Por Jorge Fernandes Isah
A)
INTRODUÇÃO:
Meus irmãos, boa noite!
Antes de entrar
propriamente nas questões doutrinárias da Confissão de Fé Batista de 1689,
farei uma pequena introdução desse evento histórico, mas adianto que não encontrei
muitas informações em minhas consultas, porém, no que foi possível encontrar, creio que servirão para que os irmãos
tenham uma ideia daquilo que estaremos estudando, a partir de hoje, com mais detalhes:
1) Houve uma 1a.
Confissão de Fé Batista de Londres em 1644, que foi a predecessora da que
iremos estudar. Essa confissão antecedeu mesmo a famosa CFW – Confissão de Fé
de Westminster, concluída em 1646 pelos presbiterianos.
2) Ambas as
Confissões de Fé Batistas de Londres são reformadas e calvinistas, ou seja,
defendem os princípios do livre exame da Bíblia [devemos entender que há uma
grande diferença entre livre exame e livre interpretação. Durante séculos, a
Igreja Católica proibiu a leitura da Escritura por leigos, de forma que apenas
o clero tinha acesso a ela. Até mesmo ter uma Bíblia era pecado. Com a
reforma protestante, através de Lutero, defendeu-se o livre exame da Bíblia; qualquer pessoa poderia ter acesso direto ao texto sagrado sem a
dependência de um clérico fazê-lo em seu lugar (antes de Lutero, que traduziu a Bíblia para o alemão, algo quase impossível em seu tempo, tendo-se em vista a obrigatoriedade da Bíblia ser impressa e lida em latim; houve quem chegou a traduzir a Bíblia para as suas línguas pátrias, como John Wycliffe, um reformador inglês anterior à própria Reforma Protestante). Contudo, isso não quer dizer
que qualquer um pode interpretá-la ao seu bel-prazer, distorcendo-a, desprezando a sua
autointerpretação, pois a Escritura é autointerpretativa, e os vários séculos
em que homens santos debateram e definiram pontos que estão presentes no texto mas que são difíceis de compreender (2Pe 3.16). Então todos temos acesso hoje à Sagrada
Escritura, mas tendo-se o cuidado de não tirar ou colocar nela aquilo que ela não diz, o que normalmente acontece na forma de erro doutrinário ou
heresia]; a defesa da salvação somente pela graça de Deus, e o batismo por
imersão somente aos fiéis adultos, dentre outros pontos.
3) As Confissões de
Fé de Londres de 1644 e 1689 surgiram pela necessidade de se distinguir os
Batistas Particulares ou Especiais dos Batistas Gerais. Aqueles creem na
salvação como dom exclusivo de Deus, e que através da sua escolha soberana
derramará sobre o eleito a sua graça e misericórdia. Por isso se crê que a
expiação de Cristo na cruz não foi por todos os homens, mas somente por aqueles
que o Pai lhe deu; enquanto os Batistas Gerais acreditavam na expiação vicária
de Cristo por todos os homens, e de que os homens colaboravam, de alguma forma,
com a sua salvação.
Este ponto, da
expiação vicária de Cristo, será apresentado mais à frente. Aqui interessa-nos
apenas delinear os motivos pelos quais urgiu-se a elaboração das duas
confissões de fé.
Algumas questões sobre as Confissões de Fé:
1) Elas não são
infalíveis e inerrantes, ainda que os pontos abordados por elas tenham como
fonte direta a Escritura Sagrada, mas somente esta é a infalível, inerrante e
inspirada palavra de Deus.
2) Elas têm o
objetivo de declarar publicamente aquilo que os batistas creem, pregam e
ensinam.
3) Elas foram
redigidas pelos puritanos.
4) Têm por objetivo
orientar e definir princípios claramente delineados nas Escrituras a fim de se
evitar os erros e heresias que o inimigo persistentemente insiste em implantar
na Igreja, através de seus servos, os quais Paulo chamou de lobos cruéis [At 20.29].
Por que estudaremos esta Confissão de Fé e não outra?
A resposta é
simples: esta é a melhor e a mais detalhada confissão de fé batista já
produzida, e dela derivaram todas as demais confissões de fé batistas
[Filadélfia e New Hampshire, p. ex] . Ela se torna ainda mais importante por nos
apresentar o estudo de questões caras, fundamentais e imprescindíveis à vida de
qualquer cristão: o conhecimento de Deus e da sua vontade. Nela
encontraremos capítulos que expõem a doutrina das Escrituras, o Deus Tri-uno, a
Criação, a Igreja, a Salvação, o Matrimônio... ou seja, tudo o que Deus nos
revelou através da sua palavra como sendo a sua vontade, e que para nós é a
regra de fé e vida.
Então, sem mais
delongas, vamos direto ao nosso estudo.
B)
CAPÍTULO 1: AS SAGRADAS ESCRITURAS
[O texto abaixo, em itálico, é a transcrição direta da C.F.B. de 1689]
[O texto abaixo, em itálico, é a transcrição direta da C.F.B. de 1689]
1. A Sagrada Escritura é a única regra
suficiente, certa e infalível de conhecimento para a salvação, de fé e de
obediência. A luz da natureza, e as obras da criação e da providência,
manifestam a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, de tal modo que os homens
ficam inescusáveis; contudo não são suficientes para dar conhecimento de Deus e
de sua vontade que é necessário para a salvação.
Por isso, em diversos tempos e por
diferentes modos, o Senhor foi servido revelar-se a si mesmo e declarar sua
vontade à sua igreja. E para a melhor preservação e propagação da verdade, e o
mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja, contra a corrupção da carne e
a malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazer escrever por
completo todo esse conhecimento de Deus e revelação de sua vontade necessários
à salvação; o que torna a Escritura indispensável, tendo cessado aqueles
antigos modos em que Deus
revelava sua vontade a seu povo.
[2Tm 3.15-17; Is
8.20; Lc 16.29-31; Ef 2.20; Rm 1.19-21, 2.14-15; Sl 19.1-3; Hb 1.1-2; Pv
22.19-21; Rm 15.4; 2Pe 1.19-20]
RESUMO:
1- O primeiro ponto
apontado pela CFB é de que a Bíblia é a nossa única, infalível e suficiente
regra de fé e vida. Todos os crentes, de uma forma geral, afirmam esta verdade.
Porém o que vemos não é bem isso. Cada vez mais os cristãos têm se distanciado
da verdade para aderirem a conceitos temporais e falíveis, como as ciências
humanas. Há uma substituição progressiva do ensino bíblico, o conhecimento do
que Deus nos revelou, pelo conhecimento elaborado pelo homem. Com isso,
conceitos antropológicos, psicológicos e sociológicos têm tomado o lugar da
verdade e transformado princípios absolutos em relativos e efêmeros.
Para se ter a Bíblia como regra de fé e vida é necessário a sua leitura, exame
e estudo, e reconhecê-la como a fiel, santa e perfeita palavra de Deus. Sem o
seu conhecimento ninguém pode afirmar que ela dirige e guia a sua vida, pois
será impossível alguém guiar-se e dirigir-se sem saber aonde ir e como ir. A
Escritura é o “mapa” que nos levará seguramente ao encontro da vontade perfeita
de Deus.
2- A Bíblia foi
escrita no decorrer de aproximadamente 1.500 a 2.000 anos, por 40 autores
diferentes, mas não encontramos um livro confuso, disforme e contraditório,
como muitos querem fazer parecer. Ela tem uma unidade perfeita, somente
possível porque Deus é o seu autor. Pelo poder do Espírito Santo, homens
inspirados redigiram o santo conselho de Deus para a humanidade, de forma que nela
não há erros, falhas, discrepâncias, incongruências, paradoxos ou conflitos que
indiquem falibilidade e errância, comprometendo a sua autoria sobrenatural.
3- A natureza nos
revela que há um ser criador, mas não é capaz de nos revelar o Deus
pessoal, Senhor e salvador. Em certo aspecto, a revelação natural ou geral pode
nos indicar que o Criador é Todo-Poderoso; ou seja, ela pode revelar a
existência do Criador e de que esse Criador tem todo o poder, pelo qual a
Criação é sustentada.
4- O homem se tornou
inescusável ou indesculpável diante de Deus pois o Senhor deu a todos os
homens o "senso divino", a ideia inata de si mesmo, de revelar-se a
todos os homens; e isso se deu porque todos os homens são criados à imagem de
Deus.
[Certa vez, em uma
discussão com um ateu, eu disse que todos os homens nasciam teístas, que todos
criam em Deus, mas que com o passar do tempo, a rebeldia se instalava de tal
forma no coração do homem que ele negava completamente a Deus, tornando-se um
ateu. Portanto, o ateísmo é uma degeneração, uma subversão e corrupção do "senso divino" que todo homem possuí, de tal forma que ele tenta anulá-lo com a sua descrença].
5- Porém, a
revelação natural é insuficiente para que o homem tenha o exato conhecimento de
Deus e de sua vontade necessária para a salvação. O que torna indispensável e
fundamental a revelação especial, a Palavra de Deus. Pois Deus somente
será revelado proposicionalmente, como realmente é, por intermédio de sua
palavra. Com isso, temos que apenas as pessoas que têm acesso à Sagrada Escritura podem realmente conhecer a Deus. Fora dela, há "deuses",
não o Deus verdadeiro e vivo.
6- Assim, tanto a
sua natureza, como caráter, obra e vontade são comunicadas exclusivamente aos
homens pela revelação escriturística, tanto no Antigo como no Novo Testamento.
7- Deus determinou
que a revelação oral fosse registrada aos homens de maneira escrita para que
servisse de instrução, orientação e
edificação do seu povo; de maneira que o próprio Deus é o seu autor e aquele
que preserva a sua palavra da corrupção, da maldade e da destruição por Satanás
e seus servos. De maneira maravilhosa, Deus conservou e conservará a sua
Palavra inerrante e infalível para que o seu povo seja por ela guiado, e
assim, todos nós, possamos conhecê-lo e servi-lo segundo a sua sabedoria e
vontade santas e eternas.
8- A salvação
somente é revelada ao homem através da revelação especial, e por ela todos os
eleitos serão salvos [Rm 10].
Um ponto importante a ser abordado nesta questão é a
seguinte: a Bíblia é a verdade ou ela contém a verdade? O que pensam os irmãos
sobre isso?
Para explicar a
primeira ideia, farei duas figuras no quadro negro que, na verdade, é um quadro
branco: Na primeira figura temos um círculo de 20 cm de diâmetro; vamos
chamá-lo de Bíblia. O segundo círculo tem também o diâmetro de 20 cm; vamos
chamá-lo de verdade. Para nós, cristãos bíblicos, o círculo "Bíblia"
e o circulo "Verdade" são sinônimos; tanto a Bíblia é a verdade, como
a verdade é a Bíblia. Podemos então colocar entre os círculos o sinal de igualdade [=], de forma que a Bíblia é igual à verdade, e
vice-versa [Bíblia=Verdade, ou seja, utilizamos nomes diferentes para dizer a mesma coisa].
Na segunda ideia
temos o seguinte: farei um círculo de 10cm de diâmetro e nele colocarei o nome
"Verdade", farei um círculo de 20cm de diâmetro e colocarei nele o
nome "Bíblia". O que se quer dizer com a Bíblia contém a verdade é
que uma parte dela, esse círculo menor, é que se pode considerar como verdadeiro. Justapondo-se um círculo ao outro, teremos uma boa parte da Bíblia
como não verdadeira, ao ver de quem defende esse esquema maligno. Assim, como
resumo, teremos o seguinte: a Bíblia é verdadeira apenas em alguns aspectos,
como os necessários e suficientes para a salvação. Podemos resumir o esquema: V ∈ B, a verdade é
elemento da Bíblia, está em B, pertence a B, mas B não é completamente V [o símbolo E é utilizado nos
estudos matemáticos de conjuntos. Indica que determinado elemento pertence a um
conjunto. Aqui a verdade é um elemento e a Bíblia é o conjunto de elementos,
onde a verdade é um deles e a mentira o outro].
Vejam bem o perigo
dessa afirmação. Quando se diz que a palavra de Deus contém a verdade,
duvidamos de que ela seja a verdade, portanto como é possível dizer o que seja
ou não verdadeiro na palavra? Se nem tudo o que está descrito nela é verdadeiro,
como pode-se saber o que é falso ou não? O fato é que esse espírito que paira
sorrateiro pelas igrejas é o espírito maligno que está à caça dos incautos e
tolos para os manterem na incredulidade e ignorância. Não é possível que a Palavra
de Deus seja verdade e mentira ao mesmo tempo. Ou que seja meia-verdade, e
contenha enganos. Não é possível que Deus tenha também negligenciado a
preservação da sua revelação. Quem assim crê labora para o erro e a
mentira.
E, nesse caso, o
que temos é nada além de soberba, arrogância e superioridade travestidos de
intelectualidade. Quando o homem se coloca na condição de apto a
“julgar” a Escritura, faz-se superior a Deus. Cristo disse que devemos julgar
não pela aparência, mas pela reta justiça [Jo 7.24]. Acontece que apenas Deus é justo e reto, logo, o único capaz de
um julgamento infalível. Nós, pelo poder de Deus, podemos ter alguns
julgamentos retos e justos, mas, na maioria das vezes eles são como nós, imperfeitos e
injustos. Portanto, apenas Deus é aquele que pode julgar todas as coisas de
maneira santa e perfeita. Mas os homens se consideram capazes do mesmo; e,
pior, se consideram capazes de julgar algo que está muito acima da capacidade
máxima de julgamento humano: a palavra de Deus. E ao fazê-lo, julgam o próprio
Deus, como loucos que são; dando vazão somente aos seus intentos carnais, ao
orgulho e prepotência. Por isso investem-se de uma autoridade que não têm e
rejeitam a autoridade divina a qual deveriam se submeter, mas, em estado de
rebeldia, colocam-se no lugar que não lhes pertencem, tornando-se ídolos de si
mesmos, para a sua própria condenação.
Há ainda aqueles
que afirmam que apenas Deus é a verdade e que, por isso, a Bíblia não pode ser
a verdade, pois não é Deus. Digo que a primeira afirmação é verdadeira, Deus é
a verdade. O Senhor Jesus nos disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida [Jo 14.6]. Mas como se pode saber isso?
Se não se conheceu pessoalmente o Senhor Jesus? Quero dizer, se não o viu, nem o
tocou... Crer que Deus é a verdade somente é possível pela Escritura, a qual afirma ser Deus verdadeiro. Agora,
se creio que ela não é a completa verdade, como crer que Deus é a verdade? Qual
o critério de seleção para determinar o que seja verdade ou não? Se a equação Bíblia = Verdade não se fizer, não é possível se afirmar nada quanto a Deus e a verdade, pois apenas a Escritura é capaz de revelar tanto Deus como a verdade, de forma que Deus é a verdade. Foi o pedido de Cristo ao Pai, por suas ovelhas: "Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade" [Jo 17.17].
O cristão
bíblico [e nós, batistas, cremos na Bíblia como toda a verdade, como a
fidedigna palavra de Deus, como todo o conselho divino para o homem, desde a
primeira letra em Gênesis até a última letra em Apocalipse], jamais podemos nos
enganar com as declarações aparentemente intelectuais, aparentemente sábias,
mas que escondem apenas o engano e a fraude, e um caminho de trevas. Se é
possível não crer em toda a sua inteireza, pureza e unidade [que revelam o
pensamento santo e perfeito da mente santa e perfeita de Deus], não há como
crer em algo e descrer em outra coisa, sem que se seja possível desconfiar de
toda a estrutura da Escritura. Como será possível avaliar se o que o Senhor Jesus disse é verdadeiro ou falso? Por critérios humanos? Falíveis, imperfeitos e muitas
vezes perversos?
Deus somente pode
ser conhecido por sua palavra revelada, escrita e entregue à Igreja em todos os
tempos através da Escritura Sagrada. E a Bíblia é verdadeira porque procede da
mente do Deus verdadeiro.
Nota: 1- Este é o resumo da aula que ocorreu em 25.09.2011 na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico
Nota: 1- Este é o resumo da aula que ocorreu em 25.09.2011 na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico
2- Agradeço ao pr Luiz Carlos Tibúrcio e aos demais irmãos do T.B.B. pela honra e alegria com que estamos estudando esta importante confissão de fé; e o privilégio de estar incumbido de levá-la aos demais irmãos. Deus nos abençoe, edifique e instrua através deste estudo, para a honra e glória do seu santo nome.
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