Por Jorge Fernandes Isah
Em recente conversa, foi-me perguntado qual o objetivo de Deus para o crente. E, concluiu: seria a salvação? Pensei alguns segundos, e respondi quase de estalo: Não!
Mas, então, qual o propósito de Deus para as nossas vidas?
Sei que o fim de tudo é a sua glória. Ele não quer nada menos que isso, que o seu nome seja louvado por toda a criação, e em especial, pelo seu povo. Esse é o objetivo final de Deus para a sua obra, que ela o exalte, revelando-o como Senhor e Criador bendito e glorioso. Acontece que essa é a resposta para outra pergunta, não aquela.
Na verdade, pode-se dar vários significados à pergunta, e abordá-la em múltiplas formas, e em diversos contextos. Desde a importância do cristão na igreja, como parte do corpo e sua contribuição para a obra dos santos, como a sua ação individual na família, no trabalho, na escola, na comunidade. Há aspectos e áreas em que o crente atuará: nas artes, na cultura, na política, filosofia e, sobretudo, na religião. Mas nada disso se configura o objetivo divino, antes são os meios pelos quais o Senhor nos usará para realizar a sua obra, e responder à pergunta não formulada e já respondida, sobre o fim de tudo.
Igualmente, a redenção, salvação, santificação não são os objetivos finais para o crente. Repito: Deus usará toda a sua obra para que o fim seja alcançado: a sua glória. Da mesma forma serão usados meios para que sejamos, ao final, exatamente o que ele quer que nos tornemos. Por isso, farei um resumo da Criação e Redenção, em alguns pontos específicos apenas, sem pensar em ser exaustivo.
Deus criou o homem à sua imagem e semelhança [Gn 1.26]. Adão era para ser o “top” da Criação, a criatura perfeita, aquela que revelaria o esplendor da glória divina. Contudo Adão foi incapaz de preservar-se a si mesmo, e caiu no Éden [Gn 3.2-8]; e com ele, toda a humanidade caiu; com ele, morremos espiritual e fisicamente, de tal forma que tivemos os olhos abertos para o pecado [v.7] e fechados para Deus. É interessante como a Bíblia revela que os olhos de Adão e Eva foram abertos, e a conseqüência foi reconhecerem-se nus, necessitando guardarem-na em vestes cozidas de folhas de figueira. Ao mesmo tempo em que seus olhos estavam fechados para a comunhão com o Senhor, o que os fez esconderem-se de diante da sua face, entre as árvores do jardim [v.8]. Dali em diante, a constatação é a de que o homem se degradou progressiva e rapidamente, ao ponto da sua maldade se multiplicar sobre a terra “e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” [Gn 6.5]. É o que Paulo diz, também:“Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvanceram, e o seu coração insensato se obscureceu” [Rm 1.21]. O restante da história, não é preciso descrever.
Uma pausa.
Tudo no universo tem por objetivo revelar a Deus. O homem foi criado para isso. A Lei entregue a Moisés, também. Mas somente Cristo, o Filho Amado, foi quem o revelou [Jo 1.18]. Muito antes dos céus e terra surgirem, estava determinado que o Verbo encarnaria, far-se-ia homem como nós, para que Deus nos fosse revelado. Muito antes de Adão cair, estava certo que Cristo viria ao mundo. Pois, somente assim, seria possível conhecer o Pai na plenitude do Filho, “o qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa” [Hb 1.3] mostrou-nos a si mesmo, Deus.
Como homem perfeito, santo e imaculado, diferente do Adão terreno, Cristo, o Senhor, o Adão celestial [1Co 15.46], encarregou-se de resgatar e formar, pelo seu sacrifício, poder e vontade, filhos verdadeiros do Deus vivo, como está escrito: “mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai.... E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” [Rm 8.15, 17].
Novo parênteses.
Quando Paulo diz que com Cristo padecemos para que sejamos glorificados, descreve-nos exatamente o que aconteceu ao Senhor. Era necessário que o seu sangue fosse derramado para que houvesse paz, e “por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus” [Cl 1.20]. Primeiro, humilhando-se e sujeitando-se à vontade do Pai, o santo fazendo-se pecador; aquele que não pecou levou sobre si os pecados de muitos, para congregar em si “todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” [Ef 1.10]. Com isso, Paulo não está a afirmar que todas as coisas serão reconciliadas com Cristo, nem todos os homens, nem todos os anjos. Não há perdão para satanás e seus demônios, nem para os ímpios, os quais não serão restaurados e nem participarão do reino celestial. Há, porém, a necessidade de uma redenção cósmica, onde todo o universo entrou em colapso e desordem por causa da desobediência no Éden, e será restaurado a seu tempo, visto a criação gemer com dores de parto, e estar sujeita à vaidade de quem a sujeitou, o homem; esperando a libertação da servidão da corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus [Gn 3.17, Rm 8.19-22].
No grego, a palavra congregar é anakephalaiomai que tem o significado de ajuntar tudo sobre um mesmo princípio unificador, ou seja, reunir os eleitos, homens e anjos, debaixo da mesma cabeça, Cristo. Ele é quem nos une, e nos manterá unidos sobre a sua graça eternamente. O apóstolo não está a falar de uma redenção universal, no sentido de que todos serão expiados e salvos, mas de uma redenção particular, somente para aqueles que o Pai entregou ao Filho para que por ele o seu nome fosse manifestado aos eleitos[Jo 17.6].
Segundo, humilhando-se a si mesmo até a morte, Deus o exaltou soberanamente, “para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra. E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” [Fp 2.10-11]. Todos, sem exceção, santos e ímpios, anjos e demônios, se prostarão diante dele, e proclamarão que reina sobre tudo e todos, eternamente. E assim como Cristo, devemos padecer até a morte [no espírito carnal e físico], para sermos, com ele, glorificados na vida [temporal e eterna].
De volta à pergunta original.
Podemos afirmar que a eleição, o chamado, a regeneração e salvação, e a santificação não são os objetivos finais de Deus, mas partes do processo que culminará no objetivo final: que todos os seus filhos se tornarão como Jesus Cristo; “porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 8.29]. Essa foi a resposta que dei naquela ocasião; Deus nos quer e sempre nos quis como a seu Filho Amado, de forma que tudo, desde o seu início, muito antes de fazer os céus e terra, tinha por certo isso: fazer um povo que em tudo fosse semelhante a Cristo, e pudesse reconhecer-se nele, como imagem agora perfeita, santa e imaculada, assim como ele é; assim como desfruta do amor do Pai, também o desfrutamos. Somos participantes em tudo que o Senhor também participa, a fim de que ele seja tudo em todos. Nem menos, porque a perfeição e santidade somente podem ser na medida exata de Cristo; nem mais, porque é impossível qualquer variação naquele que é, e se faz conhecido como o "Eu sou".
E o que ele é, jamais pode não ser.
Podemos afirmar que a eleição, o chamado, a regeneração e salvação, e a santificação não são os objetivos finais de Deus, mas partes do processo que culminará no objetivo final: que todos os seus filhos se tornarão como Jesus Cristo; “porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 8.29]. Essa foi a resposta que dei naquela ocasião; Deus nos quer e sempre nos quis como a seu Filho Amado, de forma que tudo, desde o seu início, muito antes de fazer os céus e terra, tinha por certo isso: fazer um povo que em tudo fosse semelhante a Cristo, e pudesse reconhecer-se nele, como imagem agora perfeita, santa e imaculada, assim como ele é; assim como desfruta do amor do Pai, também o desfrutamos. Somos participantes em tudo que o Senhor também participa, a fim de que ele seja tudo em todos. Nem menos, porque a perfeição e santidade somente podem ser na medida exata de Cristo; nem mais, porque é impossível qualquer variação naquele que é, e se faz conhecido como o "Eu sou".
E o que ele é, jamais pode não ser.
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