segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cristianismo, Estado e Justiça - Parte 3: separação entre Deus e o governo civil

















Por Jorge Fernandes Isah 

Há vários argumentos que são utilizados para a não aplicação da Lei divina no governo civil. Alguns alegam que o Estado é laico e, portanto, não tem de ter vínculo algum com religião alguma. Essa é uma grande conversa fiada, pois o Estado, a despeito de se dizer laico, age de maneira antireligiosa, como se fosse possível governar neutra e isentamente. O fato é que o Estado não é neutro, nem isento, e ao agir antireligosamente, em especial com relação ao Cristianismo, demonstra sua parcialidade, e o que é pior, uma autosuficiência que o coloca no lugar de Deus, como um ídolo, do qual até mesmo cristãos são adoradores. Vão dizer que não, o que simplesmente acontece é uma separação entre religião e Estado, mas, pergunto: quem autorizou essa separação? Em quais pressupostos ela aconteceu? Quem é o seu beneficiário? E, ainda, os seus fundamentos objetivam a glória de Deus ou a idolatria?

Ao se fazer a separação arbitrária entre religião e Estado está-se tentando separar Deus do seu governo, como se fosse algo possível. Na verdade, o que existe é uma rejeição completa e total a qualquer idéia de Deus, mais detidamente o Deus bíblico, absoluto e Senhor de tudo o que foi criado e há no universo; e dessa forma o homem se considera autônomo, dono do seu nariz, independente de qualquer influência e autoridade divina. Quando o homem natural alega a “separação”, está a pensar e fazer algo que lhe é inerente, em sua corrupção, em seu senso moral caído, em seu prazer no pecado, ainda que esteja a dizer que não. Mas o que levaria um cristão a defender tal coisa? Ignorância, má-interpretação ou uma fé distorcida? Pode-se alegar que a história nos revela a nefasta ligação entre religião e Estado. Pode-se alegar que essa união nunca deu certo, e de que a “separação” é o melhor. O exemplo seria a teocracia islâmica, diria um defensor do laicismo. Mas pode o islamismo ser padrão moral e ético para um cristão? O próprio fato dos países islâmicos não serem cristãos, nem se pautarem na lei divina, já revela que seus princípios e premissas são falsos e o governo em si mesmo é falso em relação à verdade. Por ser uma mentira, um embuste, não pode ser parâmetro para um governo levado à cabo pela legitimidade da lei divina. Da mesma forma, o catolicismo não pode servir de medida comparativa. Assim como qualquer governo que se abstenha da lei para se livrar de Deus.

Apelar também para o efeito noético do pecado parece-me uma válvula de escape que não livra o homem de sua responsabilidade. Seria o mesmo que um ladrão justificar o seu crime porque não conseguia resistir a possuir o objeto do furto. O objetivo é garantir a impossibilidade de aplicar-se a lei, não porque ela falha em alguma coisa; não porque ela não é o padrão verdadeiro de justiça; não porque haja algo melhor que ela; não que seja imperfeita em algum aspecto; mas porque somos incapazes de torná-la apropriada e eficaz em sua praticabilidade. Em linhas gerais, fazemos como os fariseus que ao tentarem se mostrar inocentes em relação aos seus pais que derramaram o sangue dos profetas, acabaram por encher as medidas deles, testificando serem filhos de assassinos [Mt 23.30-32]. Ao acusarmos aqueles que não foram capazes de governar adequadamente segundo o padrão divino, justificando assim a nossa própria incapacidade, enchemos as medidas deles ao nos tornarmos herdeiros do seu legado não-bíblico. E o que é pior, desconfiamos do poder de Deus para operar a verdade mesmo no mundo de mentiras; para impor a luz em meio às trevas; para trazer justiça onde impera a injustiça. Isso é sinal de descrença, mesmo para os salvos.

Alguém pode dizer: “Não tenho nada com isso! Não me envolvo em política, nem quero nada com política. Apenas me preocupo com a proclamação do Evangelho de Cristo. Que cada um seja responsável pelo seu próprio erro!”... Alguém duvida que o ato de Pilatos lavar as mãos, quando da condenação do Senhor Jesus, não o isentou do pecado e da culpa? E de que seus interesses pessoais o levaram a não decidir pela absolvição do Justo e Santo? Seria essa atitude perdoável diante de Deus? Pedro diz que Pilatos, juntamente com Herodes, os gentios e os povos de Israel se ajuntaram contra Jesus, que foi preso, crucificado e morto pelas mãos de injustos [At 4.27, 2.23]. O “lavar as mãos” me parece uma atitude mais soberba e covarde do que a falsa acusação e a condenação injusta, pois aquele deseja se fazer limpo quando está sujo até o pescoço.

Ainda alguém poderá dizer: “Mas Cristo morreu por nós! Somos culpados da sua morte, também!”, o que é verdade. Acontece que esse deveria ser, mais do que um motivo, o melhor motivo para não apelarmos para a omissão, para a subida em um muro imaginário, onde estaremos negando fazer o certo, e o que é pior, desobedecer o mandato que nos foi entregue de salgar e trazer luz ao mundo. Ou é possível iluminar o mundo colocando a luz debaixo da cama ao invés de elevá-la, para que todos vejam? [Mt 5.14-15]. Isso é indiferença ou apelar para a indiferença em relação à vida política como se ela não influenciasse e determinasse como andará a sociedade e o mundo; implica em se dar as costas à injustiça, à imoralidade como se não afetassem a vida das pessoas, trazendo-lhes danos; quando o nosso não envolvimento apenas diz o quanto somos egoístas e mesquinhos, e o quanto nos esforçamos em manter um ascetismo que não existe. Pelo contrário, a negligência em relação à política nos faz maldição quando deveríamos ser bênção também na vida pública, de tal forma que não poderemos olhar para o próximo e dizer que o amamos, sem parecer hipócritas.

Como já disse anteriormente, o Evangelho é um todo; uma parte não ficou no passado e outra pode ser aplicada hoje, para, talvez no futuro, nada disso ser relevante para a igreja e para o mundo. É o mesmo que picotar uma folha de papel e jogá-la do topo de um arranha-céu em meio à tempestade, e após terminada, descer e recolher os pedaços. A chance da folha não ser mais restabelecida em sua inteireza é praticamente certa. Por isso, alegar que certas partes da Bíblia não são requeridas em nosso tempo é torná-la irrelevante em todos os tempos. Não somos nós que escolhemos o que se deve obedecer ou não na Escritura, mas o próprio Deus diz que ela é toda “proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça” [2Tm 3.16]; e, de outra forma, se ela pode ser aplicada individualmente o que impede que seja aplicada coletivamente? Ou estamos dispostos a guardá-la em nosso íntimo a fim de não sermos responsáveis por ensinar, redargüir, corrigir e instruir em justiça? E, também, não sermos ensinados, redargüidos, corrigidos e instruídos em justiça? Não estaria assim assegurada a manutenção da independência e autonomia em relação à Palavra? É possível se apelar para a irresponsabilidade, para o autonegar-se à obrigação, e não rejeitá-la?

A queda elevou ao máximo a corrupção da alma humana, ao ponto do homem ser capaz de cometer crimes inimagináveis para satisfazer o seu prazer maligno. Contudo, Paulo afirma que temos a mente de Cristo, pois “o espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido” [1Co 2.15-16]; e o novo-nascimento nos dá isso: a oportunidade de exercer sabiamente os princípios que nos foram dados por Deus. E esse poder não estaria nas mãos de um homem, ou de um pequeno grupo de homens, mas do Corpo de Cristo. Mas aí entra a questão da unidade... de que nós não pensamos igualmente, e de que há muitas interpretações díspares entre os vários grupos de cristãos. Acontece que a lei é objetiva e clara em seus princípios. O que se quer é relativizá-los ao ponto em que negá-la se torna a opção mais fácil, dentro de um pensamento essencialmente humanista e antibíblico. E assim, o homem acaba por tomar em suas mãos o destino daquilo que é certo e errado, à revelia do padrão de Deus, o único que seguramente definiu o que é verdade, e o que é mentira, como a negação da verdade.

Um dos versos mais usados para defender a “separação” entre Deus e o governo civil é a frase proferida por Cristo aos fariseus e herodianos, quando lhe apresentam a moeda de tributo [1]: “Daí pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” [Mt 22.21]. Mas essa distinção que o Senhor faz não seria, exatamente, por que o governo de César era antibíblico? Ao meu ver, o Senhor está dizendo: se vocês, hipócritas, fossem obedientes a Deus, não seriam servos de César, nem a ele deveriam tributos. Mas já que a moeda tem a esfinge de César, devei a ele a liberdade perdida; pois se são devedores de César, o que dirá de Deus? Se tivessem dado a Deus anteriormente, não teriam de dar agora a César... Porque, assim Paulo também disse: não é possível haver sociedade entre justiça e injustiça? E comunhão entre luz e trevas? E concórdia entre Cristo e Belial? Ou parte entre o fiel e o infiel? [2Co 6.14-15]... Ainda mais contundentemente: é possível o consenso entre o templo de Deus com os ídolos? [v.16]. Nesse aspecto, me parece claro que Cristo não está defendendo uma separação entre Deus e o governo civil, mas entre Deus e um governo ímpio e idólatra, pois onde o Senhor não é reverenciado e glorificado, não é possível haver comunhão. Porém, se o governo de César fosse nitidamente bíblico, Cristo proferiria a mesma sentença? E, por quê? [2]

Deus, quando estabeleceu a lei, queria que o homem fosse governado por ele em sabedoria, justiça e santidade. Por isso estabeleceu juízes em Israel, e eles, ainda que pecadores, levaram ao povo a justiça proveniente da lei. Ao desejarem um rei, optaram pelo padrão humano de governo [o totalitarismo e a idolatria ganharam forma no monarca], e o que vemos agora é o mesmo padrão sendo sustentado e defendido por cristãos, e assim como os judeus fizeram, desprezam o bom conselho de Deus. Mas será dito: “Nunca houve um governo justo! Somente Cristo trará justiça à terra!”... Sim, certamente, jamais houve um governo justo, e Cristo é a própria justiça, mas não será que essa “realidade” não passa de um subterfúgio para acomodar a indolência no seio da igreja? E a igreja como o Corpo não se desvincular do seu papel ao ponto de não andar segundo a vontade do cabeça? Mas se tudo é determinado por Deus, do que está se queixando? Afinal, os governos atuais não são instituídos, sustentados por ele? Paulo não disse que são todos ministros de Deus?, é o que se pensa e diz... Porém, o que isso exclui-nos da obediência? Em qual lugar está escrito: Disse Deus: como decretei a desobediência, estais livres para desobedecer?... Ou, ao contrário, somos chamados à submissão?

As tentativas de se justificar tal atitude são muitas, desde a descontinuidade da lei na Bíblia até o seu desuso e arcadismo, como se o fato do homem considerá-la indigna de si [numa inversão de valores] a tornasse irrealizável em seu propósito eterno e imutável. Quando se abre mão de Deus e sua justiça, do governo de Deus sobre o homem em todos os aspectos e sentidos da vida, este deixa-se guiar por outros deuses e pela injustiça, o que revelará a desordem e a iniqüidade não somente dos seus "deuses" mas de si mesmo. Por isso a Lei tem de ser retomada; a moral cristã tem de ser retomada; valores como ética têm de retomar o seu devido lugar na sociedade; pois será através deles que a justiça se manifestará efetivamente, de forma prática, não apenas como um sonho utópico e intangível ou possível apenas na eternidade [nesse ambiente, o amor poderá ser visto e sentido, não apenas idealizado], não entre suposições e incertezas relativistas que apontam para lugar nenhum e nenhuma efetiva ação cristã na sociedade.

Sem a ordem divina, através da Lei, seus ensinamentos, orientações e sanções, o homem não deixará de ser o naúfrago sem qualquer bóia salva-vidas, a se ferir até o sangue em meio a um cardume de vorazes tubarões.

Nota: [1] O sistema monetário romano incluía o denário (denarius, em latim, plural denaris), uma pequena moeda de prata que era a de maior circulação no Império Romano  [fonte: Wikipédia]. E isso me leva a crer que Cristo, ao indicar-lhes a esfinge de César, revelava que o produto da corrupção do povo e sua rebeldia contra Deus proporcionou que pertencessem a César, e assim fossem objetos da injustiça romana ao invés da justiça divina. 
[2]Ora, a “separação” que Cristo faz é entre os valores de Deus e os valores humanos; entre os princípios perfeitos e eternos de Deus e os princípios imperfeitos e temporais do homem; entre o santo e o profano; de tal forma que se dê a Deus o que é de Deus, honra, glória e louvor, por sua plena justiça; e aos homens o que lhes é de direito, ainda que esse direito seja fruto da injustiça.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Livro do Mês: "John Knox"


 Por Jorge Fernandes Isah

A partir de agora, ao menos uma vez por mês, estarei postando uma resenha de uma de minhas leituras, as vezes, transpondo comentários do blog "O que estou lendo... ou li" para cá. Assim, espero estimular os irmãos à leitura, tendo-se em vista que a audiência do Kálamos é maior do que aquele blog. Também me utilizarei dos temas correntes nos livros para outras reflexões, analogias ou superposição ao assunto. O que vale dizer que não esperem sempre uma resenha, mas até mesmo uma outra abordagem dentro dela. Poderei, também, escrever sobre livros já lidos em outros meses e anos, e que considerei relevantes do ponto de vista bíblico ou aqueles antibíblicos, os quais é necessário combater.
  
Terminei a leitura de "John Knox", e inaugurarei a série com ele, exatamente pelo tema ser pertinente aos últimos textos escritos sobre teonomia. Ele será o ponto de partida para futuras reflexões sobre o assunto. Então, vamos à resenha sobre o livro deste mês.
Boa leitura!

       

O Dr. Waldyr Carvalho Luz, entre outras obras, traduziu as Institutas de Calvino, do latim, e tem também publicados livros de gramáticas do grego e o Manual interlinear do Novo Testamento, ambos pela Cultura Cristã, o que o credencia como um autor erudito.

No início, temos uma apresentação rápida dos motivos que o levaram a escrever o livro, e suas fontes primárias, em que faz um apanhado geral do momento histórico em que John Knox nasceu; trazendo detalhes da Reforma Protestante que insurgia-se na Europa continental contra o poder papal, e que ainda era incipiente na Grã-Bretanha, especificamente na Escócia, país natal de Knox.

O panorama geral é tratado de forma a dar uma idéia do contexto em que o personagem vivia, um período em que as idéias e os movimentos eclodiam: Renascença, Iluminismo, Reforma, etc. Há citações de John Huss, Wycliffe e alguns mártires da Reforma em território britânico.

O estilo do Dr. Waldyr poderá não agradar a alguns. Por seu eruditismo, ele usa palavras e um fraseamento mais, digamos, sofisticado e que poderá soar hermético e rebuscado, sem contudo sê-lo. Com isso, não quero dizer que o livro seja maçante ou entendiante. Pelo contrário, a leitura é apaixonada para os que gostam de livros escritos com esmero e rigor, sem perder a objetividade.

O autor nos descreve os tempos tumultuosos e perigosos do período da Reforma na Europa e, no meio deles estava John Knox. Entre perseguições, ameaças, prisões [Knox chegou a ser escravo de uma galés francesa por dois anos], havia o amor à proclamação do Evangelho da graça, da suficiência apenas em Cristo encarnado, crucificado, morto e ressuscitado, pelo qual haveria salvação a todo o que cresse.

Homens fiéis a Deus e sua palavra sofreram a morte na fogueira, outros foram perseguidos, alijados, muitos tiveram de se exilar no continente, mas mais do que isso, o que estava em evidência era o caráter quase absoluto da injustiça dos homens, que resistiam pela força a manter o Evangelho restrito a uns poucos, de tal forma que a livre interpretação não era permitida, e havia apenas uma maneira de conhecê-la: pelos interesses e a motivação da igreja romana que tinha verdadeiro controle político e intelectual de todos os seus súditos espalhados mundo afora. Pensar biblicamente era assegurar uma sentença de perseguição e morte.

Interessante que, no momento atual, em que a igreja quer se despir de sua participação política, acreditando ser possível iluminar apenas as paredes dos templos, os cristãos do séc. XVI estavam empenhados na reforma eclesiástica, mas também na reforma da sociedade. O que me leva a corroborar a idéia de que Deus usará os meios humanos necessários para levar à cabo a sua obra; e, sendo assim, por que excluir desses meios o campo político? Por que podemos ser sal e luz nas escolas, universidades, no trabalho, nos lares, em atividades profissionais as mais variadas [onde em todas devemos demonstrar ao mundo o padrão moral e ético divinos], ocupando cargos de direção em grandes empresas, em grandes fundações, e mesmo no segundo e terceiro escalão governamental, os chamados cargos técnicos, mas não podemos ser luz e sal na política, propriamente dita? E aqui incluo a política partidária? Como se ela fosse um campo impossível de ser restaurada por Deus? Como se estivéssemos diante de um local nefasto e diabólico, quase tão todo-poderoso como Deus, em que a luz não pode combater as trevas? A seara de satanás seria um local especial em que ele teria um poder superior ao poder regenerador do Evangelho? Não parece que pensando e agindo assim estamos delimitando um campo de atuação em que nos é impossível atuar, e no qual a Bíblia não nos impede de atuar e, desta forma, não asseguramos ao diabo um lugar inviolável para que exerça livremente sua obra maligna sem oposição?

Ao meu ver, falhamos clamorosamente ao descuidar de uma área tão importante, e que em nada é diferente das citadas anteriormente, em que somos chamados a revelar a luz de Cristo e do seu Evangelho. Se é para agirmos moral e éticamente de forma bíblica em todos os diferentes segmentos da sociedade, o que nos permite excluir a política como um campo reservado apenas para a imoralidade, a injustiça e a antiética?

Realmente não entendo esse posicionamento de muitos irmãos, que asseveram uma biblicidade na omissão política, quando não há qualquer proibição ou obstrução ao crente para ser governador, vereador e até mesmo presidente do país. Como está escrito: "assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus" [Mt 5.16]. Cristo não nos ordena a ser luz onde estivermos, para que todos os homens a vejam e, sobretudo, para que Deus seja glorificado? Ora, se escolhemos esse ou aquele lugar apenas para salgar, Deus não será glorificado onde escolhemos não salgar e, portanto, a vitória é do inimigo que estará livre para agir conforme a sua perversidade. A Bíblia nos exorta a influenciar o mundo; não podemos escolher arbitrariamente onde se deve influenciar, mas a própria palavra mundo inclui e engloba todas as esferas humanas, para que Deus seja glorificado em todos os lugares, perante todos os homens.

Foi o que Knox e tantos outros irmãos realizaram em prol do Reino, em amor a milhões de pessoas que estavam acorrentadas à ignorância da ICAR [e muito se deve ao seu aspecto político controlador; à sua aliança com o Estado; a impedir a liberdade de proclamação da Escritura], e que necessitavam conhecer a mensagem libertadora e redentora da Palavra.

Foi preciso que esses irmãos lutassem, muitos até o sangue, como está escrito em Hebreus, para que a verdade fosse proclamada e permanecessem livres para proclamá-la, combatendo contra o pecado [Heb 12.4]. Eram tempos difíceis, de muitas privações, em meio à onda de peste negra que assolava a Europa [estima-se que 1/3 da população da Europa foi consumida pela epidemia], muito sofrimento, muita resignações para, alegremente, cumprirem a missão que o Senhor lhes havia entregue.

Portanto, aconselho sobremaneira a leitura deste livro, que poderá revelar um pouco de história, um pouco da vida desses homens, mas também o dever que temos para com Deus de sermos completa luz em todos os lugares e ambientes. Sem nos tornarmos cínicos a ponto de querer ver o "circo pegar fogo" para que seja destruído mais rapidamente. Não nos cabe torcer para que as profecias aconteçam antes do previsto, nem nos esforçar na omissão para que ela se abrevie, mas, pelo contrário, lutar para que o mundo seja restaurado, o Evangelho de Cristo proclamado, e a sociedade [até mesmo os ímpios] se beneficie da ordem e paz que somente Cristo pode dar.

Isto não tem nada a ver com otimismo ou pessimismo, se acredito ou não no que vai acontecer [alguém aí tem uma bola de cristal à disposição?], nem em que tempo vai acontecer; porém a nossa obediência a Deus tem de ser em qualquer tempo, fazendo valer o chamado e a obra que nos foram dados, e deixar o resto com o Senhor. Acreditar que, porque o mundo vai de mal a pior, tem-se de cruzar os braços, é sinal de soberba, de se ter uma sabedoria superior à ordem que nos foi dada, e de se fazer superior à palavra que nos foi ordenada: Ide e pregai o Evangelho a toda criatura, em todas as nações, "ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado" [Mt 28.19-20].

De certa forma, é se colocar acima da palavra; de certa forma é desprezar o mundo, as pessoas, deixando que o mal exista livremente, sem contenção; de certa forma, é medo de sair do lugar confortável; de certa forma, é sinal de arrogância ao se colocar em posição privilegiada, como filho de Deus, privando as pessoas da totalidade do Evangelho, e com isso, impedindo-as de serem alcançadas. Parafraseando Mateus, ainda se cumpre a vontade de Deus, de que os não eleitos não sejam alcançados, mas aí daquele homem por quem  os não-eleitos não são alcançados pela palavra, "bom seria para esse homem se não houvera nascido" [Mt 26.24].

John Knox nos mostrou que o Cristianismo é mais do que palavras ao vento, revelando o papel transformador do Evangelho em todas as esferas humanas, e de que a igreja exerce o papel fundamental não somente na sua proclamação, mas também na sua aplicação, sendo ambas a forma objetiva de propagação do Reino. Ao que parece, não somente devemos esquecer a luta dos reformadores, mas desprezá-la quase como uma loucura; afinal, o papel da igreja é lutar apenas contra as potestades espirituais; esquecendo-nos de que elas são materializadas nos homens, nos pensamentos e em seus feitos. Enquanto se pensar apenas numa luta sobrenatural, seremos invariavelmente derrotados no campo material, o que revelará uma derrota espiritual também [não estou apelando para o pragmatismo, os resultados não nos cabe obtê-los, mas devemos buscá-los. Se acontecerão ou não, não é da nossa conta. O nosso papel de proclamadores e membros do Reino de Cristo é que não pode ser minimizado ou relativizado]. E esse parece ser o intento do nosso inimigo, em espiritualizar até mesmo o que não é espiritual, para que o mal se materialize efetiva e objetivamente. Ao ponto em que nos acomodamos nas promessas ao invés de lutar por elas.

Título da obra: John Knox
Autor: Waldyr Carvalho Luz
Editora: Cultura Cristã
Avaliação: Bom

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Cristianismo, Estado e Justiça - Parte 2: a blindagem do mal













Por Jorge Fernandes Isah

O que leva alguém a se considerar mais justo do que o outro? Ou o que pode levar o outro a crer-se mais justo do que o primeiro? Afinal de contas, qual é o padrão de justiça? O próprio homem? O Estado e suas leis? A tradição? Se é, quais são os seus fundamentos? As bases para a justiça são intelectuais e sentimentais ou empíricas? Um homem deve ser condenado ou absolvido por critérios gerais ou pessoais? A mesma lei que serve para um não serve para o outro, e vice-versa? Até que ponto nossas preferências devem se sobrepor à lei? Ou a lei é superior a elas? E por que defendê-la? E por que não defendê-la?... E assim, uns se acusam, outros se defendem; ninguém está certo, e todos estão errados? Outra pergunta: o homem antecede a moral ou a moral antecede o homem? Se a resposta for a primeira, tudo então advém dele; portanto, todos os padrões e julgamentos devem ser realizados a partir do antropocentrismo. Se a resposta for a segunda, então nem a moral nem a ética procedem do homem. E se não procedem dele, originaram-se de Deus, visto elas não serem entidades autônomas e autocriadas; e os padrões e julgamentos devem partir do teocentrismo, especificamente do teísmo bíblico, onde o próprio Deus se revelou na pessoa do Senhor Jesus Cristo.

Acontece que tanto a moral como a ética somente são possíveis de existir dentro de um padrão de justiça, de uma busca em se anular ou impedir a injustiça, que seria a manutenção de um direito, e de que esse direito não seja violado, nem impedido de se exercer. A justiça precede-as portanto, mas é através delas que será revelada. Por isso se criam leis em conformidade com a moral e a ética, e quando elas não estão presentes o que temos são leis que favorecem a imoralidade e a antiética. À margem do padrão de justiça, com o nítido objetivo de subvertê-la, anulá-la, e instaurar um novo padrão que reconheça as queixas, as reclamações do injusto, atendendo-lhe as reivindicações e regulando uma prática ou atividade que está em oposição ao estabelecido. De tal forma que o que era justo deixa de sê-lo, passando a ser injusto; e o que era injusto é alçado à categoria de justo, numa inversão da ordem a partir da desordem [Is 5.20]... Então, volta-se às questões anteriores: mas em quais bases o padrão foi alterado?

Alguém dirá: se a lei diz que algo é injusto, ele é. E ponto final. Porém, seria isso verdade? Pode a lei mudar o que é moral tornando-o imoral? Pode a lei transtornar o ético em antiético? Seria o mesmo que dizer que o elefante é um vegetal que se espalha no campo e serve de pastagem e pode ser devorado por um inseto chamado cigarrinha. Para se concluir que o mamífero se tornou, num passe de mágica, em capim [1].

O relativismo moral e ético permite que tudo seja mudado segundo o padrão pessoal e de “verdade” pessoal, sem que haja absoluto, e tudo esteja em constante mutação e evolução, a fim de acomodar todas as coisas ao seu tempo, resultando na supremacia dos valores subjetivos do senso individual; o que vale dizer que qualquer apreciação subjetiva, que revele as preferências de cada um, ainda que seja a mais estúpida, bizarra, e sem qualquer legitimação, produz o mesmo efeito que um juízo baseado no conhecimento objetivo. Assim um assassino confesso pode, até mesmo, se ver livre de uma punição se o padrão moral não considerar crime o homicídio. O mesmo acontecia com o canibalismo em tribos indígenas. O mesmo se dá em rituais macabros, ainda hoje. O mesmo em religiões cujas normas e regras prescrevem o sacrifício da esposa quando o marido morre, ainda hoje. Do assassinato de bebês que nascem com alguma anormalidade física, no caso de tribos silvícolas, ainda hoje. De países, como a China, onde se pratica o infanticídio feminino, ainda hoje. O que dizer dos abortos, da pedofilia, do exibicionismo sexual [de homo e héteros], do incesto, do homossexualismo, da corrupção, etc, que não são punidos? Em outras palavras, pecados claramente definidos na Escritura como tal, e que deveriam receber uma punição justa segundo a lei de Deus, são cometidos naturalmente como parte de alguma cultura ou sociedade; não são constrangidos a extinguirem-se, antes ganham recrudescimento e o aval do mundo moderno; e, de certa forma, a igreja contemporiza com eles, ao julgá-los normais pelo padrão da Queda e da natureza caída do homem.

O erro está em não se distinguir certas coisas como imutáveis, a lei divina, por exemplo, diferenciando-as das mutáveis, como a moda, os meios de transporte, a linguagem, etc, e até mesmo a lei humana. Mas, por que essas variações determinariam a mutação da lei divina, estabelecida pela moral imutável proveniente do Deus imutável? Não há aqui um componente relativista em que a lei de Deus é invariável para os crentes [e mesmo para muitos, não o é], enquanto o mundo pode adaptá-la aos seus interesses escusos? Quando se defende esse conceito, o que se sobressai é a sua incoerência ao designar áreas de atuação distintas a grupos distintos alheio à verdade estabelecida por Deus, que não estabelece essas diferenças mas declara a todos a unidade de sua obediência, como verdade objetiva e absoluta em sua independência de qualquer convenção humana.

Por isso, quando um cristão não se indigna, não se levanta contra essas abominações, as quais Deus odeia, e se mantém numa área aparentemente segura em suas relações sociais, ele se opõe ao Evangelho. Por favor,  que algum desavisado não distorça ou confunda o que eu disse. Não estou a propor o pegar em armas e sair à guerra, matando todos os pecadores [muitos deles, eleitos para a salvação]. Nem para uma cruzada moral em que nós mesmos, muitas vezes, somos imorais. Nem para uma “limpeza” social, étnica ou religiosa. Uma inquisição, caça às bruxas, ou a tomada do poder à força. Nada disso. Como escrevi na Parte 1, tenho de sofrer o dano, mas jamais posso usar essa prerrogativa [um privilégio segundo Paulo (Fp 1.21)] para impor o dano sobre o outro, com o risco de ser injusto e concorrer para o mal.

O que temos visto, de forma sistemática, é uma perseguição organizada contra o pensamento religioso, especialmente o pensamento cristão. Qualquer alusão à Bíblia, a Deus, moral e ética cristãs, rapidamente é desaprovado e condenado. Como se ao citá-los uma luz vermelha acendesse e piscasse nervosamente, e uma sirene tonitruante alertasse para o perigo iminente. Mas perigo a quem? E, por quê? Não seria por ser uma ameaça aos anseios do mundo? Não seria por se opor a ele? Não seria uma autoproteção da iniqüidade? Uma blindagem do mal? Que levou o homem a não glorificar a Deus, nem lhe dar graças, “antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu”? [Rm 1.21]. Pois o mundo odiou e odeia a Cristo, assim é necessário que também sejamos odiados por ele [Jo 15.16-21], do contrário, se não somos perseguidos, há algo de errado [e não falo de prisão, tortura e morte apenas, o que acontece em várias partes do mundo, mas da rejeição, da segregação, seja no lar, no trabalho, na escola, entre os vizinhos; que pode levar a várias injustiças, desde o ser ignorado e preterido nesses ambientes até mesmo à prisão, tortura e morte, enfim]. Se o mundo nos vê com indiferença, é sinal de que as trevas estão em vantagem e nossos frutos não são dignos de glória. Se o mal não é abalado em sua malignidade, é porque nossos alicerces ruíram ou não foram ainda erguidos. Estamos como aquele néscio que escutou as palavras do Senhor mas não praticou, e construiu a sua casa sobre a areia, “desceu a chuva, correram os rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua perda” [Mt 7.24-27].

Mas sempre há alguém que apelará para o amor incondicional, aquela muleta que tem o intento de autoprotegê-lo e proteger seus pares, num corporativismo que inexiste na fé cristã. O próprio Senhor disse: “Se me amas, guardai os meus mandamentos... guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” [Jo 14.15, 23]. Parece-me evidente que o amor de Deus não é incondicional e genérico, como muitos pensam, mas restrito àqueles que guardam os seus mandamentos por amá-lo; pois quem guardar os seus mandamentos, permanecerá no seu amor, assim como Cristo guardou os mandamentos do Pai, e permaneceu no seu amor [Jo 15.10].
  
Não vou entrar na questão do Decreto eterno, muito menos na questão da eternidade e temporalidade, o fato é que, se alguém não guarda os mandamentos divinos e, pelo contrário, rejeita-os deliberada e acintosamente, numa exibição desavergonhada de dizer em alto e bom som que ama o pecado e a ele se submete, como uma forma de provocação, de repúdio à vontade e determinação de Deus, esse não tem o seu amor. E se não o tem, não pode amá-lo, porque antes de o escolhermos, ele nos escolheu; antes de amá-lo, ele nos amou primeiro [Jo 15.16, Ef 1.5, 1Jo 4.19]. Deus não tem um guarda-chuvas em que todos podem ficar debaixo, ao abrigo; mas ali se ajuntam apenas os que ele elegeu, os quais pelo sangue de Cristo foram propiciados e protegidos da ira vindoura. A mesma ira que cairá sobre os ímpios e inconversos pela justiça de Deus; pois, “se a nossa injustiça for causa da justiça de Deus, que diremos? Porventura será Deus injusto, trazendo ira sobre nós (falo como homem)? De maneira nenhuma; de outro modo, como julgará Deus o mundo?” [Rm 3.5-6]. Apelar ao amor para anular a justiça é o primeiro erro de muitos que o ímpio comete; uma sentença autocondenatória, que ao invés de beneficiá-lo, condená-lo-á.

Paulo relata que a ira de Deus se manifesta do céu sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detém a verdade em injustiça [Rm 1.18]. As conseqüências de se torcer a justiça tornando-a injustiça é que Deus os abandonou  às paixões infames, entregou-os a um sentimento perverso, recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro, fazendo coisas que não convêm [Rm 1.24-31]. São obstinados em fazê-las, não têm arrependimento, não se sujeitam a nada além do próprio prazer; praticam a injustiça sem qualquer temor, trazendo o mal, o vitupério, a ignomínia a si mesmos, mas também às vítimas de seus atos, os quais são inimigos da cruz de Cristo “cujo fim é a perdição, cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” [Fp 3.19].

O que me faz voltar à seguinte questão: o ímpio tem medo da lei porque ela o acusa, revelando o seu crime e imputando-lhe uma pena ou castigo. O seu temor é justificado dentro de um padrão normal de anormalidade espiritual. Ele temer a justiça de Deus, também. Ele ansiar por um Deus complacente e conivente com o pecado, idem. Mas por que muitos crentes insistem em rejeitar a lei, como se fosse injusta e, ainda, como se ao desprezá-la pudesse impedir as suas conseqüências sobre os infratores? Porque, em última análise, ninguém está livre do juízo eterno e da condenação, salvo apenas os que foram comprados por Cristo na cruz. Então, tenta-se fugir do que não se pode fugir? E essa fuga não é uma tentativa frustrada de se fugir de Deus, também? E, alguém pode obter êxito nessa tentativa? Não. O crente sabe disso, e sabe que a lei, mais que o falso amor [aquele amor transigente que perverte a verdade em mentira, e faz da justiça injustiça, e de Deus um amante do caos] pode levar o pecador ao arrependimento, como o aio a Cristo. Sem nos esquecer de que o caráter principal da lei é preservar a moral e ética bíblica, guardar a justiça, e condenar o mal. Mas, por mais que não se queira, o castigo pode ser pedagógico na construção da santidade no homem.

O exemplo de Davi é emblemático. Após adulterar com Bate-Seba e de matar o marido dela, Urias, por quase um ano manteve a sua mente anestesiada em seus pecados. Deus enviou o profeta Natã que usando a história de uma cordeirinha, a única de um pobre homem que a amava como uma filha, teve-a tomada por um homem rico para banquetear um viajante, o que fez o rei encher-se de furor contra o homem rico. Davi percebeu que aquele homem havia cometido uma injustiça, e disse: “Vive o Senhor, que digno de morte é o homem que fez isso... porque fez tal coisa, e porque não se compadeceu” [2Sm 12.5]. Porém, os seus crimes não lhe trouxeram o mesmo senso de justiça. Então, o profeta disse-lhe: “Tu és este homem... Então disse Davi a Natã: pequei contra o Senhor. E disse Natã a Davi: Também o Senhor perdoou o teu pecado; não morrerás. Todavia, porquanto com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do Senhor blasfemem, também o filho que te nasceu certamente morrerá... E buscou Davi a Deus pela criança, e jejuou Davi, e entrou, e passou a noite prostrado sobre a terra... E sucedeu que ao sétimo dia morreu a criança... Então Davi se levantou da terra, e se lavou, e se ungiu, e mudou de roupas, e entrou na casa do Senhor, e adorou.” [2Sm 12.7, 13-14, 16, 20].

Interessante que não vemos Natã dizer a Davi: “Não se esquente! Deus te ama!... isso vai passar”, o que muitos, desajuizadamente, proferem aos quatro cantos como se fosse um mantra, como se a repetição sem sentido de algo que a pessoa desconhecesse, pudesse torná-lo real. Da mesma forma, Davi não se fiou no amor de Deus, mas sujeitou-se a ele; e em sua mente estavam escritas as palavras que Paulo proferiria séculos depois: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” [Rm 8.28]. E o bem para Davi naquele momento era o arrependimento, e voltar-se para o seu Senhor.

Outro componente a se pensar é o da glória de Deus. O nome dele havia sido blasfemado por causa dos crimes de Davi, e era necessário que todos vissem que, mesmo sendo rei, ungido por Deus, o castigo lhe sobreveio, e a sua condenação era pública, para que não servisse de mau-exemplo e estimulasse a outros seguirem os seus passos pecaminosos. Portanto, a aplicação da lei tem o fim de inibir e coibir o mal, também.

Pode-se apelar para o argumento de que Davi já era um crente. Porém, se Deus castiga os que são seus por amor, o que não fará com os ímpios que não ama? Se o julgamento começa pela casa de Deus, qual não será o fim dos que são desobedientes ao evangelho de Deus? [1Pe 4.17].

Enquanto alguns defendem um cristianismo do lado branco e atacam um cristianismo do lado negro [2], seja lá o que isso queira dizer, o cristão tem de se voltar e se apegar ao Cristianismo bíblico, e nada mais. O padrão é bíblico para a igreja. Por mais aceitação que determinada prática tenha nos últimos anos ou séculos, ela não representará a verdade se não estiver em conformidade com a Escritura. Como disse em algum lugar, o Evangelho é um, revelado progressivamente, mas em unidade, coesão e verdade. Quando se fala de amor e se despreza a justiça, não se ama. Quando se fala em justiça sem amor, é-se injusto. As duas coisas andam juntas, nem antes nem depois, nem mesmo lado a lado, mas intrínsecas, de tal forma que uma não subsiste sem a outra.

Por mais que Cristo estivesse entre pecadores [e todo o mundo era-o, como é], e por mais que se repita que ele ama o pecador, não podemos associá-lo ao pecado ou a contemporizar com o pecado.  Como Deus e Santo, essa comunhão é impossível. Assim como o é entre luz e trevas. Então, por que estamos mais dispostos à escuridão, em mantê-la, do que em dissipá-la? Porque, como um sedentário que se prepara para uma maratona, e os exercícios lhe causam dores terríveis pelo corpo, a verdade dói, e nos causa muitas dores. Mas à medida que a conhecemos, nos tornamos familiares dela, as dores vão passando, e como o homem já preparado para correr quilômetros não sentimos o esforço, nem o cansaço. Prosseguindo para o alvo, esquecemos das coisas que ficaram para trás, e avançamos para as que estão diante de nós, em busca do prêmio: chegar à perfeição e à medida da estatura completa de Cristo [Fp 3.13-14, Ef 4.13].

Para andar naquilo em que já chegamos, segundo a regra de que “o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” [Gl 6.14].

Ao invés de blinda-lo. 

Notas: [1] O capim-elefante é uma gramínea perene (Penisetum purpureum) natural da África e introduzida no Brasil por volta dos anos 1920.
[2] Existe no momento uma cruzada entre os cristãos, em que aqueles que acusam os que acusam sentem-se privilegiados ao acusar, e estabelecem limites que também são estabelecidos pelos outros, numa luta estúpida e nada cristã, como se estivessem disputando um cabo de guerra imaginário onde o que vale é uma verdade pessoal e transferível. Ao se opor ao dogmatismo e ao sectarismo, acusando fulano e beltrano com termos e expressões pouco recomendáveis até mesmo para um ímpio, eles se tornam tão o mais dogmáticos e sectários que seus opositores. Ao acusar o exclusivismo e defender um inclusivismo, o inclusivismo deles é mais exclusivista do que o dos seus oponentes. Ao defender que até mesmo o tolo pode ser usado por Deus para realizar a sua obra, mas o seu oponente não, ele contradiz a si mesmo. Ao tentar se fazer diferente, se iguala na mesmice que acusa haver apenas nos outros. Por isso, não adianta ir apenas à Bíblia para buscar comprovação do que se crê, mas deve-se buscá-la para, sobretudo, ter a mente transformada e guiada pelo próprio Espírito de Deus.
[3] Ainda não falei do Estado propriamente dito, e espero fazê-lo, mais cedo ou tarde, se Deus quiser.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Cristianismo, Estado e Justiça - Parte 1











Por Jorge Fernandes Isah

Todo cristão deve ter a convicção de que, em qualquer época e lugar do mundo, onde o Evangelho de Cristo não se fizer presente, como a regra primeira e última de normatização das relações humanas [não apenas como um devaneio para a alma e poetas], ali encontraremos o que se pode chamar de idade e reino das trevas, sem a menor chance de sermos injustos ou precipitados. Porém, o que vem acontecendo e se disseminando entre nós é exatamente o contrário, a possibilidade de se criar um paraíso terreno sem a necessidade de se aplicar a Lei e o Evangelho, antes a rejeição de ambos [1]. Como se o homem, em si mesmo, pudesse deter algo de bom, e seus valores e objetivos fossem mais justos e santos do que os valores divinos, os quais provém da única fonte capaz de gerá-los, Deus, visto ser ele, em essência,  santo e justo.

Estranha-me que cristãos saiam decidida e prontamente em defesa de ideologias e métodos nitidamente antibíblicos, como se Deus pudesse, de uma hora para outra, renegar a si mesmo em favor do homem. Bem, alguém poderia, num arroubo delirante, dizer que a encarnação do Verbo foi uma espécie de negação da divindade, mas eu direi a esse insano que não há como Deus negar-se a si mesmo, pois o perfeito jamais pode ser imperfeitoou deixar de ser perfeito. E Cristo encarnou-se exatamente por causa da sua perfeição, a fim de executar o plano perfeito, imutável e eterno traçado pela Trindade Santa. Porém esse não é o motivo deste post, e a discussão pode se direcionar a outro lugar e momento. 

A verdade é que, de muitas formas e maneiras, tenta-se justificar o fato da igreja estar em profunda aliança com o mundo [mesmo que não seja consumada mas um flerte, isso em nada ameniza a situação], abandonando, como o fez em outras épocas, a aliança com Deus. Por que será? Alegar o estado temporário de imperfeição dos santos como justificativa não me parece prudente, nem mesmo chega a ser uma resposta. O ensimesmamento do homem parece-me muito mais próximo de uma resposta bíblica, a qual nos garante que não há um justo, nenhum sequer, e de que não há quem busque a Deus [Rm 3.10,12].  É claro que não ignoro o convívio do joio entre o trigo, mas, por que o trigo se empenha em seguir o caminho infrutífero do joio? Faltam parâmetros que delineiam a vida cristã. Parece que cada um pode absorver o que quiser e descartar o que também quiser com a mesma naturalidade com que se escolhe a cor de uma camisa ou o sabor de um sorvete, apelando apenas para o critério pessoal, algo subjetivo e de foro íntimo.

Tem-se de entender que a palavra que lemos, ouvimos e proclamamos não é nossa, mas de Deus. E como tal, tem de ser observada, entendida e aplicada em sua integralidade. O maior problema que se tem hoje é o de se distinguir entre um trecho e outro da Escritura, e dizer ser esse pertinente e aquele não, para os tempos atuais; e assim, rejeitamos a Bíblia em sua unidade, como a palavra para todos os homens em todos os tempos e lugares. Promove-se o seu fatiamento, a fim de se escolher o que venha de encontro aos interesses pessoais, e descartar o que não se encaixa neles, mesmo assim a partir de uma exegese falha e uma interpretação distorcida e tendenciosa. Já disse, em outro lugar, que não é possível se ter uma fração do Evangelho; ou se tem o todo ou não se tem nada. Mas parece que muitos estão dispostos a conviver com uma ínfima parte, ao ponto de se acreditar que têm a completude e unidade da palavra; talvez o maior de todos os enganos, senão o maior. Até mesmo não ter nada pode ser mais benéfico pois há a possibilidade de se ainda conhecer o todo. Contentar-se e se autojustificar com uma parte, impede-se de compreender e desfrutar da verdade intacta transmitida por Deus de maneira definitiva em seus limites invariáveis. Como está escrito: Olhai, pois, que façais como vos mandou o Senhor vosso Deus; não vos desviareis, nem para a direita nem para a esquerda” [Dt 5.32]. Não há ziguezagues, desvios, ou atalhos, nem mesmo paradas, mas um caminhar regular e líneo à glória.

O grande problema é que a igreja tem olhado o mundo com olhos cobiçosos, invejosos, de ter o que ele tem, de desfrutar do que ele usufrui, de colaborar em erguer-se a cerca que separará definitivamente o homem de Deus, mantendo-o do lado de fora do Reino, ainda que ele possa vislumbrá-lo a distância, minimamente, e assim certificar-se de estar [in]seguro na periferia, onde a marginalidade espiritual se estrutura no caos e na imoralidade. É como acariciar uma bomba-relógio programada para explodir em alguns segundos. Paulo nos diz: não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” [Rm 12.1]. Ora, o que vem a ser a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus, senão o Evangelho em sua totalidade? Não basta ouvi-lo. Não basta lê-lo. Nem racionalizá-lo. Decorá-lo. Ou espiritualizá-lo. Qualquer forma de reduzi-lo em sua amplitude apenas nos afastará da sua mensagem. Antes é necessário obedecê-lo, assim como o Senhor Jesus obedeceu ao Pai, demonstrando o seu amor por ele. Ilude-se quem acredita que qualquer tipo de amor é suficiente em si mesmo. Que qualquer emocionalismo ou contemplação é suficiente para agradar a Deus. Nada disso. O exemplo está naquilo que Cristo espera dos seus discípulos, como prova do amor deles por ele: Se me amais, guardai os meus mandamentos... e aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama” [Jo 14.15, 21] porque“Quem não me ama não guarda as minhas palavras” [Jo 14.24]. Isso é dito para a igreja, o povo de Deus, porque o mundo não pode conhecer o Espírito de verdade, nem pode recebê-lo, “porque não o vê, nem o conhece” [Jo 14.17].

Assim, muitos justificam a impiedade e injustiça do mundo em sua anormal naturalidade de ser ultrajante e insensato, visto não terem a palavra nem o Espírito da palavra para orientá-lo, pois é-lhe impossível recebê-los, e não os têm em si mesmo. Mas será isso? Ou não estaremos apenas dando os motivos para tanto uma como outra coisa se propaguem desenfreadamente, numa justificativa para a falta de temor dos cristãos? Não estaremos a regar e adubar o mal por considerá-lo inevitável e fora de controle? Não estaremos a nos condenar pelo descuido, por um espírito de acomodação e cinismo? Pelo qual nos desculpamos a nós mesmos por causa da nossa covardia e falta de senso? Desde quando o fato de se ser pecador é justificativa para se pecar? Seria o mesmo que um réu justificasse o seu crime diante do juiz com o argumento [ou a falta dele] de ser criminoso. O criminoso não é autojustificado por sua condição, antes ela o denuncia e o condena. E, com isso, participamos do sofrimento, da injustiça e da opressão que governos e a sociedade exercem sobre outros irmãos e até mesmo outros ímpios, o que nos torna, em algum grau, cúmplices do mal.

Mas alguém pode dizer: devemos sofrer por amor ao próximo. Devemos amá-lo como Cristo ama o pecador. É verdade, porém, Cristo não ama a todos os pecadores indiscriminadamente. Cristo não ama aquele que morrerá obstinado em seu pecado. Cristo não ama aquele que escarnece e se exibe acima da vontade de Deus, como se fosse maior do que Deus. Cristo não ama os que jamais se arrependerão dos seus pecados. Muito menos os que se deliciam continuamente em praticá-los. Cristo, ao contrário, abomina-os, e os lançará no tormento eterno, sem apelação. Cristo veio ao mundo para resgatar o seu povo, morreu por ele, e por ele ressuscitou. Alegar um amor divino indistinto é apelar para a desordem de Deus, que criou o mundo com propósitos claramente definidos, assim como os vasos da ira foram preparados para a perdição [Rm 9.22], e "até o ímpio para o dia do mal" [Pv 16.4]. A visão de muitos, de um deus que criou vasos para a perdição e amou-os tanto que os lançará no inferno, onde serão atormentados eternamente, e mais, que os criou com essa finalidade, é simplesmente não-bíblica e, posso dizer, tem o objetivo de nos tornar amigos de inimigos declarados, de tal forma que contemporizamos com o mal ao invés de aborrecê-lo. Querem criar um deus ambíguo, esquizofrênico, senil, frouxo, e que nada tem a ver com o Deus bíblico. Mas à parte dessa questão, uma outra está a intrigar-me: pode um cristão apelar para o amor indiscriminado e incondicional ao pecador, mesmo que isso represente a perseguição e injustiça a outro [irmão ou não]? Quer dizer que devo ser misericordioso para com aquele que não tem misericórdia, e assim ele desfrute livremente do seu pecado? E até o use como uma forma de punir o justo?

Veja bem, o ponto a se refletir é: tem-se de ser misericordioso com quem não tem misericórdia, com aquele que persegue, com aquele que causa dano, com aquele que se exibe ostensivamente na promoção e incitação ao pecado? É inadmissível que isso sirva de justificativa para a ofensa, a improbidade e o despudor. Seria esse o padrão de justiça bíblico, que nos leva a amar o ímpio e a permitir que ele permaneça injusto? Qual deve ser a atitude diante de um ato de injustiça? Defender quem a promoveu? Ou acusá-lo? E condená-lo segundo o reto padrão divino? Ou absolvê-lo pelo padrão humano? Quando se age assim, condena-se o justo e despreza-se a justiça. Favorecendo o mal em detrimento do bem. Mas, sobretudo, permiti-se agir injustamente com ambos. Ao consentir que um exerça livremente a sua impiedade, privando o outro da liberdade de ser justo.

Uma pausa: A Bíblia diz que devemos amar aos nossos inimigos [Mt 5.44]; da mesma forma que nos ordena a abençoar os que nos perseguem[Rm 12.14]. Mas isso se refere especificamente a cada um de nós, como indivíduo; é um chamado individual para cada um agir assim quando o objeto de injustiça for a si mesmo, não o outro; ou seja, eu, Jorge, se sou perseguido, caluniado, odiado, devo amar quem me persegue, calunia e odeia; porém, isso quer dizer que devo proceder da mesma forma em relação a alguém que persegue, calunia e odeia outro? Ou antes devo denunciar o crime e o criminoso, e sair em defesa do inocente? Sou chamado a me entregar à morte por Cristo, mas não posso nem devo aceitar e permitir que o outro seja morto, pois, agindo assim, estará evidenciado não o amor, mas o desamor. O amor pode permitir que eu sofra a injustiça, mas jamais permitir que eu compactue com ela. São coisas distintas. Devo sofrer o dano, mas jamais permitir que outrem seja lesado. Interessante é que, normalmente, não aceitamos o dano, mas queremos impô-lo aos outros; somos rápidos em nos defender, e negligentes quando se trata do próximo. 
Outro ponto é que o fato de amar o ímpio não me impede, em momento algum, de corrigi-lo. Isso deveria ser visto, corretamente, como prova de amor não somente ao criminoso, mas também ao inocente, para que ele não seja punido duas vezes: por quem cometeu o crime, e por não ser reparado no que perdeu. Fim da pausa.

Ao se defender a liberdade homossexual, por exemplo, defende-se até que ponto? E se for legimitizada por força de lei, e ferir os princípios de liberdade de um irmão, esse padrão de justiça e moralidade pode ser considerado bíblico? E, até que ponto, não se ampliará esse direito aos assassinos, ladrões, estupradores, corruptos, fraudadores e blasfemadores? Ou se deve, ao contrário, esforçar-se para que eles reconheçam seus pecados [e sofram a punição legal por eles] como uma maneira de denunciar o padrão imoral e antibíblico no qual vivem? [2]. Sendo exemplo para que outros não enveredem no erro? Não é assim que Deus demonstra o seu amor por nós, nos revelando, primeiramente, nossa impiedade? Levando-nos ao arrependimento? Por que temer que a lei seja esse instrumento de reparação ao injustiçado, a fim de se corrigir um dano; mas também o aio que levará o pecador a Cristo? Não é retirar a força do Evangelho? Diminuí-lo, e agir claramente em desamor? E não é certo, ao agir assim, que será acusado no tribunal de Cristo, por cooperar com o mal? E se inserir no modelo ao qual o apóstolo se refere, “os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem” [Rm 1.32]? Viver no mundo, não nos torna parte dele; temos de ser separados de suas práticas, e mesmo daqueles que a praticam sem pudor.

Ao silenciarmo-nos, assentimos, ainda que exteriormente, com a prática do mal. É o suficiente para o ímpio ver reconhecida a sua legitimidade de permanecer na transgressão. O nosso silêncio é a resposta que eles não precisam ouvir para declararem moral o que Deus estabeleceu como imoral. É necessário que a nossa aversão, nojo e repulsa sejam evidenciadas, não como uma mera postura a se delimitar um espaço físico ou social, mas para o próprio bem daqueles que teimam em viver à margem da moral e ética cristãs, e pelo bem daqueles que desejam sinceramente viver nelas e por elas. Agir assim parece ser pedir demais, num mundo em que o pecado é ostensivamente exposto como apenas outro padrão social; como se estivéssemos sem rumo, o ponteiro da bússola girando freneticamente em todas as direções. Esse padrão encontra-se presente em todos os seguimentos, refletindo o caos que conduzirá as pessoas em suas relações cada vez mais destrutivas e insanas.

Quando o ministro Marco Aurélio Garcia disse não haver problemas no fato dos filhos do ex-presidente Lula, que nada têm a ver com o corpo diplomático brasileiro, deterem credenciais diplomáticas, e a sociedade finge não ver, e os cristãos fingem-se de cegos, e muitos dentre nós ainda defendem esse falso argumento [que em si não é argumento, pois não há argumentação], paira no ar o cheiro pestilento e invasivo de podridão. Que deixa tudo à sua volta exalando um mau cheiro intenso, doentio, e agonizante. É essa indisposição à verdade que torna relevante a mentira, que nem mesmo está preocupada em dissimular-se, mas em se exibir cínica e provocantemente obscena, como uma ferida purulenta que ninguém quer curar.

Isso é extremamente danoso para o mundo que, contudo, não se apercebe em sua própria cegueira do abismo, da queda-livre, em que se encontra. Masquando percebemos que a igreja se envolve cada vez mais com a patifaria e o descaramento, o que faria enrubecer os piores bucaneiros e corsários do passado, torna-se fácil notar que os valores bíblicos foram postos de lado, Deus tem sido esquecido, e a sua palavra repudiada em favor das falsas “boas-novas” do príncipe deste mundo. E a igreja acaba por encher-se de humanismo e de relativismo e de descrença, a tal ponto que o Evangelho está morto para ela, enquanto ela, moribunda, aguarda a morte inapelavelmente justa e anunciada no Evangelho. E se deixa abandonar em si mesma, exatamente por lutar contra aquilo que deveria ser: apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” [Ef 5.27].

Não cheguei a falar do Estado, presente no título deste post, o que ficará para a seqüência, se Deus quiser.

Continua...

Nota: [1] Faço a distinção da revelação em dois termos, não porque eu ache que exista diferenciação entre um e outro, mas apenas para facilitar o entendimento do leitor que pode estar acostumado à dicotomia Lei e Evangelho, que na verdade, não existe do ponto de vista bíblico.
[2] Quando Paulo diz aos coríntios que eles estavam ensoberbecidos, orgulhosos, de manterem um fornicador no corpo local, e de não se entristecerem por não tê-lo tirado de entre eles, não os tratou como inocentes, mas culpou-os pela falta de zelo, determinando que o tal fosse entregue a satanás. E, por fim, exorta a igreja a não se associar com aquele que, "dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador, com o tal nem ainda comais" [ICo 5.11]. Infelizmente, muitos têm se disposto a rejeitar seu irmão em favor da união com o ímpio.