sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O HOMEM É UM FANTOCHE?








Por Jorge Fernandes

Não, o homem não é um fantoche de Deus, mas se fosse, não haveria problema algum; de certa forma até seria preferível, pois assim a certeza de agradá-lO estaria assegurada em 100%. Igualmente, não há capacidade no homem de escolher entre o bem e o mal sem que Deus o regenere, transformando a sua natureza caída, e “assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.7). Como está escrito em Ezequiel 36.26: “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne”; portanto, se Deus não transformar o coração de pedra em carne, ele continuará e sempre será um coração impossível de reconhecer que o bem é tudo o que procede de Deus. O homem é pecador porque quer, a sua natureza assim o quer, e será santo somente se Deus quiser. Sem o novo-nascimento, sem a transformação que somente Ele opera no ímpio, nada de salvação nem santidade; permanece-se morto em delitos e pecados.
A eleição e predestinação é a realidade da escolha de Deus e não a realidade do homem, pois esse homem, realmente, escolherá sempre pecar. O problema é que, visto alguns serem aparentemente boas pessoas (não furtam, mentem, difamam, falam palavrões, se prostituem... ajudam ao próximo, fazem caridades, como os espíritas e filantropos), isso nos leva a crer que foram capazes de escolher o bem. Porém, qualquer coisa que não seja para a glória de Deus é pecado, mesmo as aparentes boas ações (já que provêm unicamente do esforço próprio, com o objetivo de se alcançar uma vantagem pessoal, um prêmio), mas quando fizer algo, não faça “para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão” (Mt 6.5).
Engana-se quem acha que eles escolheram ser bons. Essa bondade foi controlada e decretada eternamente pelo Senhor, e assim o homem permanece indesculpável diante dEle, impossibilitado de reivindicar qualquer mérito por algo que Deus produziu e forjou nele. Por isso, Cristo diz àqueles que não o confessam como Salvador: “se não crerdes que EU SOU, morrereis em vossos pecados” (Jo 8.24)... mesmo não fazendo o mal, mesmo fazendo o bem. O pecado é algo muito diferente de atitudes boas e más. O pecado afronta a Deus, é rebeldia, inimizade para com Ele, é não admiti-lO como Senhor; e não será a doação de alimentos, atravessar velhinhas na rua, ou adotar uma criança abandonada que o aproximará. O erro está em não professar como verdadeira a obra expiatória de Cristo, o Seu sacrifício na cruz do Calvário para a remissão dos pecados; sem Jesus, nada feito! Ser bom (o que não implica em santidade; e todo aquele que se aproxima do Todo-Poderoso tem de ser santo), envolver-se em causas humanitárias, ou ser um religioso praticante, não é o passaporte para a vida eterna. É necessário muito mais do que isso...
Primeiro, ser um eleito de Deus, porque não é o homem quem escolhe, mas Ele. Segundo, Deus operará no homem, pelo poder do Espírito Santo, o novo-nascimento, e o converterá infalivelmente, tornando-o nova criatura em Cristo, o qual será Senhor e Salvador, por Sua obra completamente consumada na cruz. Isso é graça, algo imerecido, mas recebido porque Deus quis dá-la, e torná-lo filho adotivo, co-herdeiro de Cristo. Isso é misericórdia, pois, apesar de merecer a condenação no Inferno, poupou e absolveu-o do castigo eterno. Terceiro, com a mente de Jesus, é-se atraído a Ele, à Sua oferta de sacrifício, ao Seu perdão, ao arrepender-se dos pecados, a lamentar a vida dissoluta e bárbara em que esteve, a entristecer-se por have-lO desprezado.
Portanto, com a mente corrompida, com a velha natureza, não é possível sujeitar-se ao senhorio de Cristo. Somente quem tem o novo-nascimento é capaz de tê-lO como Senhor, porque é impossível ao homem resistir às maravilhas de Deus, tanto a Sua graça, misericórdia, autoridade, poder e amor. É como o caso do filho cativo por seqüestradores, e que vê o pai entrar pela porta de repente, correndo para os seus braços a fim de libertá-lo. Será que o filho o rejeitará? (o exemplo é tosco, e está muito aquém do que Cristo faz). Então, fique tranqüilo, não somos títeres mas filhos escolhidos por Deus a participar da Sua eterna glória; porém, se você não confessou Jesus Cristo como Salvador da sua vida, comece a arrancar os cabelos, porque é impossível ao homem “ir” a Deus sem que Ele opere o desejo, a restauração, e um coração segundo o coração do Seu Filho Amado.
Apesar de que seria melhor tanto para você como eu sermos fantoches, não foi assim que Deus quis; e quem pode questionar os preceitos e decisões do Senhor? Como disse: “agindo eu, quem o impedirá?” (Is 43.13). Cabe-nos obedecê-lO e proclamar o Evangelho da Graça. É dever, mesmo sabendo que a maioria permanecerá cauterizada, condenada, “pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece... Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (Rm 9.16;18).
Deus é soberano em tudo, seja na salvação ou no homem. E isso é imutável, como o próprio Deus.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

COMENTÁRIO A JOÃO 12.1-11










Por Jorge Fernandes

Como disse anteriormente, Jesus retornou a Betânia seis dias antes da páscoa, encontrando-se com Lázaro, Marta e Maria, os quais juntamente com o Senhor e Seus discípulos participaram de uma ceia (v.1-2).
Maria tomou um arrátel de ungüento de nardo puro, caríssimo, “ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento” (v.3). Há uma discussão se Maria era uma prostituta, e mesmo se seria Maria Madalena, conforme parece indicar Lucas 7.37-38 (Creio que as duas passagens são diferentes, e não se referem à mesma pessoa). Não vou entrar no mérito da questão, até porque não é isso o que de mais importante nos é revelado (na verdade, é irrelevante). O fato é que tanto Maria como os outros convivas eram pecadores, independente se seus pecados eram públicos ou secretos. Para Deus não há acepção de pessoas (Rm 2.11), no sentido de que todos somos pecadores e, portanto, não merecemos privilégio especial, “porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados” (Rm 2.12).
Porém, “para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” (Rm 9.23), sobre uns Ele derramou a Sua graça salvando-os, porque “isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Rm 9.16); e sobre outros, reservou-lhes a Sua ira; “e que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição”? (Rm 9.22).
Em meio à assistência Maria se humilhou diante do Senhor, exaltando-O, e atraindo sobre si a injusta indignação dos convidados, os quais consideravam desperdício aquela atitude de lavar os pés de Jesus com perfume (Mc 14.4), que leva-nos a traçar um paralelo com a cena em que o Mestre lava os pés dos Seus discípulos (Jo 13.12). Ali, Ele se humilha diante deles, mas mais do que isso, Ele honra-os ao dar-lhes o exemplo “para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15). Ou não é uma honra seguir os passos do Senhor?
O Seu objetivo é mostrar-nos que o cristianismo não é uma competição nem um campeonato dos melhores, pelo contrário, todos somos miseráveis pecadores, escória, e se há algo de bom em nós, é obra exclusiva de Deus que a operou. Somos todos membros do mesmo corpo, e de que nenhum membro é maior do que o outro. Paulo faz uma analogia fantástica da Igreja com o corpo, e em certo ponto, diz: “Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis... E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários; e os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra” (1Co 12.18; 22-23). Não é o que nos revela o ato de Cristo? Se como Deus e Senhor, “vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (Jo 13.14), “para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros” (1Co 12.25).
As duas cenas dos pés lavados parecem díspares, apesar de terem semelhanças. Porém, em ambas há um só objetivo: a glória de Cristo! Maria ao lavar os pés do Senhor, adora-O, revelando-nos a Sua divindade, e o lugar de honra que lhE é merecido. Quando Jesus lava os pés dos discípulos, em humildade, mostra-nos o perfeito grau de obediência que tem para com o Pai, e de como veio para servi-lO, cumprindo-se assim os eternos decretos de Deus. Portanto, não há incompatibilidade de propósitos, antes eles se complementam, manifestando a natureza santa de Cristo; o qual sendo Deus “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2.7-8).
Então, eis que surge a oposição na forma de Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, que disse: “Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?” (v.5). O apóstolo João encarrega-se de explicar o motivo de sua atitude: “Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” (v.6).
Como já vimos, não foi apenas Judas que se indignou, mas alguns outros também (Mc 14.4). Judas tinha os seus motivos escusos e torpes, e os outros? O que os motivava?... A completa ignorância acerca de Deus; pois não tinham a menor idéia do que Maria fazia, de como aquela atitude era o agradecimento, reconhecimento, louvor e glorificação do Senhor. Eles estavam tão presos aos seus interesses, à sua humanidade caída, que não podiam ver um milímetro além dos olhos; suas almas estavam acorrentadas e cegadas ao pecado, restava-lhes apenas a indignação, por não ser-lhes possível ver além do valor pecuniário do perfume. É o homem em sua essência, pequeno, miserável, diante da grandiosidade de Deus. Porém Maria o soube; e Jesus garantiu que o seu ato fosse documentado e passado às sucessivas gerações como testemunho de uma boa obra, do seu amor: “onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua” (Mt 26.13).
Por outro lado, evidencia-se a hipocrisia dos indignados, os quais esperavam fazer o bem com algo que não lhes pertencia e não lhes custara nada. Em seu estúpido juízo, esperavam a aquiescência do Mestre, mas o que ouviram foi a Sua reprovação, uma ducha de água fria: “Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes” (v. 7-8)*. Provavelmente, a compaixão deles para com os miseráveis resumia-se em frases de efeito e no imediatismo farisaico de acusar o próximo, senão, porque Jesus diria: “podeis fazer-lhes bem (aos pobres), quando quiserdes” (Mc 14.7)?
Judas, após ouvir a repreensão de Cristo, foi ter com os principais dos sacerdotes para lho entregar” (Mc 14.10); “e eles lhe pesaram trinta moedas de prata” (Mt 26.15). Essa era a vontade do ladrão, roubar o que não lhe pertencia, mas nesse caso, nem ele nem ninguém poderia tomar a vida do Senhor.
Ao saber onde Cristo estava, muitos judeus foram até Ele, e também para ver a Lázaro, “porque muitos dos judeus, por causa dele, iam e criam em Jesus” (v.11), por isso, os líderes religiosos “tomaram deliberação para matar também a Lázaro” (v.10).
O contraste entre a gratidão e amor de Maria com a pusilanimidade e ódio de Judas é notório no relato de João e nos evangelhos sinóticos; mas tudo meticulosamente planejado por Deus, tanto o bem como o mal, para que Cristo, quando for levantado da terra, atraia todos a Si (Jo 12.32)... e seja glorificado.
*Maria ao chorar aos pés do Senhor e perfumá-los, antecipa, de certa forma, o sacrifício e a morte de Cristo na cruz.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

COMENTÁRIO A JOÃO 11.47-57










Por Jorge Fernandes

Após ressuscitar a Lázaro (11.43), converter muitos a Si (11.45) e de, novamente, ser alvo da intriga dos judeus (11.46), Jesus não aparece no conjunto final do capítulo 11. Ouve-se falar dEle, e sabemos que está retirado no deserto junto com os Seus discípulos, na cidade de Efraim (v.54), distante 20 km de Jerusalém; enquanto os fariseus e os sacerdotes maquinavam contra a Sua vida. Mas Ele retornará a Betânia, visto que seis dias antes da páscoa encontrou-se com Lázaro, Marta e Maria numa ceia (12.1-2), e os judeus aguardavam a páscoa para prendê-lO em Jerusalém.
O que salta-nos aos olhos é a campanha perpetrada pelos sacerdotes e fariseus, movida a inveja e ódio, em resposta às obras divinas que o Senhor operou. Pois esses sinais testificavam que Jesus era o Messias, o Filho de Deus, do qual os profetas falaram.
Aliás, Cristo denunciava como obras das trevas toda a estrutura religiosa, tradicional e humana do judaísmo, atacando diretamente a hipocrisia dos escribas e fariseus (Mt 23.13.39), ao ponto de considerá-los “serpentes, raças de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mt 23.33). O Senhor pronuncia vários “Ais”, indicando os motivos pelos quais os líderes judeus seriam julgados. Para piorar ainda mais a situação deles, peremptoriamente, Jesus afirmou que alguns gentios seriam os que, no juízo, condená-los-iam pelos seus testemunhos: os ninivitas, “porque se arrependeram com a pregação de Jonas” (Mt 12.41), e a rainha do sul, “porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é maior do que Salomão (Mt 12.42).
Mateus 12.45 culmina com uma sentença terrível para os judeus, os quais são comparados com uma casa que, desocupada, varrida e adornada, recebe o espírito imundo e outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que o primeiro. Assim acontecerá também a esta geração má”. Note-se que esta profecia refere-se à morte de Cristo na cruz do Calvário, a qual é obra máxima da maldade humana, tanto nossa como dos judeus, mas para a sua infelicidade, foram eles que a consumaram, matando o Santo e o Justo (At 3.14-15); e assim, esse ato se tornou pior do que os anteriores.
Os sacerdotes e fariseus formaram o conselho de que não há como deter Jesus, porque Ele faz muitos sinais, “se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação” (v. 47-48). É evidente a preocupação dos líderes judeus com as suas posições e a possibilidade de perdê-las caso os romanos considerassem Jesus um revolucionário. Ainda que sob o jugo de Roma, eles não tencionavam privar-se do pouco que ainda lhes restava: uma nação escravizada, esfacelada, miserável mas orgulhosa, e que de certa forma pertencia-lhes, ao menos naquilo que os romanos concediam dar-lhes. Por isso Jesus tinha de morrer pois, além de tudo, Ele apontava para a corrupção deles: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando” (Mt 23.13).
Caifás argumentou que “convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação” (v.50). Inconscientemente, o sumo sacerdote profetizou que Cristo “devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” (v.51-52). Como o apóstolo João explicitou, o Senhor não morreu por todos, e aqui a nação representa o povo de Deus, tanto judeus como gentios, mas somente aqueles que são membros do corpo de Cristo (a Igreja, o Israel de Deus), pois reunirá os que andavam dispersos. Portanto a morte de Cristo não foi de caráter universal, no sentido de que todos poderiam apropriar-se dela e serem salvos. Ele morreu pelos Seus eleitos espalhados pela terra em todas as épocas, dos quais afirmou: “rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.9), e “ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (Jo 6.44).
Pedro escrevendo à Igreja de Cristo: “vós sois geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Um pouco antes diz: “Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido... E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (1Pe 2.6;8). Note que a palavra “eleita” no v. 6, relaciona-se com a palavra “destinados” no v. 8, indicando que a “geração eleita, o sacerdócio real, a nacão santa, o povo adquirido” (adquirido tem o significado de comprado pelo sangue de Cristo) foi escolhido por Deus, assim como aqueles que tropeçam na pedra principal “também foram destinados” (aqui no sentido de reservados, designados). Tanto eleitos quanto destinados contém a idéia de determinação antecipada, ou seja, Deus determinou os eleitos, os que seriam o Seu povo adquirido, como determinou os condenados, aqueles que foram destinados ao tropeço, à desobediência.
Da mesma forma, a morte de Cristo na cruz não foi algo acidental, mas igualmente determinado na eternidade, meticulosamente planejado, segundo o perfeito decreto de Deus. Por isso, desde aquele dia, a sentença de morte de Jesus foi promulgada (v.53). E correu entre os judeus a ordem para que, “se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o prenderem” (v. 57), já que todos esperavam que Cristo subisse da região de Efraim para Jerusalém, antes da páscoa, para celebrar os rituais de purificação (v.54-55). Não havia melhor oportunidade de prendê-lo, o que de fato aconteceu pela aleivosia diabólica de Judas Iscariotes; porém, não porque o Senhor estivesse indefeso, pois como disse: “pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26.53); mas porque assim Cristo o quis: “dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” (Jo 10.17-18).
Na Sua morte, morremos com ele; e na Sua ressurreição, “segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança” (1Pe 1.3):
A vida eterna.

Leia o comentário a João 11.17-46 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-joo-1117-46.html e João 11.1-16 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-de-joo-111-16.html

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

TRAGÉDIA E GRAÇA















Por Jorge Fernandes

A tragédia das chuvas em Santa Catarina deixa-nos perplexos por vários motivos:
1) A morte de centenas de pessoas, e o sofrimento de outras milhares;
2) O prejuízo material, onde famílias perderam tudo o quanto amealharam durante a vida;
3) O caos urbano;
4) A inoperância, negligência e omissão dos governos municipal, estadual e federal;
5) A natureza maligna do homem.
Catástrofes sempre nos deixam atônitos diante do poder destruidor da natureza, da nossa fragilidade, da realidade da morte, e da transitoriedade da vida. Porém, ater-me-ei ao ponto 5): a natureza maligna do homem.
A dor, a angústia, as perdas de vidas e bens materiais são a causa ou a conseqüência da explícita impiedade do homem?
Situemo-nos primeiro: as imagens que nos chegam são de ruas alagadas, casas desabando, desabrigados amontoados em ginásios e clubes, água por todos os lados, barrancos desmoronando, pontes caídas, casas ilhadas, pessoas e animais mortos. A natureza, como objeto da criação de Deus, geme com dores de parto até agora (Rm 8.22), nas palavras divinamente inspiradas de Paulo; “porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.20-21).
O mundo criado por Deus era bom e perfeito (Gn 1.31), até que o pecado do homem adentrou-o, corrompendo-o, trazendo o caos à existência. A desordem que o pecado gerou pode ser vivenciada dia após dia nos quatro cantos do globo: inundações, furações, maremotos, avalanches, secas, nevascas, terremotos... Todos esses fenômenos têm um culpado: o pecado de Adão e Eva no Éden, o qual é o nosso próprio pecado.
Porém, as cenas de saques a lojas e supermercados deixam ainda mais evidente o mal que habita no homem. Santa Catarina repetiu Nova Orleans em 2005, quando da passagem do furacão Katrina: o homem, para a sua infelicidade, vem-se superando no mal.
Recentemente, aqui em Minas, um caminhão transportando gêneros alimentícios acidentou-se. Enquanto dois ou três preocupavam-se em socorrer o motorista e ajudante feridos, uma horda encarregava-se de saquear o veículo, e, em questão de minutos, toda a mercadoria foi furtada (o mal age rapidamente, em fração de segundos, e suas conseqüências perduram por toda a vida). Em Nova Orleans, enquanto milhares sofriam as conseqüências devastadoras do Katrina, parte da população saqueava casas e apartamentos, e os poucos proprietários que se atreveram a defendê-las foram executados.
Há justificativa para tanta crueldade na tragédia? Ou utilizam-na como pretexto para dar vazão à imoralidade?
Eternamente Deus contempla a humanidade: “E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Gn 6.5). Por mais que se queira “dourá-lo”, o homem é mau, e nem é preciso desculpa para extravasar-se na dissolução, na injustiça. O homem tem-se especializado no cinismo, na cara-de-pau e frieza moral; “porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos... Estando cheios de toda a iniqüidade, fornicação, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem” (Rm 1.21-22; 29-32). Aqui o mal é tanto daquele que pratica quanto do que consente na prática, ou seja, a omissão, a indiferença, o descaso, o fazer “vistas grossas” ao pecado é tornar-se cúmplice dele. A sociedade jamais entenderá isso, e caminha na direção da conivência em nome da “paz social”, onde cada um faz o que quer sem dar satisfação a ninguém, tudo em nome do prazer carnal e de uma aparente civilidade, as quais, cedo ou tarde, levá-los-á à destruição.
Tiago estabeleceu a seqüência do mal:
1) O homem é atraído e enganado pela própria concupiscência (1.14) – O desejo ardente de praticar o mal, de satisfazer os prazeres carnais (releia a lista de Rm 1.29.31);
2) Concebida a concupiscência, dá a luz ao pecado (1.15) – O desejo se realiza em transgressão, em desobediência a Deus, pois “não há temor de Deus perante os seus olhos” (Sl 36.1).
3) O pecado consumado gera a morte (1.15) – “Porque o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23) – E essa morte é muito mais do que a agressão à vítima, porque no Éden o Senhor disse a Adão: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17); e ela é a separação de Deus; àquele que infringe e subleva a Sua Lei se reserva eternamente o castigo à escuridão das trevas (2Pe 2.17).
Portanto, nem a fome, nem o desemprego, nem enchentes, nem seca, nem a loucura, nem doença, ou qualquer motivo aparente, pode levar o homem a justificar o mal praticado; “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gl 6.7-8).
Ao pecador resta-lhe:
1) Reconhecer-se pecador e o seu pecado, e que, por si só jamais deixará essa condição: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias... Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51.1;3)
2) Como Davi, confessar os pecados a Deus: “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista” (Sl 51.4);
3) Crer em Jesus Cristo pois, “todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10.11); o qual morreu na cruz para vencer o pecado, e ressuscitou, vencendo a morte, os dois inimigos do homem;
4) Arrepender-se “para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At 3.19).
5) Gozar a eterna segurança da salvação na plenitude de Deus, o qual jamais permitirá que aqueles chamados à comunhão da Sua glória se percam e pereçam (Jo 10.28).
Ainda que você não seja um saqueador; mesmo que seja um benfeitor, um filantropo, nenhuma das suas boas ações, por si só, são meritórias para a salvação, e reconciliação com Deus; a qual não vem “pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador” (Tt 3.5-6).
O homem natural e carnal é derrotado; em seu lugar, surge o homem espiritual à imagem e semelhança de nosso Senhor, porque “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5.20); e Deus rompeu o liame da tragédia; e agora conhecemos que estamos firmes na liberdade com que nos libertou (Gl 5.1).

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

EPÍLOGO














Por Jorge Fernandes

O suor a instilar pelo corpo, a última água a jorrar da fonte seca;
Em breve, haverá apenas a terra árida,
E o sopro do vento gelado a corroer o ânimo combalido em que me arrasta.

Os olhos que me vêem são os mesmos com que vejo,
As peles exalam o cheiro que me pertence,
Os suspiros, o ar derradeiro a inflar os pulmões,
Nem o zunido a ecoar tem o sentido das palavras.

Cabelos brancos a esvoaçar, folhas estorricadas a farfalhar,
Rugas crispadas, fendas no rochedo,
Não há mal que perdure,
Enquanto houver a esperança de que o bem surja e nos alcance.

Ainda a correria desenfreada,
O tempo a escoar, a barragem quebrada,
Num alívio que se esvai,
Há agonia, a carne lavrada,
Nenhum grão a semear.

Ao querer rejeitá-la,
Fui derrotado pelo laço, o nó paralisante,
Faz o sangue jazer inerte em meio às artérias obstruídas,
Cômodo... partilhar o colapso dos sentidos,
O redemoinho em que o delírio forja a imagem de que não sou
Sequer fui, pode ser que seja...

No fundo, enquanto estraçalhado,
Não sinto a dor que me perpassa,
Nem o pavor a consumir,
Há somente o hálito morno a expulsar-me de mim,
Como um exército em retirada,
Sem ter aonde abrigar-se.

Quisera poder chorar,
Rasgar a carne com as unhas,
Cuspir no rosto, amaldiçoar o dia em que nasci,
É tudo o que poderia fazer,
Apesar de nada disso remediar o pecado, e absolver.

Sou um condenado à morte infinita,
A eterna agonia de jamais vê-lO,
E após a iminente sentença, a culpa confirmada,
Quis instar-lhE o perdão, era tarde... impossível...
Os grãos debulhados jamais retornam ao sabugo.

Não havia como resgatar-me.
Em toga, agora era Juiz.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"O CAVALEIRO DAS TREVAS"
























Por Jorge Fernandes

1) Assisti ao filme “O Cavaleiro das Trevas” com o meu filho, dias atrás. A direção é do Chris Nolan, um diretor de qualidade, responsável por bons produtos como “Amnésia” e “Insônia”. A partir de “Begins”, ele assumiu a direção da grife criada pelo lendário Bob Kane nos anos 30. Batman é um personagem interessante, conflituoso, e que ainda mantém certa moralidade mesmo nos tempos pós-modernos e relativistas de hoje (o que prova que o homem comum tem no seu íntimo a Lei Moral de Deus).
O filme é permeado por disputas morais e éticas, onde o bem e o mal se digladiam numa luta sem fim. Não vou entrar nos méritos da produção, direção e interpretação. Há pessoas mais qualificadas para isso. Ater-me-ei ao fato que julgo principal no filme, e que Nolan destaca: a fé no homem.
Desde o início existe uma confrontação entre a justiça e a injustiça, entre polícia e bandidos (alguns infiltrados no governo), entre moral e imoral (ainda que os limites da moral estiquem-se para além da moralidade), entre ético e antiético, entre bem e mal. Esse dualismo, se não me engano, remete a Descartes e Locke, mas talvez a algo mais distante: os gnósticos, Aristóteles e Sócrates. O mundo da ficção é assim mesmo, e o dos quadrinhos nem se fala, mas no mundo criado por Deus não há dualismo. O mal não é uma força antagônica a Deus, antes sujeita-se, servindo-O como tudo o mais no universo.

2) Para a indústria do cinema Deus é um espectador. Durante as duas horas e meia do filme Ele está ausente, excluído do mundo, ainda que do mundo fictício. Sobra espaço para a sorte, o acaso, o destino e outros tons místico/fatalistas (o promotor Dent lançando o “cara ou coroa” antes de executar as suas vítimas é um exemplo). No mundo de Gothan onde sobra maldade, delitos e desordem, o homem rejeita Deus, mantendo-se mais e mais distante enquanto afunda-se na destruição. Para o homem pós-moderno o pecado individual não existe, há somente o pecado institucional e coletivo; e a sociedade, desesperadamente, busca um salvador, mas nem Estado nem cidadãos estão aptos. Um super-herói talvez. Mas será ele capaz?

3) Ainda que Gothan City esteja dominada pelo submundo do crime: Máfia, corrupção policial, tumulto social, etc, o inspetor Gordon, o promotor Dent, e o Homem-Morcego, representam o lado “benigno” da raça humana. Eles são os guardiões, os paladinos, nos quais a cidade deposita a sua esperança. Há um tom otimista em meio ao pessimismo, de que no limiar da crueldade os homens poderão redescobrir a bondade esquecida, e buscar em si mesmos o fio de esperança que tornará o mundo um lugar justo e melhor para se viver. Mas o próprio filme encarrega-se de destruir esse paradigma.

4) Batman é o herói anti-herói: incompreendido, rejeitado, acusado (inicialmente as pessoas se fantasiam de Homem-Morcego, e se sentem estimuladas a combater o crime)... e, por fim, culpado. Ele vê todo o seu esforço em manter a paz e a ordem em Gothan culminar num encadeamento de tragédias onde todos os planos redundam, um a um, em estrondosos fracassos (mesmo quando aparentam vitórias). Neste ponto, Batman, Dent, Gordon e Gothan têm o mesmo sentimento: vulnerabilidade; e estão à mercê da insanidade catastrófica do Coringa. O mal toma as suas feições, e parece invencível. Batman e Dent são alçados aos postos de heróis, de salvadores, mas a impressão é de que o mal triunfará; personificado no caos fomentado pelo Coringa, o qual, implacável, derrota cada investida do trio do bem (não há aqui a alusão à Trindade Santa como nos filmes “O Senhor dos Anéis” e “Matrix”).

5) Na seqüência em que o Coringa coloca bombas em dois barcos, um abarrotado de cidadãos fugindo do caos e outro com os prisioneiros mafiosos transportados para fora da cidade; ambos são alvos da ira do vilão. Dois detonadores são colocados nos barcos, e cada um deles tem o poder de destruir o outro barco. O Coringa coloca em xeque a moral ou a amoralidade da população. Trava-se uma luta pela ética: até que ponto tem-se o direito à vida alheia? Deve-se apertar o botão e destruir centenas de vidas a fim de se salvar? Há uma tensão moral, uma disputa na mente das pessoas entre o certo e o errado, e em alguns momentos a indecisão ou covardia parece ser o ponto determinante.
Fico a imaginar se esta cena fosse real. Não haveria uma disputa para se apertar o botão primeiro e mandar aos ares o barco “inimigo”?
O desfecho da cena sugere que a salvação do homem encontra-se no coletivo, na consciência social, e de que ela será capaz e suficiente para resgatá-lo do mal.

6) De certa forma, Batman assemelha-se a Cristo, ainda que seja uma semelhança estética, fragilmente delineada. O filme parece mesmo uma alegoria à Bíblia. Batman é o homem encarregado de redimir o povo de Gothan, assim como Cristo redimiu os Seus eleitos. Batman, ao assumir os crimes cometidos por Dent, torna-se criminoso, sem, contudo, ser condenado. Cristo, ao assumir os pecados dos escolhidos, tornou-se criminoso, pagando o preço com a própria vida, derramando o Seu sangue na cruz do Calvário. Batman era incompreendido pelos cidadãos de Gothan. Apenas Alfred, Lucius, Gordon e o filho, sabiam de sua inocência. Cristo foi rejeitado até por Seus discípulos. Batman foi perseguido. Cristo também, culminando em sua morte expiatória. Batman foi odiado. Cristo, idem.

7) Batman jamais salvará Gothan (ele tem de conviver com os seus pecados, erros, e consciência aflita), por mais altruísta que seja, o super-herói não está disposto a morrer por Gothan, e ela sabe disso: nunca estará livre do mal, do Coringa e do caos, mesmo que Batman se decidisse pelo sacrifício. Cristo não tem pecados, e entregou-se voluntariamente pelos Seus como o único meio pelo qual o homem é salvo. Batman não tem controle sobre si mesmo. Ele simplesmente reage aos fatos. Cristo tem completo controle sobre Si (Jo 10.17); sobre todas as coisas (Jo 1.3), inclusive o pecado, a morte e o mal (Hb 4.15; Rm 6.9; 2Co 5.10).

8) O Cavaleiro das Trevas é uma ficção, como o homem que deseja salvar a si mesmo também vive uma ficção. E olhará para si, e se verá condenado. Assim como Bruce Wayne está confinado ao estigma do morcego, o homem está preso às correntes do pecado, e por si só é impossível livrar-se.

9) Ao contrário, Cristo é o poder real, o único e suficiente salvador do homem: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). A realidade irrefutável de que Deus não é um mero espectador e não pode ser alijado do universo (a despeito da vontade e dos esforços sobre-humanos), é que Ele opera a redenção na vida dos eleitos pelo Seu Filho Amado.

10) Cristo é a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem, mas o mundo não o conheceu. E como Batman, o homem cavalga nas trevas, rumo à condenação.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

COMENTÁRIO A JOÃO 11.17-46














Por Jorge Fernandes

Jesus partiu de além do Jordão para a Judéia; ia de encontro a Marta, Maria e Lázaro. Havia quatro dias que “aquele que tu amas” morrera. Lázaro estava sepultado, e suas irmãs recebiam o consolo de muitos judeus. Marta, ao saber da chegada do Senhor, correu para recebê-lO. Novamente, somos confrontados pela objetividade de Marta.
Em Lucas 10.39-42 (veja o comentário em
http://kalamo.blogspot.com/2008/05/onde-est-o-seu-tesouro.html ), numa passagem parecida com esta (onde não há notícias da morte de Lázaro; e a semelhança decorre da amizade que Cristo nutria pelos três irmãos, e que levava-O a visitá-los), lê-se no v. 40: “Marta, porém, andava distraída em muitos serviços”. Ela era prática, dinâmica, uma “workaholic” dos seus dias. Enquanto Marta se perde nas tarefas de servir aos convidados, de executar uma atividade costumeira, Maria, sua irmã, sentou-se a escutar o nosso Senhor. Ao repreendê-lO por permitir que Maria ficasse a ouvi-lO, enquanto se "matava" no servir, ela ouviu de Cristo: “Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada” (v. 41-42). É evidente a suficiência das Escrituras, e a escolha deve ser a de ler, ouvir, meditar e estudar a palavra de Deus como necessidade inadiável.
Em João, Marta novamente encontra-se ansiosa, afadigada, correndo ao encontro do Senhor, enquanto Maria estava sentada em casa. Contudo, a atitude de Marta nesse momento é equivalente àquela atitude de Maria, porque ao passo que ali Marta não devotou atenção ao Senhor, aqui a vemos lançar-se ao seu encontro, e Maria parece incapaz de perceber-lhE a proximidade.
Marta demonstra uma fé segura ao afirmar que “se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” (v.21). Cristo lhe diz que Lázaro ressuscitará. Ela interpreta como sendo a ressurreição eterna, no último dia.
Façamos uma pausa.

Marta havia dito ao Senhor: “sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá” (v. 22). Ela o relaciona com o v. 21, que se Jesus tivesse chegado antes da morte de Lázaro, ele ainda estaria vivo. Cabe uma reflexão: se Marta cria no poder do Senhor para salvar Lázaro da morte, por que Ele não o ressuscitaria? O que era mais difícil: ressuscitar o corpo corrompido no último dia, ou ressuscitá-lo ali, alguns dias da sua morte quando ainda existia um corpo?
Havia uma esperança, mas essa esperança era vindoura, não imediata. Ela nos dá a lição de que se deve crer no poder de Deus, de que Ele é capaz para realizar a Sua vontade tanto agora como na eternidade. Ele, segundo os Seus propósitos, pode operar o impossível a fim de ser glorificado e exaltado diante dos homens. Sem dúvida, o maior de todos os feitos de Deus foi a salvação. Mas há de se crer que Ele é poderoso para feitos igualmente maravilhosos, porque tudo é-lhE possível (Mc 10.27; Lc 1.37).
O Senhor responde Marta com autoridade, não somente a afirmar o poder que tem de ressuscitar os mortos, mas o poder de dar a vida a quem crê; pois o que crê, mesmo que esteja morto, viverá e nunca morrerá. Cristo é a ressurreição e a vida (v.25-26), e ao morrer na cruz do Calvário, livrou da morte todos os que o Pai lhE deu, para que nenhum deles pereça (Jo 6.39), e condenou à morte os que não crêem e não foram entregues a Ele pelo Pai. É a pura soberania de Deus, da qual muitos querem esquivar-se, contudo, é impossível. A salvação vem da escolha que Ele faz dos Seus eleitos; é uma prerrogativa inalienável, está sobre o Seu domínio, donde os não escolhidos perecerão, pois somente os que o Pai trouxer ao Filho terão a vida eterna e ressuscitarão no último dia (Jo 6.40;44). Porque Cristo é “o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (Jo 14.6). Isso não quer dizer que se deve negligenciar o buscar a Deus, porque “buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração” (Jr 29.13). Se há dúvida em seu coração, busque ao Senhor sinceramente, arrependa-se dos seus pecados, e Ele o perdoará, e lhe dará a eternidade em plena comunhão consigo. O desejo de buscá-lO somente é possível porque Deus o chamou, o escolheu, e assim, você foi capaz de encontrá-lO, jamais porque a escolha foi sua. A eleição é divina, não humana. Ela parte de Deus que nos capacita à reconciliação, provando que não há nada melhor, nem maior do que a Sua glória. Então, não há porque rejeitá-lO. Como é possível rejeitar o que de mais sublime, puro e santo existe? Infelizmente, nem todos chegam a esta conclusão, e se não chegam, é porque o Espírito de Deus não os capacitou para tal.
Não é assim no diálogo entre Cristo e Marta? Ao perguntá-la: “Crês tu isto?” (após dizer que todo aquele que vive e crê nEle nunca morrerá [v.26]). Marta estava diante da verdade imutável, da graça absoluta, do amor eterno, e reconhecê-lO era a única possibilidade: “Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo” (v.27). Diante do Seu pungente amor e autoridade, é impossível fugir da inevitável constatação: se Deus não eleger, o rebelde jamais terá vida.
Marta chamou Maria em segredo, avisando-a de que o Mestre chegara (v. 28). Chamá-la discretamente pode ter relação com a perseguição de Jesus pelos judeus, ou Marta não queria que todos acorressem e impedissem Maria de desfrutar da Sua comunhão. Seja qual for o motivo, de nada adiantou o seu zelo, pois os judeus seguiram Maria ao sepulcro, tão logo levantou e foi ter com Jesus (v.29).
Claramente, o propósito de Deus em glorificar o Seu Filho Amado não passaria despercebido. O que revela como os esforços e intentos humanos estão limitados à vontade de Deus. Ainda que Marta objetivasse o encontro do Mestre com a sua irmã sem alarde, o seu desejo frustrou-se, visto que o Senhor queria que muitos cressem (v. 45), e que testemunhas relatassem ao povo o milagre de Betânia.
Da mesma forma, presenciariam a fé de Maria, que lançou-se aos pés de Jesus, e disse: “Se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” (v. 32). As irmãs tinham a mesma fé em Cristo (Lázaro também); elas sabiam que Ele era o Filho de Deus, e como Filho, todo o poder lhE foi dado nos céus e na terra (Mt. 28.18). Mas estranhamente, pareciam não crer que fosse capaz de ressuscitar o seu irmão; demonstrando a dificuldade de se compreender a mente de Deus, e como opera a Sua graça e misericórdia. É preciso reconhecer a nossa inaptidão, e clamar que Ele nos acrescente a fé (Lc 17.5), pois somente por ela pode-se crer e ser salvo (Ef. 2.8). Porque está escrito: “não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16).
Muitas vezes somos cegados pelos sentimentos. Não parece que Marta e Maria estavam obliteradas por eles? Há uma idéia de que o sentimento é tudo, e de que através dele contata-se Deus. Mas a evidência é outra. A Bíblia afirma que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). Portanto, sentimentos não podem nos levar a Deus, quando muito serão conseqüências de um encontro com Deus.
A felicidade, de onde provém?
O gozo, de onde vem?
E a paz? E a santidade?
A fé? A Esperança?
Estes são os frutos de uma vida de comunhão com o Todo-Poderoso, em que Cristo nos transformará, e uma obra iniciar-se-á pelo poder do Espírito Santo, a qual aperfeiçoará até o dia da volta do nosso Senhor (Fp 1.6). Então, a obra de Deus iniciara-se na vida das irmãs, mas ainda não estava concluída, seguindo os eternos intentos divinos.
O que estava para acontecer, nem sequer podiam imaginar. O que Cristo realizaria diante dos olhos incrédulos dos judeus, e, porque não, também das irmãs, seria assombroso. Mas não era a demonstração de um poder frio, insensível, fatalista. Não. O milagre de Jesus seria envolto em compaixão, misericórdia, seria acolhedor. Ainda que estivesse decretado desde antes da fundação do mundo, o Senhor imprimiria não somente o Seu poder divino, mas a Sua graça divina, o Seu amor divino.
Cristo não nos trata como marionetes, como descartáveis, mas se move em nossa direção, abriga-nos, revelando-nos a proteção que o Pai dará aos Seus filhos. Ele é o alto refúgio ao qual Davi sabiamente proclamou: “O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio” (Sl 18.2).
Então, o espírito do Senhor moveu-se muito, e perturbou-se (v.33). Como o intermediário entre Deus e os homens, Cristo examinou os corações de Marta e Maria, ouvindo suas súplicas; sabendo qual era a intenção do Espírito, intervindo junto a Deus em favor dos santos (Rm 8.27). E chorou (v.35). E Suas lágrimas evidenciaram, mesmo para os duros corações judeus, o quanto Ele amava Lázaro (v.36). O morto simboliza o amor de Cristo por Suas ovelhas, pelo Seu povo. Deve-se exultar porque Cristo nos ama. Por nós, os Seus eleitos, Ele morreu na cruz do Calvário, “por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4.25), estando ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou, e nos ressuscitou juntamente com ele (Ef. 2.5-6). Era isso o que Jesus tinha em mente quando perguntou por Lázaro (v.34). Ele já sabia de antemão o que faria, e como, maravilhosamente, cumpriria a vontade do Pai.
Mas as dúvidas do povo apenas arrefeceram-se um pouco, para voltarem novamente contra o Senhor. A falsa piedade deles para com o morto, mascarava e denunciava a atitude condenatória em relação a Cristo. No fundo, era incredulidade, hipocrisia, maldade em estado bruto, tanto em relação ao Seu poder quanto em relação às Suas intenções. Senão, porque declarariam maliciosamente: “não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?” (v.37).
Jesus moveu-se muito em si mesmo (v. 38). Creio que o perturbar-se do Senhor, além de se relacionar com a morte de Lázaro, também ligava-se à impostura do povo; tristeza pela situação do Seu amigo, e pela cegueira e ceticismo dos judeus. Ele que julgará os vivos e os mortos (2Tm 4.1), estava mais uma vez diante da hipocrisia de Israel, da rebelde ignorância que haveria de condená-los; pelos quais Cristo “veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1.11).
À ordem de Jesus para tirarem a pedra do sepulcro onde Lázaro jazia, Marta opôs-se: “Senhor, já cheira mal, porque é já de quatro dias” (v.39). A atitude de Marta foi racional, de alguém que mesmo diante do sofrimento ainda estava conectada a realidade. Para qualquer um, remover a pedra que libertaria todos os odores pútridos de um corpo em decomposição, pareceria ilógico, insano, absurdo. O mau cheiro não somente ofenderia os narizes, mas a consciência da morte: cedo ou tarde, estar-se-á diante dela. Mais do quê a lembrança de Lázaro passando pela corrupção física, havia um sentimento lúgubre a reavivar as dores dos últimos dias. Porém, Cristo não permitiu o desânimo, a expectativa da derrocada inevitável, antes exortou à fé: “Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?”.
Quanto era necessário repetir o mesmo ensino? Uma, duas, três vezes? Ainda assim, por causa da natureza caída, o homem estava impedido de compreender a sabedoria e a verdade divinas.
Marta, mesmo crendo no Filho de Deus, era incapaz de entender e vislumbrar a magnificência da Sua glória. Diante dos sinais, dos avisos, da clara proclamação do que havia de acontecer, ela (como qualquer de nós) manteve-se presa à ignorância, à tola humanidade. O homem encontra-se distante do Criador, e carece da Sua misericórdia a fim de não ser consumido, condenado (Lm 3.22).
A pedra foi tirada, e na oração, no louvor do Filho ao Pai, Jesus levantou os olhos e disse: “Graças te dou, por me haveres ouvido” (v.41). É um momento de êxtase, de plena comunhão da Trindade Santa, em que as palavras do Senhor inferem-se de uma magnitude tal que é-nos impossível atingir o seu cerne; estão muito acima de nós, muito além do nosso pensamento, tanto como os céus são mais altos do que a terra (Is 55.9).
Cristo, claramente, afirma que o Pai sempre o ouve. Confirma-se a relação de unidade que existe eternamente entre Eles; mas para que o povo cresse, era necessário proclamar na terra o que eram nos céus: Um, em conformidade (v.42). Notável é o caráter mediatório de Cristo, o qual é o único capaz de nos levar ao Pai. Somente por Ele e através dEle, as súplicas são levadas ao trono de Deus; de outra forma, nossas vozes se calariam aos Seus ouvidos, pois não sabemos pedir como convém (Rm 8.26). Então, Ele se encarrega de dar “forma” às nossas petições, de torná-las justas e santas, intercedendo em favor dos eleitos, dos chamados: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1 Tm 2.5).
Lázaro está morto. Há quatro dias foi enterrado. Em Betânia havia apenas choro e lamento. Nenhuma esperança, apenas a constatação de que a morte vencera novamente, e de que em breve cada um encontrar-se-ia face a face com seu algoz. A inevitabilidade da morte era um fato, inexorável. Como Lázaro, o homem está definitivamente morto para Deus; os seus delitos e pecados criam uma barreira, um muro de inimizade diante da santidade e retidão dEle. Nenhum esforço pode revivê-lo; nada, humanamente, pode reatar a comunhão perdida, somente Cristo pode reconciliar-nos; Ele é Todo-Poderoso para tornar os mortos à vida. Assim como fez com Lázaro, ressuscitando-o, o Senhor é quem nos chama à vida e à salvação: “Lázaro, sai para fora” (v. 43). E o defunto saiu. O que estava morto, sepultado por seus pecados (o salário do pecado é a morte), foi vivificado, ressurgiu definitivamente, porque o “o dom gratuito de Deus é a vida eterna” (Rm 6.23).
Cristo tira o homem das trevas em que o pecado lançou-o, trazendo-o para a luz. E esse não é um esforço humano. Não é algo que eu ou você podemos fazer. Como todo morto, estamos inertes, imobilizados pelo pecado, impossibilitados de qualquer ação. O morto não respira, não pensa, não age. Para retornar à vida é necessário que ela seja-lhe doada. Jesus é este doador. É Ele quem escolhe qual e quantos pecadores serão convertidos a Si, porque natural e voluntariamente é-nos impossível converter. Quando não se pode esperar mais nada, Ele nos dá o novo nascimento, o ânimo, somos restaurados, ressurgimos para a glória de Deus. Como Cristo ressuscitou dos mortos, também somos ressuscitados. As faixas que nos mantinham amarrados, imóveis como Lázaro, Ele as desliga; e as faixas que envolviam nosso rosto, mantendo-nos cegos e imersos nas sombras da morte como Lázaro, Ele as tira (v.44). Conforme fez ao amigo, Jesus faz-nos crer nEle, produzindo em nós a fé necessária para que creiamos, como muitos dentre os judeus (v.45).
Porém, há os que são cegados e se manterão cegos, impedidos de ver, incapacitados de ver, e estarão em trevas profundas (v.46); pois crêem em suas próprias obras em detrimento da fé, e Cristo se torna para eles “uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (1 Pe 2.8).
Assim será, eternamente.

Leia o comentário a João 11.1-16 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-de-joo-111-16.html

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

F1 E A SOBERANIA DE DEUS









Por Jorge Fernandes

O último GP Brasil de Formula 1, trouxe-me a seguinte reflexão:
Diante do final surpreendente da corrida, culminando com Lewis campeão e Felipe quase, como se deu a ação de Deus?
Relembrando: Para o inglês ter o título, era necessário que terminasse em 5º lugar, independente da posição ocupada pelo brasileiro, 2º colocado no Mundial (não se pode esquecer do tempo instável em SP. Durante a prova houve momentos de chuva, o que modificou o desempenho de pilotos e carros). Faltando três voltas para o final, Lewis estava com a taça na mão quando o alemão Sebastian Vettel ultrapassou-o. Hamilton foi deslocado para o sexto lugar, e o Mundial passava às mãos do brasileiro, que ocupou a liderança durante toda a prova. Esta combinação dava:
Massa em 1º lugar;
Hamilton em 6º lugar;
Campeão: Felipe Massa
Quando tudo parecia resolvido, a pouco mais de 500 metros do fim da prova, Vettel e Hamilton ultrapassaram o alemão Timo Glock que ocupava o 4º lugar. Numa reviravolta inesperada, o inglês voltou a ocupar o 5º posto e, após a bandeirada, tornou-se o mais jovem campeão mundial, aos 23 anos e 9 meses. Aconteceu a combinação necessária:
Massa em 1º lugar;
Hamilton em 5º lugar;
Campeão: Lewis Hamilton.
Como fica a soberania de Deus numa prova em que o resultado foi alterado duas vezes, em questão de minutos?
Pode-se analisar o fato de algumas formas:
a) Deus não está nem aí para F1. O que definiu o campeonato foi o trabalho das equipes e dos pilotos.
b) Deus deu a vitória ao inglês.
c) Deus fez Massa perder.
d) A sorte ou acaso foi quem determinou o vencedor.
A Bíblia é clara em afirmar que Deus é soberano. Que tudo está sob o Seu controle, e nada pode escapar-lhE das mãos (Sl 10.14, 24.1, 115.3, 148.5; Rm 13.1; 1Co 10.26): “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido” (Jó 42.2).
Você pode perguntar: o que tem Deus a ver com a F1?
Como soberano, Deus não pode ter controle apenas sobre algumas coisas, como as chuvas, secas, o nascer da erva, o trazer a neve e a geada (Sl 147.8-18), mas sobre tudo, absolutamente tudo: “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” (Mt 10.29-30). Portanto, todo o universo está sob o constante olhar do Senhor, e o Seu reino domina sobre tudo (Sl 103.19).
Por que a Fórmula 1 (por mais insignificante que seja) seria deixada ao “acaso” por Ele? Primeiro, porque não existe acaso. Esse é o típico jargão usado por aquele que não quer honrar a Deus, pelo contrário, quer desprezá-lO ou ignorá-lO. O tolo, que não O conhece, esconde-se neste tipo de artifício mental para revelar o que existe em seu coração: completa e total descrença, total e completa rebeldia a Deus.
Segundo, Deus zela por Sua glória, e jamais permitirá que ela seja transferida a quem quer que seja (Is 48.11), ainda que à inexeqüível e improvável sorte: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei” (Is 42.8). Paulo disse de Deus: “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm 11.36). Então, não há porque o Senhor negligenciar uma simples disputa numa curva no GP Brasil. Mesmo que jamais houvesse uma corrida em Interlagos, o autódromo seria alvo da soberania de Deus. Ele está ali com um propósito: glorificá-lO!
Mas como Deus pode ser glorificado por uma pista asfaltada?... Voltemos à corrida.
As chances de Lewis ser campeão eram maiores do que as de Massa. Isto é probabilidade matemática. Eram de 5 x 1 a favor do inglês. Alguns dirão que as chances de Massa eram maiores, pois havia vinte carros na prova e Lewis poderia terminar do 6º ao 20º lugar, o que daria a vitória a Felipe se terminasse em 1º, 2º ou 3º lugares, dependendo da colocação do inglês. Hamilton poderia sofrer um acidente (a torcida do Galvão Bueno e seus colegas chegaram à morbidez, ou seria sordidez?), ser desclassificado, ter uma “pane seca”, ou outro incidente que o fizesse abandonar a disputa. Mas, diante da capacidade de Lewis e da Mclaren durante a temporada, era pouco provável que isso acontecesse. Por isso, chega-se à conclusão de que as chances de vitória de Hamilton eram maiores do que as do Felipe; ele dependia apenas de si mesmo e do seu equipamento. Mas havia a chuva, o calor, as trocas de pneus, os reabastecimentos, e toda a parafernália que controlava o carro, que poderia falhar. Além do quê, Lewis poderia sofrer um mal-estar, uma tonteira, vertigem, queda de pressão, afetando o seu desempenho. Se verificarmos, cuidadosamente, são muitas as variantes que interferem no resultado. E pode o “acaso” cuidar de todas ao mesmo tempo? E, aleatoriamente, provocar um resultado que não desejou? Pode a sorte desejar, ou não desejar? Se cremos que pode, fazemo-la o nosso deus!... Porém, diz o Senhor: “Eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” (Is 46.9-10).
A maioria dirá que o campeonato foi decidido pelo talento, esforço e capacidade do inglês. É verdade. Ele é hábil e treinado para dirigir um F1 como somente os melhores pilotos podem fazê-lo. Este é um talento que Deus lhe deu, a fim de se cumprir a Sua eterna vontade. Provavelmente, se eu treinar a vida inteira e for colocado no cockpit da Ferrari ou Mclaren não dará em nada. Apenas prejuízos para a equipe, para mim mesmo, para os outros pilotos... e o público, que veria um “roda-dura” imbatível (desculpem o trocadilho infame).
Então, é claro que Lewis fez por merecer a vitória. Mas Massa também não mereceria? Ambos não são grandes pilotos, estão em equipes de ponta, cercados da melhor tecnologia e patrocínios disponíveis? Por que a F1 não terminou empatada?... Porque não foi esta a vontade de Deus (Dn 4.35). Ele quis que houvesse um campeão: o inglês Lewis Hamilton. Por quê? Apenas posso responder que essa foi a Sua santa vontade, e que ela aconteceu como Ele havia decretado eternamente (mesmo os vários critérios de desempate presentes no regulamento da competição estão ali segundo o propósito divino). E ao cumprir-se, Ele foi glorificado. Alguém pode dizer: “bem, quem lhe garante que não foi o diabo que deu a vitória ao inglês?”. Eu lhe digo que, ainda assim, a soberania de Deus permanece intocável, pois Satanás é um servo dEle, e não é livre para fazer o que quiser, mas tem a sua vontade subordinada ao Senhor (Jó 1.12; 2.6). Assim como todas as criaturas do universo, justas ou não, puras ou não, servem aos propósitos de Deus. Mesmo que o diabo tenha dado a vitória a Lewis, não o fez sem que a vontade do Senhor estivesse manifesta. Não uma mera constatação, como o pai que após anos tentando fazer do filho um craque de futebol percebe enfim que ele não passa de um perna-de-pau. Algo completamente alheio à sua vontade; que apesar do esforço, do investimento em tempo e dinheiro, vê cair por terra os seus intentos. Deus não é um expectador que se surpreende com o final do filme. Como roteirista e diretor é Ele quem determina como será o final. E nada, nem ninguém, seja eu, você, ou o próprio diabo, poderá frustrá-lO.
Então, ao lembrar-me das vitórias do Airton Sena (quando eu era um descrente), não me aflige mais a antipatia que nutria por ele. Sei que cada pole-position, cada volta rápida, cada pódio e campeonato foram traçados e planejados meticulosamente por Deus, e cumpridos ao seu tempo. Resta-me apenas render-me à Sua soberania, sabendo que “o caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; é um escudo para todos os que nele confiam” (Sl 18.30).
Na F1, seja com a vitória do Massa, Lewis, Kubrica, Alonso ou outro piloto, Deus está no controle, tudo foi criado por Ele, Seus propósitos cumprem-se e cumprir-se-ão infalivelmente, e nada foge-lhE ou contraria a vontade. Seja na alegria de uns ou na tristeza de outros, sabeis “que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele” (Dt 4.35).

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

LÓGICA DEMAIS, OBEDIÊNCIA DE MENOS


















Por Jorge Fernandes

A lógica está intimamente ligada à razão. Portanto, a lógica é racional, e a razão é lógica. Uma não sobrevive sem a outra. Tanto a lógica como a razão fazem parte das habilidades que Deus proveu o homem, então, é uma ferramenta ou faculdade que devemos usar para distinguir o certo do errado. Sem entrar no campo filosófico (até porque não sou versado em filosofia, e me perderia em meio a conceitos e proposições), para que algo seja lógico é necessário que esse raciocínio seja válido, o que nos leva à conclusão de que raciocínios inválidos não são lógicos. Outro ponto é que a lógica pressupõe coerência, uma linha contínua de raciocínio. Mas o que é um raciocínio válido? Pode ser qualquer coisa, dependendo da pessoa ou da cultura em que ela vive; porque, mesmo algo irracional pode revestir-se de uma aparente lógica para existir.
E para o crente? O que é lógico? Certamente não deveriam ser princípios não-bíblicos. Nem princípios que se oponham ao Evangelho de Cristo. Jamais deveriam ser princípios anticristãos ou imorais. O sábio rei Salomão asseverou: “Eu apliquei o meu coração para saber, e inquirir, e buscar a sabedoria e a razão das coisas, e para conhecer que a impiedade é insensatez e que a estultícia é loucura” (Ecl 7.25).
A imoralidade, a perversão e o pecado não têm lógica, nem o porquê de serem defendidos. Se reivindicam uma razão, ela é tão corrompida quanto o homem que a costurou. E não lhe resta mais nada, somente a condenação, pois a desobediência a Deus merece punição... Não foi o que disse Jesus? “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas" (Jo 3.19). Não é lógico?
Então, para o crente, a verdade representa todo o conjunto de revelações e ensinos contidos nas Escrituras Sagradas, os quais são infalíveis, inerrantes e morais, o que faz da Bíblia um livro lógico. E, como o seu autor, Deus é igualmente lógico (ainda que em nossa finitude não compreendamos a infinita razão divina). Por isso, Pedro disse: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo” (1Pe 2.2). O que é falsificado, que vai contra o Evangelho, deve ser rejeitado, mesmo que do ponto de vista humano aparente-se lógico.
Há de se ressaltar que o homem caído, cuja natureza acha-se corrompida, é incapaz do bem, de apreendê-lo, de compreendê-lo e praticá-lo completamente. Então, diante da infalível, santa e pura revelação divina, não devemos rejeitá-la, mas aceitá-la como a mais absoluta verdade, inexorável. O que vale dizer que a nossa lógica nem sempre será lógica se fiarmos exclusivamente no conhecimento humano, e muitas vezes, o que aparenta ser racional e válido, biblicamente é irracional e inválido, opõe-se à verdade, sendo mais falso que nota de três reais.
Em contrapartida, se fixarmos a atenção nos princípios de Cristo revelados no Evangelho, seremos sempre lógicos e racionais e, por conseguinte, verdadeiros. Como Ele disse: “Porventura não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?” (Mc 12.24). Paulo ecoou a mesma sentença: “Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofreríeis” (2Co 11.4).
Não há dúvida de que o Evangelho é lógico e suficiente para redargüir, repreender, exortar, para que os nossos ouvidos não se desviem da verdade, e voltemos às fábulas (2Tm 4.2-4); mas para batalharmos “pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3).
Porém, com o argumento de pautar cada pensamento e ensino dentro de métodos lógicos (contudo, humanos), muitos esquecem-se de que a obediência a Cristo e a Sua Palavra é a revelação lógica de Deus. Não observar e praticar o Evangelho é ser incoerente, é estar à margem da razão.
Como homens, somos imperfeitos e estamos sujeitos a todo o tipo de contradição. Pensamos uma coisa e dizemos outra, dizemos e não fazemos, fazemos o que não dizemos. Não há como escapar. A queda de Adão no Éden proporcionou que a perfeição na qual fomos criados, à imagem e semelhança de Deus, decaísse; porque nem o mais lógico ser humano o será 24 horas por dia, todos os dias, o tempo todo. Há muitos que nem se preocupam com isso, e se alegram por não serem e terem nenhuma lógica. Não é assim que o néscio diz, ao valorizar a sua intuição? “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17.9).
Na verdade, o mundo está muito distante da lógica e da razão. A sociedade é a prova maior de que cultuamos o ilógico, o surreal, e estamos de fato num mundo que flutua entre a loucura e a hipocrisia, entre a imoralidade e as trevas, entre servidão ao pecado e buscar a morte. E cada vez mais afastamo-nos da lógica divina: “Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Rm 6.16).
Muitos querem ser lógicos e acabam no caos, se apegam a cada justificativa mal formulada, a cada pensamento e conceito desconexo, para sustentar a sua rebeldia e resistência a Deus. No fundo, o que desejam é continuar na dissolução, na falsa liberdade do pecado e, para isso, valem-se da lógica... mas afinal, qual lógica? Há razão na desobediência a Deus? Há racionalidade em dizer-se cristão, mas não seguir a Cristo? E dizer-se servo do Senhor, mas não se humilhar diante dEle? Em escutar a Sua palavra, mas fingir-se surdo e negligenciá-la? Dizer que vive, mas está morto? Afirmar que a Bíblia é a sua regra de fé, mas subverter cada versículo para não cumpri-los?... “Se alguém não ama ao Senhor Jesus Cristo, seja anátema” (1Co 16.22), foi o que disse Paulo, seguindo a Cristo: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (Jo 14.23). Portanto, não há meio-termo, nem justificativa, nem verdades que se acomodem em suposições. Como escreveu o profeta: “E disse-me o Senhor: Viste bem; porque eu velo sobre a minha palavra para cumpri-la” (Jr 1.12); e ainda: “Porventura a minha palavra não é como o fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a pedra?” (Jr 23.29). Deus não aceita desculpas esfarrapadas, ainda que pretensamente lógicas: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).
A lógica é importante aliada da fé, mas sem a obediência, a fé é morta, e não tem lógica. Porque a obediência é a fé prática e lógica de que Cristo é o nosso Senhor.

sábado, 1 de novembro de 2008

COMENTÁRIO A JOÃO 11.1-16











Por Jorge Fernandes

No começo, é-nos mostrada a situação em que se encontrava “um certo Lázaro, de Betânia, o qual era irmão de Maria e Marta”. Betânia era uma aldeia que ficava na Judéia, distante de Jerusalém quase quinze estádios (v.18), aproximadamente, três quilômetros.
Cristo estava em Jerusalém, havia confrontado os judeus; foi ameaçado de morte por apedrejamento; retirou-se para além do Jordão onde João o batizara, e ali, muitos iam ter com ele, e creram nEle (Jo 10.22-41).
Mas aqui, o Espírito Santo nos revela que Lázaro está enfermo. Para, em seguida, sabermos que Maria, sua irmã, foi a mulher que derramou um arrátel de ungüento de nardo puro nos pés do Senhor, enxugando-lhe os pés com os cabelos (v. 2; Jo.12.3).
Suas irmãs mandaram chamar Jesus com a seguinte notícia: “Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas” (v.3). Ora, não era preciso dizer mais nada. A mensagem que Marta e Maria endereçaram ao Senhor era clara: Lázaro está muito doente, às portas da morte, venha logo salvá-lo! O intuito delas era que Ele fosse até Betânia e pudesse curar Lázaro em tempo. E como irmãs que amavam ao seu irmão, confiando em Jesus como o Filho de Deus, elas encarregaram-se de apelar para os sentimentos do Senhor de uma forma profunda: “aquele que tu amas”. Seria mesmo necessário lembrar a Jesus do Seu amor para com Lázaro? Bem, vejo algumas hipóteses:
1) Por ser Lázaro um nome comum na época, queriam certificar a Cristo de que o Lázaro doente era “aquele que tu amas”.
2) Queriam que o Senhor, ao saber que “aquele que tu amas” estava doente, partisse imediatamente para Betânia a fim de curá-lo.
3) Demonstravam com “aquele que tu amas” revelar a urgência da situação em que Lázaro se encontrava, enfermado.
4) O Espírito Santo quis que a frase “aquele que tu amas” fosse guardada para as gerações futuras de crentes, para que jamais houvesse dúvida quanto ao amor que o Senhor Jesus tem por Suas ovelhas. Neste ponto, faz-se necessário voltarmos a João 10, e observarmos que, claramente, Cristo é-nos revelado como o bom pastor, aquele que dá a vida por Suas ovelhas, e das mãos do qual nenhuma delas se perderá.
Jesus respondeu que a enfermidade de Lázaro não era para morte, mas para a glória de Deus; a mesma explicação que deu aos Seus discípulos quando viram um cego de nascença (Jo 9.3). Lázaro, como o cego de nascença, foi instrumento de Deus para que o poder de Cristo se manifestasse aos homens enquanto era dia, através das obras pelas quais o Pai O enviou a fazer; para que todos vissem que Ele era a luz do mundo (Jo 9.4-5). Então, novamente, em obediência ao Pai, Jesus permaneceu dois dias onde estava.
Fico a conjecturar se o Senhor não desejou profundamente ir ter com os seus queridos. Se não era a Sua vontade partir imediatamente, e permitir que o Seu amigo não morresse. Porque lemos: “Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro” (v.5). Talvez a espera o afligisse. Certamente, sendo o Filho de Deus, Ele poderia reivindicar junto ao Pai a urgência da situação, e partir logo. Mas como Deus soberano, o qual nada lhe escapa das mãos, sabendo que tudo se cumpre rigorosamente segundo os propósitos divinos, decretados eternamente (não podendo ser pego de surpresa, ou tendo de adaptar-se ou adequar-se às novas situações), Cristo manteve-se obediente ao plano de Deus, cumprindo-o, porque o objetivo de toda aquela situação era a glória de Deus, e que o Filho glorificasse o Pai, e que o Filho fosse glorificado pelo Pai (Jo 17.1).
Então, passada a espera, Ele disse aos seus discípulos que retornassem à Judéia (v.7), causando-lhes espanto, por que o nosso Senhor havia sido ameaçado de morte; recentemente, em duas ocasiões pelos judeus, escapando milagrosamente (Jo.8.59;10.31). Em ambas as situações, os judeus tentaram contra a Sua vida porque Cristo confrontou-os, revelando-lhes a soberba e a inutilidade por depositarem a esperança de salvação numa religiosidade humana, baseada na justiça humana (a qual jamais é justa, mas injusta; jamais é santa, mas iníqua; e, portanto, ineficiente para aplacar a ira e satisfazer a justiça de Deus), ao mesmo tempo em que afirmou, explicitamente, a Sua condição de igualdade e unidade com o Pai, revelando-se como o Filho de Deus.
Há de se ressaltar, que Cristo acusou os seus inquiridores de fazer as obras do seu pai, Satanás (Jo 8.44). O fato de não amar o Senhor, e de procurar matá-lO, revela o quanto aqueles homens serviam aos desejos do seu pai, e o quanto estavam enganados quanto a servir a Deus. Ao apegarem-se às mentiras proferidas pelo diabo, rejeitando a Verdade que era o próprio Senhor, Cristo emite uma sentença condenatória a eles, ao denunciar que aqueles que não ouvem as palavras de Deus não são de Deus (Jo 8.47). Para, em seguida, declarar que aqueles que guardarem a Sua palavra jamais verão a morte (Jo 8.51), ou seja, a Sua palavra é a própria palavra de Deus, e se os judeus não a ouvem e não a guardam, encontram-se no estado de condenação eterna.
Os discípulos não entendiam porque Cristo queria voltar para a Judéia. Diante dos riscos iminentes, ainda frescos em suas memórias, por que Ele tencionava voltar para lá? O Senhor respondeu-lhes que era necessário que a luz se manifestasse, de que as obras que o Pai deu-lhE a fazer realizassem-se enquanto era dia (Jo 9.4); para denunciar as obras das trevas, e torná-las visíveis aos olhos do Seu rebanho; e, pela luz, a qual é o próprio Cristo, Suas ovelhas não tropeçariam (v.9), não seriam enganadas pelas artimanhas de Satanás, o qual é o pai da mentira e não se firmou na verdade (Jo 8.44), e suas obras foram reprovadas pela luz (Jo 3.20).
É evidente a obra que o Senhor Jesus Cristo realiza no homem caído, que está envolto em densas trevas (Ef 5.8). Como luz, Ele abre-nos os olhos, revelando-nos a Verdade, tanto a do homem corrompido como a do Deus santo, dá-nos a vida (Jo 1.4), tirando a venda que nos cegava (1Jo 2.11), que nos mantinha enganados, que obscurecia o nosso entendimento, e conservava-nos em constante e persistente rebeldia contra Deus, num estado de absoluta oposição ao Criador. Cristo, o Deus Filho, é a luz, e quem anda na luz jamais andará em trevas (Jo 12.46).
Por um momento, os discípulos sentiram-se aliviados com a resposta de Jesus, a qual lhes transmitiu a idéia de que Lázaro dormia e estaria salvo, não morto (v.11-12). Assim, não seria necessário que eles retornassem à Judéia, e, portanto, o Senhor não correria novos perigos. Os discípulos ativeram-se apenas a uma parte da resposta do Senhor, esquecendo-se do restante da frase: “mas vou despertá-lo do sono” (v.11). Por isso, eles não compreenderam corretamente aquilo que o Senhor disse, e foi preciso que Ele falasse claramente: “Lázaro está morto” (v.14). Muitas vezes, não é assim que ocorre? O Senhor nos fala, e, preocupados com o nosso desejo, com aquilo que queremos, em confirmar o que supomos ser correto, verdadeiro, e o que nos traz alegria, negligenciamos a palavra de Deus, ainda que, em nossos corações, enganamo-nos crendo estar fazendo o melhor para Deus. Não foi assim com os discípulos? Ao negligenciarem a totalidade da resposta de Jesus, apegando-se apenas a uma parte dela, de certa forma, não estavam atendendo ao anseio dos seus corações? Ao temor que os afligia? E, não é assim que agimos quando, querendo adequar a Palavra aos nossos conceitos e desejos, negamos a Verdade, tornando-nos rebeldes a Deus?
Mesmo com todos os nossos pecados, e a atitude de oposição a Deus (uns em maior, outros em menor grau, mas, de qualquer forma, rebeldes), Cristo revela-nos o Seu amor; e, misericordioso, vê cumprindo-se cada um dos eternos decretos divinos, a fim de que o Seu rebanho creia e seja salvo. Então, Ele diz: “vamos ter com ele” (v.15).
É provável que, entre os discípulos do Senhor, não houvesse alguém mais cético do que Tomé (excluo Judas Iscariotes, que jamais foi discípulo de Jesus). Ele era um homem lógico, que cria naquilo que via, um homem que não era dado a fantasias, era um realista na acepção da palavra. Em João 20.24-25, ele questionou os discípulos que lhe contaram ter visto o Senhor após a Sua morte e ressurreição. A despeito da afirmação de todos, ele recusou-se a crer no relato: “Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei”. Tomé andou com Jesus durante os três anos do Seu ministério terreno. Ele presenciou os milagres, os ensinamentos, e viu cumprir-se cada uma das profecias acerca do Messias, proferidas pelos santos do Antigo Testamento. Porém, não creu no relato daqueles homens, companheiros com os quais esteve lado a lado, e que conhecia muito bem. Como um bom judeu, ele precisava ver um sinal (1Co 1.22).
De uma forma maravilhosa, Deus usou a incredulidade de Tomé para trazer ao coração das Suas ovelhas a certeza da salvação, e de que o Filho de Deus está vivo; e por Ele, somos vivificados, quando estávamos mortos em ofensas e pecados (Ef 2.1).
Este Tomé é quem, naquele momento, não apenas está preparado mas pronto para morrer juntamente com o Senhor (o v. 15 pode dar a idéia de que Tomé está falando em morrer juntamente com Lázaro, o qual Cristo confirmou que está morto, mas, creio que ele se refere à possível morte do Senhor pelos seus perseguidores). De certa forma, a sua afirmação soa pessimista, e, nem mesmo as vezes em que escaparam ilesos dos ataques dos fariseus servia-lhe de consolo. Continuava cético, apesar de tudo o que Jesus lhe mostrou: “Vamos nós também, para morrermos com ele” (v.16). Era necessário que ele visse mais milagres, e nem todos os milagres seriam capazes de fazê-lo crer. Assim, também somos nós que pedimos sinais dos céus, e esquecemo-nos de que “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem” (Hb 11.11).
A resignação de Tomé com a morte, antes de ser um ato heróico, era uma atitude de descrença, revelando o quanto estamos distantes de Deus e Sua santidade. Mesmo diante de tudo aquilo que Deus nos revela de Si, somente pela Sua graça e longanimidade, é que, tanto Tomé, como eu, como você, podemos crer em Cristo para a vida eterna.
Tomé, como nós, conformava-se com a iminência da morte; porém, Jesus morreu por amor aos Seus eleitos, ressuscitou, e venceu-a, abolindo-a definitivamente (2Ti 1.10).

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

AMOR














Por Jorge Fernandes

Não é o nome apagado na agenda,
Nem a vela a consumir-se no funeral,
Ou água a esvair-se da pipa fendida;
É muito mais do que cair do cavalo,
Que manter os pés secos na enxurrada,
Cozinhar o galo em banho-maria,
Sonhar tênue em meio à emboscada.

É como erguer uma parede,
Estender a mão ao amigo,
Chorar a dor de quem perdeu,
Andar sem esforço no atoleiro.

Pode durar uma hora ou dias;
Pode arrastar-nos pela vida,
Pode perpassar indelével com o tempo,
Pode ser a carga a nos encurvar.

Cura
Mitiga,
Suporta
Fia.

Conhece,
E faz-se conhecer.

Tem coração,
Tem vida,
É verdadeiro,
É Único.

Seu Nome acima de todos:
Cristo.

Não há outro,
Diante do qual o amor se curve.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

APOLOGÉTICA COM FILOSOFIA?












Por Jorge Fernandes

Usarei o comentário que escrevi sobre o livro “Pode o Homem Viver Sem Deus?”, para prosseguir no entendimento do que considero, verdadeiramente, ser apologética.
“Ravi Zacharias é um dos maiores apologetas da atualidade. Por todo o mundo, ele ministra palestras e debates defendendo a existência de Deus, e da necessidade da aplicação dos princípios cristãos na sociedade.
Neste livro, em sua primeira parte, ele faz uma defesa da idéia de Deus a partir de analogias morais e filosóficas. Há de se reconhecer o seu esforço, seu vasto conhecimento, seus pressupostos filosóficos (a maioria baseada em Aristóteles), e a defesa apaixonada de Deus. Apesar de haver alguns "buracos", no conjunto ele é convincente, porém, nem tanto eficiente. Pode parecer que estou contra Zacharias, o que não é verdade. Mas a questão é que não creio em apologética sem Cristo e Seu Evangelho. Ideais filosóficos e estéticos são bons para se promover debates, para páginas e páginas de discussão acadêmica, para inflar e esvaziar egos, mas nunca conversões. Alguns me dirão que Paulo demonstrava grande conhecimento dos filósofos gregos, e usava-os em suas pregações. Concordo, parcialmente.
Certamente, o apóstolo dos gentios, como um homem extremamente culto, um erudito em sua época, conhecia profundamente os filósofos gregos, bem como os judeus e outros tantos grupos filosóficos. Porém, não vejo Paulo usando "sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã" (1Co 1.17), pelo contrário, como ele mesmo disse, a única coisa que lhe interessava era pregar a Cristo, e este crucificado, visto que Ele era escândalo para os judeus e loucura para os gregos (1Co 1.23).
O fato de Paulo conhecer filosofia e citá-la parcamente (e ainda assim, de forma indireta) não nos dá o direito de substituir a pregação do Evangelho por ciências humanistas, amoldando e acondicionando a Palavra a conceitos e teses humanas. Isso é pecado, esvazia a mensagem de Cristo, tornando-a refém da nossa mente caída, e é ineficiente diante dos homens e seus pecados.
Paulo, como Pedro, João, Tiago e todos os apóstolos eram apologetas. Mas o eram com a mente de Cristo, e não com suas mentes imperfeitas; evangelizavam pela pregação da Palavra, pois, se não há pregação, como crerão aqueles que não crêem? (Rm 10.14-15).
Por isso, quase desisti de continuar a ler a primeira parte de "Pode o Homem viver sem Deus?". Por mais convincente que Ravi fosse em sua argumentação, não via muitas possibilidades de que alguém pudesse crer diante da sua exposição. Pelo fato de não ser o Evangelho, seus pressupostos filosóficos eram passíveis de refutação. E ao revelar a verdade como um conceito filosófico, tornava-a contra-argumentável.
Contudo, na segunda parte do livro, o autor da "nome" à Verdade: Jesus Cristo, o Deus Filho! E começa a expor a Verdade através do Evangelho. Então, fica evidente e patente a solidez de suas argumentações, e como se torna impossível contradizê-las (apesar do quê, para os escandalizados e loucos com a cruz, somente há oposição na loucura e soberba do homem caído, abandonado por Deus).Resta-me agora continuar a lê-lo, esperando que não mude de foco, pois, somente através da ação do Espírito Santo pela Palavra, ateus e todos os tipos de incrédulos se curvarão diante de Cristo, reconhecendo-O como Deus, Senhor e Salvador de suas almas”.

sábado, 18 de outubro de 2008

FISIOLOGIA DO MAL - O SEQUESTRO DO ABC -











Por Jorge Fernandes

Não é habitual que eu faça comentários do cotidiano, contudo, diante de outra prova da capacidade do homem de suplantar a si mesmo em crueldade (“Não há um justo, nem um sequer... Não há quem faça o bem, não há nem um só... Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos” [Rm 3.10-18]), pergunto: onde estavam os pais da Eloá quando ela iniciou o namoro, aos 12 anos, com um rapaz de 19? Onde está a família, a autoridade paterna, o dever e obrigação que têm de cuidar, proteger e educar seus filhos? Os pais, ao concederem aos filhos a permissão para o namoro numa tenra idade, ainda como crianças, não estão negligenciando-os? Não estão jogando-os as feras? Não seria o mesmo que apartar-se dos filhos? E uma forma de rejeição? De transferência de responsabilidade? Ao entregar a filha ao namorado-criminoso, maior de idade, não estavam também outorgando-lhe a “tutela” da filha? Declarando-o tacitamente responsável pela sua educação? Não estaria ele exercendo o direito do pátrio poder ou poder familiar em lugar dos genitores?... Meu Deus, que mundo!... Onde, cada vez mais, as pessoas tornam-se omissas, rejeitam seus deveres, temerosas em assumir posições que, num ambiente pós-moderno, leva todo tipo de idiotice, devaneio e capricho a sério, como normal, e mesmo, factível.
Não seria por isso que o criminoso-namorado sentiu-se no direito de dispor ao cárcere sua ex? E de julgar-se no direito de dispor-lhe a vida? E de zombar de todos? Dele mesmo, da ex-namorada, e da sociedade? Não estaria ele, como tantos outros, brincando de deus, ao negar os princípios cristãos? Não estamos sendo permissivos em demasia com todos os loucos que subvertem a moral e a ordem? Que desprezam o próximo? Que se rebelam contra Deus? Quem será a próxima vítima? Onde ocorrerá o próximo crime?... Ouvi um psicólogo dizer que o namorado-criminoso deveria ser tratado com amor, por estar em “descompasso emocional”, uma espécie de “pane” mental, ou algo parecido. E a menina (ela tem apenas 15 anos), que se encontra entre a vida e a morte, e somente por um milagre de Deus sobreviverá, poderá ter o “prazer” de manifestar o mesmo desequilíbrio assassino e bárbaro que o ex? Será que ela e a amiga, únicas vítimas de fato, não foram desamparadas pela família e pela sociedade? Será que ao permitir que o crápula tivesse o livre acesso a uma criança, não nos torna culpados? Ao não proteger nossos filhos indefesos dos ataques sistemáticos das forças do mal, travestidos de prazer, diversão, modernidade e aceitação de todo pecado, não os entregamos à sanha destruidora do mal? Restando-nos apenas debruçar desconsolados sobre os seus caixões?
A mídia, como um vampiro, bebeu até a última gota de sangue; e débil, certa Sônia entrevistou, em rede nacional, o bandido-ex-namorado, e em meio à sua fala mansa, cordial, afável, louca e irresponsável, colheu alguns pontos a mais de audiência, e muitos reais a mais em merchandising. Provavelmente, estimulou outros a cogitar a hipótese de ganhar alguns minutos de fama, ainda que com a destruição da vida alheia. Ética? Abutres vivem de cadáveres... Impotente, o Estado viu esvair entre os dedos mais uma oportunidade de nos defender; em outra tentativa malograda, ficou patente a sua inépcia.
Depois, restarão algumas lágrimas, e esquecer... Até que, no derradeiro dia, quando formos o alvo do pecado e da depravação dos criminosos, adulados e bajulados pelos ideólogos da esquerda, os fisiólogos de plantão, ninguém chorará por nós... Será tarde demais... E, talvez, o padrão irracional, imoral e repugnante moldado pela sociedade será a inscrição em nossas lápides.