segunda-feira, 24 de junho de 2013

Estudo da Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 47: Autoridade pastoral



Por Jorge Fernandes Isah




Dando sequência ao nosso estudo sobre a igreja, analisaremos o aspecto da autoridade e sustento pastoral. Neste estudo, já falamos sobre vários pontos da igreja verdadeira e as marcas que ela detém, inclusive, a sua autoridade sobre o crente. Apesar desta doutrina ser extensamente descrita na Escritura, há cristãos que não a reconhecem, e, por isso, desprezam-na. O que está ligado mais ao individualismo e à autossuficiência do homem moderno [o qual tolamente se acha "senhor de tudo" e autoridade final] do que da sua não expressividade canônica. Vivemos tempos em que os crentes encontram-se tão ou mais rebeldes do que os mundanos, acreditando em uma liberdade capaz de prescindi-los de qualquer autoridade, ainda que muitos digam reconhecê-la em Cristo, mas rejeitam-na completamente ao desconsiderar a autoridade que ele deu à igreja e aos seus ministros; o que acaba por levantar a seguinte dúvida: se não reconhecem a autoridade eclesiástica que veem, como reconhecerão a Cristo que não veem? Eis a questão!

Iniciemos então pelos versos de 1Ts 5.12-13: "E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós". 

A palavra "presidir" significa “estar à frente”, “governar”, “superintender”, mostrando uma qualidade de liderança, comando, de alguém que tem autoridade sobre outro(s), que os direciona, levando-os à obediência e ao cumprimento de determinadas ordens. Interessante frisar que a obediência do crente em relação ao seu pastor ou presbítero é a mesma a qual o pastor e presbítero devem estar sujeitos, a qual é a autoridade da igreja; e, por isso, não é possível que eles ordenem ou orientem um ou mais membros a agirem divergentemente das deliberações do corpo local. É uma via de mão-dupla, na qual o pastor e presbítero são aqueles que primeiro devem proteger as resoluções que a igreja deliberou e não transtorná-las. Não há lugar para o despotismo ou a autoridade à revelia do corpo local, pelo contrário, a autoridade pastoral se fundamenta no poder com o qual o Senhor investiu a sua igreja, e a ela está sujeita.

Apenas como um adendo à nomenclatura, já que utilizo termos correlatos e que em algumas denominações referem-se a funções distintas, creio que os vocábulos, bispo, pastor e presbítero são sinônimos e significam, de maneira geral, a posição daquela pessoa madura e experiente na fé capaz de guiar e alimentar o rebanho do Senhor. Os oficiais da igreja governam não para si mesmos, como dito, nem a partir de autoridade própria, mas da autoridade investida por Deus, como servos [1Pe 5.1-4, conf Mt 20.26-27].

E a prova maior de que nada do que estamos dizendo é falso, baseia-se no fato de o próprio Deus, através do seu Espírito Santo, dar esses dons à igreja. É o que Paulo nos diz em Efésios 4.10-13: "Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguem à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo".

Deus deu a alguns membros da igreja funções e ministérios especiais, de forma que nem todos estão num mesmo nível funcional, numa igualdade de atribuições, o que não pode ser nem significa inferioridade ou superioridade espiritual de um membro sobre o outro. Se entende-se a questão como uma mera disputa de poder, em que um pode mais sobre o outro, a coisa deixa de ser espiritual para ser essencialmente carnal. Afinal, todos são servos do mesmo Senhor, e o que nos diferencia é o dom que o próprio Deus entregou a um e não a outro, e que entregou a outro e não àquele. Parece, contudo, que o pastor, bispo ou presbítero são os alvos mais adequados para os insubordinados, que chegam ao extremo de desqualificá-los, menosprezá-los e até alegando a antibiblicidade de seus dons. Ora, se não são bíblicos, por que a Escritura se esmera em designá-los, descrevê-los e qualificá-los? O fato de haver falsos pastores e mestres serve de negação para que não sejam reconhecidos os pastores verdadeiros e que temem ao Senhor, servindo-o? Em quê a quantidade daqueles que não honram o seu ofício e, em muitos casos, são servos de satanás, anula a biblicidade do ministério e autoridade pastorais? Com a palavra, os detratores...

O que Paulo exorta-nos é, ao contrário, reconhecer a autoridade pastoral, não como algo a ser realizado por soberba, orgulho ou vaidade, mas reconhecendo que o pastor ou presbítero é aquele que serve mais humildemente dentro do corpo local. É por isso que atitudes como a de crentes que difamam e denigrem o dom pastoral, de maneira genérica, agem com soberba e orgulho muito superiores à que afirmam denunciar. De forma irresponsável e insana querem colocar todos no mesmo balaio em que deveriam estar alguns. No fundo, toda essa empáfia serve apenas para desculpá-los diante de si mesmos, demonstrando, via de regra, desdém para com a igreja e o Evangelho, e um ensimesmamento, em que o intento é a glória do próprio umbigo.

A alegação de que tratam é que, se a maioria dos pastores está preocupada com os seus próprios interesses, conclui-se que todos os pastores também estão; se a muitos roubam, todos são ladrões; se há farsantes, todos são impostores. Isso é de uma arrogância sem par! E de uma leviandade ainda mais diabólica, nada condizente com a vida cristã. Alegam-se oniscientes a ponto de mapearem todo o universo eclesiástico, condenando-o, sem saírem de suas poltronas. Têm por fato algo que não passa de especulação; e por direito algo que não foge de uma reivindicação. É por isso que a Bíblia zelosa e sabiamente detalha em minúcias quem está apto e quem não está ao ministério pastoral. Infelizmente, há aqueles que querem os holofotes sem que tenham o chamado de Deus. Há os que nem mesmo são convertidos, ou os que são declaradamente ímpios em suas atitudes e desregramentos. Porém, nada disso invalida o dom dado por Deus. E ele se preocupou em evitar que tais trapaceiros se instalassem no seio da igreja. Paulo em 1 Tm 3:1-7 e Tt 1:5-9, adverte para as qualidades que um pastor, presbítero ou bispo devem ter, e o cuidado necessário para que a igreja decida-se em alçá-los a esses postos. E as características, como indicativas de um chamado divino, são reveladas exteriormente, de forma que qualquer um possa vê-las, percebê-las e confirmá-las. Paulo nos dá uma lista de distintivos que não são subjetivos, mas claramente objetivos e assinaláveis. Especialmente que ele não seja neófito, "para não se ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo" [1Tm 3:6]; a maturidade espiritual e a experiência na vida cristã devem ser pontos fundamentalmente analisados pela igreja para sancionar um líder. E isso não nos remete, necessariamente, à questão da idade, pois há jovens muito mais maduros que velhos, ainda que, cronologicamente, espera-se que um velho seja mais sábio que um moço.

A questão é que o erro está, na maioria das vezes, no pouco zelo com que a igreja estabelece seus líderes. Há casos em que um ministro é chamado à liderança sem que preencha correta e adequadamente os princípios estabelecidos pela Escritura para assumi-la. Indicações e até mesmo a excelência acadêmica [graus e títulos que ele tenha] falam mais do que a sua vida cristã. Prima-se hoje mais por um diploma teológico do que pelo testemunho cristão. Com isso não estou desmerecendo o estudo, e, sobretudo, o esforço de quem estudou anos para obter uma designação acadêmica. Mas ela não é tudo, e muitas vezes torna-se em nada, dada as inúmeras heresias que campeiam entre seminários e faculdades teológicas, além de um desprezo a Deus e sua palavra, e o próprio fato de alguns estarem no ministério sem chamado, santidade, zelo, e, mesmo sem conversão. O que me leva a defender severamente a formação de líderes no âmbito da igreja, dentro da própria igreja, primeiramente para que o seu chamado seja confirmado por ela, segundo, para que o testemunho do candidato, no decorrer dos anos, sirva de "certificado" para o cargo, e, terceiro, para que ele seja conhecido de todos os membros, e ele os conheça igualmente. Mas este é outro assunto, para outra hora...

Voltando ao ponto central, da autoridade pastoral, leiamos Hb 13.17: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.”

A expressão "guias" fala daqueles que vão à frente e conduzem o rebanho, nitidamente dando-nos a ideia de liderança, daqueles que exercem o cuidado das almas, dos membros do corpo local. Mas, com isso, se quer dizer que há um grupo de irmãos que "fazem" o trabalho de Deus e outro que somente assiste? Não! Ao menos, nunca devia ser assim. Uma igreja que age dessa forma não entende o seu papel, nem compreende a obra que tem de realizar. Uma igreja assim é presa fácil para homens astutos, os lobos vorazes e cruéis que desejam destruir o rebanho, conforme Paulo descreveu em Atos 20.29. Devemos nos lembrar de que uma igreja bíblica não se constitui de um grupo de irmãos ativos e um grupo de irmãos passivos, aqueles controlando estes e estes, simplesmente, submetendo-se ao controle daqueles: “pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros” (1Co 12.25). Isso é sabedoria, que vem dos céus, para a glória de Deus.

Continuaremos, na próxima aula, analisando a biblicidade da autoridade pastoral.


Notas: 1 - Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico;
2 - Para maior consideração e detalhes, ouça o áudio da aula;
3- Baixe esta mensagem em aula 47.mp3

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