Por Jorge Fernandes Isah
Vimos que Deus é autosuficiente em si mesmo, de forma que ele não depende de nada nem ninguém para existir, pois sua independência é absoluta. Também vimos que ele se autointitula o "Eu sou", jamais podendo, portanto, ser o não-ser. E o não-ser é não ser Deus. Ele também se define como o ser essencialmente espiritual, pois é Espírito [Jo 4.24]. Há uma infinidade de atributos de Deus, assim como ele é infinito, mas a Bíblia não nos revela todos, porém, ainda assim, eles nos surpreendem por sua diversidade, plenitude, perfeição, excedendo a nossa compreensão; "porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos", diz o Senhor [Is 55.9]. Deus revela que há uma distância enorme entre ele e nós, de que por mais que se manifeste ao homem, este ainda permanecerá distante e impossibilitado de conhecê-lo e entendê-lo completamente [Jó 26.14]. A disparidade entre quem é Deus e quem é o homem, entre o ser infinito e o finito, entre o eterno e o temporal, o perfeito e o imperfeito [com um ingrediente ainda mais danoso ao conhecimento da verdade, o pecado], faz com que os caminhos divinos sejam muitas vezes incompreensíveis para nós.
Porém, isso não quer dizer que Deus não seja cognoscível, de que não se deu a conhecer, de que haja apenas a sua transcendência e não haja a imanescência, de que ele seja incompreensível e não se relacione com sua Criação. Por isso, a CFB diz que a sua "essência por ninguém pode ser compreendida, senão por Ele mesmo", visto sê-lo infinito, eterno, absoluto, perfeito, santo, somente pode ser conhecido plenamente por alguém que tenha esses atributos, de forma que o homem somente o conhecerá no que ele lhe capacitou e deu-se conhecer. Assim, apenas Deus tem o autoconhecimento de si mesmo; somente ele detém o conhecimento pleno e completo de si, e nada nem ninguém exterior a ele pode compreendê-lo totalmente. A possibilidade de conhecimento pleno de Deus, mesmo na eternidade, quando o salvo será transformado à imagem e semelhança de Cristo, não poderá acontecer; a plenitude do conhecimento divino é tão majestosa, gloriosa, magnificente, que nos esmagaria, como se fôssemos uma formiga sob o peso de um elefante. Creio ser, mais ou menos, o que Paulo diz: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!" [Rm 11.33].
Por isso, ainda assim, o Deus revelado, continuará encoberto como que por uma densa escuridão, fora do alcance do homem, se o Espírito não o mostrar, transformando-o no ser real, verdadeiro e vivo que ele mesmo diz de si. O que nos leva à reconhecer a importância deste capítulo da C.F.B., porque ele diz ser possível conhecer a Deus através dos seus atributos; ao descrevê-los, ela nos revela facetas do seu caráter, ainda que a tentativa de separá-las seja impossível, visto Deus ser uma unidade pessoal, integral, ao contrário de nós, criaturas.
Antes, e ainda hoje, o homem procura descrever Deus através de figuras, imagens, pintura, e por formas verbais ou escritas, no que tem falhado miseravelmente. Por mais que se queira defini-lo, Deus é indefinível, a não ser por si mesmo. Quando Moisés perguntou em nome de quem falaria aos egípcios e judeus, o Senhor disse: "Eu Sou o que Sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós outros" [Ex 3.14]. A afirmação divina representa uma imensidão impossível de se imaginar. Deus se define como sendo, ele é, sem nunca não-ser, de forma que a definição revela a sua autoconsciência, autossuficiência, o Ser absoluto e imutável. Porém, para nós, ainda persiste a pergunta: quem é Deus?
Somente ele pode dizer quem é, pois ele tem o autoconhecimento de si; já que ele conhece todas as coisas, e ninguém pode alcançá-lo nesse conhecimento. O conhecimento de Deus depende de si mesmo, e de mais nada ou ninguém; de nenhuma fonte exterior a ele, porque é eterno. E será através dos seus atributos que se revelará, mostrando-nos a sua personalidade. Por isso, jamais devemos nos esquecer de que Deus é o Deus pessoal, onde habita toda a consciência, inteligência, sabedoria e conhecimento. Ao contrário de nós, Deus não é limitado, e sua personalidade é perfeita, eterna. E é possível perceber a sua Pessoa através da Revelação Natural, como parte dos seus atributos incomunicáveis; porém, somente é possível entender a essência divina a partir da relação paternal que ele tem com o seu Filho eterno, Jesus Cristo; por quem fomos feitos filhos adotivos e, portanto, termos um relacionamento filial com Deus, tornando-nos capazes de conhecê-lo, como ele é, como se revelou, pois sendo Deus, não pode jamais deixar de sê-lo; e não podemos conhecê-lo, mesmo imperfeitamente, sem nos conscientizar da nossa limitação e impossibilidade e incapacidade de fazê-lo plenamente. Pois, assim como os anjos eleitos, gastaremos a eternidade para entender, por exemplo, o amor de Deus por nós. Sendo o amor divino o atributo mais evidente na Escritura, e ainda assim, como Paulo disse, ele excede todo o entendimento [Ef 3.19], o que dirá quanto aos demais? O que dirá quanto ao próprio Deus, o qual é único, e não pode ser distinguido tanto do que é como do que faz, sob pena de se erigir um outro "Deus"? Ainda que ele se apresente de muitas formas diferentes, permanece indissolúvel, indivisível, no seu caráter incomparável e perfeito [Is 40.18,25].
Deus é Deus, e resta-nos humilhar diante dele; glorificá-lo pelo que é, e tem-nos revelado ser; admirá-lo por sua grandeza e majestade; e amá-lo porque ele nos amou primeiro.
Notas: [1] Aula realizada na E.D.B. do Tabernáculo Batista Bíblico em 18.12.11
Deus é Deus, e resta-nos humilhar diante dele; glorificá-lo pelo que é, e tem-nos revelado ser; admirá-lo por sua grandeza e majestade; e amá-lo porque ele nos amou primeiro.
Notas: [1] Aula realizada na E.D.B. do Tabernáculo Batista Bíblico em 18.12.11
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