Por Jorge Fernandes Isah
Bem, lá se foi mais um ano, em que aprendi muito [até mesmo a esquecer algumas coisas], mas que, apesar de tudo, ainda me mantém em um estado de ignorância mesmo no pouco que sei.
Não farei um balanço de fim-de-ano, pois não saberia por onde começar; já que os erros foram tantos que um ano seria pouco para relatá-los, e os acertos... deixa pra lá! Não farei planos para o futuro, como normalmente, esperando que o Senhor me guie e me oriente quanto à sua vontade. Na verdade, sempre pretendo fazer isso ou aquilo, e acabo por fazê-los, quando os faço, mal e porcamente. Mas de tudo, tudo mesmo, o que ficou, foi que, em meio a algumas lutas e aflições, Deus fez-me ver que a minha relação com ele estava em frangalhos, que eu, apesar de me considerar "espiritual", agia como um antiespiritual. É claro que isso somente ficou visível quando a mão do Senhor pesou para valer sobre mim. Então, me lembrei de Paulo: Como um Pai, Deus disciplina ao que ama [Hb 12.7].
Pensei que tudo era fruto dos meus pecados. Pensei que, mantendo-me saudavelmente longe deles, as coisas voltariam ao normal, e as feridas seriam saradas. De que um novo pacto entre eu e ele me levaria a obter os seus favores novamente. Mas lembrei-me de que já o refizera inúmeras vezes, sem sucesso. De que por mais que eu tentasse cumpri-los, me esforçasse com o que de melhor possuía, sempre caía na cláusula da "quebra-de-contrato". Isso fez com que me envergonhasse tanto, que vi lançado por terra a minha soberba espiritual. Sim, eu era um homem espiritualmente orgulhoso, o tipo mais doentio e nefasto de orgulho. Ao ponto em que, reconhecer os meus defeitos, falhas e pecados, fazia-me, de certa forma, superior aos meus próprios olhos. Mas que importância isso tem realmente? Pois, quem sou eu? Por que parecer bom aos meus olhos, se eles estão tão habituados ao mal, e não há bem neles? Seria o mesmo que um corvo, acreditando-se um rouxinol, a participar de um concurso de canto, esperando ganhar o primeiro lugar, e agradar a todos com o seu grasnar monocórdico.
Porém, o que devia ser o motivo para me aproximar de Deus, humildemente, reconhecendo o meu pecado, e buscando nele a reparação do mal que trazia para mim mesmo, fez-me afastar ainda mais. De alguma forma, ainda que inconsciente, pensei que Deus precisava de mim, quando é o contrário. Deus é suficiente em si mesmo, na comunhão e unidade que há entre as três pessoas da Tri-unidade, e eu era quem necessitava urgentemente de reparação. Minha frieza e distanciamento em relação à vida cristã, significavam perda e prejuízo apenas para mim. Esse foi um processo que durou meses, e do qual eu, inicialmente, não percebera nada. Como se tudo estivesse bem, e eu em paz comigo e com o Senhor. A minha tolice não tem mesmo tamanho...
Para encurtar a história, somente a partir do momento em que percebi que estava como que andando ao lado do meu melhor amigo sem notá-lo ou sem dirigir-lhe a atenção, pude finalmente ver que, a despeito da minha negligência, do meu descaso, e do orgulho que me impedia de desviar os olhos de mim mesmo, o Senhor estava ali, sem me abandonar. Porque não dependia de mim, nem do meu querer, pois o seu amor é eterno. Assim como o pai nunca deixará de ser pai, mesmo diante da rebeldia do filho, Deus jamais deixará de ser o Pai bendito, eterno, misericordioso, para com os seus.
Então, me vi em lágrimas, exultando-o, bendizendo-o, louvando-o, porque ele permanecia fiel enquanto eu insistia na infidelidade. Ele não me abandonaria, ainda que eu me considerasse abandonado; ele não me rejeitaria, ainda que me sentisse rejeitado; ele me amaria, mesmo que não me sentisse amado; porque o erro, o distanciamento, a incompreensão, serão sempre meus; na sua perfeição, Deus me ama plenamente, através do seu Filho Jesus Cristo. Certa vez, o pr. batista Erwin Lutzer disse que sempre, ao acordar, orava a Deus para que ele não o visse como ele era, mas o visse através de Cristo. E é assim que o Pai nos vê; e é assim que devemos vê-lo, como o nosso Senhor o vê. Como já disse em algum lugar, bendito o Pai que nos deu o Filho, bendito o Filho que nos deu o Pai. Já que ele me vê através do Filho, que eu possa vê-lo como o Filho o vê, também. Oro, portanto, para que ele me capacite, sempre, dando-me os olhos de Cristo, para que eu jamais pense em vê-lo com os meus olhos falíveis e imperfeitos.
Como Davi, o homem segundo o coração de Deus [não entendo porque os cristãos o têm como "exemplo de pecador", quando o Senhor o honra de uma forma tão maravilhosa por toda a Escritura], quero esperar com paciência no Senhor, pois ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor... E pôs um novo cântico na minha boca, um hino a ele... Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração... Não retires de mim, Senhor, as tuas misericórdias; guardem-me continuamente a tua benignidade e a tua verdade. Porque males sem número me têm rodeado; as minhas iniquidades me prenderam de modo que não posso olhar para cima. São mais numerosas do que os cabelos da minha cabeça; assim desfalece o meu coração... Senhor, apressa-te em meu auxílio... Mas eu sou pobre e necessitado; contudo o Senhor cuida de mim [Sl 40].
É esta certeza que traz paz; e faz com que, a exemplo de Paulo, possamos regozijar sempre no Senhor [Fp 4.4], mesmo que sejamos, para nós mesmos, o motivo de tristeza e desolação. Pois certo é que, em nós, não há nada pelo qual nos alegremos, pois a alegria vem do Senhor; e, por isso, regozijarei sempre nele [Ts 5.16]; orando para que jamais, novamente, eu creia-me humilde, quando há apenas orgulho. Creia-me suficiente, quando há insuficiência. Creia-me necessário, quando sou inútil. Creia-me bom, quando sou mau. Creia-me espiritual, quando sou carnal. Que a minha fé não esteja, nunca mais, posta em mim mesmo, ao ponto de eu acreditar possível manter-me longe do meu Senhor; o qual é o único capaz de me alegrar a alma, pois, a ti, Senhor, levanto-a... Porque tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus... E grande é a tua misericórdia para comigo [Sl 86]; pois conhece a minha estrutura; e sabe que sou pó [Sl 103.14].
A ele, o Deus eterno, bendito, santo, toda honra e glória!
Amém!
Nota: Esta postagem tinha o objetivo inicial de falar do aniversário de 04 anos do Kálamos, e de dizer que estarei sorteando, no próximo dia 30, entre outras coisas, uma Bíblia A.C.F. com referências, concordância e mapas. Mas, sem me conter, acabei confessando-me publicamente, e cheguei a pensar em não publicar o texto. Mas ele está aqui, posto. Aos que desejarem concorrer aos prêmios comemorativos, basta acessar o logo abaixo.
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