segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 51: Objeções ao sustento pastoral


Por Jorge Fernandes Isah



Analisemos alguns questionamentos comumente formulados pelos defensores da não autoridade pastoral e do não-sustento pastoral que, via de regra, fazem variações do mesmo tema, resumido-o em três perguntas/afirmações, as quais encontram-se numeradas e entre "aspas":

1) "Apenas os Levitas tinham o direito de serem sustentados pelo restante do povo de Israel, porque a tribo de Levi, na qual estavam todos os levitas, não receberam parte da terra de Israel, dada por Deus. Logo, eles não tinham onde plantar, caçar, etc, especialmente porque ficavam por conta dos cuidados no Templo. Como não há mais levitas, desde a època apostólica, não há porque sustentar qualquer ministério em nossos dias. Esse padrão foi extinto, e não houve continuidade na igreja primitiva".

Resposta: 1Co 9:1-16:
Interessante como Paulo se utiliza de vários princípios do Antigo Testamento para validar o sustento do seu ministério. Ao contrário daqueles que fazem uma "separação" entre o AT e o NT, Paulo fundamenta-se e se baseia no AT para validar um princípio que era negligenciado pela Igreja de Corinto, o desprezo que tinham para com ele e Barnabé, de forma que eles, corintios sustentavam os demais apóstolos [ao menos é o que parece afirmar o apóstolo, no verso 12], excluindo-o. Justamente ele que foi quem plantou aquela igreja, discipulou-a, e contribuiu como nenhum outro para o seu crescimento. Portanto, essa ideia de que os Testamentos, em algum sentido, se anulam, é falsa e equivocada, pois o próprio Paulo se encarrega de lançar por terra essa distorção ao fazer uso do AT para defender-se diante dos corintios como alguém que também era merecedor do seu cuidado e do zelo.

2) "Paulo diz que ele tinha o direito de ser sustentado, mas de que abriu mão desse direito, portanto, o ministro do evangelho também deve fazê-lo".

Resposta: Mais do que simplesmente negar o auxílio que porventura os corintios pudessem dar-lhe, Paulo diz que a negligência deles para com ele não o impediu de continuar pregando, discipulando e encaminhando-os nas santas veredas de Cristo, pois Deus havia suprido as suas necessidades através de outras igrejas. Paulo novamente confirma que o seu ministério é tão apostólico como o dos demais apóstolos, e a prova era de que Deus havia suprido as suas necessidades por mãos de outros irmãos [V. 9-10]. Ele assevera ainda mais fortemente essa questão após citar Dt 25.4, dizendo que o referido verso fala exatamente deles, e por causa deles foi escrito. Ora, o fato de Paulo abrir mão desse direito, e temos que ele o faz para não pôr impedimento ao seu ministério junto aos corintios [v.12], anula o dever da igreja de sustentá-los? Certamente que não, e é sobre isso que o apóstolo disserta, levando a igreja a refletir: "Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais?" [V 11]. Entendo que a irrefutabilidade desse questionamento, em si mesma, é mais do que suficiente para anular qualquer afirmação de que a igreja não tem o dever de sustentar o seu pastor. 

3) "O ministério pastoral é espiritual e não pode ser comparado a um trabalho assalariado, como se Deus tivesse empregados e a igreja fosse uma empresa".

Resposta: A tolice de tal afirmação é tão gritante, e reivindica uma alta espiritualidade que, contudo, não passa de uma apelativa falsa espiritualidade, na qual os seus proponentes não se enquadram, no de serem espiritualmente elevados e prescindirem o próprio sustento, mas de, por não serem capacitados ao ministério, desejar que os ministros vivam de "vento", como a minha avó dizia. Pois bem, Paulo, talvez apercebendo-se de que alguém poderia questioná-lo da mesma forma, já lançou o seu veredito sobre os que assim pensam: se lhe damos as coisas espirituais, não podemos tomar-lhes as carnais? Ora, o que é mais importante? O dinheiro guardado em um cofre, na carteira, despendido com gastos muitas vezes supérfluos, ou usá-lo na propagação do evangelho, no trabalho do discipulado, nos meios necessários para que a mensagem de Cristo se espalhe pelo mundo? Ou seja, o que sou incapaz de fazer, que não tenho por dom, não me impede contudo de poder ajudar aos que o tem, e assim também sou participante na difusão do evangelho. Paulo diz que o fato dos corintios não o sustentarem, e a Barnabé, não tem implicações pecuniárias, visto que sustentavam outros ministros, mas por desprezarem-no; eles não consideravam o trabalho de Paulo digno de ser mantido, conservado, estimulado. A origem do não sustento da igreja de Corinto baseava-se no fato de que o ministério de Paulo, para eles, era sem importância, o que os tornava ainda mais culpados diante do apóstolo e de Deus, agora por ingratidão. Não era questão financeira, pois os coríntios sustentavam a outros, em detrimento daquele que plantou a igreja entre eles, mas sobretudo os amava e continuava a guiá-los nos santos caminhos de Cristo.

Paulo sentencia no verso 14, "assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o Evangelho, que vivam do evangelho". Primeiramente, Paulo cita a Cristo, o próprio Senhor, o qual ordenou: " Digno é obreiro do seu salário" [Mt 10.10, Lc 10.7].

É possível abstrair daqui uma série de conceitos, e há aqueles que dirão que a palavra "vivam" não tem relação material, mas apenas espiritual. Bem, qualquer um que não experimentou somente o viver imaterial não pode defender tamanha sandice. O homem é um ser completo, total, e suprimir a parte material dele dizendo que o evangelho, em si mesmo, será capaz de alimentá-lo e vesti-lo, por exemplo, sem que alguém disponha de recursos para isso, é teoria das trevas, planejada no inferno, para destruir não somente a igreja, mas a autoridade de Cristo e da sua palavra. 

Por fim, penso que aquele que não dizima nem se preocupa com o sustento do ministério do seu pastor ou de outros obreiros na proclamação do Evangelho não ama verdadeiramente a igreja, nem Cristo, pois ele morreu por ela, e mais ninguém. 

Assim como ao final do estudo sobre o dízimo, que será a próxima pauta destes estudos, gostaria de perguntar: Por que não dizimar? 

Essa é uma questão que não se cala...

Notas: 1 - No áudio, desta aula, entra-se um melhor desenvolvimento da questão, e outras implicações são nele abordados;
2 - Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico;
3 - Baixe esta aula em aula 47c.mp3

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