falta cria,
O medo cria,
A mentira cria,
E o mal se refestela... no homem morto,
No desejo do cadáver que não pode querer, nem criar.

Porque onde Deus não está, não há substituto,
Nem como substituí-lO.
O vazio não se preenche, a despeito do esforço.
Resta apenas o vácuo,
E o homem insurge-se a nada, preso à própria rebeldia.

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