Por Jorge Fernandes Isah
Deus é Deus. Não importa o que eu pense, nem se penso. Ele continua Deus. Não importa o que eu faça, nem o que não faça. Ele é Deus. Não importa o que creia, nem o que não creia. Ele permanece, e sempre será Deus. É uma afirmação simplista? Sim. Mas nela está contida uma verdade absoluta: Deus não é outra coisa a não ser Deus. Ainda que eu me aventure a rotulá-lo ou redefini-lo, nada o fará deixar de ser o que é: “eu sou o que sou” [Ex 3.14].
Nem a fé, nem o ceticismo. Nem as boas obras, nem as más. Nem a morte, nem a vida. Nem o bem, nem o mal. Ou qualquer outra coisa que eu seja ou produza. Ainda que o universo não existisse, Deus é Deus. Imutável, Todo-Poderoso, Soberano, Perfeito, Justo e Santo.
Então se dirá: como sabe essas coisas? Como saber que Deus é Deus? Não dependerá daquilo que apreendo dEle, de como o vejo e me relaciono? Deus não depende de mim?
A verdade é que todas as criaturas têm um relacionamento com Deus. Seja a matéria ou a anti-matéria, seja o físico ou o espiritual, seja forma ou amorfa, viva ou morta, certa ou errada, possível ou impossível, verdadeira ou falsa. Tudo se relaciona com Deus, pois Ele é o criador de todas as coisas, e nada pode vir à existência sem que Ele determine que exista, nem mesmo os pensamentos, nem mesmo o que não pensamos; “porque todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” [Jo 1.3].
Ele não depende em nada de nós.
Até mesmo o que não existe se relaciona com Ele, pois por sua vontade não o trouxe a existência. Nada pode autoexistir ou surgir sem que Ele queira, pois seu plano é certo e infalível. Como está escrito: “Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos” [Sl 100.3].
[Apenas como uma hipótese ou uma hipérbole, o não-relacionamento é uma forma de relacionamento].
Os réprobos relacionam-se com Deus, rejeitando-o, desprezando-o, blasfemando, opondo-se, pecando e cultivando a impiedade como afronta à Sua santidade. Não importa se consciente ou inconsciente, se voluntário ou involuntário, tencionando fazê-lo ou não, se por dolo ou distração, se livre ou obrigado, o fato é que todo pecado, e por conseguinte toda criatura, tem um relacionamento com o Criador: “O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” [Sl 14.3]. E isto vale também para satanás e seus anjos.
Ao final, todos têm um relacionamento com Deus, independente de se querer ou não; independe da vontade, pois tudo no universo está sujeito a Ele, contido e limitado pelo Seu poder: pois o Seu “reino é um reino eterno; o teu domínio dura em todas as gerações” [Sl 145.19]. Foi o que Paulo também disse: “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração” [At 17.28].
A dependência seja em qual nível for revelará o tratamento que Deus dispensa e a forma como nos portamos diante dEle. Nada acontece por acaso, nem cairá no esquecimento, porque o “Senhor guarda a todos os que o amam; mas todos os ímpios serão destruídos” [Sl 145.20]; ainda que faça o sol se levantar sobre maus e bons, e a chuva descer sobre justos e injustos [Mt 5.45]. O que me leva a concluir que o Senhor tem um relacionamento pessoal com cada uma de Suas criaturas, tanto as eleitas como as réprobas, pois até mesmo estas cumprem o Seu propósito eterno, segundo os Seus desígnios, de criar “até o ímpio para o dia mal” [Pv 16.4].
Contudo o relacionamento ou dependência de Deus não significa conhecimento, saber quem Ele verdadeiramente é. Apenas aqueles que são predestinados e chamados para serem conforme a imagem de seu Filho, para que “ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 28.29], podem conhecê-lo. Não digo reconhecê-lo por algumas particularidades, pelos indícios que a criação nos revela da Sua majestade, pela impossibilidade de haver o acaso e a aleatoriedade na vida, mas pelo que é, e nos revelou de Si mesmo.
Em linhas gerais, Deus se revelará apenas a quem quiser, pois não é um exercício do quanto podemos conhecê-lo, mas do quanto quer que saibamos. Ainda que não seja a essência do versículo, ele pode muito bem ser aplicado nesta situação: “assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que se compadece” [Rm 9.16]. Ele é misericordioso até mesmo em Se revelar, e isso é simplesmente fantástico: a forma como o Todo-Poderoso quis se mostrar. Porém se não for por Ele, não o será. Se não for pela regeneração da mente natural, o homem não o conhecerá. Se não for através da revelação especial, o que se apreende será apenas uma concepção incompleta, não elucidativa, errônea, ao ponto em que não passará de uma mera criação humana, transformando em lenda ou ficção o que é real e verdadeiro.
Estará evidenciada a incapacidade do homem, por si só, de conhecê-lo. E ela não poderá ser corrigida se não for pelas mãos de Deus. Se Ele não transformar o barro dando-lhe vida, o novo-nascimento, nada feito. “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” [Jo 3.3, 7].
Pois os regenerados, as ovelhas, serão apartadas dos bodes; aquelas à direita, e estes à esquerda. Então o Senhor dirá aos que estiverem à sua direita: "Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" [Mt 25.34]. E dirá também aos que estiverem à sua esquerda: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" [Mt 25.41].
As ovelhas não são bodes, nem os bodes, ovelhas. E Cristo não os confunde; antes criou-os separados, com propósitos distintos, com o fim de ser glorificado; e naquele dia, todos verão a Sua obra concluida. E ela passa necessariamente pela regeneração dos pecadores, aqueles que receberam a Sua misericórdia e não nasceram do sangue, “nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” [Jo 1.13], o qual ordenou que assim fosse, antes da fundação dos séculos, para a nossa glória também. Porque o que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiu ao coração do homem, é o que Ele preparou e reservou aos que o amam. Revelando-as pelo seu Espírito; “porque ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” [Rm 2.11].
Tais coisas são reveladas através da Bíblia Sagrada, a própria voz do Senhor falando aos nossos ouvidos. Mostrando-nos o que Ele é, o que somos, as promessas que nos são reservadas, na esperança de que se cumprirão infalivelmente, porque assim nos diz, e assim será. Como escrevi certa vez, não há silêncio nas Escrituras. Jamais Deus se calará àqueles que tiveram seus ouvidos abertos, a mente aberta, o coração de pedra transformado em carne; pois somente Ele é capaz de dar vida ao defunto, tirando-o das trevas e levando-o para a luz, Jesus Cristo, o qual "eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus"[Jo 1.34].
Porque Deus estará sempre a se revelar ao Seu povo, para que o conhecimento seja entre Pai e filhos, através do Unigênito, Cristo, em cujas mãos estão todas as coisas, e nas quais fomos entregues, porque ouvimos a Sua voz e Ele nos conhece, e nos deu a Sua vida para que jamais pereçamos, como ovelhas desgarradas levadas ao aprisco pelo Pastor [Jo 10.27-28].
Como está escrito: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” [Jo 10.14].
Sem Cristo e o Evangelho, o conhecimento de Deus é impossível! E se tem apenas o deus que se quer, e no qual estupidamente se acredita.
E esse deus, não é Deus!
8 comentários:
Jorge,
Esplêndido texto... Dessa vez você se superou meu amigo. Aliás, Ele, como sempre, te iuminou. Bendito seja o Seu santo nome!
Deus é o Deus de todas as coisas; aquEle que controla e determina tudo. Ultimamente eu tenho visto a dificuldade de tantos crentes para aceitar esse Deus, Bom, Justo, e ao mesmo tempo terrível. Até mesmo de alguns "supostos" reformados com os seus grandes blogs. Eles dizem crer nesse grandioso e soberano Deus, mas ao mesmo tempo não O aceitam nas tragédias. Esse tremendo dualismo, esse deus pequeno construído por tantos...
Parece tão difícil crer nesse Deus real e completamente soberano, que a tudo governa. Por que acham complicado apenas abandonar-se a Ele? Se entregar? Pois é assim que eu faço, desde o momento em que O conheci verdadeiramente, quando nasci de novo. É exatamente isso, necessário nascer de novo!
Maravilhoso o seu texto meu irmão! Confesso que muito me edificou.
Grande abraço!
Em Cristo,
Ricardo
Ricardo,
sabe algo que tem muito me alegrado, e de certa forma tem renovado o meu amor pelo Senhor? É ver como Ele tem agido em nosso meio (somos ainda poucos, mas cresceremos certamente pela Sua graça) e cada vez mais irmãos estão verdadeiramente cativos a Cristo, sabendo que é Ele quem opera em nós, demovendo-nos da nossa suposta "liberdade".
E como esses irmãos têm-se voltado para Ele, glorificando-o e honrando-o.
É claro que nada disso adiantará se ficar apenas nas palavras, como o Senhor nos alertou: honram-me com os lábios, mas não me honram com o coração.
Nossas declarações de louvor, gloria e amor a Deus devem se refletir em nossos atos, colocando em prática aquilo que Ele nos revelou tão claramente. E essa é a parte mais difícil, viver uma vida santa, em justiça, sem rebeldia diante dos homens.
Que o bom Deus nos capacite para que a nossa vida seja também a resposta da razão de nossa fé diante dos questionamentos incrédulos. Que eles ouçam o que temos a dizer, mas também vejam o que temos a mostrar.
Grande abraço, meu amigo!
Cristo o abençoe!
Prezado irmão Jorge,
você expressou uma verdade que já vem sendo esquecida há muito tempo pelas igrejas, algumas. Verdade que deveria nortear cada passo de nossas vidas. Mas o pecado tem levado os homens a domesticarem Deus e o tratar como mercadoria de segunda classe . Ele é Deus para sempre e nada pode mudar esta verdade. Mas algumas lideranças descaradamente vem introduzindo modismos e desfigurando o Deus da Bíblia. Belíssimo texto. Parabéns pela lucidez.
Um abraço
Em Cristo
Pr. Luiz Fernando,
Existem muitos "deuses", mas a Escritura é clara em afirmar que só há o Deus bíblico, vivo e verdadeiro. Não há outro.
Infelizmente, como o irmão disse, muitos entre nós não estão "satisfeitos" com o Deus revelado especialmente por Si mesmo, e tentam frustradamente criar outro deus, produzido a partir da mente caída e irregenerada do homem natural.
Mas o próprio Deus nos alerta para os enganos daqueles que se mantém rebeldes e rebelados contra a Sua palavra.
Oremos para que Ele nos capacite e fortaleça a mostrar ao mundo quem é o verdadeiro e soberano Deus sobre tudo e todos. Proclamando e vivendo o Evangelho de Cristo.
Forte abraço!
Cristo o abençoe!
Graça e paz Jorge.
Você anda mesmo inspirado (rs).
Já publiquei esse excelente texto no meu blog.
Fique na Paz!
Pr. Silas
Pr. Silas,
obrigado pelo elogio, mas sem o nosso Senhor, o que seria de nós?
Então honra e gloria a Ele, "único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo" (Jd 4).
Forte abraço, meu irmão!
Cristo o abençoe!
Se eu fosse fazer uma analogia da tua ilustração com o título da tua reflexão, eu diria:
"o deus árvore (do Avatar e de outros filmes panteístas) não é o Deus (da Bíblia)".
Natan,
já lhe falei para não implicar com as minhas fotos (rsrs). As vezes elas complementam o texto, e o ilustram, as vezes são apenas imagens artisticamente belas, e as reproduzo.
Nesse caso específico, é uma belíssima foto, onde se vê uma árvore quase morta, com poucos galhos e aparentes folhas secas, sem fruto algum. Por isso ela se assemelha ao deus ou deuses antropocêntricos.
Mas mesmo que não tivesse esse simbolismo, a foto é demais!
Abraços.
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