quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

deus, não é Deus











Por Jorge Fernandes Isah

Deus é Deus. Não importa o que eu pense, nem se penso. Ele continua Deus. Não importa o que eu faça, nem o que não faça. Ele é Deus. Não importa o que creia, nem o que não creia. Ele permanece, e sempre será Deus. É uma afirmação simplista? Sim. Mas nela está contida uma verdade absoluta: Deus não é outra coisa a não ser Deus. Ainda que eu me aventure a rotulá-lo ou redefini-lo, nada o fará deixar de ser o que é: “eu sou o que sou” [Ex 3.14].

Nem a fé, nem o ceticismo. Nem as boas obras, nem as más. Nem a morte, nem a vida. Nem o bem, nem o mal. Ou qualquer outra coisa que eu seja ou produza. Ainda que o universo não existisse, Deus é Deus. Imutável, Todo-Poderoso, Soberano, Perfeito, Justo e Santo.

Então se dirá: como sabe essas coisas? Como saber que Deus é Deus? Não dependerá daquilo que apreendo dEle, de como o vejo e me relaciono? Deus não depende de mim?

A verdade é que todas as criaturas têm um relacionamento com Deus. Seja a matéria ou a anti-matéria, seja o físico ou o espiritual, seja forma ou amorfa, viva ou morta, certa ou errada, possível ou impossível, verdadeira ou falsa. Tudo se relaciona com Deus, pois Ele é o criador de todas as coisas, e nada pode vir à existência sem que Ele determine que exista, nem mesmo os pensamentos, nem mesmo o que não pensamos; “porque todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” [Jo 1.3].

Ele não depende em nada de nós.

Até mesmo o que não existe se relaciona com Ele, pois por sua vontade não o trouxe a existência. Nada pode autoexistir ou surgir sem que Ele queira, pois seu plano é certo e infalível. Como está escrito: “Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos” [Sl 100.3].

[Apenas como uma hipótese ou uma hipérbole, o não-relacionamento é uma forma de relacionamento].

Os réprobos relacionam-se com Deus, rejeitando-o, desprezando-o, blasfemando, opondo-se, pecando e cultivando a impiedade como afronta à Sua santidade. Não importa se consciente ou inconsciente, se voluntário ou involuntário, tencionando fazê-lo ou não, se por dolo ou distração, se livre ou obrigado, o fato é que todo pecado, e por conseguinte toda criatura, tem um relacionamento com o Criador: O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” [Sl 14.3]. E isto vale também para satanás e seus anjos.

Ao final, todos têm um relacionamento com Deus, independente de se querer ou não; independe da vontade, pois tudo no universo está sujeito a Ele, contido e limitado pelo Seu poder: pois o Seu “reino é um reino eterno; o teu domínio dura em todas as gerações” [Sl 145.19]. Foi o que Paulo também disse: “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração” [At 17.28].

A dependência seja em qual nível for revelará o tratamento que Deus dispensa e a forma como nos portamos diante dEle. Nada acontece por acaso, nem cairá no esquecimento, porque o “Senhor guarda a todos os que o amam; mas todos os ímpios serão destruídos” [Sl 145.20]; ainda que faça o sol se levantar sobre maus e bons, e a chuva descer sobre justos e injustos [Mt 5.45]. O que me leva a concluir que o Senhor tem um relacionamento pessoal com cada uma de Suas criaturas, tanto as eleitas como as réprobas, pois até mesmo estas cumprem o Seu propósito eterno, segundo os Seus desígnios, de criar “até o ímpio para o dia mal” [Pv 16.4].

Contudo o relacionamento ou dependência de Deus não significa conhecimento, saber quem Ele verdadeiramente é. Apenas aqueles que são predestinados e chamados para serem conforme a imagem de seu Filho, para que “ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 28.29], podem conhecê-lo. Não digo reconhecê-lo por algumas particularidades, pelos indícios que a criação nos revela da Sua majestade, pela impossibilidade de haver o acaso e a aleatoriedade na vida, mas pelo que é, e nos revelou de Si mesmo.

Em linhas gerais, Deus se revelará apenas a quem quiser, pois não é um exercício do quanto podemos conhecê-lo, mas do quanto quer que saibamos. Ainda que não seja a essência do versículo, ele pode muito bem ser aplicado nesta situação: “assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que se compadece” [Rm 9.16]. Ele é misericordioso até mesmo em Se revelar, e isso é simplesmente fantástico: a forma como o Todo-Poderoso quis se mostrar. Porém se não for por Ele, não o será. Se não for pela regeneração da mente natural, o homem não o conhecerá. Se não for através da revelação especial, o que se apreende será apenas uma concepção incompleta, não elucidativa, errônea, ao ponto em que não passará de uma mera criação humana, transformando em lenda ou ficção o que é real e verdadeiro.

Estará evidenciada a incapacidade do homem, por si só, de conhecê-lo. E ela não poderá ser corrigida se não for pelas mãos de Deus. Se Ele não transformar o barro dando-lhe vida, o novo-nascimento, nada feito. “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” [Jo 3.3, 7].

Pois os regenerados, as ovelhas, serão apartadas dos bodes; aquelas à direita, e estes à esquerda. Então o Senhor dirá aos que estiverem à sua direita: "Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" [Mt 25.34]. E dirá também aos que estiverem à sua esquerda: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" [Mt 25.41].

As ovelhas não são bodes, nem os bodes, ovelhas. E Cristo não os confunde; antes criou-os separados, com propósitos distintos, com o fim de ser glorificado; e naquele dia, todos verão a Sua obra concluida. E ela passa necessariamente pela regeneração dos pecadores, aqueles que receberam a Sua misericórdia e não nasceram do sangue, “nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” [Jo 1.13], o qual ordenou que assim fosse, antes da fundação dos séculos, para a nossa glória também. Porque o que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiu ao coração do homem, é o que Ele preparou e reservou aos que o amam. Revelando-as pelo seu Espírito; “porque ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” [Rm 2.11]

Tais coisas são reveladas através da Bíblia Sagrada, a própria voz do Senhor falando aos nossos ouvidos. Mostrando-nos o que Ele é, o que somos, as promessas que nos são reservadas, na esperança de que se cumprirão infalivelmente, porque assim nos diz, e assim será. Como escrevi certa vez, não há silêncio nas Escrituras. Jamais Deus se calará àqueles que tiveram seus ouvidos abertos, a mente aberta, o coração de pedra transformado em carne; pois somente Ele é capaz de dar vida ao defunto, tirando-o das trevas e levando-o para a luz, Jesus Cristo, o qual "eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus"[Jo 1.34].

Porque Deus estará sempre a se revelar ao Seu povo, para que o conhecimento seja entre Pai e filhos, através do Unigênito, Cristo, em cujas mãos estão todas as coisas, e nas quais fomos entregues, porque ouvimos a Sua voz e Ele nos conhece, e nos deu a Sua vida para que jamais pereçamos, como ovelhas desgarradas levadas ao aprisco pelo Pastor [Jo 10.27-28].

Como está escrito: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” [Jo 10.14].

Sem Cristo e o Evangelho, o conhecimento de Deus é impossível! E se tem apenas o deus que se quer, e no qual estupidamente se acredita.

E esse deus, não é Deus!


8 comentários:

Ricardo Mamedes disse...

Jorge,

Esplêndido texto... Dessa vez você se superou meu amigo. Aliás, Ele, como sempre, te iuminou. Bendito seja o Seu santo nome!

Deus é o Deus de todas as coisas; aquEle que controla e determina tudo. Ultimamente eu tenho visto a dificuldade de tantos crentes para aceitar esse Deus, Bom, Justo, e ao mesmo tempo terrível. Até mesmo de alguns "supostos" reformados com os seus grandes blogs. Eles dizem crer nesse grandioso e soberano Deus, mas ao mesmo tempo não O aceitam nas tragédias. Esse tremendo dualismo, esse deus pequeno construído por tantos...

Parece tão difícil crer nesse Deus real e completamente soberano, que a tudo governa. Por que acham complicado apenas abandonar-se a Ele? Se entregar? Pois é assim que eu faço, desde o momento em que O conheci verdadeiramente, quando nasci de novo. É exatamente isso, necessário nascer de novo!

Maravilhoso o seu texto meu irmão! Confesso que muito me edificou.

Grande abraço!

Em Cristo,

Ricardo

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo,

sabe algo que tem muito me alegrado, e de certa forma tem renovado o meu amor pelo Senhor? É ver como Ele tem agido em nosso meio (somos ainda poucos, mas cresceremos certamente pela Sua graça) e cada vez mais irmãos estão verdadeiramente cativos a Cristo, sabendo que é Ele quem opera em nós, demovendo-nos da nossa suposta "liberdade".

E como esses irmãos têm-se voltado para Ele, glorificando-o e honrando-o.

É claro que nada disso adiantará se ficar apenas nas palavras, como o Senhor nos alertou: honram-me com os lábios, mas não me honram com o coração.

Nossas declarações de louvor, gloria e amor a Deus devem se refletir em nossos atos, colocando em prática aquilo que Ele nos revelou tão claramente. E essa é a parte mais difícil, viver uma vida santa, em justiça, sem rebeldia diante dos homens.

Que o bom Deus nos capacite para que a nossa vida seja também a resposta da razão de nossa fé diante dos questionamentos incrédulos. Que eles ouçam o que temos a dizer, mas também vejam o que temos a mostrar.

Grande abraço, meu amigo!

Cristo o abençoe!

Pr. Luiz Fernando disse...

Prezado irmão Jorge,
você expressou uma verdade que já vem sendo esquecida há muito tempo pelas igrejas, algumas. Verdade que deveria nortear cada passo de nossas vidas. Mas o pecado tem levado os homens a domesticarem Deus e o tratar como mercadoria de segunda classe . Ele é Deus para sempre e nada pode mudar esta verdade. Mas algumas lideranças descaradamente vem introduzindo modismos e desfigurando o Deus da Bíblia. Belíssimo texto. Parabéns pela lucidez.
Um abraço
Em Cristo

Jorge Fernandes Isah disse...

Pr. Luiz Fernando,

Existem muitos "deuses", mas a Escritura é clara em afirmar que só há o Deus bíblico, vivo e verdadeiro. Não há outro.

Infelizmente, como o irmão disse, muitos entre nós não estão "satisfeitos" com o Deus revelado especialmente por Si mesmo, e tentam frustradamente criar outro deus, produzido a partir da mente caída e irregenerada do homem natural.

Mas o próprio Deus nos alerta para os enganos daqueles que se mantém rebeldes e rebelados contra a Sua palavra.

Oremos para que Ele nos capacite e fortaleça a mostrar ao mundo quem é o verdadeiro e soberano Deus sobre tudo e todos. Proclamando e vivendo o Evangelho de Cristo.

Forte abraço!

Cristo o abençoe!

MINISTÉRIO BATISTA BERÉIA disse...

Graça e paz Jorge.
Você anda mesmo inspirado (rs).
Já publiquei esse excelente texto no meu blog.
Fique na Paz!
Pr. Silas

Jorge Fernandes Isah disse...

Pr. Silas,

obrigado pelo elogio, mas sem o nosso Senhor, o que seria de nós?

Então honra e gloria a Ele, "único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo" (Jd 4).

Forte abraço, meu irmão!

Cristo o abençoe!

Oliveira disse...

Se eu fosse fazer uma analogia da tua ilustração com o título da tua reflexão, eu diria:

"o deus árvore (do Avatar e de outros filmes panteístas) não é o Deus (da Bíblia)".

Jorge Fernandes Isah disse...

Natan,

já lhe falei para não implicar com as minhas fotos (rsrs). As vezes elas complementam o texto, e o ilustram, as vezes são apenas imagens artisticamente belas, e as reproduzo.

Nesse caso específico, é uma belíssima foto, onde se vê uma árvore quase morta, com poucos galhos e aparentes folhas secas, sem fruto algum. Por isso ela se assemelha ao deus ou deuses antropocêntricos.

Mas mesmo que não tivesse esse simbolismo, a foto é demais!

Abraços.