segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Jovem Rico: Condenado? [Comentário Marcos 10.17-27]








Por Jorge Fernandes

Por causa do texto Velhos e Novos Fariseus entrei novamente no debate sobre o amor divino, se ele é extensivo a toda humanidade ou somente aos eleitos. Os argumentos podem ser lidos nos comentários ao post, inclusive a discussão se Deus tem sentimento e emoção, ou não.

O irmão que levantou a questão de Deus amar a todos citou o trecho de Marcos 10.17-31, reivindicando-o como prova de que Deus ama até mesmo os réprobos. No que, não concordei; e expus parcialmente minhas conclusões à luz do texto.

Como ainda não havia lido nada parecido com a minha interpretação (a qual nem mesmo eu tinha pensado anteriormente, ainda que lesse o trecho por várias vezes), decidi fazer um estudo, e aprofundar-me nela. Especialmente na única parte que não está presente em Mateus 19.16-30 e Lucas 18.18-30 (textos correlatos), o qual é: “E Jesus, olhando para ele, o amou” (Mc 10.21).

A questão é: Jesus amou o jovem rico, e mesmo amando-o, condenou-o ao inferno? O centro da questão é a expressão “o amou”, aoristo derivado do verbo grego agapao[1], empregado para designar o amor de Deus para com o homem.

O versículo completo é: “E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me” (v.21).

De uma forma geral, e eu mesmo sempre pensei assim, é dado como certa a condenação do jovem, como alguém que não alcançou o Céu. Mas, baseado em quê podemos afirmar tal coisa?

Existe alguma passagem que evidencie claramente a não conversão daquele jovem?

Vejamos algumas declarações na passagem:

1- O jovem demonstrou-se humilde e reverente ao correr até Jesus e ajoelhar-se diante dele, chamando-O "Bom Mestre” (v.17).

2- O jovem quer saber como herdar a vida eterna (v.17).

3- Cristo assevera que apenas um é bom, Deus (v.18). E pergunta-lhe se sabe os mandamentos, citando alguns deles (v.19).

4- O jovem respondeu:"Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade” (v.20).

5- Após o Senhor dizer que lhe faltava vender tudo, dar aos pobres, tomar a sua cruz e segui-lO; ele, “pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades” (v.22).

A partir desse relato, sabemos que o jovem rico partiu, e nada mais sabemos dele. Então, por que a maioria dos comentaristas e pastores decidiu-se pela sua condenação irremediável?

Muitos se apegam ao que o Senhor disse aos seus discípulos: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!... Quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus” (v. 23-25).

Recapitulando:

1- Cristo o amou, pediu-lhe para dispor os seus bens, e então, segui-lO.

2- O jovem, pesaroso, afasta-se.

3- O Senhor proclama que é muito difícil um rico entrar no reino de Deus.

Onde está escrito que esse jovem não foi salvo? Onde se encontra a garantia de que ele não foi regenerado? E de que não herdou o reino de Deus? A inferência que a maioria faz é de que, como é difícil ao rico herdar o Reino, e aquele jovem teve a sua chance e não a aproveitou, ele foi condenado. A conclusão vai muito além do texto bíblico; na verdade, ela impõe-se ao texto bíblico. Não seria o caso do texto revelar a impossibilidade de alguém obter a salvação por mérito próprio, de, sem a regeneração e o convencimento dado pelo Espírito Santo, alcançar a salvação?

Seria por demais imperioso sustentar a sua perdição. O que está visível e claro é que o jovem, por si só, por suas forças e méritos, não conseguiria a salvação, evidenciando-se que ninguém, por justiça própria (ainda que seja uma mera alegação como a do jovem), pode requerê-la ou obtê-la de Deus.

Alguns pressupostos escriturísticos:

1- Cristo amou a Igreja (Jo 15.9; Rm 8.37; Ef 2.4, 5.2; 1Jo 4.10; Ap 1.5).

2- Cristo morreu pela Igreja, e expiou-a (At 20.28; Ef. 5.25;1Ts 5.10).

3- Cristo não ama os réprobos, pois sobre eles a Sua ira permanece (Jo 3.36; Rm 1.18, 2.5, 9.22; Ef 2.3, 5.6; Cl 3.6;1Ts 2.16).

4- Cristo ama os eleitos, porque sobre eles não derramará a Sua ira (Rm 5.9, 9.23; 1Ts 1.10, 5.9).

Voltando à pergunta inicial, não parece ilógico que Cristo amou o jovem rico, mas ainda assim o condenou? Se Deus é imutável, como pode amar e odiar ao mesmo tempo? Alguém pode alegar: Mas Cristo tem a natureza humana. Sim, é verdade. Contudo, Ele jamais pecou (Hb 4.15, 7.26, 9.14; 1Pe 1.19) e, como Deus, é imutável, porque Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13.8).

Logo, temos aqui um conflito. Ou Cristo amou aquele jovem, e se o amou, assim como ama apenas e tão somente a Igreja, ele foi salvo. Se Cristo condenou-o, não o amou. Mas o texto diz que Ele o amou, então não há por que duvidar que o jovem fosse alvo da graça divina, que o salvou.

Porém, é possível confirmar isso?

Lê-se: “E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se?” (v.26).

Diante do que o Senhor disse, os apóstolos, como bons mortais, olharam para si mesmos e não viram a menor chance de salvação. Se aquele jovem dizia seguir os mandamentos, parecia sincero em seu desejo de salvar-se, e havia procurado Cristo com esse objetivo, ao não abrir mão de suas posses, refugou; quais seriam então as suas chances? A pergunta demonstrava o estado de espírito deles: não tinham a menor capacidade de salvarem-se por seus esforços.

Aquele rapaz serviu como o modelo de fracasso humano em se obter êxito próprio diante de Deus. A natureza ímpia em nada ajuda. As boas intenções são infrutíferas. A justiça própria é como trapo imundo. Por maior que seja a vontade, o empenho, a disposição de agradar a Deus, decididamente, restar-nos-á a desgraça. Por que, apenas pela Sua graça, a qual proporcionou a remissão dos pecados pelo sacrifício de Cristo na cruz do Calvário, aos eleitos é possível a salvação. Não há outra maneira. Deus decidiu-se por um único caminho, Jesus Cristo, E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (At 4.12). Mas parece que os discípulos ainda não tinham noção do caráter redentor do Senhor entre nós.

Há de se entender também que diante das promessas do AT da abundância de coisas temporais, e da tradição dos mestres judeus em afirmar que os homens ricos eram os escolhidos por Deus, a resposta de Jesus caiu-lhes como uma ducha de água fria. Se o rico não podia entrar, quanto mais os pobres. Porém, ao meu ver, a questão principal não é se ricos ou pobres são mais aceitáveis diante de Deus, mas a completa impossibilidade de tanto ricos como pobres de salvarem-se a si mesmos. Cristo quer que os discípulos concluam que é impossível ao homem, por seus meios exclusivos, escapar da condenação eterna. É o que lhes respondeu:

“Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis” (v. 27).

A salvação portanto é um dom de Deus, “para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1.6-7); “porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” (Rm 8.29.30).

Assim sendo, da mesma forma que muitos inferem que o jovem foi condenado, de minha parte deduzo que Cristo respondeu não somente aos seus discípulos, mas a todos nós, declarando que também aquele jovem, ao qual o Senhor amou, podia ser alvo da graça divina, e salvo finalmente.

O amor de Deus está diretamente ligado àqueles que foram comprados pela morte do Seu Filho Amado. Se um reprovado não foi comprado por Cristo, não há amor. Por que todos fomos feitos um em Cristo, todos somos participantes do Corpo de Cristo, todos fomos eleitos em Cristo, todos seremos semelhantes a Cristo, viveremos e reinaremos eternamente por Cristo. O condenado não participará de nenhuma dessas situações, logo, não pode ser o alvo do amor de Deus, por que ele não está em Cristo, nem Cristo nele.

Concluindo, Cristo amou os eleitos, e não levou sobre Si os pecados de todos, mas de muitos (Hb 9.28); não deu a Sua vida e morreu por todos, mas por muitos (Mt 20.28, 26.28; Jo 11.51-52); não amou a todos, mas a muitos (2Ts 2.15-16); e não rogou pelo mundo, nem por todos, “mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.9), referindo-se às ovelhas que o Pai eternamente depositou em Suas mãos, a fim de serem infalivelmente resgatadas da condenação eterna.

Cristo amou o jovem rico.

Por que duvidar da sua salvação?

Nota: [1] Agape e Agapao se empregam em quase todos os demais casos no NT para falar do relacionamento entre Deus e o homem - e isto não de modo inesperado, tendo em vista o uso no AT. No caso do subs. agape, porém, não há uso negativo correspondente no NT. é sempre no sentido de he agape tou theou, "o amor de Deus", ou no gen. subsjetivo (i.é, o amor dos homens por Deus), ou com referência ao amor divino por outras pessoas, que a presença de Deus evoca. Desta forma, agape fica bem perto de conceitos tais como pistis -> justiça e charis -> graça, todos os quais têm um ponto único de origem, em Deus somente (Dic. Internacional de Teologia do NT, pg 117 - Editora Vida Nova).

15 comentários:

Oliveira disse...

Não vou aqui repetir os meus argumentos sobre entender que não existe amor-sentimento-emoção na Bíblia, mas sim que o que existe seja amor-volição.

Do nosso debate anterior, me rendi em relação a alguns aspectos uma vez que calibrei a minha mente para entender que o que você chamava de sentimento era na realidade uma disposição mental para alguma coisa.

Assim o sentimento era a parte "vontade" da volição, sendo volição "vontade" + "ação".

Então uma vez calibrados quanto aos significados que damos as palavras apaziguamos os nossos ânimos na briga.

Mas... continuo achando que é possível sim amar e odiar ao mesmo tempo.

Usando os teus termos, entendo que seja possível se ter disponsição mental de amar e ao mesmo tempo se ter disposição mental de odiar, quando estamos pensando em diferentes aspectos.

Já argumentei lá, então não vou repetir aqui.

Aqui fica só um desafio.

Jesus diz mais ou menos assim "Foi-lhes dito assim: Odiarás o teu inimigo. Eu porém vos digo: Amai os vossos inimigos... sede perfeitos assim como é Perfeito o vosso Pai que está nos céus...".

Não te parece que se o padrão do nosso amor pelos nossos inimigos é o padrão do amor de Deus, não te parece que de alguma forma (não na questão da salvação) mas de alguma outra forma Deus não amaria também seus inimigos?

Não te parece que o padrão de perfeição apresentado por Jesus é de justamente dizer que Deus ama os inimigos quando faz cair a chuva sobre justos e ímpios igualmente etc....

Se o padrão perfeito de Deus fosse o de amar os eleitos apenas e odiar os inimigos, então nós seguidores do padrão perfeito dele, também deveríamos continuar seguindo o mesmo padrão... mas Jesus disse "Eu porém vos digo: Amai os vossos inimigos... e assim sende perfeitos como é Perfeito o vosso Pai que está nos céus".

Um abraço

José Alexandre Romano disse...

Achei interessante sua análise.
Quanto à doutrina do amor de Deus, esta é realmente um tema complicado.
Li recentemente um livro de um autor reformado sobre o assunto: A difícil doutrina do amor de Deus,
de Donald A. Carson. Acho este autor muito bom e recomento este livro.
Ele aborda algumas formas diferentes de como a Bíblia falado do amor de Deus:
1- O amor peculiar do Pai pelo Filho, e do Filho pelo Pai;
2- O amor providencial de Deus sobre tudo o que Ele fez;
3- A postura salvora em relação ao seu mundo caído;
4- O amor particular, efetivo e seletivo de Deus em relação aos seus eleitos;
5- Finalmente, às vezes é dito que o amor de Deus é dirigido ao seu próprio povo de uma
maneira provisional ou condicional condicionado, isto é, à obediência.
Cada um destes pontos aparecem muito nas Escrituras e o autor aborda separadamente cada um.
No item 3, por exemplo, ele faz uma análise interessante, que eu nunca tinha visto entre os reformados,
sobre o sentido da palavra mundo em João.
Abraços e Deus o abençoe!
Alexandre

Jorge Fernandes Isah disse...

Alexandre,
Obrigado por seu comentário.
Vou procurar o livro do Carson, especialmente, porque me interessei pelo argumento dele sobre a expressão "mundo" em João 3.16.
Caso se interesse, escrevi a minha interpretação sobre "mundo" em João 3.16, no texto: "Movimento: Jesus ama a todos! é cristão?".
Abraços.

Silvio Martins disse...

Gostei do texto e da sua justificação para o amor de Deus apenas com os eleitos. Não posso dizer que ela seja totalmente certa, mas também não posso dizer que seja errada. Não tenho uma posição firmada, mas de certa forma, o que você disse é bem coerente.
Mas tem uma coisa na atitude do jovem que é quando ele ouve Jesus e sai que me deixa sempre pensativo. O texto diz que ele saiu pesaroso e triste, porque tinha muitas propriedades. Isso não quer dizer que ele pode não estar perdido por completo? Não seria apontar para um futuro arrependimento? E de que ele poderia ser salvo mesmo?
Eu penso que sim. O que você acha?

Jorge Fernandes Isah disse...

Sílvio,
Esta semana estive conversando sobre o assunto com um amigo e irmão, o pr. Júlio César, e ele aventou essa questão, de que a atitude do jovem, ainda que rebelde (ao não atender a exigência do Senhor), demonstra uma espécie de "remorso", se podemos assim dizer.
É nítida a sua tristeza, por ter muitos bens e posses, e por não poder abrir mão delas e seguir a Cristo. Isso poderia indicar que ele ficou pensativo, e de que, provavelmente, esse sentimento o levou a uma possível conversão.
A questão é que não me fio no sentimento do jovem rico, o qual é imperfeito; e assim como Jeremias nos diz, enganoso e perverso é o coração do homem (Jr 17.9).
A minha interpretação se baseia exclusivamente naquilo que a Bíblia diz claramente (o amor de Deus aos eleitos apenas), e no fato do Senhor Jesus ter amado o jovem rico.
O ponto principal (ainda que não despreze o sentimento de pesar do jovem) é o amor de Cristo, o sentimento perfeito e santo que o Senhor teve por aquele jovem, e não o que o jovem pode ou poderia sentir, ainda que a idéia me seja agradável.
Abraços.

Oliveira disse...

continuação...

O texto responde:
- Devemos amar (volição, ou disposição mental em ser benigno seguida de ação em ser benigno) falando o bem deles (BENDIZEI...), devemos amar fazendo o bem a eles (FAZEI BEM...), devemos amar orando por eles (ORAI PELOS QUE VOS MALTRATAM...), devemos amar saudando a eles amistosamente (SE SAUDARDES UNICAMENTE OS VOSSO IRMÃOS, QUE FAZEIS DE MAIS?).

Lendo então concluo que são objetivos diferentes em amar.
Deus não amará os ímpios no sentido de salvação.

Jesus mesmo sendo 100% homem, sempre foi 100% Deus, e ele orou pelos que o crucificaram (Deus perdoa-lhes pois não sabem o que fazem...), Deus fez bem pelos que o perseguiam (Ele colou de volta a orelha do criado que vinha junto com os malfeitores para prendê-lo), Deus saudava os seus inimigos (ele respeitou e cumprimentou mesmo os que o julgavam), e de certa forma Deus "bem diz" dos ímpios quando falou de Senaqueribe, de Ciro e de Nabucodonozor...

Enfim, para mim o texto está argumentando que devemos amar a ambos (amigos e inimigos) pelo trato (bendizer, fazer o bem, orar, saudar, etc...) e estas pequenas coisas (tratar bem e da melhor forma possível) é amor (disposição mental em ser bom para alguém mesmo que este alguém não mereça).

Da mesma forma Deus é bom para um estuprador (e sendo bom para com ele o está amando na prática, pois tem disposição mental em ser bom para com ele), quando dá a este estuprador saúde, inteligência, capacidade de amar os seus próprios filhos, dinheiro, etc... mas isto não quer dizer que ele escapará do ódio de Deus quando este o for julgar no tempo oportuno. E caso não se converta, então será alvo não do amor de Deus em salvar, mas do ódio de Deus em julgar corretamente.

Assim.... risos, e não falo mais nisto, uma vez que os argumentos de cada lado já estão devidamente estabelecidos, a meu ver quando Deus dá saúde para alguém ele está sendo bom para com aquele, logo é amor.

Grande abraço.
Ignore os erros de português (escrevi por impulso).

Oliveira disse...

continuação...


Quando Deus resolve dar sofrimento a um filho seu, ele está momentaneamente disposto mentalmente a não ser benigno para com o mesmo, mesmo que por detrás deste castigo ele esteja agindo por amor, pois na sua disposição mental em amar ele corrige (sendo não benigno) durante seus filhos.

Sua pergunta: "Em que estágio Deus os amou (os réprobos)?
Possível resposta: Toda a vez que Deus agiu e foi disposta mentalmente em ser benigno para com eles, abençoando-os, dando-lhes saúde, mesmo que eles não merecem recebêr tais benignidades, uma vez sendo rebeldes.

O seu argumento está perfeitamente explicado, é coerente e perfeito.
Mas o problema é que o texto bíblico parece discordar de você, se não vejamos:

Mateus 5.43 - Fala do ponto de vista antigo "Ouvistes o que foi dito:..."
Mateus 5.44 - Fala do ponto de vista do Senhor "Eu porém vos digo:..."
Mateus 5.45 - Jesus para explicar do porquê devemos amar os nossos inimigos, ele diz "... Porque faz que o sol (Deus faz) se levante sobre maus e bons, e a chuva...."
Mateus 5.46 - Jesus argumenta que se amarmos somente os bons e não a ambos....
Mateus 5.47 - Jesus continua argumentando que se saudarmos somente os publicanos...
Mateus 5.47 - Jesus conclue que devemos ser perfeitos, como é perfeito o Pai.

Ou seja.... Nós devemos amar a ambos, assim como o pai ama a ambos.... Não amor para salvação, mas que tipo de amor então é este?

Que amor é este que o Pai e nós mesmos devemos dar aos ímpios?
É amor para salvação?
Ou seria amor no trato?

continua...

Oliveira disse...

Amigo Jorge

Entendi perfeitamente o seu argumento da justiça sobre todos e amor apenas sobre os eleitos.

Sua pergunta: "... se fosse uma questão de Deus amar a todos indistintamente... por que Ele lançaria sobre esses mesmos homens infortúnios, tragédias, sofrimentos?

Possível resposta: Não há incoerência em amar num aspecto e castigar em outros aspectos, uma vez que isto ocorre mesmo com os eleitos, uma vez que Deus os ama em relação ao aspecto da salvação, mas ao mesmo tempo crente também é acometido de câncer, desgraças econômicas e sofrimentos diversos. Se a tua sugestão estivesse correta, então sobre os ímpios não deveriam ocorrer coisas boas, mas somente infortúnios.

Eleitos: O sofrimento é para santificação, as bençãos ou são fruto da graça comum ou te especial benevolência.

Reprovados: O sofrimento é julgamento sobre o pecado, as benção são fruto da graça comum e a condenação fruto da decição de Deus em justamente condená-los.

Os resultados reais e completos dos objetivos de Deus para com ambos se darão no dia do julgamento de cada um. Preparados para a ira (julgamento) e preparados para a salvação (eterna e final) são eventos futuros (a ira e a salvação), e não está falando da ira (disposição mental seguida de ação em não ser benigno com o ímpio e com o justo no tempo presente) enquanto o elemento vive.

continua...

Jorge Fernandes Isah disse...

Natan, meu amigo!
Algumas considerações ao seu comentário:
1) Eu não disse que os eleitos não sofriam, porém, o sofrimento dos eleitos tem um propósito diferente do dos réprobos. Como disse, no caso dos eleitos, ele vem para a edificação e santificação; no caso dos réprobos é simplesmente a vontade e a justiça divinas. O que, de certa forma, e de uma forma diferente, você acabou por concordar.

2)A salvação do eleito, como a condenação do réprobo não vão acontecer, mas já aconteceram. Segundo a Bíblia, fomos eleitos antes da fundação do mundo, ou seja, somos eleitos eternamente pela vontade de Deus.
Da mesma forma, os réprobos já estão condenados, pois nada poderá tirá-los da condição de condenados, de reprovados por Deus. A Escritura também nos fornece a informação de que a ira de Deus "permanece" sobre os ímpios. Portanto, a salvação e a condenação não irão acontecer, mas já aconteceram.

3)Da forma como você explicou o "instante" em que Deus amou o réprobo, ficou parecendo que Deus está preso no tempo.
Ainda assim, você não me mostrou o texto que apresenta Deus amando o ímpio.
Deus nos ordena a amá-los, mas não há a confirmação de que Ele os ame. Como já disse, diferencio a graça comum (a manifestação da justiça distributiva de Deus) com o amor, algo que apenas os eleitos experimentarão.

4)Como já disse, o amor ao qual me refiro é o amor "agape", somente possível entre Deus e os eleitos, e cujo amor, Deus coloca em nossos corações para que também O amemos.
Caridade, piedade, e outras manifestações são possíveis pelo amor, mas podem acontecer apenas pela justiça. Eu sou piedoso com alguém (p. ex., uma pessoa passando sofrimento no Irã, a qual não conheço), capaz de enviar-lhe um auxílio financeiro e material, de orar por sua vida, e pedir a Deus que acabe com o seu sofrimento, mas isso não quer dizer que estou a amá-la. Ajo assim, porque Deus me amou, eu o amo, e quero cumprir os seus mandamentos, e um deles é de que eu ame os meus inimigos, ainda que esse amor não seja amor, mas piedade, caridade.
Vou dar uma olhada na raiz grega da palavra amor em Mt 5, e depois, posto o seu significado aqui nos comentários.

5) Deus amará o estuprador apenas se ele for o eleito, pois ele será regenerado pelo Espírito Santo e lavado no sangue de Cristo. Ou seja, ele não mais terá nenhuma mancha ou mácula, será santo como santo é o bom Deus.
Do contrário, caso seja um réprobo, não vejo a menor possibilidade de Deus amá-lo, porque a santidade divina não permite comunicação com o pecado, o qual é uma ofensa e, visto que o réprobo não será regenerado nem lavado no sangue de Cristo, permanecerá pecador e seus pecados impedem-no de ter comunhão com Deus. Se não há comunhão com Deus, não há amor. o que há é justiça distributiva, o Senhor dando o sol e chuva a justos e injustos, para que o justo se alegre em Deus, e para que o injusto fique inescusável no dia do Senhor.

Grande abraço.
Cristo o abençoe!

Oliveira disse...

Caro Amigo Jorge

Conforme conversa telefônica...

(gostei muito da sua ligação)

... se amor não é trato (de disposição mental em tratar bem), se amor não é emoção, se amor não é bendizer, saudar, fazer o bem para com eles, orar por eles...

... se amor não é nada disto...

... então exatamente que tipo de amor eu devo sentir pelos meus inimigos?

Grande abraço.

Jorge Fernandes Isah disse...

Natan,

foi um prazer poder conversar consigo também, ainda que rapidamente. Ouvi-lo é melhor do que lê-lo, apesar de lê-lo dar uma grande satisfação.

Quanto ao seu questionamento, como o objetivo do post foi falar do amor de Deus para com os homens (no caso, os eleitos), e demonstrar que a inferência na qual a maioria dos crentes se baseia para condenar o jovem rico é extrabíblica, não vou responder-lhe nesse post.

Daqui a alguns dias escreverei um texto exatamente sobre o amor entre humanos (algumas coisas já foram ditas nessa seção de comentários sobre isso), mas acredito que lá será o melhor lugar para discutir tanto o meu posicionamento como o seu.

Então, não se chatei por não respondê-lo agora. Provavelmente, na próxima semana, poderemos debater melhor a questão a partir de um posicionamento mais claro do que penso.

Forte abraço.
Cristo o abençoe!

Anonymous disse...

Qualquer leitor mediano da Bíblia sabe que o final das parábolas de Jesus fica à imaginação pessoal. O fim quem faz é a nossa fé. Não creio haver necessidade de um grande estudo para entender que Jesus não condenou aquele jovem, mas também não o justificou. O que aconteceu está na onisciência de Deus. Não devemos por no céu a quem quer que seja, e nem lançar ao inferno.

Jorge Fernandes Isah disse...

Anônimo,
1) Defina o que é um leitor mediano da Bíblia, para que possamos entender os seus argumentos ou a falta deles.

2) Será que um leitor que considera Mc 10.17-27 como uma parábola deve ser entendido como mediano ou abaixo da média? Por que Mc 10.17-27 é fato, realidade, não um ensinamento do Senhor por parábolas.

3) A nossa fé não faz o fim, mas ela é consequência do fim, o qual é a escolha eletiva de Deus para com os salvos. Ou será que você é capaz de ter fé (a fé que provém de Deus) sem ser salvo? Ou será preciso ser salvo para se ter fé, como um dom gratuito de Deus?

4) Outro erro é acreditar que quis colocar o jovem no céu e tirá-lo do inferno. A minha argumentação é bíblica, e a Bíblia nos indica não somente a vontade de Deus, mas nos revela a Sua mente (aquilo que Ele quis nos mostrar). Logo, se leio a Bíblia apenas como um livro em que não encontrarei respostas, ou um livro em que as respostas não estão ao meu alcance, para quê ler?

5) Você está colocando palavras na minha boca, as quais não disse.
A salvação não pertence ao homem, em momento algum, nem no início, nem no meio, nem no fim. Ela pertence exclusivamente a Deus, e somente Ele é capaz de salvar ou condenar. Portanto, não diga que eu disse o que eu não disse, mas que está exclusivamente em sua mente, a qual interpretou erroneamente o que escrevi.
Então, a culpa não é minha, mas sua que não soube avaliar adequadamente o texto.

6) O que você chama de grande estudo? É possível entender a Bíblia negligentemente? Ou ela será de tão simples interpretação que não preciso me debruçar sobre ela e orar ao Espírito Santo para que me dê entendimento? Será possível fazê-lo por osmose, ao simples contato com o livro?
E vou mais além, qual estudo é suficientemente grande para a Escritura? Ela é santa e perfeita, assim como Deus, enquanto nós somos imperfeitos e impuros. Ela estabelece a verdade de uma maneira que, mesmo um homem altamente capacitado como Pedro considerou que "há pontos difíceis de entender" (2Pe 3.16); o que dirá eu e você se a lermos superficialmente? Não é isso que fazem os indoutos e inconstantes ao torcerem-na?

E não é o que ela diz de si mesma? "Do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento" (Hb 5.12).

Se amo a Deus, quero conhecê-lo. E a única forma de conhecê-lo é através da Escritura. Se não estudá-la diligentemente, reverentemente, e em espírito de submissão, como a palavra santa do Deus vivo, estarei em falta com Ele, e isso nada mais é do que desprezo. E o desprezo é sempre sinal de arrogância e soberba; a mesma que você demonstrou em seu comentário.
De certa forma, foi a única coisa legível que se pôde perceber.

Cristo o abençoe! É a minha oração.
Abraços.

Katallage disse...

O perdão de Deus não é incondicional. Deve haver arrependimento sincero e abandono de pecado. Em nenhuma parte do texto vemos isso.

Jorge Fernandes Isah disse...

Darlan,

obrigado por sua visita e comentário.

Duas coisas: primeiro, o meu texto não fala em arrependimento ou santificação. Fala do amor de Deus pelo eleito, o mesmo amor que entregou o Seu Filho à morte para nos salvar. Logo, como Cristo é Deus, e amou ao jovem rico, deduzo que, em algum momento, no futuro, ele foi salvo, exatamente porque Cristo o amou.

Segundo, não concordo com a sua afirmação de que o perdão de Deus não é incondicional, e depende do mérito do homem. Deus nos predestinou, chamou, santificou e glorificou eternamente, como Paulo afirma em Rm 8.28, logo, para Deus que está fora do tempo, já sou salvo muito antes de eu ter nascido ou do mundo ser mundo; mesmo antes de me arrepender dos meus pecados. O arrependimento não é a causa da salvação, mas consequência.

Arrepender-me-ei dos meus pecados, e me sujeitarei a Cristo porque sou salvo, não para me salvar. Entende a diferença? Quem opera a salvação é o mesmo que opera o arrependimento, a santificação e a glorificação: Deus.

Outra coisa: você não peca? Se não peca é mentiroso, como diz João em sua 1a. carta. E mentir é pecado. Portanto, como pode o abandono do pecado ser condição para se salvar? Ou seja, se não devo pecar para ser salvo e peco, tanto eu como qualquer pessoa {pois ainda convivemos com a natureza pecaminosa) não são salvos. O pecado somente não existirá na eternidade, quando Deus o eliminará completamente, assim como o mal, da vida do eleito. Por hora, estamos na carne e ela milita contra o espírito. Continuamos pecadores, a despeito de sermos salvos. Mas você está certo, quando o Espírito denunciar o nosso pecado, devemos nos arrepender, não para ser salvo, mas porque já fomos salvo.

Abraços.

Cristo o abençoe!