sexta-feira, 27 de março de 2009

LEI & ORDEM




















Por Jorge Fernandes

Parece o título de um folhetim de tv; onde o mal dá as cartas, permite que o bem ganhe uma ou outra partida, mas ao final do jogo o vitorioso será sempre o mal; bastando que se dê algumas opções ao homem, e que ele escolha-as segundo os seus padrões, para que o caos seja instalado, perpetrado, extrapolado. Essa é a sua principal arma: deixar que o homem decida-se por si mesmo, e se jogue de cabeça no buraco sem fim que cavou com as próprias mãos. Não é assim o mundo? Onde as pessoas esperam tirar proveito da virtude quando buscam e se esmeram no que é nocivo? Como diz o salmista: "Não me arrastes com os ímpios e com os que praticam a iniqüidade; que falam de paz ao seu próximo, mas têm mal nos seus corações" (Sl 28.3). Não há refúgio para o bem no íntimo dos homens, antes "não dormem, se não fizerem mal, e foge deles o sono se não fizerem alguém tropeçar" (Pv 4.16).
Há os cegos que não vêem, e não querem ver essa condição e vivem na ilusão de que a essência humana é venturosa, e os perversos, casos raros de "inocentes" cujas culpas não lhes pertencem mas são resultados do meio, da conjunção desfavorável de fatores ambientais, culturais e sociais (popularmente conhecido como "azar"), os quais não permitiram à bondade florescer, pelo contrário, conduziu-os à improbidade, coitadinhos.
Há os que crêem na regeneração humana, fruto dos esforços pessoais de profissionais "infallibiles", de técnicas comportamentais indiscutíveis, e métodos científicos que levarão o perverso a acreditar-se santo, até que todo o aparato psicológico-terapêutico mostre-se ineficaz e estulto quando, diante da escolha, sua inclinação o levará à queda, pois "os seus pés correm para o mal, e se apressam para derramarem o sangue inocente; os seus pensamentos são pensamentos de iniqüidade; destruição e quebrantamento há nas suas estradas" (Is 59.7).
E ao serem confrotados por suas tolices, escondem-se na condicionalidade do tratamento: Antes, inquestionáveis; depois, imprecisos. E assim caminha a humanidade, "porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas" (Jo 3.20).
Está claro por que o mal subsiste: Num mundo sem ordem, todos estão certos e ninguém tem razão; por que o padrão não é absoluto, pelo contrário, rejeita-se o modelo fundamental, cujo princípio é a verdade e normas estabelecidas por Deus. Ao negá-las, o ponto de partida é sempre o do homem "livre" passeando por um universo relativo, onde o próprio conceito de liberdade não existe. São tentativas de se atravessar paredes sem crer que elas existam; então, como atravessá-las?
Dissimulada e cinicamente, é o mesmo que dizer: não há paredes, mas caso houvesse, poderíamos transpô-las, como não existem, contentemo-nos com a possibilidade de atravessá-las. Ou seja: o homem se tornou refém da própria mentira, aquele fosso que diz inexistir, mas de onde não consegue sair, pois em si mesmo apenas afundará mais e mais.
Porém, que mal é esse? Uma força, uma entidade, uma vontade? O mal tem nome e sobrenome: Satanás, o pai da mentira, de quem Cristo diz: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo 8.44). O Senhor falava aos filhos da perdição, aqueles que eram influenciados pelo diabo, mas que desejavam o mal com a mesma disposição com que ele anelava. Da mesma forma que Satanás é culpado por desejar e praticar o mal, o homem também não é inocente. E assim a sua rebeldia afastou-o tanto de Deus, ao ponto de não considerar mais o significado da verdade e vida; ele reconhece somente a mentira e a morte, declarando-as a própria imagem de si mesmo, ainda que não as confirme autênticas, legítimas, em seu coração escorregadio. Porém, nenhum artifício afasta-lo-á do julgamento de Deus, porque todos estaremos "perante a face do Senhor, porque vem a julgar a terra; com justiça julgará o mundo, e o povo com eqüidade".
Por que o homem se aproximou tanto do caos? Por que Deus é ordem, e em sua teimosa oposição, o homem desprezou-O, preferindo a confusão. Deus estabeleceu leis pelas quais o homem, observando-as, viveria pacificamente, e a sociedade em disposta justiça. Por isso, após a Queda de Adão no Éden, quando desobedeceu à lei de não comer da árvore do bem e do mal (
"porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" [Gn 2.17]), enganado que foi pela serpente, a qual induziu-o a cobiçar o pecado que havia em seu coração, a humanidade se tornou abominação para Deus, o qual viu "que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração" (Gn 6.5)*.
Para reger as decisões humanas, o Senhor deu-nos a Sua Lei, que estabelece o que não devemos fazer, o pecado (negativamente), e o que devemos fazer, o certo (positivamente), visto o homem ter apagado em seu coração a Lei Natural (Rm 1.18-21),
"o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos" (Rm 1.21-22).
A Lei Moral percorre por toda a Escritura, mas pode ser resumida pelos Dez Mandamentos, que foram entregues por Deus a Moisés no Monte Sinai (Ex 20.1-17) para que o temor de Deus esteja diante de todos,
"a fim de que não pequeis" (Ex 20.20). Contrário à verdade, o homem desprezou a sabedoria de Deus, entregando-se as suas regras injustas, ao pecado, encerrando a falsidade no recôndito da sua alma, como o produto final de toda a estupidez humana, "que detém a verdade em injustiça" (Rm 1.18). Ainda que o Senhor em sua misericórdia e bondade tenha alertado incontáveis vezes os homens a se converterem dos maus caminhos e das más obras; "não ouviram, nem me escutaram, diz o Senhor" (Zc 1.4); permanecendo mortos em suas ofensas e pecados. Por isso, cada homem e mulher serão julgados. Deus, do alto do Seu trono onde está assentado perpetuamente, "já preparou o seu tribunal para julgar" (Jr 9.7), e "Ele mesmo julgará o mundo com justiça; exercerá juízo sobre povos com retidão" (Jr 9.8).
Mas ainda não é o fim. Quer dizer que o caos e o mal venceram? Não houve a mínima chance para o bem e a ordem? Há um ditado que diz que as aparências enganam. Não sei em outros casos, mas especificamente neste, tudo o que vemos, mesmo a desordem e o pecado, estão em perfeita ordem com tudo aquilo que Deus estabeleceu na eternidade. Nenhum pecado, nenhuma mentira, nenhum engano, nenhuma maldade surpreende ao Todo-Poderoso, que os decretou como forma de manifestar a Sua ira e justiça (Rm 9.22). Para esses, que perpetraram o mal, deleitaram-se nele, acaletaram-no como uma anomalia ardentemente esperada, e deles fluiu como a mais imperfeita das aberrações, a fim de encherem sempre a medida de seus pecados, os "que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo" (Is 5.20) sem arrependimento, "se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição" (2Pe 3.7).
Contudo, os que buscam o Reino de Deus e a Sua justiça (Mt 6.33), encontrarão a ordem e a santidade em Cristo, o qual é "o caminho, e a verdade e a vida" (Jo 14.6), e ninguém vai ao Pai senão por Ele.

Logo, Deus decretou a desordem e o pecado, para que em Seu Filho Amado o pecador descobrisse, e fosse-lhe reveladas a ordem, a santidade e a justiça; e o bem, ao contrário dos folhetins de tv, triunfou na cruz do Calvário, tornando maldição em bênção (porque todo aquele que subir no madeiro será maldito); e na Sua ressurreição, Cristo venceu o mal e o caos, o pecado e a morte, para cumprir em Si mesmo a Lei, e fazer-nos perfeitos nEle (Cl 2.10).


* Na verdade, Deus não se arrepende (Nm 23.19; Os 13.14; Tg 1.17), o que há aqui é Ele expressando-se de forma humana (antropomorfismo), em uma linguagem humana, a forma pela qual entendemos e percebemos o desagrado de Deus com o homem e suas atitudes. Portanto, Deus não se arrependeu de criar o homem que, ao relacionar-se com o Criador de maneira ímpia, levou-O a revelar o Seu desgosto com a maldade.

4 comentários:

Oliveira disse...

O que significa a palavra "liberdade"?

Jorge Fernandes Isah disse...

Natan,
Como sempre, você me colocando "contra a parede", mas vamos lá!
Existem vários "tipos" de liberdade. Por exemplo, a liberdade entre um homem e o seu carro (teoricamente, posso fazer o que quiser com o meu carro, vendê-lo, destruí-lo, ou deixá-lo parado na garagem); a liberdade entre o homem e o seu cão (da mesma forma, posso dispô-lo como bem entender); a liberdade entre dois homens (se você tem uma boa condição financeira e pode viajar para a Europa, enquanto eu não posso sair de BH, você é livre para viajar e eu não. Da mesma forma que somos livres para debater o tema liberdade).
Mas sua pergunta se refere à liberdade entre o homem e Deus, e sabemos que isso não existe. Para que o homem fosse "livre" de Deus, teríamos de ter um poder igual ao dEle, ou sermos dominados por uma força, no mínimo, igual à de Deus (o diabo é tão servo de Deus como qualquer criatura). Como a Bíblia é clara em afirmar que Deus é soberano sobre tudo e todos, e que nada se move sem que a Sua vontade esteja manifesta, o homem não é livre de Deus, e suas escolhas e atos estão condicionados à vontade de Deus.
Portanto, o tal "livre-arbítrio" que sequer é descrito na Escritura (mesmo como um conceito ímplicito) não existe. O homem é servo do Senhor, seja salvo ou não, crente ou ímpio, assim como os anjos (bons ou maus), como os animais, como os fenômenos da natureza, como tudo o que há no universo. Nada é livre de Deus, e eles somente existirão e agirão pela vontade soberana dEle.
Não sei se lhe respondi, mas quanto ao post, não fiz nenhuma afirmação sobre a liberdade humana, apenas citei-a como uma falácia relativista.
Abraços.

Oliveira disse...

Talvez o dia 1o. de abril seja um bom dia para discutir o significado do que seja liberdade.

Esta palavra é uma grande mentira.

Absolutamente não existe liberdade, é apenas uma ficção...

E isto irrita muito aqueles que dão ênfase nas escolhas autônomas humanas.

Uma vez li um artigo de um "ateu" que não cria no livre-arbítrio e citava experiências científicas que provavam que cada movimento ou pensamento que façamos, o cérebro já comandou a ação, cerca de meio segundo antes... É de se pensar...

Ou seja, quando falo, quando penso, quando movo um dedo, parece que fui eu quem decidi, mas o meu cérebro é que comandou a ação específica meio segundo antes.

O ateu naturalmente dirá que o cérebro biológico(em última análise a natureza) é que é soberano antes mesmo do cérebro-consciência racional, uma vez que tudo o que se raciocina é comandando meio segundo antes pelo cérebro biológico.

Nós diremos que o Deus da Bíblia é que está por detrás de tudo, lá pelos meio segundo antes de cada ação da história.

Um grande abraço

Jorge Fernandes Isah disse...

Natan,
Não digo que Deus comanda as nossas ações apenas meio segundo antes, mas Ele as ordenou e coordenou antes mesmo da fundação do mundo, na eternidade.
É verdade que a liberdade no sentido do livre-arbítrio não existe e é uma tolice (o conceito de algo completamente livre de influências, e que em uma análise rápida e minimamente consciente, concluirá por sua falácia, impossibilidade e antibiblicidade).
Contudo, algumas ações humanas são "livres" (se é que podemos chamá-las assim) em relação a outros homens, em relação aos animais e a natureza. Elas estão no nivel da criação, das criaturas e, portanto, muito abaixo do nível de relação entre o homem e Deus; o que não exclui o Senhor de comandá-las e ordená-las como tudo o mais, segundo a Sua vontade.
Não sei se me fiz entender, mas foi isso que quis dizer na primeira resposta à sua pergunta.
Um forte abraço do seu irmão e amigo.