Por Jorge Fernandes Isah
Há coisas na apologética que não consegui ainda entender; estou-me esforçando, mas parece ir muito além do que eu mesmo seja capaz de compreender. Uma das questões é o fato de Cheung estabelecer que um incrédulo ou seja, um não-cristão, pode ser demolido em sua cosmovisão, racionalmente, pelo Cristianismo.
Ao meu ver, um não-cristão somente pode ser convencido racionalmente pela verdade, o Cristianismo, se for regenerado. Não consigo imaginar um não-cristão crendo nos princípios cristãos sem o novo-nascimento, sem que os seus pressupostos sejam ordenados pelo Espírito Santo.
Por isso, fiz algumas perguntas a um irmão [cujo nome manterei em sigilo, pois não lhe pedi autorização para transcrever a sua resposta], as quais me respondeu:
Eu: O Cristianismo é superior às outras cosmovisões. Ponto. Agora, um cristão tem de reconhecer isso naturalmente, pelo pressuposto de que a Bíblia é a palavra de Deus.
Ele: Não meramente por crer que a Bíblia é a Palavra de Deus. Isto, por si só, não leva à conclusão lógica que o cristianismo é superior às outras cosmovisões. A Bíblia diz ser a Palavra de Deus, e o cristão defende a superioridade (ou melhor, exclusividade, monopólio da verdade) do cristianismo porque o próprio cristianismo ensina isso: Ef 4.4-6; Is 37.20; 42.8; 43.10-13; 44.6,8,24; 45.5-6,18,20-24; 46.5,9; 1 Ts 1.9-10; 1 Tm 1.17; 2.5; Jr 10.10-13; Dn 3.29; Jd 1.24-25; Jl 2.27; Gn 28.13-14; Ex 34.14 etc.
- 'Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus' (1 Tm 2.5);
- 'Não há absolutamente ninguém comparável a ti, ó Senhor; tu és grande, e grande é o poder do teu nome' (Jr 10.6);
- 'Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir' (Tg 4.12);
- 'Quem entre os deuses é semelhante a ti, Senhor? Quem é semelhante a ti? Majestoso em santidade, terrível em feitos gloriosos, autor de maravilhas?' (Ex 15.11; tbém 34.10)
- Moisés disse a Deus: 'Como se saberá que eu e o teu povo podemos contar com o teu favor, se não nos acompanhares? Que mais poderá distinguir a mim e a teu povo de todos os demais povos da face da terra?' (Ex 33.16)
- 'Não há outro Deus além de mim, um Deus justo e salvador; não há outro além de mim' (Is 45.21)
- 'Todo o que nega o Filho também não tem o Pai; quem confessa publicamente o Filho tem também o Pai' (1 Jo 2.23);
- 'Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho [Jesus Cristo]. Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida' (1 Jo 5.11-12; tbém Jd 1.21);
- 'Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele, não tem Deus; quem permanece no ensino tem o Pai e também o Filho' (2 Jo 1.9);
- 'Ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar' (Mt 11.27);
- 'Aquele que não está comigo, está contra mim; e aquele que comigo não ajunta, espalha' (Mt 12.30)
- 'Sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento, para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna' (1 Jo 5.20)
- 'Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem e tremem!' (Tg 2.19)
Eu: Mas e no caso de um incrédulo que não crê na veracidade da Escritura?
Ele: O cristão deve mostrar:
(1) que o sistema filosófico do incrédulo é irracional, e;
(2) que o sistema filosófico do cristão é logicamente sustentável, consistente.Também, o incrédulo deve entender que as reivindicações da Bíblia não podem ser tomadas isoladamente de tudo o mais que está pressuposto na metafísica cristã (por ex., o fato de a Bíblia ser fidedigna no conteúdo porque é revelação de um Deus soberano). O sistema filosófico cristão, como qualquer cosmovisão, é um esquema conceitual com partes mutuamente dependentes, e assim devemos analisar a cosmovisão de maneira sistemática.
Da mesma forma, tendo demonstrado (1), o cristão terá mostrado ao incrédulo que este não tem qualquer garantia ou critério racional para rejeitar de antemão o cristianismo.
Eu: O ateu, por exemplo, não reconhecerá a Bíblia. Então, pergunto: por que seria mais racional para um incrédulo crer em Deus do que não crer em Deus?
Ele: A menos que o ateu mostre e justifique um critério infalível não-bíblico para reconhecer ou não a autoridade de Deus (cf. a Bíblia), sua rejeição desse Deus será arbitrária. Agora, como ele não tem a opção racional de rejeitar Deus a priori, o cristão só precisará mostrar a consistência interna do sistema cristão (cf. ensino bíblico), sempre lembrando que a mesma Bíblia que nos fala de Deus, também fala que esse Deus (1) revelou a Bíblia para nós e (2) preservou seu conteúdo porque é um Deus soberano.
No fim das contas, o Deus cristão não ficará demonstrado apenas por expor que não há base racional para efetivamente rejeitá-lo. Mas aí é que entram a fé e o testemunho interno do Espírito Santo.O ateu não pode racionalmente rejeitar o Deus cristão, nem pode rejeitar a racionalidade do sistema cristão. Mas só aceitará a fé cristã por ação sobrenatural de Deus. [Fim do diálogo].
No frigir dos ovos, pude entender que a Bíblia autentica o Cristianismo e vice-versa [o que ainda me parece um esquema circular para um não-cristão, mas a própria descrença do não-cristão é um movimento circular em que ele sempre partirá da descrença e sempre voltará a ela]; e de que somente pelo poder regenerador de Deus o homem se convencerá e reconhecerá a verdade, operada através da revelação especial, a Escritura. E fico pensando, o que adiantaria convencer um incrédulo da lógica e validade do Cristianismo sem que ele se convertesse? Bem, entendo que ela poderá levá-lo ao entendimento, e o Espírito agindo em conformidade com a Palavra operará a regeneração, suficiente para transformar-lhe a vida. Do contrário, ele poderá até mesmo entender e validar o Cristianismo como a única verdade, mas o fará segundo outros propósitos de Deus [p.ex., servir de instrumento para a conversão de outros], sem que, contudo, ele se beneficie da verdade além da vida terrena.
Espero que os esclarecimentos daquele irmão sejam de auxílio.
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